domingo, 30 de setembro de 2018

OS BUROCRATAS DA EDUCAÇÃO QUE PENSEM NESTAS FRASES



"A melhor jogada para evitar o xeque-mate da máquina ao Homem não é a marreta, mas sim a aliança".
José M. Carvalho/Chaves
"Por vezes parece que usamos os mesmos dígitos, mas por outra ordem. Em vez de XXI estamos em XIX"
António Barbosa/Porto
Revista Visão 20/26 de Setembro.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

UM SISTEMA EDUCATIVO CAQUÉTICO


O Sistema Educativo está envolto em acesa polémica. É inegável. São "cartas do leitor", são artigos de opinião, textos, marcadamente corrosivos, publicados em blogues,  são páginas de facebook, são os sindicatos em constante rebuliço, conduzindo até alguns processos ao Tribunal Administrativo, é o ensurdecedor silêncio público dos professores que vão murmurando sobre o funcionamento da escola pública, são fusões e extinções, inexplicáveis processos disciplinares, é a atribuição de 25 milhões de euros ao ensino privado, enfim, é indisfarçável que o sistema está a rebentar pelas costuras. Até a chefe de gabinete do secretário saiu de cena. Ao longo dos anos foi sensível a ausência de rumo, hoje, porém, já não é possível esconder tanta fragilidade, quer no Sistema Educativo, quer no desporto educativo, quer nas políticas de juventude. Até um cego político vê!

O Sistema Educativo precisa de cabeça e braços para actuar

O sistema funciona como uma empresa, que, mesmo em falência técnica, abre às oito e fecha às dezoito. As portas abrem, o pessoal entra e sai, os "clientes" por lá andam, mas sempre em défice, apesar da administração dizer que tudo funciona com "normalidade" e com "tranquilidade". Basta espreitar os "balanços" para verificar que está tudo de pantanas. O que apresenta na montra não está em consonância com o armazém. E assim andam, de palco em palco, de escola em escola, mentindo sobre a realidade, fabricando notícias avulsas, mas pior, ainda, sem pensamento crítico sobre o futuro. A pesada estrutura acomodou-se, porque trancada na sua "torre de marfim", "não fecunda nem se deixa fecundar" pelas ciências, o que evidencia um pavor pela mudança que implica desempoeiramento da consciência, abertura ao mundo, acreditando na utopia como caminho seguro. Preferem a maldita rotina, ter emprego e não trabalho, sem a consciência que os erros de hoje serão pagos, a prazo, com juros! Já estão. 
A escrita, para mim, mesmo aquando de desabafos sentidos, tem linhas vermelhas que não gosto de ultrapassar. Porém, já não chega dizer basta. O secretário que defina a sua vida, deixe o assunto para quem sabe e regresse à escola. A escola precisa de bons professores e a Educação de políticos de excelência. No exercício da política exige-se sabedoria e reconhecida competência. É demasiado grave a Madeira ter voltado a perder três anos de uma política educativa que se andava moribunda, agora está morta. Não se trata de exagero da minha parte. Basta ler com atenção a comunicação social, as redes sociais sérias, para tomar consciência da desorientação e da ausência de rumo. O mundo anda já pela 4ª Revolução Industrial e, por aqui, preferem manter os traços característicos de um sistema nascido há mais de duzentos anos. Onde está a inteligência para derrubar conceitos errados, mentalidades caquéticas, estruturas de pensamento obsoletas, características organizacionais arcaicas, atitudes centralizadoras, maximizações e padronizações, currículos sem sentido, programas desvirtuados da vida real, escolas transformadas em espaços de audição e não de participação, obsessiva preocupação pela avaliação e não pela aprendizagem e conhecimento, onde está a inteligência para acabar com essa treta da meritocracia, com prémios, até pecuniários, a crianças do primeiro ciclo, onde está a capacidade para, paulatinamente, quebrar as múltiplas iliteracias que andam por aí?
É um sufoco, creiam. Querem "brincar", pois brinquem, mas em casa, não no serviço público.
Ilustração: Google Imagens.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

DELICIOSA CONVERSA


Ontem assisti a uma conversa deliciosa. Acompanhei o meu neto a uma consulta médica no Centro de Medicina do Desporto, na cidade do Porto. O habitual para os candidatos a praticantes desportivos. Na sala de espera, os amigos da equipa de futebol a que pertence, quase todos acompanhados de um familiar. Entre os presentes, concluí depois, um seccionista do clube. A idade, talvez, deveria ultrapassar os 70! Pela forma como estava vestido, pareceu-me um homem humilde. A acrescentar, uma significativa falha na dentição. A capa, em plástico, com os documentos do clube, pareceu-me ter andado na guerra, tão velhinha que se apresentava. Ao seu lado sentou-se um jovem pai e bastaram uns minutos e estavam em amena cavaqueira. 


Fui escutando, mesmo sem querer! A conversa, repito, absolutamente deliciosa. Falavam de prática desportiva e, particularmente, do futebol dos miúdos. A páginas tantas ouço-o dizer: muitos treinadores estão errados. Escuto-os, no balneário, a incentivar os miúdos com frases de guerra: "vamos ganhá-los, temos de ganhá-los, vamos ganhá-los! Quando deveriam dizer, apliquem o que aprenderam e divirtam-se. Se aplicarem o que aprenderam, talvez ganhem". E ouvi mais: nestas idades é a formação e a educação que nos deve preocupar". O pai com quem conversava apenas dava, com a cabeça, sinais de total concordância com o que ele dizia. 
Para com os meus botões, que homem tão humilde por fora e tão grande por dentro. Que inteligência e que coração. O meu neto, pensei, está bem enquadrado. É destes homens e mulheres, dirigentes voluntários que o país precisa e que o país tem por todo o lado, que passam incógnitos, que não andam nas primeiras páginas, que não participam em tristes debates na televisão, mas que ajudam a construir a síntese da "Ode ao Desporto" de Pierre de Coubertin: "Ó Desporto Essência da vida (...) Ó Desporto, tu és a beleza! És o arquitecto deste edifício que é o corpo (...) Ó Desporto, tu és a Justiça! A equidade perfeita (...) Ó Desporto, tu és a audácia! Ó Desporto, tu és a Honra! Os títulos que tu conferes não têm qualquer valor se adquiridos por meios diferentes da lealdade absoluta. (...) Ó Desporto, tu és a alegria! Ó Desporto, tu és o progresso! Ó Desporto, tu és a paz! (...)". Uma síntese que não é perceptível, todos os dias, nas ofensas perpetradas por gente de fato e gravata de marca, com toda a dentição, com pastas de referência, mas que discutem o nada, o vazio, a maldade, a corrupção dos outros quando eles próprios chafurdam na lama. 
Ora bem, que conversa tão deliciosa escutei ontem.
Ilustração: Google Imagens.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

ESCOLA DO CURRAL DAS FREIRAS: COMO MATAR NÃO MATANDO


Enquanto uns andam na vida de forma erecta, longe de desprestigiantes jogos, outros, para saírem a uma porta, no sentido mais lato, precisam de muitas horas para enrolarem o rabinho. E essa cauda, mor das vezes, faz lembrar a história do gato escondido. A da escola do Curral das Freiras parece-me, cada vez mais, rocambolesca. Há indícios de uma trama que não dignifica quem nela participa(ou). Dava para um episódio de uma novela de enredo empolgante. Há ciúme, traição, jogo duplo, perseguição, intriga, assassinato de carácter, difamação pública, linchamento profissional, medo, eu sei lá, um bom argumentista e um realizador, estou certo, tinham elementos para contar uma história subordinada ao título: "como matar, não matando".

Professor Joaquim José Sousa. 

Não vou aos pormenores que fui recolhendo ao longo do tempo e que, hoje, me possibilitam formar uma primeira opinião. Os pormenores pouco me interessam. O que para mim está assumido é a existência de uma ridícula trama, por inveja, estranhamente, porque a escola saltou de um lugar desprestigiante, mil duzentos e muitos do famigerado ranking nacional, para uma das melhores escolas públicas do país. Os louros, os prémios e o reconhecimento nacional, obviamente, foram para a direcção da escola presidida pelo Professor Joaquim José Sousa. Inexplicavelmente, há indícios que o secretário do governo terá ficado com um nó na garganta que nem para cima, nem para baixo. Começou aí a intriga. Havia que "corrigir" ou dar um correctivo a quem, terá pensado o dito, estaria a ultrapassar a hierarquia. E assim foi montado o esquema de linchamento que terminou com a fusão da escola com uma outra do Funchal. Pelo meio, telefonemas, inspecção à vida gestionária e administrativa da escola, vasculhando o que possibilitasse a abertura de um processo e, naturalmente, o surgimento de uma vítima. Pela pressão exercida, um dos elementos da direcção, vendo a sua vida a andar para trás, acabou por vender a alma ao diabo (seria bom conhecer as razões) e ofereceu-se para ser ouvida como testemunha. Atacaram pelo lado que lhes poderia ser mais fácil: a vice-presidente que tinha a responsabilidade do conselho administrativo. Trabalho de bastidores, embora maquiavélico, realizado na "perfeição". Os meses passaram-se e eis que surge novo revés para o secretário e a inspecção: em acto eleitoral, a equipa do Professor Joaquim Sousa, agora sem a senhora que fez opções na sua vida ao se oferecer para testemunhar, registou uma concludente vitória no acto eleitoral com 78% da vontade dos eleitores da comunidade escolar. Em linguagem de batalha naval, aquele resultado foi um tiro demolidor no porta-aviões. O "comandante" resolveu a situação: ponto final na autonomia da escola, as eleições não valeram para nada e prossiga o inquérito, porque há que salvar a face, encontrando um culpado. Do rol de acusações, absolutamente desmontáveis, dei uma risada, quando uma delas visa o Professor Joaquim Sousa, por ter distribuído os horários aos professores através de e-mail e não em papel devidamente carimbado e assinado. Mas há mais, muito mais.
O curioso desta história é que a senhora, aquela que saltou do barco, acabou por ser nomeada Coordenadora da Escola do Curral das Freiras, cuja gestão e administração, como referi, pertence, agora, à escola de S. António no Funchal. Foi compensada pelo jeitinho. É difícil encontrar outra leitura. Interessante, não é? E só mais uma curiosidade, ainda: a "inspectora" que conduz o processo ao Professor Joaquim Sousa, tornou-se "inspectora" depois de ter sido, julgo que em 2010, dada como culpada em um processo, posteriormente arquivado, não se sabe bem com que fundamento. Acabou por ser "reabilitada" e, agora, entra nesta "novela", como atriz principal, deixando a ideia de querer pagar os juros do arquivamento. Não sei, mas a imagem fica. Como actor secundário da "novela" surge o inspector-mor.
Então isto não é digno de um episódio de "novela"? Como actor principal emerge o secretário, a figura que visitou, na manhã de ontem, como se nada tivesse urdido, a escola do Curral das Freiras, esquecendo-se que as atitudes deixam marcas.
Os professores são muito mansos. Se são!
Ilustração: Google Imagens.

NOTA

Perante isto e muito mais, considerando até, do ponto de vista meramente administrativo, que não há uma só escola que não apresente, no quadro dos normativos em vigor, eventuais lacunas aos olhos dos burocratas, o melhor que deveriam fazer era acabar com esta tola perseguição. Já massacraram demais a escola, melhor, toda a comunidade educativa. Dentro deste sistema deveriam vangloriar-se por ser uma escola de referência. E para quem anda, todos os dias, a falar de "tranquilidade" seria bom que desse o exemplo, para prestígio não apenas daquela escola, mas do próprio sistema que apoiam. 

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

O SECRETÁRIO REGIONAL DA EDUCAÇÃO ESTÁ PARA A TRANQUILIDADE COMO O BISPO PARA A FÉ E CARIDADE


Acabo de ler aquilo que designo por velhas e inapropriadas declarações. Já lá vou. Antes disso, ontem, o meu Amigo Dr. José Júlio publicou, no DN, um excelente artigo, onde, a páginas tantas, enalteceu: "(...) repetem ideias até a exaustão seguindo o princípio expresso por Gobbels "Mente, mente e algo ficará; quanto maior for a mentira mais pessoas acreditarão nela" (...) "Estas e outras tácticas e técnicas fazem com que a realidade em que acreditamos seja, as mais das vezes, o produto da manipulação por parte de quem, efectivamente, detém o poder (...)". Em abstracto, no alvo. 

Já é difícil tragar a história
da natalidade para justificar o injustificável!

Nesta linha de pensamento, eu diria que o secretário da Educação continua a não querer ver a realidade. Eu diria que está para a tranquilidade como o Senhor Bispo para a fé e caridade! E, então, veio repetir a lengalenga da natalidade (chega, porque já fede!): "o início do ano lectivo que acontece amanhã, decorrerá de forma tranquila e organizada. Todas as escolas dispõem dos recursos humanos e materiais para assegurar às famílias o melhor acolhimento dos seus educandos. Os alunos encontrarão condições favoráveis ao desenvolvimento das suas actividades. Os professores conhecem uma grande estabilidade no desempenho profissional. Em consequência, os resultados medidos na avaliação dos alunos, serão cada vez mais positivos, sem dúvida nenhuma". 
Desde logo, sabe-se das carências e fragilidades que todas as escolas apresentam, que começa no simples papel higiénico até outros recursos de natureza pedagógica que infernizam os professores, em um custoso silêncio ao longo do ano, por necessidades que condicionam os projectos educativos, no quadro do actual sistema educativo. As escolas ainda funcionam, é verdade, pela dedicação e entusiasmo dos seus gestores e dos professores, em um puxa aqui e ali, não por quem governa. Mas a mentira, essa, tem de ser repetida até à exaustão. A realidade fica para depois. Mas não é este aspecto que aqui me trás. Essas são contas de um outro rosário! O que me leva a este texto é uma outra mentira, a mais importante, aquela que se refere ao plano pedagógico. Para o secretário da Educação, importante é ter as escolas abertas às oito da manhã e que tudo funcione. Vinicius, se adivinhasse isto, teria, no "Dia da Criação", dedicado um verso (apesar de Sábado), "todas as escolas estão funcionando". Neste caso, porque hoje é Segunda. Funcionam, mas para onde caminham, hoje, é facilmente adivinhável. Ao secretário não lhe interessa o pensamento estruturante de um futuro com consistência, interessa-lhe que FUNCIONE, se possível, ao jeito do treinador Paulo Bento... "com muita tranquilidade!" (ver Gato Fedorento). A máquina que tem duzentos anos, está velha e ultrapassada, mas isso pouco interessa, aplique-se WD40 e fiscalizem-se todos os parafusos e porcas. Ora, porque esta é a realidade que não pode ser traduzida em números que podem ser lidos de maneira diversa, "menos alunos mas mais motivados" é, por conseguinte, outra enorme mentira. Basta entrar em uma qualquer escola e tomar o pulso desde os alunos aos professores. Os meus netos são alunos de cinco e quando lhes pergunto sobre o dia de escola, respondem: "uma seca, avô!"
Será difícil perceber o alcance das palavras?
O que seria importante perceber, face a um sistema que o secretário tem como preocupação que apenas "funcione", seria o seu posicionamento político e científico, relativamente ao que aqui veio dizer, Sexta-feira passada, o Mestre em Ciências de Educação, Professor José Pacheco - Fonte RTP-Madeira: "(...) As escolas são pessoas. As pessoas são os seus valores. E quando as pessoas com os seus valores criam princípios de acção, produzem projectos humanos, que nas escolas são os projectos educativos. Esses projectos educativos não podem ter aula, não podem ter turma, não podem ter ano, não podem ter ciclo, não podem ter teste, não podem ter nada disso. Isso é tralha pedagógica do Século XIX. É incrível como se continua a fazer isso. As escolas são pessoas e a partir daqui o paradigma é outro (...) nós estamos na 4ª Revolução Industrial (...)". Que pensará o secretário deste pensador, investigador, da profundidade das suas palavras que não podem ser lidas pela rama, figura esta com mais de cem projectos, no Brasil, para uma nova Educação? Ao contrário de falar de natalidade e de encerramento de escolas, que fale de aspectos muito sérios e preocupantes: as questões organizacionais e pedagógicas. Seria bom escutá-lo sobre isso. Saber o que pensa. Se é desejável ou não que a escola seja de efectiva aprendizagem no século que estamos a atravessar. Porque tudo se pode aprender, através de um outro paradigma. Uns avançam, outras preferem a tranquilidade. O resto é paleio e repetição para contornar, através da mentira, os verdadeiros problemas da Educação para o futuro. E sendo assim, cada vez mais o sistema precisa que os governantes sejam confrontados com a realidade e com a ciência. Não com treta!
Ilustração: Google Imagens.

domingo, 16 de setembro de 2018

UMA ESCOLA COM 2.500 ALUNOS É UMA FÁBRICA!


Três notas
Primeira: 
Uma escola com 2.500 alunos não é um estabelecimento de aprendizagem, talvez uma fábrica de montagem de produtos em série, à semelhança das da Sociedade Industrial. Aquele número daria para três escolas de aprendizagem. Vangloriar-se que a Escola Francisco Franco é a maior escola do país é um erro grosseiro. A frase "Small Is Beautiful", de Ernst Schumacher, opõe-se ao quanto maior melhor. Parece ser o caso. Nem as grandes empresas seguem esse desígnio. Subdividem-se em outras de menor dimensão, porque o grande é muito complexo de gerir e administrar. Escolas com essa dimensão fazem-me ter presente, em contraponto, um dos objectivos do sistema educativo da Finlândia: "É possível prepará-los para as provas ou para a vida. Escolhemos a segunda opção". Pensem nisso!


Segunda:
A arquitectura dos estabelecimentos de aprendizagem são, hoje, determinantes. Gostaria de saber como foram pensadas as duas novas escolas em construção, a da Ribeira Brava e a do Porto Santo. A imagem seguinte é de uma escola finlandesa "onde as paredes são substituídas por divisões transparentes e o plano aberto ganha protagonismo. As tradicionais salas fechadas estão a ser transformadas em espaços multimodais, que se comunicam entre si por paredes transparentes e divisórias móveis. O mobiliário inclui sofás, pufes e bolas de pilates, bem diferentes da estrutura de carteiras escolares que conhecemos hoje. Não há uma divisão ou distinção clara entre os corredores e as salas de aula". Será que eles estão errados, embora apresentem resultados de topo?


















Terceira:

Ainda a Escola do Curral das Freiras. A secretaria regional da Educação, em entrevistas e debates, anda a apregoar que a extinção da escola do Curral das Freiras (anexada pela Escola de S. António) ficou a se dever à flexibilização curricular. Sendo público que a escola de S. António não entra na flexibilização do currículo, deve a secretaria da Educação esclarecer os cidadãos relativamente ao seguinte:
1º Em que ficamos, foi por falta de alunos ou devido à flexibilização do currículo?
2º A escola de S. António enquadra-se na flexibilização curricular ou não?
3º O que tem a ver a flexibilização curricular com a "autonomia, gestão e administração" própria da escola do Curral das Freiras?
4º Como se extingue a escola do Curral com 198 alunos e 35 professores e mantêm a escola de 2º 3º ciclos (S. Jorge) com 37 alunos e 23 professores? 
5º Haverá alguma coerência extinguir uma escola que apresenta, no quadro do actual sistema educativo, excelentes resultados nacionais?
6º Finalmente, a extinção da Escola do Curral não terá sido um acto de perseguição e de vingança ao Prof. Joaquim José Sousa, aos professores e toda a comunidade educativa?

sábado, 15 de setembro de 2018

É DISTO QUE O GOVERNANTE GOSTA: TUDO TRANQUILO. COMO SE A ESCOLA FOSSE UM SPA!


O secretário regional da Educação, abriu o ano escolar falando da necessidade de "tranquilidade" no sistema educativo. Tenho andado a matutar nesta palavra. Aliás, todos os anos, tal vocábulo surge pela boca dos governantes. Ora, no contexto que estamos a viver, particularmente no sistema educativo, de tudo o que nós não precisamos é de tranquilidade. Precisamos, sim, de uma saudável intranquilidade, de um abanão que conduza ao desassossego, o tal que nos permitirá ver longe, mudar sentidos e caminhar, de forma segura, de acordo com a surpreendente vida que as próximas gerações têm pela frente. E porquê? Porque a escola não pode continuar desfazada da vida real. A escola não pode ser uma instituição serena, obediente, calminha, mansa e inquestionável. Ela tem de ser vida sentida sob pena de uma agonia permanente. Sou dos que consideram que ao manter este quadro de divórcio com a vida, isto é, resistindo a qualquer mudança, tem morte anunciada. É isto que me deixa perplexo e que se exprime em uma frase: como pode a escola estar a transmitir conhecimentos que tem por base uma determinada formação, quando são muito diferentes os empregos no futuro? 



A 4ª Revolução Industrial (Klaus Schwab, 2016) está aí, porém, o sistema comporta-se, nas suas traves-mestras como se estivesse há duzentos anos. Esta escola está, claramente, impossibilitada de fazer a convergência entre as tecnologias digitais, físicas e biológicas. Eu diria que esta escola, parecendo "bem vestida", está no tempo da máquina a vapor.
Toda a estrutura social está em mudança, mas a escola, acorrentada no interior dos seus altos muros, mostra-se incapaz de espreitar o mundo que "pula e avança". Não consegue medir a distância entre a máquina a vapor e os robôs. Uma escola que nega o "pensamento crítico", que se entretém no faz-de-conta de projectos disto e daquilo, em festas de final de ano para gozo político mediático de adultos, uma escola que bloqueia a imaginação, a curiosidade e o sonho, uma escola que se fixa do enciclopedismo de muitas disciplinas, na prática, ao jeito de "noves fora nada", é uma escola divorciada da realidade e inculta. Quando sobre estes assuntos escrevo, trago sempre em memória, de que me valeu, no plano profissional, saber uma extensa cantilena sobre o "retículo endoplasmático"! Nada. Mas tive de pô-la no teste.
Chega a ser confrangedora a atitude de muitos (ir)responsáveis adultos que, ocupando lugares-chave não entendem, ou, se entendem, não sabem como operacionalizar, "(...) uma visão complexa do Homem, da Natureza, da Sociedade e da História; o espírito crítico designadamente em relação à própria profissão com descomprometimento relativamente aos grandes interesses partidários; a consciência da dignidade humana; a capacidade de intervenção, principalmente através das ideias; a informação e formação permanentes, quer no plano da preparação científica e pedagógica quer no da articulação prática-teoria; a vivacidade de espírito e curiosidade constante em relação ao processo evolutivo da sociedade e da cultura" (...) porque "um homem é, a meu ver, como um cristal em movimento. Mede-se, acima de tudo, pelo número de faces iluminadas" - Filósofo Manuel Sérgio. E assim, distantes de uma visão abrangente, uns curvam-se à ausência de inteligência da hierarquia, outros desejam que o tempo passe depressa, porque a aposentação está mesmo ali e não vale a pena meter o pauzinho na engrenagem, outros, ainda, percebendo os contextos e demonstrando avidez pela mudança, por medo, entram e saem cumprindo, religiosamente, o que o burocrata, o manga de alpaca determina.
É minha convicção, a partir de vários textos mastigados, saboreados e muito bem digeridos, que existe, como sempre aconteceu, um mundo por descobrir. Um mundo de novas profissões que olhará para outras como naturais em função das características do passado. Há um mundo vibrante, entusiasmante que todos os dias surpreende, que exige capacidade de inovação, inteligência, curiosidade e imaginação. 

É a esse mundo que a escola não dá a adequada resposta, preferindo o currículo fechado, os programas feitos em gabinetes também herméticos, professores obedientes, tranquilidade absoluta e muita, muita mesmo, avaliação obsessiva, repetindo, compulsivamente a resposta à pergunta  inserta no manual.  

Penso assim, com a rigorosa salvaguarda do que escreveu Riccardo Petrella, no Le Monde Diplomatique, já lá vão dezoito anos, relativamente às cinco armadilhas para a educação e de uma cultura de guerra, a saber:
1. Primeira armadilha: “A instrumentalização da educação ao serviço da formação dos recursos humanos”. Isto é, o recurso humano, habilmente, passou a ser considerado como uma mercadoria económica. Melhor dizendo, direitos a um canto, porque o que interessa é o rendimento do Homem ao serviço da economia;
2. Segunda armadilha: “A passagem da educação do campo do não mercador para o do mercador”. É a educação considerada como um grande mercado. Não é por acaso que, nos Estados Unidos, por exemplo, se fala em mercado dos produtos e serviços pedagógicos, em business da educação, em mercado dos professores e alunos;
3. Terceira armadilha: a educação “apresentada como um instrumento-chave da sobrevivência de cada indivíduo” (...) nesta era de competitividade mundial. No essencial, dir-se-á que a escola está transformada no lugar onde, subtilmente, se aprende uma cultura de guerra;
4. Quarta armadilha: a da “subordinação da educação à tecnologia”. Ora, a mundialização é filha do processo tecnológico pelo que resta à educação fornecer os instrumentos de adaptação ao pensamento único;
5. Quinta armadilha: “a utilização do sistema educativo enquanto meio de legitimação de novas formas de divisão social”, isto é, uma sociedade dividida entre qualificados e não qualificados, entre os que dominam o conhecimento e os excluídos desse acesso. 
Salvaguardando estes aspectos, a verdadeira escola de aprendizagem terá de procurar um novo rumo. Como está, irremediavelmente, ficará condenada, por mais e enfeitados projectos que implementem e números que apresentem. Mas há quem goste de ouvir uma sirene de 50 em 50 minutos, quem ache graça na abertura da porta da "cela", no entra e sai constante, nas horas e horas a repetir, por outras palavras, o que está no manual, apenas mudando o chip em função do nível de alunos que têm pela frente, no livro do ponto, no sumário, no teste, na avaliação de tudo, até se é bem comportadinho e, finalmente, no relatório! É disto que o governante gosta... tudo muito tranquilo! Como se a escola fosse um SPA.
Ilustração: Google Imagem.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

ESSA AGORA, AS ESCOLAS E OS PROFESSORES RESPONSÁVEIS PELA EQUIDADE?

O secretário da Educação disse na abertura do ano: "para que haja sucesso escolar é preciso que as escolas e os professores apostem na equidade do ensino". Quanto enganado está! A equidade não depende nem das escolas nem dos professores. Depende, a todos os níveis, das políticas gerais de organização da sociedade. A escola e os professores, porque estão a jusante, recebem todos os erros cometidos a montante. Os desequilíbrios e assimetrias da sociedade vão todos ali parar. E quem tem a responsabilidade de gerar uma sociedade equilibrada, repito, a todos os níveis, é quem tem responsabilidades de governo, neste caso, ininterruptamente, há 42 anos! Não são os professores. As escolas, muito menos os professores, podem, porque não lhes compete, resolver os problemas estruturais, os económicos, os financeiros e os de natureza cultural. E, atenção, não se resolvem os problemas de equidade com aulas suplementares. Essa é a mentalidade do penso rápido que não cura a ferida profunda, aliás, divulgada pelo próprio secretário, quando afirmou que 66% dos alunos iriam beneficiar da Acção Social Educativa. 


E já agora, todos sabemos que existe uma diminuição do número de alunos. Chega do mesmo discurso. Importante, muito importante, é fazer desta fraqueza uma grande oportunidade para gerar um sistema educativo consistente, o que implica mudar a estrutura, o velho pensamento organizacional e pedagógico, de acordo com o que a investigação e os autores assumem. Não é mais possível continuar com um sistema educativo que se posiciona atrás do desenvolvimento, negando uma postura dianteira capaz de operacionalizar as respostas necessárias à sociedade e ao que a investigação dita. O que hoje está a acontecer é a antítese disso, em suma, é o constante regresso a um passado que não resolve os problemas do futuro.
Ontem, na tal "abertura" do ano escolar, melhor teria sido um convite a um Professor capaz de produzir uma lição, com sapiência. Chega de intervenções políticas sem conteúdo, porque apenas com números e um paleio do tipo chuva no molhado. 
Ilustração: Google Imagens. 

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

OH SENHOR SECRETÁRIO DA EDUCAÇÃO LEIA A REVISTA "VISÃO" ANTES DE FALAR


É caso para dizer que existe falta de "visão" para o sistema educativo. Li a mensagem do secretário regional da Educação, publicada na edição de hoje do DN-Madeira. Fala de "sonhos dos alunos", de "notáveis índices de desenvolvimento educativo" e que "a fórmula de sucesso do nosso sistema educativo resulta do compromisso entre famílias, alunos e professores, apontado no sentido da mais ampla literacia da juventude e das populações". Sinceramente, tudo muito oco, muito vazio, simultaneamente, muito preocupante. Porque são apenas palavras sem conteúdo sério. Ainda ontem aqui escrevi um longo texto sobre o que nos trouxe a revista Visão. Isto é, o novo olhar, absolutamente necessário, na (re)organização do sistema, na (re)organização dos estabelecimentos de aprendizagem, no paradigma pedagógico e, sobre isto, nem uma palavra. O que significa que o disco e a melodia de sempre vai continuar a tocar. Rotina, enervante. 

Fala de "sonhos dos alunos". Ora, explique de que sonhos fala quando a Região apresenta índices de insucesso e de abandono verdadeiramente preocupantes? Não sou eu que o digo, são as estatísticas. Fala de "notáveis índices de desenvolvimento educativo". Sendo o desenvolvimento equivalente à qualidade do sistema, como se pode disso falar quando existe uma total discrepância com aquilo que hoje é comummente aceite. Uma vez mais tenho presente as catorze páginas da revista Visão. Leia-as. Mais. Como se pode apregoar "a mais ampla literacia da juventude e das populações" quando tudo o que está para trás, alicerçado nos vários indicadores, confirmam exactamente o contrário. "Literacia", hoje, é muito mais que saber ler e escrever. A não ser que o governante se dê por satisfeito na capacidade de leitura e de escrita! Pessoalmente estou mais preocupado com as "literacias".
Melhor seria que o secretário se mantivesse discreto e não publicasse tal texto. Porque a factualidade demonstra uma ausência de sentido de responsabilidade política, confirmada pela manutenção das históricas e medíocres linhas orientadoras que só estão a fazer perder tempo em relação ao futuro. Lamento que assim seja. Tal qual lamento toda a instabilidade no interior da secretaria que deveria ser analisada, politicamente, em todos os seus contornos. E se assim me posiciono é porque com a EDUCAÇÃO nenhum partido político deve brincar. Trata-se de um sector muito sério, porque dele depende o futuro colectivo.
Ilustração: Google Imagens.

terça-feira, 11 de setembro de 2018

A FALÊNCIA DO VELHO E O MEDO EM ENFRENTAR O NOVO


A última revista VISÃO dedicou, aspecto que não é habitual, 14 páginas ao tema Educação. Deliciosas páginas tive a oportunidade de ler. Não porque me tivesse trazido assuntos substancialmente novos, ou novas reflexões, mas pela sequência e sobretudo pelo testemunho de treze consideradas figuras ligadas ao sistema educativo em geral e à educação em particular. No essencial, a jornalista Teresa Campos procurou trazer ao leitor "Como se faz uma escola melhor", uma vez que, enalteceu como ponto de partida, que um novo paradigma se torna necessário e que "não deixará pedra sobre pedra" (...) "O fim das disciplinas e das aulas compartimentadas, a entrada dos tablets e dos smarthphones nas salas e a introdução dos manuais digitais" acabarão por acontecer e derrubarão os conceitos secularmente enraizados de que existe uma só forma de aprender. 


Por não me encontrar na Região tenho pena de não poder estar presente na conferência do Professor José Pacheco, no dia 13 de Setembro, organizada pelo Sindicato Democrático dos Professores da Madeira, na sequência da formação "Transformação Vivencial, Reconfiguração da Prática Pedagógica, Construção de Comunidades de Aprendizagem". Gostaria de ali estar, depois de o ter escutado em 2015. No essencial porque ele foi um dos que mais se bateu contra um sistema absolutamente arcaico e que, só muitos anos depois, começa a ser reconhecido através de uma frase muito simples: afinal, o professor tinha razão! Ele conta, habitualmente, uma sua reflexão, mais ou menos com estas palavras: "se eu era um professor que tudo planeava para dar as aulas e eles não aprendiam, então, não aprendiam porque eu dava aulas". Nesta frase está  tudo ou quase tudo. Quer ele dizer que o conceito de aula está ultrapassadíssimo. É o fio da meada, só comparável com uma outra asserção de um meu professor, que aqui já reproduzi, e que, há muitos anos, a trago em memória activa: "como pode uma escola sempre igual competir com a vida que é sempre diferente? O desencontro é inevitável" - Professor Paula Brito (1970). O desencontro, hoje, passados quase cinquenta anos, é inevitável e implacável. Teimosamente, porém, cinco décadas depois, ainda há governantes, sem jeito para a coisa, diga-se, que continuam a demonstrar uma incapacidade para perceber que o tempo não é de "manufactura mas de mentefactura" (Luís Cardoso).
Regresso à revista Visão e ao essencial do trabalho publicado. Dele se conclui, entre outras, a absoluta necessidade de colocar um ponto final nas disciplinas. A aprendizagem (diferente de ensino) deve ser feita através de temas ou tópicos de discussão. A vida real é um todo, não é português por um lado, ciências ou matemática por outro. A título de exemplo: quando se coloca um tema, por exemplo, vinho, imaginemos quanta aprendizagem, em simultâneo, é possível e desejável: História, Geografia, Ciências, Português, Botânica, Química, Cultura, Enologia, profissões, eu sei lá o que é possível aprender, de forma global e integrada a partir de um tema! No Google, em 0,69 segundos, surgiram-me 76.700.000 de possibilidades de consulta sobre a palavra vinho. E aqui coloca-se uma outra questão: para quê gastar dinheiro em manuais se tudo, hoje, está à distância de um clique? Basta saber seleccionar. E li outras reflexões: a tipologia dos estabelecimentos de aprendizagem, a configuração das salas, o número de alunos por escola, a autonomia das escolas, os currículos e todos esses malfadados programas. Diz a Professora e escritora Ana Maria Magalhães: "O modelo actual de escola diz que é para todos, mas não contempla a diversidade. Está organizado de forma absurda. Ninguém consegue aprender tudo. Se eu agora fosse estudante nunca teria conseguido estudar Letras, porque é preciso saber Matemática até ao 12º ano. Podia ser só até ao 9º ano e depois cada um seguia a sua vocação. Quem quer tratar animais se calhar não precisa de saber literatura. Na Suíça, por exemplo, é permitido às crianças fazerem opções de estudo logo a partir dos 12 anos. Se a escola é para todos, tem de haver vários tipos de escola: para os que gostam de futebol e para os que gostam de artes. O Secundário não pode ter doze disciplinas por ano, sob o risco de não aprender nada - nem o que se quer". Outras figuras falaram da importância do "digital", da necessidade de uma consistente "qualidade do professor", de "levar a vida para a sala", da importância de dizer "chega aos trabalhos de casa", da escola enquanto espaço de "felicidade", da importância de "trabalhar em equipa", de mudar a "disposição das salas", de formar "produtores e não apenas consumidores", da escola baseada em "projectos e não em disciplinas para aprender a pensar", da escola "onde todos se conhecem". Repito, catorze páginas deliciosas.
Finalmente, para além da revista, está aí mais um ano. Enquanto que, pelo País, vão-se multiplicando experiências, eu diria, opções por uma escola de aprendizagem séria e no contexto do Século XXI, por aqui, infelizmente, continua a prevalecer a escola de ontem. E desde há muitos anos que, paulatinamente, a Região poderia e deveria ter seguido um caminho que a colocasse na dianteira de uma verdadeira escola de aprendizagem. Não quiseram, não querem ou não sabem como fazê-la despontar, nem procuram saber junto de quem sabe, a universidade, por exemplo. 

De que vale andar por aí com a bandeirinha da "robotização" quando os patamares inferiores são aquilo que se sabe? 

Não houve investimento, antes assistiu-se a pinturas que mascaram a tristeza do sistema. Esta escola apresenta, assim, um enorme défice a todos os níveis. Teria sido necessário um novo conceito de escola e uma nova ideia sobre o exercício da docência. Eu diria o surgimento, até, de um novo professor, o professor que não ensina mas que faz aprender; um professor que não debita matéria, antes é o mediador da aprendizagem. Como dizia o falecido pedagogo Rubem Alves, é preciso que o "professor seja de espantos", porque o "objectivo da Educação não é ensinar coisas, porque as coisas já estão na internet, estão por todos os lugares (...) o objectivo da educação é ensinar a pensar, criar na criança a curiosidade (...) a alegria de pensar". Isto implica que não seja a criança a  ter de se adaptar à escola, mas a escola a adaptar-se à criança. É essa a dinâmica da escola do futuro, porque "as crianças são capazes de aprender qualquer coisa sozinhas. Portanto, "o mais difícil é dizer aos professores para não interferirem" (...) que deixem de ser os fornecedores de informações, para serem uma espécie de facilitadores da aprendizagem (...) o seu papel deverá ser o de observar em vez de disponibilizar conteúdos" (...) - Fonte: filme de Pierre François Didek/RTP2. Ora, nos próximos dez meses, coitadas das crianças, genericamente, terão de continuar a viver o passado, quando elas desejam ser o futuro. E os adultos dizem, do alto da sua "cátedra" que elas estão no centro das preocupações educativas! Nunca estiveram e, agora, mais do que nunca se encontram na margem ao sabor do que alguma ignorância dos adultos proporciona.
Ilustração: Google Imagens.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

SERÁ MESMO NECESSÁRIO? NA APRENDIZAGEM SÉRIA E COM FUTURO, NÃO!



Lê-se na Constituição da República Portuguesa em vigor:
Artigo 74.º
Ensino
1. Todos têm direito ao ensino com garantia do direito à igualdade de oportunidades de acesso e êxito escolar.
2. Na realização da política de ensino incumbe ao Estado:
a) Assegurar o ensino básico universal, obrigatório e gratuito;


Calcula-se que atinja os 170 milhões de euros o que as famílias gastam em material escolar. Em média, dependendo, obviamente, do ano de escolaridade, as famílias desembolsam entre 200 e 400,00 euros em material escolar. Para quem tem salário mínimo e apenas um filho, dir-se-á que o salário já era!

Visitei vários sítios de escolas na Internet:
Para além dos manuais, caderno de "fichas" e da mochila a listagem é extensa: capa de elásticos A4 - bloco de desenho A4 (papel cavalinho) - caderno pautado A5 - lápis de minas (0,5) - minas (0,5) - borracha - compasso - régua de 30 cm - esquadro de 45º - capa tipo portfolio - cola líquida UHU - pano de limpeza - etiquetas para identificar o material do aluno - 5 folhas de papel vegetal A4 - 5 folhas de papel quadriculado - 4 folhas de papel Eva (cores surtidas) - 1 folha de cartolina A2 - pincéis n.º 2, 4, 8 - tesoura - suporte de lâmpada 220V (casquilho fino E14) - interruptor (tipo candeeiro) - ficha eléctrica - fio eléctrico com dois condutores (1,5 metros) Nota: Os alunos do 8º ano deverão substituir o material gasto e/ou estragado no ano letivo anterior. Obs. Algum material extra poderá ser solicitado ao longo do ano lectivo, de acordo com os projectos a desenvolver. Isto, para além de sapatilhas, sabrinas (ginástica), T-Shirt com manga (curta ou comprida), calção ou fato de treino e uma flauta de Bisel Honner (dedilhação alemã). A juntar a isto, o passe, entre muitas outras despesas. Um encarregado de educação remeteu-me uma mensagem salientando que lhe tinham solicitado algum material da marca de luxo Caran d'Ache (!).
Coloco algumas perguntas: e a Constituição da República? Os pais e encarregados de educação conhecê-la-ão? E as escolas, os órgãos de gestão e administração e os professores já pensaram nisto? E o que tem a dizer o governo da Região? Só mais uma pergunta: será necessário tudo aquilo para APRENDER, ou existem outros formatos pedagógicos que dispensam uma grande parte dos encargos?

"o sistema de educação gratuito não sai tão caro assim, é uma questão de organização", afirma Jaana Palojärvi.

Há poucos dias, recebi um comentário na minha página de facebook, assinada por Geraldo Freitas, a propósito de um texto que escrevi sobre o sistema educativo: 
"(...) permita-me que partilhe um pouco da minha experiência pessoal. Vivo na Escócia e tenho um filho no 6• ano nunca comprei nem um lápis para a escola, tudo é dado pelo governo para todos, compro apenas a farda no princípio do ano o que para mim também é bom para que os alunos se sintam “iguais” e não surja o bulling entre ricos e pobres. Podem dizer que aqui descontamos mais mas a nível percentual não é assim tão diferente do que descontam em Portugal a diferença é que aqui não temos Marinas, Bancos, Sociedades de Desenvolvimento, Assicom etc. para tapar buracos. Um abraço."
Uma nota complementar: na Finlândia (existem outros países) "o ensino e todo o material escolar básico são gratuitos para as crianças, incluindo uma merenda quente todos os dias, um plano de saúde escolar e transporte gratuito para as crianças que não podem ir a pé ou usar o transporte público." (...) só 2% das escolas são particulares (...) As crianças só entram na escola a partir dos 7 anos (...) a educação básica dura nove anos (...) só 2% dos estudantes repetem o ano, o índice de conclusão é de 99,7% (...) o sistema de educação gratuito não sai tão caro assim, é uma questão de organização", afirma Jaana Palojärvi.
Pergunta final: e se o governo aprendesse um pouco, por pouco que fosse, com os outros?
Ilustração: Google Imagens.

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

OS PEDITÓRIOS EXPRIMEM A POBREZA NA ESCOLA


Ponto prévio: sou solidário. Não há campanha alimentar na qual não participe. Às vezes, no mesmo fim-de-semana, em duas superfícies comerciais distintas. Parto do princípio que, amanhã, nunca se sabe, poderei precisar. Portanto, não é a solidariedade que está em causa. Apenas me insurjo contra o IVA pago pelas compras no âmbito da solidariedade social (pagamos para ser solidário) e também contra uma clara ausência de coordenação das várias instituições que prestam auxílio aos mais necessitados. O próprio Banco Alimentar Contra a Fome já fez sentir essa necessidade, sob pena de instalar-se na população um certo cansaço que conduz à diminuição dos números da recolha. E já aconteceu. Escrevo porque, hoje, há peditórios para tudo: desde produtos alimentares para as pessoas (necessidade básica) a produtos para os animais. E agora, até, para o material escolar dos alunos!






















Ontem fui às compras. À entrada duas senhoras propuseram-me colaborar para o "material escolar dos meninos". Aceitei o saco de plástico e colaborei. Mas fiquei a pensar nisto. Até para a escola é necessário um peditório? Pior, ainda, e que me deixou irritado: "para que não levem falta"? Falta?  Mas isso ainda existe? É pobre e ainda é "castigado" por isso! Espantoso. Ora, o que isto demonstra é, realmente, a FALTA de capacidade governativa para entender que, na educação, o sector público é prioritário, porque corresponde a um direito constitucional. Não é um favor, não é uma dádiva, mas sim um direito plasmado na Constituição da República Portuguesa. Porém, paradoxalmente, a magnanimidade do governo leva a que entregue mais de vinte e cinco milhões de euros anuais às escolas privadas da Madeira. FALTA é o que deveriam levar governantes que permitem que as autarquias gastem, em conjunto, setecentos mil de euros anuais na compra de livros, quando essa é uma responsabilidade do governo que, por seu turno, já deveria ter progredido para o patamar das tecnologias que dispensam os manuais. 
Não são os "meninos" os culpados da pobreza espelhada na necessidade de realizar peditórios para suprir carências. Se as instituições pedem é porque lhes batem à porta. Saberá o governo as razões mais profundas da pobreza? Mas, já agora, para que serve a Acção Social Educativa (ASE)? Não é para apoiar os mais desprotegidos? Se os indicadores demonstram que a Portaria da ASE está desconforme com as necessidades sentidas, este peditório assim aponta, então, no âmbito da Autonomia, corrija-se a Portaria, essa que, desde há muito, considero indecorosa. Dirão os senhores(as) eleitos, que a Educação é cara. Pois, é cara, mas como já alguém disse, experimentem a ignorância! 
Depois, estamos face a um outro problema: o IRS e a dupla e, muitas vezes tripla tributação pelo menos serviço. Todos pagamos IRS em função das receitas mensais. Quem mais recebe mais paga, no pressuposto que, nos serviços públicos, neste caso de educação, todos estejam e partam em pé de igualdade na acessibilidade. Não faz, portanto, sentido, que um cidadão pague mais em sede de IRS e, depois, volte a pagar de forma distintiva no acesso, por exemplo a uma creche, infantário, por aí fora. E não faz sentido que, depois, ainda, porque é solidário, volte a pagar para que a aprendizagem dos outros se faça com normalidade. A justiça social faz-se em sede de IRS. Apesar disso existem casos de dupla e de tripla tributação indirecta. Mas é isto que temos... Enfim, colaborei, ofereci o que julguei importante, mas critico este formato que me transmite a ideia dos governantes sacudirem o peso das suas responsabilidades políticas.
Ilustração: Google Imagens.

domingo, 2 de setembro de 2018

"SIM, NÓS PODEMOS SONHAR COM UM AMANHÃ MELHOR"


Dia 01 de Setembro, dia que os professores se apresentam para mais um ano escolar. Na perseguida Escola do Curral das Freiras (Câmara de Lobos), depois do sucesso alcançado, lamentável e inexplicavelmente, a secretaria da Educação acabou com a sua autonomia administrativa e gestionária, fundindo-a com uma escola do concelho do Funchal. Uma atitude que classifico de política de natureza rasteira, que ofendeu toda a comunidade educativa. Mas, enfim, os actos ficam com quem os pratica. Ontem, confesso, fiquei maravilhado com a carta aberta do Dr. Joaquim José Sousa, a figura que presidiu ao Conselho Executivo daquela escola. Transcrevo-a pela sua importância, pela humildade que transmite, envolvendo toda a comunidade educativa e porque, apesar do sucesso conseguido face à perseguição engendrada, continua a lutar por uma verdadeira ESCOLA DE APRENDIZAGEM.

"Hoje é o primeiro dia dum novo recomeço.
Caros colegas, a Margarida e eu ficamos emocionados com todas as mensagens que recebemos nas últimas semanas. Mas hoje é minha vez de dizer obrigado. O ter falado com todos, não nas tascas nem em quaisquer patuscada, mas sim no posto de trabalho - foi o que me manteve fiel ao serviço público de educação com ética e elevação o respeito pelos direitos de todos e de cada um. Todos os dias, eu aprendi com vocês. Vocês, colegas (docentes e não docentes), pais e alunos fizeram de mim um melhor gestor, tornaram-me um homem melhor.
Eu vim para o Curral das Freiras há nove anos, cheguei com um sonho, acabar com uma taxa de abandono escolar altíssima, com uma taxa de conclusão miserável e para isso transportava um sonho utópico – no sítio mais difícil edificar a melhor escola pública de Portugal, uma escola que respondesse aos anseios de todos; e foi nestes corredores, entre estas montanhas que testemunhei o poder da escola e a dignidade tranquila dos pais diante das lutas e das perdas. Aqui eu aprendi que a mudança acontece quando as pessoas comuns se envolvem, quando acreditam, e vêm exigi-la.
Depois de nove anos como presidente do Conselho Executivo, eu ainda acredito nisso. E esta não é apenas a minha utopia. É o coração palpitante da nossa ideia de escola – da nossa experiência audaciosa de criar oportunidades para valorizar a importância de cada um para o sucesso de todos. É a convicção de que todos temos direito a um amanhã melhor, é o acreditar convictamente que a procura da felicidade é algo para todos e para a vida toda.
É verdade, o nosso desenvolvimento não foi tão harmonioso como queríamos. Em educação o trabalho sempre foi duro. Por cada passo em frente, muitas vezes parece que damos dois para trás. Sempre entendemos a educação como um movimento de futuro, um processo constante e sistemático para chegar a todos, e não apenas a alguns.
Eu disse-vos há nove anos que a escola do Curral das Freiras seria a melhor escola de Portugal, que formaríamos alunos de excelência – e eu sei que para a maior parte a nossa visão estava elevada demais.
Mas foi o que fizemos. Foi o que cada um de vós fez. Cada um de vós foi a mudança. Nós respondemos à esperança das pessoas, e porque cada um fez e fez bem o seu trabalho, as crianças que vos tiveram como professores estão mais capacitadas e terão maior confiança no futuro.
Afinal, é para isso que servimos - para melhorar a vida das pessoas, não para a piorar.
Ao longo destes nove anos, eu vi os olhares de desânimo passarem a olhares de esperança. Eu chorei com famílias aflitas, cujos maridos tiveram que emigrar, cujos conflitos ameaçavam a harmonia no lar ou cujos conflitos obrigaram à fuga pela sobrevivência. 
E foi essa esperança que com a vossa ajuda transmitimos aos nossos alunos e é gratificante sentir que o nosso trabalho foi recompensado de maneiras que eu não poderia ter imaginado.
A minha notável equipa: Nestes nove anos encontrei algumas pessoas fantásticas, bebi a vossa energia, alimentei-me do vosso saber e tentei refletir o que vocês exibem todos os dias: coração, caráter e idealismo. Eu vi-vos crescer, ter filhos, e começar novos projetos. Mesmo quando os tempos ficaram difíceis e frustrantes, vocês sempre deram aos alunos o vosso melhor. O que me deixa mais orgulhoso do que todo o bem que fizemos é o pensamento de que vamos poder replicar todas as coisas notáveis que vocês fizeram aqui.
Às famílias amáveis que nos acolheram, que nos confiaram os vossos filhos, cada um de vós com que tive o privilégio de trabalhar – vocês fazem parte dos melhores pais do mundo, e eu vou ser eternamente grato. Porque, sim, vocês mudaram o paradigma da escola.
Meninas e meninas - acreditem que podem fazer a diferença; Acreditem que podem fazer parte de algo maior do que vocês. A vossa geração, é maioritariamente - altruísta, criativa, empreendedora - eu vi isso em cada um de vós. Vocês acreditam numa sociedade mais justa e inclusiva; Vocês sabem que a mudança constante foi a marca da nossa escola, e isso nunca foi algo que tenhamos temido, mas que sempre abraçamos. Eu acredito porque vos conheço que o futuro está em boas mãos.
Caros colegas, pais e principalmente meus meninos, foi uma honra servir-vos. Eu não vou parar; Na verdade, eu estarei aqui com todos, como um cidadão. Deixo-vos com um último pedido - o mesmo pedido que eu fiz há nove anos.
Peço-vos que acreditem. Acreditem em vocês mesmos, não fui eu que mudei nada – foram vocês: colegas – pais – alunos.
Sim, é verdade nós fizemos a diferença.
Sim, nós podemos sonhar com um amanhã melhor.
Obrigado."

sábado, 1 de setembro de 2018

ESCOLA: O REGRESSO À "CATEDRAL DO TÉDIO"


Aproxima-se o início do ano escolar. Mais um com a marca da letargia de sempre. Em uma só palavra: rotina. A doentia rotina está de regresso. Aulas, muitas aulas, currículos, extensos programas, reuniões do conselho pedagógico (!), reuniões de departamento, de turma e de grupo, toques de entrada e de saída, muitos manuais, avaliações às dúzias, muita burocracia e, apesar de toda essa azáfama, na generalidade, o continuado e progressivo desinteresse pela escola. Sejamos claros: cansaço que envolve alunos e também professores. Basta perguntar aos alunos e basta ler, repito ler, os investigadores e autores que se debruçam sobre a escola do século XXI. Um chega ao ponto de designá-la, em contraponto ao que deveria ser, por “catedral do tédio”. Para Ilídia Cabral, docente universitária e investigadora, não subsistem dúvidas sobre o desfecho: “As escolas têm de aprender a ensinar no século XXI, sob pena de se tornarem dispensáveis.” 


Há um estudo, recente, que envolveu seis mil estudantes portugueses adolescentes, que coloca Portugal na 33ª posição entre 42 países e regiões sujeitas ao estudo. Disse, Daniela Guilherme, hoje com 20 anos, "(...) Não temos voz nas aulas e devíamos ter. É uma das formas de expressão mais importantes". Escreveu a jornalista Clara Viana no trabalho publicado no Público (2016), estudo que agora recupero, que "(…) nem sempre foi assim. Em 1997/98 o país ocupava a segunda posição neste indicador, mas em 2014/2015, ano do último estudo, apenas 25% dos alunos portugueses com 15 anos disseram que gostavam muito da escola. Mais concretamente, põem em causa as aulas, que consideram aborrecidas pela matéria que ali é dada (…)". Isto significa que estamos piores, provavelmente porque, ao contrário de outros, continuamos com uma estrutura de escola assente na linha de montagem do Século XIX. Sublinha a citada docente: permanece o "modelo de organização escolar padronizado, de inspiração fabril, do tipo linha de montagem, que permitiu às escolas darem o mesmo a todos". Porém, prossegue aquela investigadora, os alunos de hoje são bem diferentes do que eram há dois séculos. "São alunos cada vez mais heterogéneos, com acesso quase imediato a inúmeras fontes de informação, nativos digitais para quem as metodologias de ensino tendencialmente expositivas e fragmentadoras do conhecimento se revelam, muitas vezes, totalmente desadequadas e muito pouco apelativas". E é assim que o tempo escolar se "torna, em muitos casos, um tempo vazio de significado para os alunos, por se encontrar completamente afastado da sua realidade, dos seus interesses e das suas necessidades". Retorno a este trabalho jornalístico, porque, entretanto, passaram-se mais dois anos, e a rotina permanece.

"para a maioria dos jovens a escola não tem nada para oferecer neste momento"

É neste quadro que se dá o regresso à escola. Objectivo primeiro: cumprir o manual, debitando muito, mantendo, em simultâneo uma obsessão pela avaliação. Dir-se-á que, em conclusão, é o aluno que se tem de adaptar à escola e não a escola ao aluno! Daí o desencontro entre os interesses e talentos dos alunos e a mentalidade que permanece no sistema educativo. Pior é que não há quem veja isto. Não há, no governo, quem tenha o bom senso de dizer não, dando sinais de uma predisposição para a mudança. Não existe discurso político sobre esta matéria. Tenhamos presente o ridículo: todos os anos, jornais, rádios e televisões falam do peso excessivo das mochilas, os médicos mandam ter cuidado com a coluna das crianças, mas em vão. Continuam a transportar toda aquela tralha dos manuais, absolutamente dispensável se for utilizada, por exemplo, a tecnologia através dos tablets e smartphones. Impossível? Não, é bem possível e desejável. Foi público que, entre outros, o Agrupamento de escolas de Carcavelos, já este ano, dispensou a existência de manuais. Para bem da aprendizagem e para bem dos bolsos dos pais. 
Não há coragem para assumir que esta escola está doente, ferida de morte, porque se dedica ao ensino (estabelecimento de ensino), porém, a maioria não aprende, porque a escola ainda não assumiu que é um estabelecimento de aprendizagem. Basta ter presente os aflitivos números do insucesso, do abandono e as qualificações profissionais. Há medo em alterar o sistema. E o medo é de alto-a-baixo: desde o governo, claramente, instalado na sua torre de marfim, incapaz de se deixar fecundar pelo desenvolvimento, até às escolas sem voz nem poder para desenhar a escola onde se aprende. Não é de estranhar que uma aluna, Marta Martins, naquele trabalho a que me referi, tivesse salientado, notem bem: ser "importante reconhecer que mais não é necessariamente melhor" (...) "Passar mais tempo na escola, assimilar maior quantidade de informação, permanecer na escola mais anos, não é sinónimo de garantir a aprendizagem, a motivação ou o sucesso futuro, pelo menos para muitos alunos", alertou. Aliás, acrescentou, ainda: "para a maioria dos jovens a escola não tem nada para oferecer neste momento". Para ela, é esta a questão de fundo que hoje se coloca." 
Ora, os alunos sentem este problema, apenas o governo não tem noção da realidade. E assim irá (re)começar a rotina, a persistência no erro, esquecendo-se os mentores desta tragédia que quem repete o passado não pode, no futuro, obter resultados diferentes desse passado. Na Madeira Autónoma, esta Legislatura fica marcada pela ausência de uma qualquer tentativa de inovação. Pior, ainda, a Escola do Curral das Freiras atreveu-se a inovar e o que lhe fizeram foi drástico: fundiram-na com outra. Estou convencido que tal não aconteceu por razões do foro administrativo, mas por razões de organização pedagógica inovadora, porque há quem entenda que, nas palavras de Herman José, é o “presidente da Junta” e, portanto, não pode existir “desrespeito pela hierarquia”. Ora, se esta anda obcecada pela escola do passado, porque vive atulhada em papéis, porque entende que deve ter mão firme sobre tudo e sobre todos, porque, politicamente, pavonear-se é mais importante que a aprendizagem, nada mais lógico do que fechar-se ao mundo, atirando os alunos do centro para a periferia das preocupações.
Ilustração: Google Imagens.