domingo, 29 de julho de 2018

O REI VAI NU OU O SECRETÁRIO DA EDUCAÇÃO VAI NU



Excerto de um artigo de opinião, assinado pela Drª Fátima Ascensão, publicado na edição de hoje do DN-Madeira.

"(...) Rapidamente terá de explicar o que se passa na educação. Como é possível a extinção da Escola Básica dos 1.º 2.º e 3.º ciclos com Pré-escolar do Curral das Freiras, em que os seus 253 alunos passarão para a Escola de Santo António? Uma escola vencedora de vários prémios, com resultados brilhantes, responsável por proporcionar oportunidades de evolução a uma comunidade isolada. Um caso de estudo em todo o país e mencionada em toda a Europa pelos resultados atingidos. Governar é perceber a dimensão territorial onde vivemos. Expliquem como vão reduzir os custos? Por acaso a escola já não está construída? Vão despedir os funcionários ou vão realocá-los noutras escolas? Onde está a poupança? Qual é, então, o futuro das outras escolas com menos alunos? Suécia, Noruega e Finlândia optam por manter as suas escolas o mais próximo das comunidades e têm turmas com máximo de 10 alunos. E porque só se falou na sua extinção após a eleição do atual Presidente do Conselho Diretivo? Não se percebe qual linha de orientação governativa para a rede escolar. Mas também não se percebe a atitude do Presidente de Junta do Curral em ser a favor da extinção da escola e esperava-se uma atuação mais ativa do Presidente da Câmara de Câmara de Lobos. Estarão estes autarcas conscientes das consequências políticas destas atitudes? E já agora qual a postura dos outros partidos face a isto? Se ganharem as eleições o que vão fazer quanto a isto? (...)"
Ilustração: Google Imagens.

terça-feira, 24 de julho de 2018

SISTEMA EDUCATIVO EM COMA E LIGADO À MÁQUINA


Fiz toda a minha vida profissional no sector da Educação. Assisti e tenho o desfile dos sucessivos secretários regionais dos vários governos. Sobre cada um deles tenho uma opinião, no plano político, obviamente. Reservo um comentário para mais tarde. Neste momento, o que mais me entristece e preocupa é, passados 40 anos, depois de tanta investigação e produção de textos, ler, quase todos os dias, comentários muito pouco abonatórios ao actual titular da Educação. Basta procurar algumas fontes de informação e ler os artigos e comentários para que qualquer cidadão fique preocupado. Mesmo dando um certo desconto e mesmo considerando o facto de muitas vezes terem origem em fontes anónimas. Mas o que é escrito em português escorreito, não deixa de ser revelador de que existe fogo, muito fogo, proporcional à onda de fumo que alastra. Não aprecio o anonimato porque os cidadãos devem ser frontais e autênticos. Não o são, por medo da represália, o que pode ser caracterizador da ainda menoridade da vida democrática. Desde logo, não existe educação para a liberdade responsável. Aliás, as peças que tenho lido, são mais denunciadoras do que ofensivas, mas mesmo assim, os seus autores preferem resguardar-se. Entendo, perfeitamente.

Esta é lógica do sistema. Cordelinhos na mão, professores que debitam e alunos
desmotivados para um conhecimento que já não passa por ali.

Há dias, o DIÁRIO, e bem, fez uma sucinta análise a nove meses de mandato do vice-presidente do governo. Houve pessoas que ficaram abespinhadas com tal análise. Porquê aos nove meses e não mais tarde, questionaram-se. Ora, os políticos devem estar sob permanente escrutínio, aos 30 ou 100 primeiros dias, aos seis meses, aos nove ou no final do mandato. Simbolicamente, talvez aos nove para perceber-se se conseguiu, permitam-me a palavra, "parir" alguma coisa de jeito. O da Educação, sector vital do futuro colectivo da população, está há três anos, tantas ou mais razões para uma leitura, profunda, sobre o que anda ali a fazer. Os textos que tenho lido, confesso, deixam em pé os poucos cabelos que tenho! 
De facto, este secretário regional da Educação da Madeira, passados três anos, não conseguiu apresentar uma única opção de política estratégica. Se perguntarmos, indiscriminadamente, às pessoas, presumo que o principal registo que ficará é a do "secretário das fusões" de escolas, entre as quais a do Curral das Freiras. Porém, leio denúncias de um "secretário das perseguições" e, entre outras designações, de um "secretário dos processos disciplinares" e de um "secretário que detesta ver a seu lado pessoas capazes". Há, até, colaboradores credíveis que se puseram a andar, porque há mais vida profissional para além dos meandros da governação estrábica. Até com os sindicatos não conseguiu acertar o passo. Isto é preocupante, porque se conjugam dois aspectos relevantes: primeiro, a ausência de uma ideia portadora de futuro para o Sistema Educativo, a qual não se resolve com "acertos" meramente marginais; segundo, o problema da instabilidade interna que é sempre provocadora de entropia. Exactamente tudo o que o sistema não precisa, a ausência de inovação estrutural, conjugada com a fragilidade e flutuação de comportamentos. É um desastre quando estes dois aspectos se conjugam.
O problema é que, por agora, já não há volta a dar porque a legislatura caminha, rapidamente, para o final. Ninguém, sendo poder, arriscará mexer na estrutura do sistema, a meses de uma pré-campanha eleitoral. Se não fez até agora, não o fará nos meses que faltam. Deduz-se, então, que foram mais quatro anos a navegar à vista, com festas, festinhas, apoios aqui e ali (privatização), presenças para a fotografia, suplementos promocionais, peças por "encomenda", entrega de prémios, enfeitados discursos de circunstância em jornadas, conferências e pouco mais. Por outro lado, há um aspecto que reputo de relevância maior: dispor de uns subalternos que deixam o marfim correr, ter uma grande parte das direcções das escolas curvadas às orientações em um ensurdecedor silêncio, tal não significa o apoio da generalidade dos mais de seis mil professores, quase 70% dos quais sindicalizados. Simplesmente porque há muito perceberam que há um vazio de projecto que vem de muito longe e persiste. A investigação não passou por ali e, se passou, através de jornadas, conferências, etc., o secretário tem feito ouvidos de mercador. Nada de ondas!
Ora, tudo isto é preocupante, quando os índices de abandono e insucesso são assustadores, a qualificação profissional péssima, a desmobilização dos professores um facto incontornável e quando tentam remediar com pensos rápidos as feridas que têm uma natureza profunda. Sobre tudo isto há um aspecto que me deixa perplexo: porque é que o presidente do governo não consegue ver o desnorte, parecendo que antes o apoia? Há muita história para perceber e contar! Uma questão de tempo.
Ilustração: Google Imagens.

terça-feira, 17 de julho de 2018

STOP


Bolsa de Especialistas da Revista Visão
05.07.2018

Parem com esta vergonha, senhores políticos! Porque nós estamos fartos de ver a educação ser tratada como uma mulher de alterne, por quem se vive uma paixão que logo desaparece na legislatura seguinte.


Sim, parem. Mas parem de vez. Se não vivem o vosso dia a dia numa escola pública, se não vos passa pela cabeça o que é ensinar alunos de escolas de territórios educativos de intervenção prioritária ou outros, se nunca foram professores na vossa vida ou se o foram apenas em ambientes controlados como é ensinar no ensino universitário ou em colégios privados de elite, caros senhores, por favor, calem-se! Posso excluir deste rol aqueles que fizeram da sua vida e da sua carreira um estudo permanente das Ciências de Educação mas mesmo vós, excelentíssimos doutores, peçam aos políticos que nos consultem antes de legislar porque, de mudanças coladas com cuspo, estamos já fartos. Eis chegada a hora de dizermos Basta! Consultem-nos com tempo e honestidade. Consultem-nos para saber que projeto temos nós, professores, para a Educação em Portugal. E a vós, caríssimos diretores escolares, façam reuniões gerais para discutirmos medidas de inovação, medidas de combate à indisciplina, estratégias de motivação dos nossos alunos que estão, muitas vezes, tão fartos deste sistema quanto nós... Parem de nos convocar para nos contarem novamente quais as regras a cumprir nas vigilâncias dos exames nacionais, por amor de Deus!
Vivemos tempos difíceis para os professores. Como é injusta esta afirmação! Vivem-se tempos difíceis para quase todos, exceção feita a alguns banqueiros e a todos os corruptos, políticos ou não, com contas chorudas adormecidas à sombra de offshores. O resto vai vivendo como pode. E os professores carregam às costas as disfunções deste país desgovernado, desta justiça em banho-maria, desta saúde adoentada e, sobretudo, desta sociedade onde os atores de telenovela, os futebolistas, os presidentes dos clubes de futebol e os participantes nas casas dos segredos são hoje os verdadeiros heróis nacionais.
Os professores têm feito milagres nas últimas décadas com matéria-prima de fraca qualidade e recursos que deixam muito a desejar. Já não bastava andarmos com a casa às costas, termos seis turmas diferentes, darmos aulas a trinta alunos numa sala apertada, passarmos humilhações difíceis de imaginar, darmos aulas em horário não letivo (que ninguém nos paga), sermos verdadeiros administrativos quando deveríamos era termos tempo para pesquisar, ler e estudar, termos a culpa pelos maus resultados dos alunos, sermos agredidos por pais e encarregados de educação... como agora também sermos alvo desta grande injustiça nacional: apagar nove anos, quatro meses e dois dias de vida profissional aos docentes. Parece estar encontrado o verdadeiro saco de boxe da sociedade portuguesa da atualidade

Parem com esta vergonha, senhores políticos! Porque nós estamos fartos de ver a educação ser tratada como uma mulher de alterne, por quem se vive uma paixão que logo desaparece na legislatura seguinte. Não podemos, professores, alunos, pais e encarregados de educação, continuar a depender destas alternâncias políticas nem dos caprichos de ministros que nunca deram uma aula na escola básica e/ou secundária e que, por isso mesmo, não sentem nem sabem o que os livros sobre educação não lhes podem contar. A educação tem de deixar de ser uma paixão para ser um amor para a vida inteira.

A sociedade mudou, meus senhores. A mobilidade social é cada vez mais difícil de alcançar. A educação não pode ser um uniforme de tamanho único que, nestas condições, acabamos por ser obrigados a vestir a todos os alunos (com a tão proclamada redução, parece que iremos passar de 30 para 28 alunos, o que fará certamente toda a diferença), quer eles caibam lá dentro quer não. Porque, meus senhores, a dinâmica das estratégias políticas limita a implementação e o desenvolvimento dos processo de mudança. E além disso, não há nem haverá nunca mudanças sem os professores. Não há, os professores sabem disso, um projeto estruturado para a Educação em Portugal. Fazem-se mudanças – geralmente abruptas - de acordo com quem entre e quem sai dos cargos políticos, mudanças que nos chegam desse Deus invisível que se chama Ministro da Educação mas a quem, nós, professores, não conseguimos nunca rezar. Por que será? Seremos todos nós descrentes e vazios de fé, esta classe de gente perdida, estes insatisfeitos e exigentes funcionários do estado, com a vida tão facilitada e férias a não ter fim? Ou seremos nós, professores de Portugal, demasiado pacientes? Talvez... talvez seja defeito profissional visto trabalharmos diariamente com crianças e jovens - muitos deles provenientes de famílias desestruturadas - que connosco contam como âncora ao longo de tantos anos das suas vidas.
Não, senhor Ministro, nós não somos meros funcionários do Estado. Talvez não saiba mas somos muito mais do que isso! E dizemos-lhe que até funcionamos muito bem tendo em conta os contextos de mudança em que temos vivido desde a revolução de abril. Mas, senhor Ministro, agora chegou a hora de lhe dizermos que estamos cansados de funcionar.
Saberá o senhor Ministro que a concretização das políticas educativas falha e falhará sempre sem os professores? Saberá ainda, caro Ministro da Educação, que estamos velhos e cansados, alguns até mortos já? Mas não se iluda, caro senhor. Os professores nunca até aqui mostraram a sua força. Estamos divididos. Contando por alto, são catorze estruturas da FNE e da Fenprof, mais oito sindicatos independentes e o recentemente criado S.T.O.P., feito (segundo parece) por professores que dão aulas para professores que dão aulas e ainda por cima, apartidário. Mas não deixa de ser demasiada gente a decidir, ou pior, a dividir...
Senhor Ministro: os professores precisam do respeito da sociedade, dos pais, dos alunos. Sejam vocês a dar o exemplo ao país. Ou então, só nos resta defender um novo caminho por onde a Educação deve seguir. Afastada dos partidos e dos seus interesses e ligada a uma sociedade livre, pensante, preocupada com o Presente e com o Futuro sem nunca se esquecer do seu Passado. Utopia? Talvez, senhor Ministro! Porém, lembre-se: somos professores, partilhamos o sonho e oferecemos criatividade. É que nem todos os professores deste país morreram ainda, senhor Ministro da Educação.
Sindicatos: a partir de setembro esqueçam as greves aos primeiros tempos da manha bem como as manifestações na avenida! A partir de setembro, quando quiserem abrir as escolas e começar as aulas, promovam a união da classe docente! Mostrem-nos que têm coragem para promover a verdadeira união da classe docente! Mostrem ao país que defendem a qualidade da educação. Convoquem a verdadeira revolução: que nos vistamos todos de preto e fiquemos às portas das escolas; que ninguém dê aulas; que os professores mais motivados arrastem consigo os colegas adormecidos; que os diretores se unam aos professores numa luta comum; que os pais e encarregados de educação se juntem a nós. Sem medo, colegas! Os alunos apoiar-nos-ão na nossa luta e os pais, que nos conhecem como bons professores e diretores de turma, seguir-nos-ão e trarão os outros. Porque só eles sabem que somos professores vinte e quatro horas por dia e estamos e estivemos sempre lá, desde o primeiro dia em que nos entregaram os seus filhos ainda pequenos... Eles sabem disso.
Colegas: uma vez o acesso à educação está praticamente garantido em Portugal, falta agora arregaçar as mangas e lutar pela sua qualidade. Somos nós professores, que temos de fazer esta luta. Mais ninguém – exceto por razões e com fins políticos - parece ter coragem ou capacidade de a iniciar. O que ensinar? Como? Com que fins? Somos nós, colegas, que temos de tomar içar as velas desta barca que naufraga. Os problemas da escola são os problemas da sociedade e vice-versa mas a sociedade parece ainda não ter entendido isto.
Chegou a hora de pararmos de obedecer cega e estupidamente a este desnorte! Somos profissionais pensantes. Queremos mudanças! Queremos o tempo de serviço a que temos direito (nem sequer estamos a pedir retroativos)! Exigimos qualidade! Exigimos respeito! Se somos nós que no terreno lutamos diariamente contra os muitos constrangimentos do sistema, seremos nós também que temos de mostrar aos nossos políticos que não estamos interessados nos seus jogos de poder. Sem medo, colegas!
Pessoa, tu sim, tu tinhas razão. É hora!
Ilustração: Google Imagens.

sábado, 14 de julho de 2018

FUNDIRAM-SE


Li, na página de facebook do Dr. Joaquim José de Sousa, professor responsável pela escola do Curral das Freiras, o seguinte texto:

OBRIGADO MENINOS - OBRIGADO COLEGAS
Resultados fantásticos, agradeço do fundo do coração a todos aqueles que contribuíram para que nesta última janela a escola do Curral das Freiras tivesse resultados muito bons:

Português - 74.43 = 4
Matemática - 52.21 = 3

Escola = 63.32

Abandono escolar 2017/2018 = 0%
Retenção = 6%

Peço-vos que continuem a acreditar, como nós acreditamos que a escola é a grande janela de oportunidade da nossa sociedade. Não nos devemos nunca esquecer daqueles que vivem nas periferias da sociedade de que tanto fala o Papa Francisco.

Apesar dos resultados, em uma escola com mais de 80% com Apoio Social Educativo, a escola entrou em processo de fusão com uma do concelho do Funchal. Curiosamente, perante o ensurdecedor silêncio do presidente da autarquia de Câmara de Lobos. Os alunos da escola deram a resposta à intolerância e à perseguição. NÃO há razões objectivas e sustentadas, digam o que disserem, para a fusão de uma escola apenas por tentar ser diferente.

sexta-feira, 13 de julho de 2018

UMA CARTA DE UM PROFESSOR


ESCOLA PÚBLICA

12 JUL 2018 - Publicada no DN-Madeira

A Escola pública também é minha! Poderia bem ser o mote para uma mobilização nacional. Está a definhar, numa agonia lenta. E não me refiro às fusões ou encerramentos, essa é, assim acredito, uma inevitabilidade da conjuntura económica e demográfica. Pior! Deixou de ser o lugar onde o aluno quer estar e passou a ser, não raras vezes, onde tem de estar. Porquê? Porque fomos imprudentes. Porque a demos como adquirida. Porque não nos reinventámos. Porque nem sempre demos o melhor de nós. Porque nos desviámos do fim a que se destina, o aluno, para satisfazer interesses e vaidades pessoais. Porque exigimos o que não estamos dispostos a dar. Porque..., enfim. Mudemos de paradigma. Por vontade de preferência. Por decreto se necessário.Temos de admitir que falhámos. Todos. Por ação ou omissão. Por interesse ou desinteresse. Por incúria ou desleixo. E o aluno, bem raro e precioso, precisa, urgentemente, que a Escola Pública seja adulta e responsável, que o receba e cuide, ou alguém o fará. Pouco importa lamentar pelas escolas que fecham. Cuidemos das que estão abertas! Que o aluno seja a razão de ser do sistema educativo sem carregar as culpas pelas falhas do mesmo. Que os professores se valorizem e façam valorizar. Que a comunidade educativa seja exigente, atenta e participativa. Que as políticas educativas não percam recursos humanos, preparados, motivados e fundamentais à mudança de paradigma para uma escola pública inclusiva. Que se antecipe, gradualmente e de forma sustentada, o rejuvenescimento da classe docente. Que se estabeleçam, porque não, numerus clausus à contratação, aquém ou além, de cabimentos orçamentais. A Escola pública também é minha!
Paulo Serra
Professor contratado

segunda-feira, 9 de julho de 2018

O NECESSÁRIO REGIME DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA: AS CONFLITUALIDADES DO "TEMPO E DA URGÊNCIA"


Após a leitura atenta do novo regime de educação Inclusiva hoje [ontem] publicado em Diário da República, Decreto-lei nº 54/2018, de 6 de julho, que estabelece os princípios e as normas que garantem a inclusão, enquanto processo que visa responder à diversidade das necessidades e potencialidades de todos e de cada um dos alunos, através do aumento da participação nos processos de aprendizagem e na vida da comunidade educativa, constatamos que corresponde ao já previsto na Proposta que esteve em discussão pública, com a introdução de algumas alterações resultantes das propostas e pareceres de diferentes Organizações e Entidades de referência, algumas já avançadas em Comunicações Públicas e também através da Formação de Formadores desenvolvida pela DGE.


Colocamos em destaque a importância da convergência e interdependência do diploma da educação inclusiva com Decreto-Lei nº 55/2018, também publicado hoje [ontem] e que estabelece o currículo dos ensinos básico e secundário, os princípios orientadores da sua conceção, operacionalização e avaliação das aprendizagens, de modo a garantir que todos os alunos adquiram os conhecimentos e desenvolvam as capacidades e atitudes que contribuem para alcançar as competências previstas no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória. Este diploma entra em vigor no dia seguinte ao da sua publicação e prevê a gradualidade no que se refere à produção de efeitos (art.º 38º).
Neste âmbito, compreendemos a necessidade de planear e agilizar a preparação do próximo ano escolar/letivo mas saliento a conflitualidade que gera a publicação tardia do Diploma da educação Inclusiva face ao momento do ano escolar em que nos encontramos, pois apesar de o mesmo referir que “o presente decreto-lei produz efeitos a partir do ano escolar 2018-2019 (nº 1 do artº 41º) refere também no nº 2 do mesmo artigo que “sem prejuízo do disposto no número anterior, e do regime previsto no artigo 31.º, devem as escolas proceder à sua aplicação na preparação do ano letivo 2018-2019”. Refira-se que o artº 31.º para além de outros aspetos estipula que “o aluno que à data da entrada em vigor do presente decreto-lei se encontre abrangido pela medida currículo específico individual, prevista na alínea e) do artigo 16.º e no artigo 21.º do Decreto-Lei n.º 3/2008, de 7 de janeiro, alterado pela Lei n.º 21/2008, de 12 de maio, deve ter o seu programa educativo individual reavaliado pela equipa multidisciplinar para identificar a necessidade de medidas de suporte à aprendizagem e à inclusão e para elaborar o relatório técnico-pedagógico previsto no artigo 21º do presente decreto-lei (ponto 1) e que “o relatório técnico-pedagógico e o programa educativo individual referidos nos n.os 1 e 2 devem ser elaborados em momento anterior ao início do ano letivo a que se reporta a produção de efeitos do presente decreto-lei (ponto 6).
Nesta data e quando ainda desenvolvemos nas Escolas todo um conjunto de trabalho necessário à finalização do ano escolar que decorre e também à preparação do seguinte, tendo como base que, pelo menos na última semana deste mês, é suposto termos direito a gozar o nosso período de férias (docentes e famílias), pergunto se estarão criadas as condições (tempo e capacitação) para que os agrupamentos, os professores, incluindo os de educação especial em corresponsabilização com todos os restantes, procedam à análise dos processos destes alunos que garantam a aplicação das opções metodológicas subjacentes ao presente decreto-lei e que “assentam no desenho universal para a aprendizagem e na abordagem multinível no acesso ao currículo (…) modelos curriculares flexíveis, no acompanhamento e monitorização sistemática da eficácia do contínuo das intervenções implementadas, no diálogo dos docentes com os pais ou encarregados de educação e na opção por medidas de apoio à aprendizagem, organizadas em diferentes níveis de intervenção, de acordo com as respostas educativas necessárias para cada aluno adquirir uma base comum de competências, valorizando as suas potencialidades e interesses”. 
Salientamos aqui, de forma consciente e com um forte sentido ético e profissional, neste processo de transição das medidas e apoios a adotar para os alunos que atualmente se encontram abrangidos pela alínea e) do decreto-lei nº 3/2008, de 7 de janeiro, que venham a requerer medidas adicionais e até seletivas, a pertinência e necessidade da salvaguarda de tempo para desenvolver processos sérios, responsáveis, equilibrados e devidamente fundamentado através de processos colaborativos e reflexivos dos diferentes intervenientes, com base em evidências. 
Enquanto se aguarda a disponibilização do manual de apoio à prática inclusiva que “é elaborado e disponibilizado no prazo de 30 dias após a entrada em vigor do presente decreto-lei” (artº 32º, ponto 2) e a entrada em funcionamento das equipas multidisciplinares de apoio à educação inclusiva que deverá ocorrer também no prazo de 30 dias a contar da data da entrada em vigor do presente decreto-lei (artº 35º), em que assenta o caráter de urgência destes casos se, de facto, foram os que mereceram uma atenção especial da parte de todos os envolvidos neste processo de revisão legislativa por se considerar que o Currículo Especifico Individual se tratava de uma medida muito restritiva, nem sempre corretamente aplicada por se traduzir em respostas educativas que, em muitos casos, se traduziam em processos de exclusão e discriminação de crianças e jovens?
É com o objetivo de prevenir que situações destas nunca mais se repitam, que estas crianças e jovens têm DIREITO ao desenvolvimento de um PROCESSO de reavaliação com base nos pressupostos que esta legislação, na nossa perspetiva muito bem, propõe. 
Neste contexto, não compreendemos em que medida o caráter de urgência desta transição possa garantir efetivamente uma “educação inclusiva onde todos e cada um dos alunos, independentemente da sua situação pessoal e social, encontram respostas que lhes possibilitam a aquisição de um nível de educação e formação facilitadoras da sua plena inclusão social. Sobretudo “nos casos em que se identificam maiores dificuldades de participação no currículo, cabe a cada escola definir o processo no qual identifica as barreiras à aprendizagem com que o aluno se confronta, apostando na diversidade de estratégias para as ultrapassar, de modo a assegurar que cada aluno tenha acesso ao currículo e às aprendizagens, levando todos e cada um ao limite das suas potencialidades” (Preâmbulo do decreto-lei nº 54/2018). 

É PRECISO FAZÊ-LO COM CARÁTER DE URGÊNCIA, SIM! 
MAS COM A SALVAGUARDA DO TEMPO MÍNIMO QUE GARANTA OS MESMOS DIREITOS E PERMITA AS MESMAS CONDIÇÕES, OS MESMOS INTERVENIENTES COM CAPACIDADE DE DECISÃO QUE O DIPLOMA PREVÊ PARA TODOS OS ALUNOS.

Esta nossa reflexão surge porque nos situamos, revemos e identificamos na necessidade urgente deste processo de mudança de paradigma de educação inclusiva, onde todos os alunos aprendam e atinjam o limite máximo das suas capacidades, a par da construção de percursos pessoais, sociais e profissionais de sucesso e congruentes com os desafios deste século. Por isso, consideramos que é fundamental que não haja o menor risco de que, nesta fase de transição normativa, algum aluno fique para trás, evitando que se verifiquem “disparidades e desigualdades no acesso, na participação e nos resultados de aprendizagem” já cometidos no passado. 
O que nos é exigido a TODOS é que tenhamos a capacidade e a competência para garantir o efetivo “acesso, na equidade e na inclusão, bem como na qualidade e nos resultados da aprendizagem de Todo e de Cada um dos alunos” (UNESCO, 2015).
É para isso que TODOS, mesmo TODOS temos que trabalhar!

Manuela Prata

Blogue: Incluso

quarta-feira, 4 de julho de 2018

JOGAR FORA O MANUAL




"Depois de 100 anos do mesmo modelo de ensino, é hora de jogar fora o manual.
Ao olhar para a educação dos meus pais nos anos 50 e 60 e para minha própria educação nos anos 90 e 2000, preocupa-me o facto de, apesar dos enormes avanços que vimos na tecnologia, pouco ter mudado, quando se trata de como ver a aprendizagem e como projectar ambientes de aprendizagem.(...)"
Ilustração: Google Imagens.