quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

O AGRAVAMENTO DA SÍNDROME DE BURNOUT


Estou a lembrar-me, entre muitos outros, do Professor Sérgio Niza, de quem ando a reler uma colectânea de documentos, docente que desde há 50 anos luta por uma mudança nas características do ensino-aprendizagem que enformam o Sistema  Educativo Nacional. Tenho presente os textos do Professor António Nóvoa e a luta de um outro, o Professor José Pacheco, por uma escola que rompa com o formato criado há duzentos anos que, embora com dezenas de projectos, mantém todas as suas traves-mestras essenciais. Tenho presente investigadores, autores com diversas formações académicas, intervenções, textos em revistas de especialidade e vídeos publicados, Dissertações de Mestrado e Teses de Doutoramento, sobretudo nas Ciências da Educação que, no essencial, alertam para a absoluta necessidade de mudança de paradigma. Quem governa não aprende? Repito, aqui, sintetizando, o que já por diversas vezes divulguei: "como pode uma escola sempre igual competir com a vida que é sempre diferente? O desencontro é inevitável" - Professor Paula Brito, em uma aula de Psicopedagogia que assisti, em 1970! Tratou-se, aliás, da frase que daí em diante marcou o rumo do meu pensamento. Mais recentemente, ouvi José Pacheco, hoje "refugiado" no Brasil onde é respeitado, dizer uma coisa tão simples quanto esta: "se eu preparava com rigor pedagógico as minhas aulas e os alunos não aprendiam, então não aprendiam porque eu dava aulas". 


Não me quero afastar ao que venho. Os professores vivem, hoje, um drama, por tudo aquilo e onde se juntam as profundas desigualdades sociais: 1. a infernal e paranóica burocracia profissional associada ao processo ensino-aprendizagem; 2. a "indisciplina" de causas e contornos múltiplos. Relembro o Professor Joaquim Azevedo, da Universidade Católica, que foi muito claro sobre o sistema: "(...) a escola mudou pouco, os adolescentes mudaram muito", pelo que "a indisciplina cresce, cresce, cresce", cada vez mais. Saberão os governantes as razões mais substantivas? Uns não sabem e outros fingem não saber, é a minha convicção; 3. os programas que têm de debitar, disciplina a disciplina, ignorando a capacidade que os alunos transportam através de uma informação e vivências acumuladas, fora do ambiente escolar, por via do acesso aos mais variados meios; 4. finalmente, o espartilho da sua própria avaliação de desempenho que os encosta à parede da submissão. Dir-se-á: ou obedeces às imposições da hierarquia, ou estás liquidado! Corolário disto, já não é, apenas, a Síndrome de Burnout que a muitos invade, o estado depressivo, o esgotamento físico e mental intenso que marca a vida de muitos docentes. A caminho vem uma sintomatologia associada, tendencialmente mais complexa. Se a luta de muitos, ao longo de dezenas de anos, por uma mudança paradigmática do sistema, foi lenta, mas teoricamente sustentada e assertiva, baseada no conhecimento e na experiência, porém, distante da recente envolvência tecnológica, no tempo que estamos a viver, sublinho, em aceleração constante, estão a associar-se, de forma agravada, outras variáveis, face às quais, a maioria dos professores não está preparada. Pela idade e pela rotina, qual metáfora, do autocarro: professor conduz e alunos atrás como passageiros. São tempos que exigem paulatinas mudanças em contexto integrado, algumas, até, radicais, na estrutura organizacional e no pensamento pedagógico. Tempos que exigem dizer não ao passado, assumindo, como ainda ontem aqui deixei que "(...) o professor do século XXI deve ensinar o que ele não conhece. É aí que a inovação começa (...)". "Estudantes e professores devem aprender juntos e desenvolver os mesmos interesses".
A consequência previsível do marcar passo será (já é) esta: por um lado, alunos que rejeitam um sistema educativo contrário aos seus interesses e expectativas, porque desajustado da realidade e do conhecimento que transportam com origem diversa, portanto, desmotivador e gerador de perturbação nas relações entre docentes e discentes; por outro, professores, a quem lhes é pedido o cumprimento de programas acompanhados da perniciosa obsessão pelas avaliações, incapazes de agarrar o fio à meada das exigências das novas gerações, nascidas na plenitude da era da informação, da comunicação e dos meios que o desenvolvimento tecnológico colocou à disposição. É um dilema, reconheço, que não se resolve com o palavreado político da robótica, dos diplomas e com prémios meritocráticos! 
Cruzo-me com professores que se dizem exaustos, cansados da vivência da escola, que só aparentemente se dizem felizes com aquilo que fazem, que sentem a necessidade da tal mudança, porém, invariavelmente, perguntam-me: mas como fazê-la? Começa aí a pescadinha de rabo na boca! Um círculo vicioso preocupante e doentio. Se, por um lado, há uma tomada de consciência que o caminho deverá ser distintivo, por outro, não sabem que rumo operacionalizar. Confrontam-se com o sistema político, com as regras impostas, com os normativos, com a rotina e com o natural sofrimento de quem sabe que este já não é chão que produza felicidade, para uns e outros. E seria bom que a secretaria regional da Educação tomasse consciência que estes problemas são estruturais e não se resolvem com projectos localizados, tipo "penso rápido", como o "mindfulness". Há dias, no meio de uma conversa sobre "... o que fazer", exprimi o que aprendi, embora em um outro contexto, com a leitura de Peter Drucker: no futuro só haverá lugar a dois tipos de gestores: "os rápidos e os mortos". Isto é, ou se adaptam ou sobrevirá o sofrimento por inadaptação. Compreendeu a aproximação e ficou-me a olhar. É isso. O "Burnout profissional que pode ser entendido como um estado emocional persistente e permanente que conduz a exaustão física, emocional e psicológica" (Pines & Aronson, 1988), será mais grave porque é impossível manter um sistema em completo desencontro com a vida. Depois queixam-se de haver tanto atestado médico.
Ilustração: Google Imagens.

sábado, 24 de fevereiro de 2018

EL SISTEMA EDUCATIVO ACTUAL FALLÓ PORQUE MATÓ LA CREATIVIDAD




¿Cómo es el modelo educativo actual? ¿Estamos educando mal a nuestros alumnos? Numerosos académicos coinciden en que el mundo actual, en pleno siglo XXI, no puede regirse por el modelo educativo propio de la revolución industrial porque estamos creando alumnos pasivos. Pero, ¿cómo debe ser el aprendizaje? Los niños deben aprender de forma activa y consciente, dejar de lado las clases donde el profesor expone un tema y los alumnos, simplemente, escuchan. El sistema educacional tradicional impide el desarrollo de la creatividad y de la originalidad, repercutiendo directamente en el desarrollo de las habilidades del alumno.


El profesor de la escuela de negocios del MIT, Peter Senge, criticaba en una reciente entrevista recogida por el diario El País que las escuelas replican el modelo pasivo de aprendizaje, en el que los estudiantes permanecen sentados “como si se les estuviese entrenando para trabajar en una fábrica”. En su afán por estudiar nuevas fórmulas pedagógicas, Peter Senge fundó en 1991 la Society for Organizational Learning (SOL), una red de aprendizaje basada en la innovación en la que participan más de 19 empresas y organizaciones, además de escuelas públicas y privadas de todas partes del mundo.

Transformación en la escuela

Un estudio realizado en 2010 por el MIT descubrió que la actividad cerebral de un estudiante, donde el alumno es sólo receptor de información, es similar a cuando ve la televisión. Según el profesor Senge, la fórmula actual es siempre igual: los profesores tienen el control y los alumnos no son proactivos. Dicha fórmula debe cambiar, porque alumnos y profesores tienen que aprender de forma conjunta y desarrollar los mismos intereses. El problema actual radica en que “los profesores no tienen todas las respuestas. Nadie sabe cómo se resolverán los problemas que ya nos afectan hoy, por ejemplo, el cambio climático”.

“Solemos decir que el profesor del siglo XXI tiene que enseñar lo que no sabe. Ahí empieza la innovación. Lo primero que tienen que hacer es desaprender, olvidar los métodos pedagógicos tradicionales. 

Es muy difícil porque tienen una identidad muy fuerte y se sienten orgullosos de estar al frente de la clase. Creen que mantener el orden y la atención en su discurso es lo que les hace buenos profesores, y tal vez sea ese el problema, las lecciones magistrales brillantes”, argumenta el profesor.
El objetivo es que el alumno desarrolle sus propias habilidades cognitivas para aprender. Esto es, la capacidad de prestar atención de forma sostenida; procesar la información; interpretarla, y guardar todo en la mente. Enseñar a pensar y no solo a memorizar.
¿Cómo funciona SOL?
La misión de SOL es “buscar innovadores para conectarlos entre sí, para que entiendan que no están aislados. Hay una revolución que está ocurriendo, cientos de profesores usan Flipped Classrom o el aprendizaje por proyectos, pero el problema es que no hay vías de comunicación entre ellos”. Para conseguirlo, la sociedad promueve cursos y programas, entrenamiento y consultorías con base de aprendizaje.
¿Cuáles son los resultados? El profesor explica que, por ejemplo, uno de los docentes de la red SOL que trabaja en una escuela pública de Boston (EE.UU.) ha creado un método en el que los alumnos se enseñan álgebra entre ellos. Durante 20 años ha desarrollado problemas complejos que ni los estudiantes más aplicados logran descifrarlos por sí mismos, con el objetivo de que, mediante el trabajo en grupo, puedan resolverlos. El profesor pasa a ser un facilitador o mediador entre alumnos, pero no impone su autoridad.

La escuela y la creatividad

El cerebro es adaptable y cambia constantemente su estado. Según el neurocientífico Norman Doidge, descubridor de la neuroplasticidad, el cerebro es maleable y tiene capacidad para mejorar las habilidades cognitivas. Esta maleabilidad podría explicar los cambios en el desarrollo del aprendizaje del niño, ya que depende de cuán desarrolladas estén sus capacidades cognitivas. Por tanto, ya no sirve el modelo educativo actual, hay que brindar la oportunidad a los alumnos de ser capaces de desarrollar, por sí mismos, su conocimiento y ser críticos.
¿Cuáles serían las consecuencias de seguir con este método? El profesor Senge explica que, en sus clases, pregunta a sus alumnos cuántos de ellos habían decidido a los 10 años que no sabían cantar o dibujar. “La gran mayoría levanta la mano. Entre los cinco y los 10 años se internalizan esos miedos a no dar la talla y los chicos, simplemente, dejan de hacerlo”. Por tanto, lo que este autor quiere decir es que la escuela, tal y como la conocemos, puede motivar y enraizar la falta de creatividad en los niños desde pequeños.
Por su parte, el pedagogo británico Ken Robinson, uno de los pensadores educativos más solicitados del momento, expone una crítica sobre la escuela tradicional. El experto argumenta que “los niños nacen con cualidades que, a menudo, el sistema entierra”. En sus conferencias defiende que bailar es tan esencial como las matemáticas. “Creo que la gente que piensa que bailar no es importante, probablemente ni baila ni nunca lo ha intentado. El sistema educativo actual trata la vida humana como si solo importase lo que existe entre las dos orejas”.
El famoso informe PISA revela que Singapur, un país que ha liderado la transformación educativa, está en el primer lugar del ranking seguido de Japón, Finlandia y Hong Kong. Pero no se trata de buscar la llave del éxito del sistema educativo que tienen en Finlandia o en Singapur, simplemente de aplicar nuevas metodologías de aprendizaje que se adecúen a las necesidades de los alumnos del siglo XXI. Una época caracterizada por los cambios constantes a nivel global y por la incertidumbre del futuro que conlleva a que profesores y alumnos aprendan juntos.
Image: REUTERS/Toby Melville
Con la participación deThink Big
06 feb 2017

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

QUEM NÃO ESTÁ COMIGO, CONTRA MIM ESTÁ... OU, ONDE PÁRA A AUTONOMIA DAS ESCOLAS?


Tenho vindo a assistir, na comunicação social e também nas redes sociais, a um muito pouco claro diferendo entre a Secretaria Regional da Educação, leia-se Dr. Jorge Carvalho, e o Dr. Joaquim José Sousa, presidente do Conselho Executivo da Escola do Curral das Freiras. Desde logo permito-me fazer uma síntese: 1. são já muitas as críticas públicas de teor negativo relativamente ao sector da Educação, desde "cartas do leitor" a textos produzidos em vários blogues, passando por desabafos em circuitos fechados; 2. a Região atravessa, de novo, uma fase onde, por parte dos professores, parece existir receio em tomar posição contra as decisões e perseguições arbitrárias da tutela; 3. o assunto Escola do Curral apresenta-se, pelo menos por agora, como um quadro de "dores de cotovelo" pelo "atrevimento" dos seus mentores quererem dela fazer uma escola diferente e com futuro; 4. embora sendo um paradoxo, parece existir uma significativa frustração política do secretário regional pela presença do Dr. Joaquim José Sousa no programa da RTP 1, "Fronteiras XXI", inclusive, por algumas distinções recebidas no plano nacional, pelo facto da escola ter sido, em 2015, no actual contexto de ensino, a melhor ao nível nacional; 5. finalmente, como corolário, perante este quadro, é pública e notória uma concertação de esforços políticos, desde a Inspecção, à Câmara e Junta de Freguesia, no sentido de silenciar o Dr. Joaquim José Sousa, que se saiba, uma personalidade não alinhada com qualquer poder.

Dr. Joaquim José Sousa
Cinco pontos, existem outros na minha leitura de processo, que constituem uma mancheia de situações que deveriam: 1. merecer uma intervenção do Presidente do Governo; 2. uma reflexão solidária, individual ou conjunta, das restantes direcções executivas da Região; 3. idem, de todos os sindicatos de professores, denunciando a sua preocupação no sentido do esclarecimento total. E porquê? No essencial, porque se trata de um professor que está a ser "investigado" e colocado em causa; porque no centro do problema está a autonomia dos estabelecimentos de educação e ensino e, concomitante e alegadamente, a ausência de apoio concreto às escolas que desejam seguir  os caminhos verticalmente definidos.
A 20 de Março de 2016,  o assunto vem de longe, escrevi, no meu blogue "comqueentao", um texto sobre a secretaria da Educação e a Escola do Curral. Deixo aqui um excerto: "(...) Li um trabalho do jornalista Márcio Berenguer (Público) sobre a Escola Básica 123 do Curral das Freiras (Madeira). Apesar de eu não ser favorável à existência de ranking's não deixo de os analisar, enquanto mero indicador, no quadro, repito, do actual sistema. Aquela escola que se encontrava no lugar 1207 do ranking saltou, no último ano, para as da frente, com a melhor média entre os estabelecimentos públicos no exame nacional de 9.º ano. O interessante é que "tem 300 alunos, não tem campainha, nem trabalhos de casa e os horários das aulas batem certo com os do autocarro". Esta uma síntese, certamente, compaginada com muitas outras que tornaram possível um melhor conhecimento, apesar de 92% dos alunos terem Acção Social Educativa (pobreza) e a internet não fazer parte das prioridades da maioria das famílias". Significa isto que o estabelecimento de educação e ensino procurou o seu próprio caminho, apesar das regras apertadas da hierarquia, sempre avessa a quaisquer mudanças e, portanto, que é possível um outro paradigma que entusiasme as comunidades educativas para o sucesso. 
Enquanto isto acontece, a secretaria da Educação, promoveu uma conferência de imprensa, claramente, no quadro do combate POLÍTICO, para dizer às escolas da Madeira, enquanto recomendação, sublinhe-se, que "não deverão realizar as provas de aferição do 2º, 5º e 8º anos, bem como as provas finais do 4º e 6º anos que o Ministério da Educação tornou facultativas, no presente ano lectivo" (...) deixando, no entanto, "às escolas a decisão final no quadro da sua "autonomia". E porquê? Porque não quer provas de aferição feitas "em cima do joelho". Disse ainda o secretário que "o sistema educativo carece de elementos fiáveis de avaliação, cruzando o rendimento dos alunos com o desempenho dos professores e a avaliação das escolas". Isto é, recomenda que não é desejável, mas, no essencial, mostra-se como uma figura política que não consegue libertar-se das amarras do passado, através de uma posição estrutural para o futuro. Ao invés de aproveitar o momento para dizer, em alto e bom som, um rotundo NÃO a um sistema que vive da paranóia da avaliação e de um ambiente pedagógico retrógrado, que deixa os alunos no redemoinho do abandono e do insucesso, preferiu a insensatez do combate político com o ministério da Educação. Para quê, pergunto? Poderia e deveria ter aproveitado para se vangloriar do que acontece, por exemplo, no Curral das Freiras, ainda que de uma forma insipiente, abrindo espaço de incentivo a que outros façam o caminho pelo corredor da diferença e do sucesso, mas não, continua esta secretaria a demonstrar que a sua atitude, face ao sistema educativo, se encontra aí pelo Século XIX. Lastimo! Razão tem o director daquele estabelecimento de educação e ensino: "(...) Estes alunos têm sonhos, têm direito a ter todos os sonhos do mundo e cabe a nós ajudá-los”.
O grande problema parece-me residir aqui: "quem não está comigo, contra mim está", complementado com a asserção do Professor Licínio Lima a quem tantas vezes recorro: "sejam autónomos nas decisões que já tomámos por vós". Portanto, o que se passa no Curral das Freiras, não me parece constituir um caso de má gestão dos meios, mas um caso político de negação da autonomia, de não atribuição de meios em função de um projecto fora dos cânones e de perseguição política. E há gente que sabe, porque tem anos de experiência partidária, como fazer a cama a quem não gosta, a quem deseja ser autónomo e, pasme-se, apresenta resultados. Tudo o resto, repito, tudo o resto, erros de percurso ou aquele normativo que não foi levada à risca, são ninharias administrativas que, há muito, o bom senso e o diálogo deveria relegar para segundo, terceiro ou quarto plano. Seria uma não notícia. O quero, posso e mando pertence aos fracos. O drama é que há gentinha com ambições e soberba e, por isso, ensaiam passos superiores às perninhas políticas que os mantêm de pé! Deixem-se disso e entusiasmem as escolas a serem verdadeiramente autónomas. 
Ilustração: Google Imagens.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

EDUCAÇÃO PARA UM MUNDO MELHOR: UM DEBATE EM CURSO A UMA ESCALA GLOBAL


Enfrentamos hoje desafios sem precedentes — sociais, económicos e ambientais — provocados por uma globalização em aceleração e por um muito mais rápido desenvolvimento tecnológico. Paralelamente, estas forças conferem uma miríade de novas oportunidades para o desenvolvimento humano. O futuro é incerto e não o conseguimos predizer; mas é preciso estar disponível e preparado para esse futuro. As crianças que entram nos sistemas educativos em 2018 serão jovens adultos em 2030. As escolas têm de os preparar para empregos que ainda não foram criados, para tecnologias que não foram ainda inventadas, para resolver problemas que ainda não foram antecipados. Aproveitar oportunidades e encontrar soluções será uma responsabilidade partilhada. Temos a responsabilidade de educar estas crianças, tornando-as competentes, equipadas com o conhecimento, as capacidades, as atitudes e os valores que os tornam capazes de ser os construtores de um futuro melhor. Estamos todos convidados a perguntar qual o melhor modelo de aprendizagem que ajudará os alunos a ter sucesso no desenho do mundo sobre o qual agirão.


Através do projeto da OCDE, O futuro da educação e competências 2030, 29 países e economias estão a colaborar para a encontrar perguntas para duas perguntas prementes: De que tipo de conhecimentos, capacidades, atitudes e valores vão necessitar os estudantes para ter sucesso e modelar o seu mundo? Como podem os sistemas educativos desenvolver esse conjunto de competências?
O projeto não procura estabelecer uma abordagem uniforme para os sistemas educativos, porque isso não ajudaria a responder a estas questões. Pelo contrário, fornece uma plataforma para o desenvolvimento de uma compreensão partilhada sobre desenho curricular. Estudantes preparados para o futuro precisam de ser agentes ativos quer na sua própria educação, quer na sua própria vida. Ser agente implica um sentido de responsabilidade para participar no mundo e, assim, influenciar pessoas, eventos e circunstâncias para o que é melhor. Ser agente assenta no poder de modelar um propósito e identificar ações para o conseguir. 

Uma educação de sucesso prepara jovens que pensam por si só e trabalham e vivem com os outros. Isto implica desenvolver a capacidade de resolver problemas complexos, de questionar a sabedoria estabelecida, integrando conhecimento emergente, de comunicar eficientemente e de promover o bem-estar. Os jovens precisam do conhecimento que é adquirido sem o recurso único a rotinas de memorização. 

Formas múltiplas de avaliação, metodologias ativas de ensino e aprendizagem, trabalho interdisciplinar, trazendo o mundo real para dentro da sala de aula — estes são ingredientes nucleares para este objetivo de promover uma aprendizagem melhor e mais profunda.
A partir das Competências Chave (desenvolvidas no projeto OCDE DeSeCO – Definição e Seleção de Competências), o projeto Educação 2030 identificou três categorias adicionais, conhecidas como Competências Transformadoras:
Criar novos valores: é necessário pensar criativamente, desenvolver novos produtos e serviços, novos empregos, novos processos e métodos, novas formas de pensar e viver, novas empresas, novos setores, novos modelos de negócio e novos modelos sociais. Cada vez mais, a inovação não emerge de indivíduos que pensam e trabalham sozinhos, mas da cooperação e colaboração que permitir criar novo conhecimento a partir do conhecimento existente.
Reconciliar tensões e dilemas: é hoje necessário pensar de forma mais integrada para impedir conclusões prematuras e reconhecer interconexões. Num mundo de interdependência e conflito, os indivíduos assegurarão com sucesso o seu bem-estar, o das suas famílias e das suas comunidades, somente através do desenvolvimento desta segunda competência transformadora: a capacidade de reconciliar os seus próprios objetivos com as perspetivas dos outros.
Assumir responsabilidade: lidar com a novidade, a mudança, a diversidade e a ambiguidade assume que os indivíduos podem pensar autonomamente e trabalhar com os outros. De igual modo, a criatividade e a resolução de problemas requer a capacidade para considerar as consequências futuras das ações de cada um, para avaliar risco e recompensa, e para aceitar a responsabilização pelos produtos do trabalho desenvolvido. Isto sugere um sentido de responsabilidade, e maturidade moral e intelectual, com a qual uma pessoa pode refletir sobre as suas ações e avaliá-las à luz das suas experiências e dos objetivos pessoais e da sociedade, à luz dos que lhes foi ensinado e dito, e à luz dos que está certo ou errado.
Muitos atores são chamados a desempenhar um papel para que estas competências possam ser desenvolvidas. Para ajudar a desenvolver o compromisso e a capacidade de ser agente naqueles que aprendem, precisamos não só de reconhecer a sua diversidade individual e o seu potencial, mas também de reconhecer que o conjunto mais largo de relações que influenciam a sua aprendizagem — com os seus professores, os seus colegas, famílias e comunidades. Um conceito fundamental que subjaz a este modelo de aprendizagem é, portanto, o de “co-construção” — as relações interativas de suporte mútuo que ajudam os alunos a progredir em direção aos seus objetivos. Neste contexto, todos devemos considerar-nos aprendentes, não apenas os alunos, mas também os professores, as escolas, os decisores políticos, as famílias e as comunidades. Se a aprendizagem está no centro, é crítico o desenvolvimento de comunidades de aprendizagem.

NOTA
O grupo de consultores do Projeto da OCDE Future of Education and Skills 2030
Fonte: Público

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

ESQUERDA QUER EDUCAÇÃO FÍSICA A CONTAR PARA O ACESSO À UNIVERSIDADE. DISCORDO!


Li que "bloquistas e comunistas querem que a nota de Educação Física volte a contar para a média de acesso ao ensino superior. Os dois partidos pressionam, assim, o Governo a reverter uma das reformas de Nuno Crato". Discordo, completamente.

Nota prévia. 
Penso ser conhecida, em função de tudo quanto escrevi, a minha genérica oposição às políticas do ex-ministro da Educação Nuno Crato. Com este a Educação perdeu quatro anos. Mais. De quando em vez, sigo alguns dos seus textos e cada vez mais me distancio do seu pensamento sobre este sector. Não sei, sequer, se tem pensamento estruturado no que ao sistema educativo diz respeito. Por aí, fica claro que este texto nada tem a ver com a decisão de Nuno Crato relativamente à não contagem da nota de Educação Física no que concerne ao acesso  ao ensino superior. A minha posição tem dezenas de anos. Uma das últimas vezes que sobre este assunto escrevi foi em 15 de Junho de 2012. Deixo aqui um excerto desse texto:

"Ao contrário de procurar a igualdade com as outras disciplinas, o professor de Educação Desportiva deveria procurar a diferença. Simplesmente porque os graus académicos de formação sendo iguais (Licenciatura, Mestrado e Doutoramento) a sua prática é substancialmente diferente. De resto, não há Jogos Olímpicos, Campeonatos do Mundo ou da Europa de Português, de Ciências ou de História. Mas eles existem no desporto, plenos de beleza estética, de festa, de superação individual e que impelem e influenciam uma prática a qualquer nível. Sendo assim, enquanto uma bola saltitar frente aos olhos de um jovem, jamais alguém precisará de, muitas vezes, “castigar” os alunos com sistemas retrógrados de avaliação, pelo facto da dita bola, ironizo, por um desajeitado pontapé, não ter entrado na baliza, no quadro dos tais superiores objectivos definidos na complexa Unidade Didáctico-pedagógica! Pois bem, "morra" a Educação Física que hoje constitui uma monumental fraude e viva a Educação Desportiva Curricular. Simplesmente porque o Desporto é  um bem CULTURAL, para a vida e não apenas para a etapa da escolaridade obrigatória.

Do livro que escrevi em 2004 - Ano Europeu da Educação pelo Desporto, deixo, ainda, um outro excerto. O texto integral pode ser lido AQUI.

"Joana [1] teve uma mão cheia de cincos mas, na Educação Física, o nível foi um três “muito fraquinho”; Francisco precisou que outros professores votassem o nível de Educação Física para entrar no quadro de honra da escola; José obteve nível dois porque é um “desajeitado, coitado!”; Fernando, porque é obeso e descoordenado, viu um implacável dois na pauta; Teresa, idem, porque “não gosta” e conheço o caso da Luísa, estudante de nível cinco, de excelentes predicados nas atitudes e valores, esguia, flexível, de uma grande disponibilidade corporal, expoente no ballet que pratica quase diariamente mas, ironizo eu, certamente porque, em três meses de futebol, não conseguiu acertar com a baliza ou porque teve um teste fraco, também não foi além do três. Ao lado destes casos, entre muitos que me chegam ao conhecimento, há também o daquela turma que, recentemente, registou cerca de 80% de negativas em Educação Física. Ao fim e ao cabo, situações que dão para pensar sobre o fundamentalismo, dito pedagógico, que por aí anda, desvirtuador da vocação primeira desta disciplina curricular e provocador de um enorme rasto de frustração. 
Ora, é por estas e múltiplas outras razões que defendo, há muitos anos, a morte da Educação Física e o nascimento da área curricular denominada por Educação Desportiva que se abrigue, inclusive, num quadro científico mais vasto e sustentado. Razão tem, pois, o Doutor Manuel Sérgio, ele, um filósofo, que melhor que ninguém neste país sabe interpretar e sintetizar as correntes filosóficas, sociais e o pensamento pedagógico ao longo dos tempos, ao assumir que: “(...) nem científica nem pedagogicamente existe qualquer educação de físicos (...) que a expressão Educação Física se acha incrustada numa ambiência social onde o estudo desta matéria não é conhecido (...) e que a Educação Física deve morrer o mais rapidamente possível para surgir em seu lugar uma nova área científica que mereça dos homens de ciência credibilidade, respeito e admiração” (O DESPORTO Madeira, 27.06.03)". 
Ilustração: Google Imagens.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

EDUCAÇÃO, CURRÍCULO E VALORES



"Temos de despertar e acordar para a nossa vocação ontológica de "ser mais". É tempo de ser, para respirar, existir e coexistir. É tempo de questionar. É urgente renovar a Escola: o currículo e as práticas pedagógicas tem de ser espaços e tempos para cultivar valores maiores que contribuam para a afirmação da Verdade, da Justiça, do Bem, do Belo, da Solidariedade, da Fraternidade (entre tantos outros), fazendo regenerar a saúde nessa sociedade doente e corroída pelo individualismo ganancioso, pela mentira, pela inveja, pela maldade, onde se multiplicam tantas formas de pobreza e exclusão (...)"

Emanuel Oliveira Medeiros, in A Página da Educação, edição de Inverno 2017.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

A ESCOLA E A NORMA DO MERCADO


A concorrência e a competição promovidas pelo ranking à imagem da norma do mercado tornam-se um factor importante da reprodução social. A estrutura social das escolas é cada vez mais afectada pelas estratégias de distinção das famílias. O ranking, no fundo, simula um mercado escolar que verdadeiramente não existe.

Por António Guerreiro, 
in Público, 09/02/2018
Bem podem os críticos do ranking das escolas erguer publicamente os seus argumentos contra uma hierarquização obtusa que poderia figurar como um exemplo de idiotia da nossa época. Estarão sempre em desvantagem porque o exercício é excitante, funciona como um jogo e satisfaz uma pulsão escatológica infantil. E quando se passa para o plano da legitimação racional, o modelo do ranking aplicado às escolas está protegido pelo princípio supremo do mercado: a concorrência. No nosso tempo, ela é uma norma global, imposta a todas as actividades como solução universal para melhorar todos os serviços e para promover um aperfeiçoamento progressivo do indivíduo. A concorrência e a competição exaltam a ideia de mérito e, através de uma operação fraudulenta, fazem dele uma figura do poder chamada “meritocracia”.


Mérito e meritocracia não são a mesma coisa. O desenvolvimento de qualidades e competências individuais (inatas ou alcançadas através do estudo, da disciplina e do esforço) que levam ao sucesso é, e sempre foi, digno de apreço. Chamamos-lhe mérito. A meritocracia é uma coisa diferente: é um instrumento político e de engenharia social, ao serviço de um projecto de selecção de poucos através da exclusão de muitos.

Atribui-se geralmente a um sociólogo e político inglês, Michael Young (1915-2002), a paternidade da palavra “meritocracia”, que surge como um significante-mestre num romance satírico que ele publicou em 1958, com este título: The Rise of Meritocracy. Nesse romance, um sociólogo narrador situado no ano de 2033 conta e comenta o extraordinário progresso conseguido no seu país ao longo dos últimos cinquenta anos, graças à superação das velhas ideologias igualitárias e graças ao triunfo da meritocracia.
A intervenção no campo da educação e das instituições escolares tinha desempenhado um papel crucial na grande transformação: primeiro, as escolas tinham simplesmente seguido a economia na luta pelos mercados, mas a certo ponto uma nova política tinha feito da escola o lugar de experimentação de estratégias mais eficazes e sistemáticas de separação dos inteligentes face aos estúpidos, um processo que depois se impôs com sucesso a outros sectores.
E, na fase mais avançada deste processo, as indústrias começaram a aplicar medidas selectivas com base no modelo da escola. No fim, até o exército tinha aprendido a lição escolar. O romance de M. Young é uma utopia negativa. E o seu autor cunhou a palavra “meritocracia” com uma evidente intenção crítica. Mas ela foi reciclada e passou a ter um significado plenamente positivo. E o processo descrito no romance para construir uma escola apta a transformar uma aristocracia de nascimento numa aristocracia de engenho parece ter inspirado a campanha dos rankings, que chega sempre à meia-noite, como o Pai Natal. Tal como no romance de M. Young, a escola “democrática” é assaltada pela lógica do clube selectivo que funciona por cooptação.
A concorrência e a competição promovidas pelo ranking à imagem da norma do mercado tornam-se um factor importante da reprodução social. A estrutura social das escolas é cada vez mais afectada pelas estratégias de distinção das famílias. O ranking, no fundo, simula um mercado escolar que verdadeiramente não existe.
E se existe como um quase-mercado, ele não é fruto de uma lógica espontânea, não se faz naturalmente por obra das “leis imanentes” do capitalismo (como pretendem os partidários da lógica do mercado aplicada ao campo escolar), mas de uma construção política. E essa construção tem no ranking das escolas uma poderosa ferramenta.

sábado, 10 de fevereiro de 2018

AINDA SOBRE OS "RANKING'S" E A AUTONOMIA DAS ESCOLAS


Ao contrário de algumas pessoas, eu "diabolizo" os ranking's das escolas. Houve tempo, lá para trás, no início dessa paranóia, que ainda considerei poder constituir um mero indicador. Ao longo do tempo, lendo estudos e reflectindo sobre todas as variáveis, aliás como já tive a oportunidade de aqui me prenunciar, não só "diabolizo" como entendo que constitui uma infantilidade conceptual defendê-los. Analiso a escola por aquilo que fazem, pela estrutura organizacional que implementam, pela cultura pedagógica que perseguem, pelas preocupações inclusivas e pelo esforço de ninguém ficar para trás, pela sua luta que atenua as diferenças económicas, sociais e culturais e pelo trajecto dos seus alunos após a passagem por um determinado estabelecimento. Simplesmente porque não existem dois públicos iguais, dois grupos de docentes iguais e, portanto, duas escolas iguais. "Diabolizo", porque é um erro conceptual grave conjugar no mesmo patamar as áreas de intervenção pública e privada. Não faz qualquer sentido, nem justificação existe, seja qual for o ângulo de análise, tolerar sequer a existência de ranking's. De escolas e de exames! E se eles existem é porque existem exames. E eu sou, no ensino básico, contra os exames. Há outras formas de acompanhamento e de avaliação. Ademais, tolerar os "ranking's" significa tolerar o actual sistema educativo e manter a desigualdade. 


Na esteira deste posicionamento surge a "autonomia" dos estabelecimentos de educação e ensino. Colocar reservas quanto ao manifesto interesse de um sistema descentralizado e verdadeiramente autónomo, constitui, do meu ponto de vista, um outro grave erro no quadro do pensamento estratégico portador de futuro. Assumir, como ouvi, que há escolas, talvez se possa dizer, professores, que não estão preparados para a "autonomia", é o mesmo que colocar em causa, desde o tempo da ditadura, a luta pela Autonomia da Região, porque os madeirenses e porto-santenses não estariam preparados para ela. A "autonomia" é um processo de avanços e de recuos no quadro da diferenciação, de aprendizagem permanente, é um caminho de utopia que serve para seguir com convicção, feito de experiências que conduzem à melhoria dos resultados. É esta a minha leitura. Aliás, ainda ontem, o Ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, assumiu: "o que nos dizem as práticas internacionais é que a autonomia das escolas consegue fortalecer, robustecer e alavancar os conhecimentos". Concordo. Na mesma sessão, Andreas Schleicher, da OCDE, foi muito claro: "(...) o desafio para Portugal é educar para as próximas gerações. Para o futuro e não para o passado. E isso significa dar às escolas, mais protagonismo, mais flexibilidade, para alargar o tipo de conhecimentos, aptidões e competências, mas ao mesmo tempo criar mais espaço aos professores e ambientes de aprendizagem inovadores, dando aos estudantes os meios para se preparem para o futuro". Alguém terá dúvidas que este é o caminho? É a própria OCDE que questiona a existência de exames nacionais e defende a autonomia.
Daqui concluo, "ranking's" não, obrigado; autonomia, sim, para as escolas, rapidamente.
Ilustração: Google Imagens.

PRIORIDADE DA CRIANÇA É BRINCAR, NÃO CRIAR CURRÍCULO!


No mundo competitivo que a gente vive, é natural ver muitos pais e mães preocupados em oferecer uma infinidade de cursos para a criançada já na primeira infância. É inglês, música, robótica, reforço escolar, enfim, tudo para capacitá-los a encarar os desafios profissionais que aparecerão lá na frente. No entanto, especialistas são cada vez mais taxativos: brincar ainda é o maior catalisador das competências humanas. É nas pequenas distrações cotidianas que os pequenos aprendem habilidades importantíssimas para a carreira que vem anos mais tarde.


O pediatra Daniel Becker, (ler aqui) pesquisador do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro e um dos criadores do programa Saúde da Família, defende que essa visão curricular sobre as atividades nas quais a criança precisa se envolver pode acabar fazendo com que ela desenvolva comportamentos de competitividade e individualismo. 
O especialista defende que, na infância, a prioridade deve ser o livre brincar, atividade que não pode ser repetida em outra etapa da vida e que é capaz de estimular uma série de competências humanas que nenhuma sala de aula poderá ensinar.
"Nós vivemos uma cultura de excesso de valorização da aprendizagem com adultos, é um paradigma da escola do desenvolvimento. Como se o desenvolvimento de uma criança só se desse na sua interação com adultos, em aulas, supervisões, atividades programadas e estruturadas. Quando, na verdade, isso só provê essa criança de um tipo de ganho, um tipo de inteligência", diz ele.
Segundo o pediatra, uma criança que brinca no parque com amigos vai aprender a negociar, interagir, ter empatia, ouvir o outro, se fazer ouvir, avaliar riscos, resolver problemas, desenvolver coragem, autorregulação, auto estímulo, criatividade, imaginação… Uma série de habilidades que nenhuma aula vai oferecer para ela.
"E elas são muito mais importantes para um adulto bem-sucedido do que uma aula de Kumon ou violino. Não que precisemos desvalorizar a importância de matricular nossos filhos em algumas atividades, mas é importante nunca esquecer que brincando livremente na natureza a criança está aprendendo."
Becker ainda aponta que esse "excesso curricular" pode acarretar até prejuízos:
"Há algumas pesquisas que já estão avaliando que as crianças da geração Y, os millennials, que foram superprotegidas e foram vítimas desse excesso de escolarização, estão se tornando adultos narcisistas, incapazes de lidar com a frustração e com o conflito, tendem a fugir das intempéries… A criança tem que cair e ralar o joelho. Porque a vida dói, a realidade dói. Mas passa. E, no dia seguinte, o machucado ganhou uma casquinha, o corpo está reagindo e fazendo alguma coisa. Daqui a pouco, aquela marquinha sumiu e o joelho voltou ao normal. Olha tudo o que ela aprendeu ali sobre enfrentar a dor, sobre saber que essa dor passa e que o corpo funciona e se regenera. Que aula vai oferecer a ela essa experiência?"
Interessante, não é? E você, o que acha disso?

NOTA

Estudei estas preocupações em 1969, faz para o próximo ano, 50 anos. Só sistema educativo é que ainda não percebeu.

https://www.primistili.com.br/prioridade-da-infancia-e-brincar-nao-criar-curriculo-diz-pediatra

Ilustração: Google Imagens.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

OS EXAMES NACIONAIS E A LÓGICA MERCANTILISTA


Investigação da Universidade de Aveiro conclui que exames nacionais promovem desigualdades entre estudantes. Investigação do Departamento de Educação e Psicologia da Universidade de Aveiro.

Os exames nacionais, para além de agravarem as desigualdades sociais entre os alunos, empurram a organização das escolas para uma lógica mercantilista. O estudo de Andreia Gouveia, especialista em Administração e Políticas Educativas da Universidade de Aveiro (UA) que procurou perceber como estudantes, famílias, escolas e centros de explicações se organizam perante as provas nacionais, vai ainda mais longe: o grande beneficiário dos exames é o crescente mercado dos centros de explicações.

Andreia Gouveia, investigadora da Universidade de Aveiro

“É inegável que existem fundadas razões para ver no instrumento ‘exame’ uma causa para o agravamento das desigualdades sociais no acesso ao reconhecimento escolar”, aponta Andreia Gouveia, autora da tese de Doutoramento em Educação “Exames nacionais, apoios pedagógicos e explicações: a complexa construção dos resultados escolares em Portugal”.
Durante quatro anos, a investigadora esteve em um colégio e um agrupamento de escolas considerados de topo pelos rankings e em outro colégio e outro agrupamento de escolas colocados no fundo dessas tabelas. Nesses estabelecimentos de ensino públicos e privados entrevistou os diretores e membros da direção e 692 alunos pertencentes aos anos em que existiam exames nacionais (à data da realização da tese existiam exames nacionais nos 4º, 6º, 9º e 11º e 12º ano. Entretanto, o atual governo aboliu os exames dos 4º e 6º anos de escolaridade). Andreia Gouveia entrevistou igualmente os diretores dos centros de explicações mais referenciados pelos estudantes.
Se apenas 26 estudantes do 4º ano frequentam explicações, o número aumenta até aos 174 estudantes do 12º ano que recorrem a esse apoio privado. A maioria justifica a escolha tendo em vista uma melhor preparação para os exames nacionais.

Nem todos podem pagar explicações

Apenas os jovens do agrupamento de escolas público pior classificado no ranking afirmaram não recorrer a explicações porque “a sua condição socioeconómica não lhes permitia”. Um facto, alerta a investigadora, que levanta “inquietantes preocupações de justiça social e equidade” já que nem todas as famílias podem suportar uma média de 80 euros mensais por duas horas semanais de explicações, no caso dos alunos do Ensino Básico, ou os 160 euros para os alunos do Ensino Secundário. A mensalidade pode mesmo ser “muito mais avultada, tendo em consideração o número de horas e de disciplinas a que os estudantes podem ter explicações”.
São precisamente os estudantes das escolas melhor posicionadas no ranking que mais procuram centros de explicações, sendo que a maioria dos alunos da escola pública melhor classificada afirmaram recorrer a explicações em todos os níveis de ensino. Estes dados, aponta Andreia Gouveia, “permitiram-nos verificar como o mercado de explicações influência o sistema formal de ensino, pois ao frequentarem as explicações fora da escola os alunos deixam de frequentar os apoios oferecidos no interior da escola”.

Os fins justificam os meios

“A fragilidade dos exames começa pela descontextualização em que operam ao ignorar os espaços de ensino-aprendizagem: não importa o processo para chegar aos resultados, o que importa acima de tudo é o resultado”, diz Andreia Gouveia. “Se os fins justificam os meios, as famílias vão usar de todos meios ao seu alcance para atingirem o fim máximo da performance escolar que é aquilo a que se convencionou chamar a excelência escolar”, aponta.
E se dessa “excelência” depender o acesso à universidade e, com isso, de um futuro promissor, as famílias informadas e com poder de compra sabem quais as estratégias mais seguras: “assegurar a frequência das ‘melhores’ escolas e dos ‘melhores’ explicadores e quanto mais cedo melhor”.
“Os exames nacionais deveriam ser entendidos como mais um instrumento, mais um método, retirando-lhes a excessiva valorização que está na origem de momentos de enorme tensão, stress e ansiedade para todos os alunos e suas famílias, bem como para os estabelecimentos de ensino que frequentam”, justifica.
Andreia Gouveia lembra a realidade de países onde não se conhecem exames nacionais, como é o caso da Dinamarca, da Finlândia ou da Suécia, e que apresentam níveis muito baixos quer de oferta quer de procura de explicações. Países “onde para as famílias é inquestionável a qualidade do ensino público prestado, não sendo por isso alimentado o mercado paralelo ao sistema formal de ensino”.
Num contexto onde os decisores políticos continuam “governando pelos números”, a imagem organizacional da escola em Portugal, refere a especialista, “tende a ser associada a uma empresa educativa, com os resultados académicos a serem determinantes na avaliação, prestação de contas e responsabilização das instituições educativas e dos seus atores”.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

ESTA É DE ALMANAQUE


Passaram-se mais de dois anos da actual legislatura e só agora o secretário regional da Educação decidiu ouvir mil jovens para, segundo li, "perceber quais as preocupações, motivações, necessidades e projectos dos jovens de hoje, para que possa haver políticas ligadas à área da juventude que vá ao encontro dessas mesmas motivações" (...) "É importante que tenham a percepção de que estamos a traçar um projecto, e um caminho não só para vós e para todos os que vos irão secundar na juventude". Ora bem, se há dez, quinze, vinte ou trinta anos tivessem tido uma iniciativa destas, obviamente, continuada no tempo, vá que não vá! Agora, quarenta anos depois, com todas as maiorias absolutas, não saber o que se reveste de importância para o futuro, penso que é de almanaque! 


Presume-se da notícia, duas coisas: primeiro, pela presença do director regional da Juventude e do Desporto, que esta iniciativa está mais ligada a estas áreas específicas e não ao sector da Educação, entendido como chapéu onde todas as áreas se abrigam; segundo, então, pergunto, para que serve o Conselho Regional de Juventude da Madeira, órgão de consulta do secretário? Será, apenas, um órgão político, porta-voz dos interesses político-partidários do vértice estratégico da hierarquia? E para que tem servido as sessões do Parlamento Jovem, onde, tematicamente, têm sido discutidos assuntos pressupostamente importantes e "aprovadas" as decisões? E, já agora, para que serviu e o que restou do Ano Europeu da Educação pelo Desporto (Comissão Europeia), realizado em 2004, e que teve abertura oficial na Madeira? Tratou-se só de espectáculo político? Uma pergunta complementar: "é importante que tenham a percepção de que estamos a traçar um projecto (...)" disse o secretário, significa isto que vão dar conhecimento ou a iniciativa visa auscultar? Ou se trata de uma insanável incoerência ou de um lapso de comunicação! 
Mais, ainda, admitindo a necessidade de uma auscultação, não seria mais importante discutir o sistema educativo, globalmente, no quadro da Autonomia Político-Administrativa, a sua organização, a estrutura curricular, programática e pedagógica, trazendo à colação a voz dos alunos, dos pais, dos investigadores, dos professores, das instituições empresariais e sindicais, enfim, não seria preferível colocar em cima da mesa, tudo, mas tudo, despindo a EDUCAÇÃO de todas as convenções e estereótipos?  . Bastaria que a equipa da Educação tivesse como ponto de partida o programa da RTP1 "Fronteiras XXI" ou ler os relatórios do Ano Europeu da Educação pelo Desporto, onde foram aplicados, em todo o espaço europeu, 11,5 milhões de euros. Portanto, estou em crer que este é mais um número político regional no quadro da ginástica. Mas sem a sublime beleza, da mesma, sublinho. Não mais do que isso. Infelizmente, de mal a pior, porque não existe um fio condutor nas iniciativas.
Ilustração: Google Imagens.
Fonte: DN-Madeira

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

RANKING'S - AS ESCOLAS PÚBLICAS PREPARAM MELHOR PARA A UNIVERSIDADE


Os "ranking's" dos estabelecimentos de ensino constituem a mais desprestigiante afronta aos estabelecimentos públicos. E, convenhamos, embora em menor escala, também aos de iniciativa privada. Felizmente que o Ministério se distancia desta catalogação, mas há quem os promova. Os dados dos exames nacionais, obviamente, são públicos e, portanto, a comunicação social compila-os e divulga-os de forma fria, isto é, descontextualizada. Aquilo que foi uma novidade e até tido por um mero um indicador, hoje, em presença de novos enquadramentos, deve ser considerado uma ofensa, um insulto, porque, desde logo, só se pode e deve comparar o que é comparável.


Como é possível estabelecer uma comparação entre o público e o privado, entre o Norte e o Sul, entre o litoral e o interior? Que legitimidade existe colocando em contraponto, diferentes formas de recrutamento de alunos, por isso mesmo, públicos diferentes, níveis económicos, sociais e culturais distintos, escolas que especializam alunos em exames, em detrimento de uma aprendizagem mais geral e consentânea com a  vida? Como pode ser comparável uma escola pública com 94% dos alunos apoiados pela acção social educativa, melhor dizendo, pobres, com uma outra, privada, sujeita a uma prévia entrevista de selecção e a um pagamento mensal muito próximo dos mil euros? Impossível comparar, ano por ano. Porém, o que se sabe, através de estudos realizados, parecendo um paradoxo, é que os alunos oriundos da escola pública acabam por ter melhores resultados no percurso universitário. Um estudo de 2013 da Universidade do Porto, divulgado pelo jornal Público, dá-nos conta: "(...) analisados os resultados de 2.226 alunos que concluíram pelo menos 75% das cadeiras ao fim de três anos, os provenientes das privadas têm piores resultados. As escolas privadas preparam melhor os alunos para os exames, mas não para terem um bom desempenho na universidade. A Universidade do Porto (UP) analisou o percurso académico de 4280 estudantes admitidos no ano lectivo 2008/09 e concluiu que, entre os 2226 que concluíram pelo menos 75% das cadeiras dos três primeiros anos, os estudantes que provinham de escolas públicas apresentavam melhores resultados académicos do que os provenientes das privadas. (...) As escolas privadas têm grande capacidade para preparar os alunos para entrar, mas o que se verificou é que, passados três anos, estes alunos mostraram estar mais mal preparados para a universidade do que os que vieram da escola pública", adiantou ao PÚBLICO José Sarsfield Cabral, pró-reitor da UP para a área da melhoria contínua. Um paradoxo? Certamente que não. 
Ademais, o que a todos deveria preocupar não é, certamente, as classificações nos exames nacionais, mas a estrutura na qual assenta o sistema educativo. Andam, alguns, em uma quase paranóia anual, porque subiram ou porque desceram uns lugares na "tabela classificativa", não se dando conta do sistema estar ou não adequado aos desafios da formação do presente e do futuro. Felizmente, já tantas vozes se levantam contra este sistema arcaico, portanto, desprovido de sentido. Neste quadro, considero patética a posição da Secretaria Regional da Educação que, ao contrário de ver o sistema e de criticar esta obsessão pelos resultados dos exames nacionais, onde todos os anos há variações substantivas em função de múltiplos factores, prefere assumir que melhorámos aqui e ali. Foi poucochinho, mas melhorzinho! Não conseguem ver a Lua, mas o dedo que aponta para a Lua.
Ilustração: Google Imagens.

sábado, 3 de fevereiro de 2018

UMA SEMANA EM NOVA YORK VALE MAIS QUE TRÊS MESES DE AULAS!


Os professores são vítimas do sistema educativo que integram. Existe uma linha hierárquica bloqueadora da autonomia e de qualquer inovação. Só a muito custo e correndo riscos e incompreensões diversas, aqui e ali, sobretudo quando quem dirige a escola defende um paradigma diferente, alcandoram-se a formatos que ajudam a compreender que há outros caminhos possíveis para o conhecimento. Formatos organizacionais e pedagógicos, olhados de forma enviesada pelos governantes, porque saem do seu absoluto controlo, mas que evidenciam inteligência, sabedoria e capacidade para ver que o sistema que profissionalmente servem, se já não consegue responder aos desafios do presente, o que fará no futuro! Tenho é pena que a generalidade dos professores não se levante contra as aberrações do sistema, manifestando o seu inconformismo.

Na passada semana li, na Visão (páginas 61/67), uma deliciosa entrevista com o Arquitecto Álvaro Siza Vieira. Duas passagens cativaram-me: "Tem de haver tempo para pensar" (...) "O prazer de viajar... extraordinário! Um prazer extraordinário, a viagem. É uma aprendizagem e um prazer". Ora, tempo para pensar é o que a escola não incentiva, tampouco proporciona. A escola tem um programa, tem normativos, tem órgãos que os cumprem e tem uma espécie de polícia, a inspecção, que de lupa em punho, entre outros, vasculha sumários e corrige com processos quem sai da norma! Daí que, desde as primeiras idades, PENSAR*, no quadro da filosofia (elas tornam-se mais poderosas) não faça sentido para o sistema, por um lado, porque o pronto-a-vestir é de tamanho único, por outro, porque existem salazarentos resquícios entranhados que defende a existência de iluminados que pensam pelas crianças e jovens. Quanto ao prazer de viajar, em um sentido lato, é extraordinário. No caso da Madeira é o mesmo que dizer que há mais Mundo para além da Ponta de S. Lourenço. E é possível pô-los a viajar, aqui dentro e lá para fora, não apenas fisicamente, mas também através de uma outra estrutura dos meios disponíveis. E sendo assim, o manual das várias disciplinas é curto, muito curto e até extremamente condicionador. O "conhecimento" enciclopédico é desinteressante e não é fonte de prazer quando não é vivido, participado e sentido.
Na semana em curso o Henrique e o Pedro, meus netos, viajaram até Nova York. Justificaram perante a escola que não levantou qualquer problema. Já não foi mau. Disse-lhes antes da partida: desfrutem, porque uma semana, em Nova York, bem aproveitada para múltiplas visitas (antecipadamente programadas), vale mais que três meses de aulas. "É uma aprendizagem e um prazer" na expressão de Siza Vieira. De tal forma que, aproximando-se o dia do regresso, tenho já relatos do que viram e das experiências que fizeram que os leva a dizer que "gostariam de perder o avião de regresso". Como os percebo, enquanto corolário das nossas conversas. Regressam à ilha pequenina, ao manual, às aulas rotineiras, aos testes, às avaliações, àquele mundo limitado próprio de consciências adormecidas pela imposição da rotina de uma máquina industrial que não pensa.
Feliz ficaria, se, no regresso, a escola, relegando para segundo plano o martírio das aulas, eles pudessem partilhar com todos, em inglês falado, com fotos e vídeo, o que viram, o que sentiram, cruzando no todo e de uma forma única, as múltiplas disciplinas que esta viagem proporcionou. Sem a elas se referirem. A vida é isso, é um todo, não são disciplinas! A vida e a escola deveriam ser vistas pelo ângulo da cultura. Mas não. O que acontecerá, certamente, é fecharem-se no "estudo" (estudar para esquecer) para os testes que foram (re)marcados para os próximos dias. A resposta à pergunta do manual está primeiro que a verdadeira contextualização do conhecimento. A hierarquia assim impõe. O professor é tão-só uma peça da máquina trituradora de talentos. Daí que dê total razão ao alerta de Ilídia Cabral, docente da Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa: tal como estão, "as escolas tornam-se, para inúmeras crianças e adolescentes, verdadeiras catedrais do tédio". Alguém terá dúvidas? Siza Vieira, o Arquitecto criador, do alto dos seus 85 anos, não tem.

Há algo em comum entre crianças e filósofos: a capacidade de se maravilhar com o mundo. Aqui.

Ilustração: Google Imagens.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

POR ESTA OU AQUELA RAZÃO...


Ao fim de quase quarenta anos ligado à escola inquieta-me que…


… a escola em particular e a educação no seu todo sejam das áreas sobre a qual todos sabem tudo — muitos porque passaram pela mesma enquanto alunos, outros simplesmente porque sim e uns quantos porque a democracia lhes deu a representatividade do povo e sob essa capa de um momento para o outro tornaram-se experts em tudo o que tenha a ver com a mesma, divulgando nos cafés e redes sociais sabedorias e soluções mais ou menos enigmáticas…
Assumo que nutro profundo respeito pelas pessoas que têm opinião e que a expressam frontalmente, pois é na variedade de experiências e opiniões de profissionais de diferentes ofícios, que, de forma livre e descomprometida, as expressam, sem segundas intenções que surgem as soluções, pois têm o dom de apontar, lucidamente, aspetos negativos e positivos face às diferentes situações que surgem na escola, não estando somente para dizer mal e difamar os profissionais da educação (temos nesta terra algumas almas que só sabem dizer mal da Escola, sendo que para elas nesta nada está bem!).

Que sabem realmente sobre a escola alguns dos nossos eleitos/ que tanto escrevem nas redes sociais?

Apesar dos muitos constrangimentos, considero que a abertura da escola de 2º e 3º ciclos no Curral das Freiras foi um marco, existindo um antes e um depois, podendo a freguesia orgulhar-se da sua escola, dos seus alunos, dos seus professores, dos seus órgãos diretivos, dos seus funcionários, da sua Associação de pais/comunidade educativa e do imenso e meritório trabalho desenvolvido, de que os excelentes resultados escolares obtidos nos exames nacionais e a redução das taxas de abandono escolar ou de duplas e triplas retenções são meros exemplos, mas que muito nos motivam.
Acredito que a geração pós escola será indubitavelmente uma geração mais competente, mais exigente, mais participativa, mais competitiva, enfim teremos certamente melhores e mais competentes cidadãos.
Por hora termino citando o presidente Jorge Sampaio “A cidadania é responsabilidade perante nós e perante os outros, consciência de deveres e de direitos, impulso para a solidariedade e para a participação, é sentido de comunidade e de partilha, é insatisfação perante o que é injusto ou o que está mal, é vontade de aperfeiçoar, de servir, é espírito de inovação, de audácia, de risco, é pensamento que age e ação que pensa.” Cujo pensamento influenciou o lema da escola “Por uma Escola de Valores – Com excelência formamos homens e mulheres para e com a sociedade”

NOTA
Texto do Dr. Joaquim José Sousa, Escola B+S do Curral das Freiras, publicada no DIÁRIO das freguesias.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

"O ESTALEIRO DA EDUCAÇÃO"


Assinado pela leitora Pamela Santos li, no Correio da Madeira, um texto subordinado ao título "O estaleiro da Educação". Da sua leitura retive ser cada vez mais evidente que o actual secretário da Educação não consegue ter mão no sistema. Do que tenho lido, que se me afigura preocupante, conduz-me a várias perguntas: afinal, quem tem responsabilidades políticas na Educação? Quem manda naquilo? O secretário ou os quadros intermédios e assessores? Qual a verdadeira VOCAÇÃO e MISSÃO da secretaria? Que princípios e valores a orientam? Que políticas sustentam (se existem) os seus objectivos de curto, médio e longo prazo? Andarão, por ali, resquícios de um passado recente? O que leva a "perseguir" pessoas com processos disciplinares? Chega! A EDUCAÇÃO não é um brinquedo de entretenimento político. É o futuro e a sobrevivência da Região.


Vive-se um quadro que, se pensarmos no futuro, aproxima-se do dramático. Os silêncios, muitas vezes, são ensurdecedores. E é este o caso. Os problemas agudizam-se e a secretaria parece uma "casa dos segredos". O líder do governo vai dizendo umas coisas de circunstância, porém, longe de dominar o que se passa e, mais ainda, distante de uma orientação portadora de futuro. Não existe pensamento acerca do amanhã, apenas a rotina da burocracia que enxameia as mesas, desde o intocável centro de decisão até aos estabelecimentos de educação e ensino. Se antes era mau, agora parece-me péssimo. Não estou a escrever nada de novo. Apenas estou a trazer à colação textos publicados, sentimentos vindos a público, cartas-do-leitor, técnicos de valor que, subtilmente, vão-se distanciando, professores sobrecarregados e desanimados, promessas não cumpridas, sindicatos críticos, manifestações de pais e de alunos à porta da escola, ausência de financiamento, indisciplina por desfazamentos familiares a montante, mas também porque a escola não está pensada para as novas gerações, e, perante tudo isto, o silêncio, como se nada estivesse a acontecer. Como se o Mundo tivesse parado, já não digo há 200 anos, mas há vinte ou dez anos. Como se algumas mexidas nas margens fossem suficientes para resolver as questões nucleares. Aquela carta, entre outras, evidencia a existência de uma tetraplegia governamental que bloqueia movimentos, demonstra uma estrutura conceptualmente estática, porque não desafia, não gosta de enfrentar o risco, que disserta no sentido dos outros saírem do tal paleio da "zona de conforto", mas que se refastela, comodamente, no sofá dos gabinetes. A Educação deve ser engenho, arte, cultura, inclusão, provocação, participação, crítica, responsabilidade, inovação, criatividade, curiosidade, pensamento, experiência, vivência e partilha, justiça, solidariedade, valores, autonomia, tecnologia e, entre tantas palavras que podemos juntar, deve ser democracia e liberdade. A Educação não é, não pode confinar-se a um edifício, currículos, programas, turmas, aula, testes, avaliação, exclusão vs meritocracia, burocracia, conflitos, uniformização, centralização, mercado, estatísticas e prática pedagógica heterónoma. A Educação é muito mais do que isto. É, por isto e muito mais que surgem textos como "O estaleiro da Educação".
Ilustração: Google Imagens.