sábado, 30 de março de 2019

A vida dá muitas voltas... senhores governantes!


NOTA PRÉVIA


A Professora Sílvia Carvalho aceitou o "trabalhinho" e posicionou-se contra um Colega (baseando-se nos normativos, claro!!!). Esta a professora, agora com letra bem minúscula, "escrafunchou" papéis até encontrar alegados "ilícitos". Os resultados e o êxito da Escola pouco  ou nunca interessaram. Ninguém pode dormir descansado, digo eu, quando viola a consciência. Não pode. E por que a violou? 
Segundo julgo saber (e o secretário da Educação deveria abordar este assunto) nenhum dos inspectores com formação específica aceitou este vergonhoso "processo", pelo que terá sido necessário requisitar, fora da inspecção, aquela professora que, pasme-se, em tempos, na Escola do Carmo, viu-se a braços com um processo disciplinar. Entretanto, foi amnistiada. Sendo assim, o secretário da Educação e o director regional de Inspecção, por melhor que o "trabalhinho" tenha sido feito, obviamente, também não devem dormir descansados. Ou será que dormem, mesmo sendo cúmplices desta deriva? 
Na minha perspectiva, quando, neste caso, uma professora, por ninharias administrativas, aceita fazer parte desta encenação fantoche, não tem a qualidade necessária nem para ser docente nem Colega (aqui com C maiúsculo). Fica uma sugestão: que aproveite a embalagem e passe por todas as escolas da Região e analise, à lupa, quantos "ilícitos" são cometidos, semanalmente, mensalmente e anualmente! A fazer o "trabalhinho a pedido e bem feito", muitas escolas fechariam... Fui docente durante quatro décadas, em alguns casos "fizeram-me a folha" mas nunca tive conhecimento de um processo assim, caracteristicamente MALDOSO, ao ponto de uma sansão "roubar" 11.107,00 Euros a um Professor (aqui sim, com letra maiúscula). Ainda ontem, na TVI, a Educação foi falada pelos piores motivos. Lamento. 
Entretanto, no Jornal Público, li o texto que se segue da autoria da Jornalista Bárbara Reis.
A mensagem do ex-presidente do governo ao Professor Joaquim Sousa é significativa. O secretário da Educação que "desembrulhe"...

OPINIÃO
Bárbara Reis - Jornal Público

Os 12 crimes do professor Joaquim Sousa


Em vez de multarem o professor da Madeira, podiam criar um prémio de 11.107 euros para quem conseguir repetir o que Joaquim Sousa fez no Curral das Freiras.

Sílvia Carvalho é professora de Filosofia do ensino secundário na Madeira e foi requisitada para ser a instrutora do processo disciplinar que o governo regional abriu contra Joaquim Sousa. No continente, este é o homem conhecido por ser o professor que transformou uma das piores escolas do país numa das melhores e a seguir foi despromovido. Na Madeira, é conhecido por ser vaidoso, próximo do CDS e, agora, presidente da comissão política Aliança-Madeira. Respirei fundo e pus-me a ler os 388 artigos da “nota de culpa”. Deles, resultam 12 “ilícitos”.

Mas antes disso, duas notas. Uma sobre o fim da história. Joaquim Sousa foi castigado em duas coisas que doem: o prestígio e a carteira. Foi humilhado e não vai receber salário durante seis meses, um castigo de 11.107 euros. Outra para antecipar os comentários dos leitores: a professora Sílvia Carvalho limitou-se a cumprir a lei; “o mal deste país” é criticar as pessoas e não as políticas; fazer ataques pessoais é fugir à complexidade dos problemas estruturais; a intenção é prejudicar o PSD e ajudar a Aliança e assim ajudar o PS ou a esquerda em geral; os lisboetas adoram dizer mal da Madeira. Podem cansar-se à vontade.

Lêem-se os 388 artigos e no fim está escrito: “A instrutora Sílvia Carvalho.” Foi a professora Sílvia Carvalho quem dirigiu e assinou o processo disciplinar. Ignorar isso é atirar a autoria para a “entidade” — abstracta e genérica — e tratar os funcionários como seres incapazes de tomar decisões. Não foi o que aconteceu. A professora Sílvia Carvalho tomou 388 decisões. É dos “comportamentos do trabalhador arguido” Joaquim Sousa, como repete, que extraiu os 12 “ilícitos” que aqui vou tentar traduzir para português inteligível.

1. “Requisitar docentes para além das necessidades reais.” O “crime” foi pedir dois educadores de infância que a instrutora acha desnecessários. Esses educadores trabalharam um ano na Seara Velha, um lugar isolado dentro do isolado que é o Curral das Freiras — mais de meia hora a pé. Não sei se eram ou não necessários, mas pelo que percebi a escola tem hoje menos uma sala de pré-primária mas mantém o número de educadores, incluindo os dois do “crime”.

2. “Pôr em funcionamento cursos para os quais não tinha autorização.” “Cursos” significa turmas. Aqui há dois “crimes”. O primeiro foi não enviar a lista dos nomes dos alunos de três turmas do Curso de Educação e Formação de Jovens já autorizadas. O outro foi enviar para o Funchal os papéis de abertura de uma turma de ensino para adultos em Setembro em vez de em Julho.

3. “Não notificar formalmente os docentes dos seus horários semanais de trabalho e respectivas alterações.” “Crime”: distribuir os horários por email e na plataforma electrónica e não em papel. Isto não é uma piada.

4. “Elaborar horários semanais de trabalho dos docentes com irregularidades.” “Crime”: na primeira semana de aulas do ano, os horários eram marcados de forma provisória, sabendo todos que, depois de falarem com alunos e conhecerem as turmas, far-se-ia o horário definitivo.

5. “Não assegurar as aulas dos alunos em sede das matrizes curriculares.” “Matrizes curriculares” são conteúdos — a “matéria”. “Crime”: esperar pela resposta do Funchal antes de substituir uma professora que tinha partido o perónio.

6. “Distribuir serviço docente do 1.º ciclo do ensino básico recorrente a uma docente sem habilitação profissional para tal.” “Crime”: dar aos alunos uma professora com excesso de qualificações.

7. “Distribuir serviço docente em regime de coadjuvarão sem autorização da DRIG e da DRE.” “Crime”: 7 professores passaram duas horas por semana ao lado de alunos que precisavam de ajuda especial, como as crianças que tinham acabado de chegar da Venezuela, “traduzindo-lhes” as aulas em sussurro.

8. “Distribuir serviço docente com conteúdos funcionais que extravasam o plasmado no artigo 38.º do Estatuto da Carreira Docente da Região Autónoma da Madeira.” “Crime”: a escola criou os programas voluntários de Acolhimento e Prolongamento (45 minutos cada), para as crianças dos 4 meses aos dez anos não ficarem na rua à espera da abertura do portão. O mesmo à tarde. Na nota de culpa, a instrutora diz que os docentes tinham de “mudar fraldas”.

9. “Estabelecer regras no regime de assiduidade sem enquadramento legal.” “Crime”: os professores não registaram na plataforma digital os sumários sobre as suas actividades extra-lectivas, só os da matéria dada.

10. “Permitir a existência de horários dos alunos sem respeitar as matrizes curriculares.” “Crime”: a escola deu uma hora a menos de aulas de Matemática e Português do 5.º e 6.º ano e uma hora a mais de apoio a essas disciplinas.

11. “Distribuir serviço docente com horas extraordinárias não respeitando as normais legais.” “Crime”: seis professores foram compensados em tempo de descanso. A lei prevê e todos concordaram.

12. “Autorizar a anulação de matrícula de aluno dentro da escolaridade obrigatória.” “Crime”: aprovar a anulação da matrícula de um aluno que, tendo sido aceite em duas escolas, ficou na de Setúbal.

Em que cabeça é que isto vale 11.107 euros? Miguel Albuquerque bem podia agarrar nesse valor e criar um prémio para quem conseguir repetir o que o Joaquim Sousa fez no Curral das Freiras.

sexta-feira, 29 de março de 2019

Por mais flexibilidade que exista, a avaliação tem de ter efeitos para os alunos


O projeto de autonomia e flexibilidade curricular, que este ano está já a ser aplicado em todas as escolas, “morrerá na praia se não houver consequências da avaliação” feita aos alunos. Esta é a convicção da professora da Universidade do Porto, Ariana Cosme, que tem sido a principal consultora do Ministério da Educação neste projeto lançado em 2017/2018, que tem na base dar às escolas a possibilidade de organizarem o currículo e o modo como ensinam em função das suas características e do meio em que se inserem. Falando numa conferência promovida nesta quarta-feira pela Fundação Belmiro de Azevedo com o tema Estão as escolas preparadas para a autonomia e a flexibilidade curricular, Ariana Cosme frisou que este é um projeto “criado para ajudar os alunos a aprender melhor” e que como tal não poderá ser compatível “com pautas recheadas de más notas”.

A professora da Universidade do Porto respondia assim a dúvidas levantadas por docentes presentes na sessão sobre se a avaliação tradicional não acabará por “atrapalhar” a possibilidade de os professores darem as suas aulas de modo diferente e também sobre o modo como esta avaliação deverá ser feita em áreas como a Cidadania e Desenvolvimento, que se pretende seja transversal a várias disciplinas.
Antes, o presidente da Associação Nacional de Diretores e Agrupamentos de Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima, tinha já apontado que a conciliação do novo projeto com a realização dos exames nacionais foi um dos principais constrangimentos apontados pelas escolas, no que respeita à sua aplicação no ensino secundário. “Por causa do modelo de acesso ao ensino superior, as escolas continuam refém dos exames e isso é muito redutor”, frisou.

O professor da Universidade de Lisboa João Barroso, que esteve na base do novo projeto de autonomia das escolas aprovado em 1998, lembrou a este respeito o que o próprio responsável da divisão de Educação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Andreas Schleicher, admitiu no ano passado em Lisboa que o “pior” do sistema de ensino português eram os exames.

“Toda a gente diz mal dos exames, mas ninguém consegue viver sem eles”, comentou este investigador, adiantando que a este respeito a administração educativa está a “dar com uma mão e a tirar com a outra”. Só que, alertou, “os exames só acabarão quando existirem condições nas escolas para se avaliar os alunos de outra maneira”.
E por falar de avaliação, Ariana Cosme deu conta de alguns resultados a que já chegou com o estudo avaliativo do primeiro ano do programa de flexibilidade curricular, em forma de projeto-piloto em que enfileiraram 235 escolas. “Há territórios e escolas que vão precisar de mais apoios do que outras”, disse a propósito das dificuldades que têm sido reveladas.
Há também um “grande desafio” que está colocado aos professores e que se prende com a sala de aula, adiantou. “Falei com muitos alunos e há um ponto comum que é o de gostarem da escola e dos seus professores. O problema é que não gostam das aulas”, descreveu. Porquê? “Dizem que eles [os professores] falam o tempo inteiro”.
Face a este estado das coisas, Ariana Cosme não tem dúvidas de que a oportunidade de flexibilidade curricular dada com o novo programa “tem de incidir sobretudo sobre as aulas”. Sendo que para já foi criada esta “grande oportunidade: as escolas estão autorizadas a pensar”.
Filinto Lima alertou que não existem garantias de que este seja um trabalho para durar já que cada novo Governo que toma posse tem por hábito mudar a educação. E apelou por isso, de novo, à necessidade de um “pacto alargado em torno do currículo e da avaliação externa dos alunos”.
Fonte: Público

terça-feira, 26 de março de 2019

"O MUNDO NEGRO DOS BUROCRATAS INVEJOSOS"


Este texto corresponde ao editorial de hoje do jornal Público, assinada por David Pontes, complementado por uma peça do jornalista Márcio Berenguer. 

"Perante a violência da sanção, num processo com contornos absurdos, já nada há a esperar da Secretaria Regional de Educação. Resta-nos esperar que a Justiça possa trazer alguma claridade que afaste o negro do mundo dos burocratas invejosos.

Não deve ser fácil morar dentro da pele de um burocrata. O cheiro a bafio, o pó dos papéis, as articulações a ranger de tantos procedimentos repetidos, o sufoco dos formulários para preencher sem rasura, as palpitações provocadas pelo aproximar das “data-limite”, a gordura acumulada das pendências e especialmente a penumbra em que é expectável que tudo se passe, para recato do burocrata.
A luz incomoda, a claridade perturba. Luz como a que emana deste parágrafo com que o PÚBLICO um dia anunciou ao mundo o estranho caso da Escola do Curral das Freiras: “Contra todas as probabilidades, uma escola no lugar mais isolado da Madeira teve a melhor média entre os estabelecimentos públicos no exame nacional de 9.º ano. Tem 300 alunos, não tem campainha, nem trabalhos de casa e os horários das aulas batem certo com os do autocarro.”
Dizem que nós, jornalistas, não gostamos de dar boas notícias, mas enganam-se. Adoramos, como qualquer um, quando o herói é o menos provável, escrever, como o nosso correspondente Márcio Berenger, que eles não só eram bons em português, mas que “no exame de Matemática, embora menos brilhantes, os resultados foram igualmente surpreendentes. Os alunos do 9.º ano tiveram uma média de 3,6, colocando a escola no 12.º lugar do ranking”.
Com estes excelentes resultados, era de imaginar que o caso da Escola do Curral de Freiras fosse analisado e dele se retirassem as boas lições que nos tivesse para dar. Mas isso era num país em que os educadores falassem mais alto que os burocratas. Como noticiámos em Abril do ano passado, o homem por trás deste feito, o presidente do conselho executivo, Joaquim Sousa, foi alvo de 12 acusações assentes em 388 irregularidades por parte da Secretaria Regional de Educação e a “escola-modelo” deixou de existir ao perder a sua autonomia. A escola que em cinco anos tinha subido mil posições mereceu esta atenção, até porque, conforme escreveu Bárbara Reis, tinha um grave problema: “O professor Joaquim é muito vaidoso.”
A vaidade no burocrata é a das regras cumpridas e por isso, quando alguém contorna algumas regras, não importa os resultados, importa que não se saia da linha. Por isso Joaquim Sousa irá pagar com uma pena de seis meses (sim, leram bem) sem receber ordenado. Perante a violência da sanção, num processo com contornos absurdos, já nada há a esperar da Secretaria Regional de Educação. Resta-nos esperar que a Justiça possa trazer alguma claridade que afaste o negro do mundo dos burocratas invejosos."

sábado, 23 de março de 2019

SEIS MESES DE SUSPENSÃO. O QUE O CIÚME PROVOCA!


É incontornável o que de bom fizeram o Dr. Joaquim José de Sousa e os seus colegas da Escola do Curral das Freiras. São públicos os prémios conquistados e todo o reconhecimento ao nível nacional, pelo facto da escola ter passado de uma das piores do país, uma daquelas do final do "ranking", para uma das melhores nos exames nacionais. Já muito escrevi sobre este assunto e não quero regressar aos pormenores. Não resisto, porém, em transcrever uma parte de um texto que publiquei em Setembro de 2018: "(...) Há indícios de uma trama que não dignifica quem nela participa(ou). Dava para um episódio de uma novela de enredo empolgante. Há ciúme, traição, jogo duplo, perseguição, intriga, assassinato de carácter, difamação pública, linchamento profissional, medo, eu sei lá, um bom argumentista e um realizador, estou certo, tinham elementos para contar uma história subordinada ao título: "como matar, não matando".


O secretário da Educação levou a sua avante. Definiu um alvo, perseguiu e suspendeu o citado professor durante seis meses. Até às próximas eleições, melhor dizendo. É público e notório que o secretário nunca gostou que aquele estabelecimento de aprendizagem fosse diferente e que, tendencialmente, saísse da rotineira normalidade. E vai daí, por ninharias burocráticas, mandou o Professor "canas adentro". O percurso da escola, os resultados, o reconhecimento e os prémios de nada serviram. Tampouco o facto deste professor, nos últimos dez anos, ter recebido três louvores e três excelentes. A lógica parece ser esta: ou os docentes se subjugam ao "patrão", concedendo-lhe visibilidade pública ou o elástico tende a rebentar pelo lado "mais fraco". 
Ora bem, o que poderia e deveria ser motivo de reconhecimento do governo pelo trabalho realizado em uma das freguesias mais carenciadas da Região, não, deu lugar à perseguição; o que deveria ser resolvido pelo diálogo, as tais questões administrativas, não, a opção foi pela sansão. Que triste figura política está a fazer o secretário da Educação! Uma imagem de quero, posso e mando no quadro do que, inexplicavelmente, o ciúme provoca. Deveria estar agradecido, mas não, ficou enfurecido. Deveria exaltar os resultados da escola no seu todo, incentivando, mas não, preferiu acabar com sua autonomia fundindo-a com a escola de S. António/Funchal.

Do ponto de vista meramente político este secretário não tem ponta por onde se lhe pegue. Conheci muitos ao longo de 40 anos, mas este, politicamente, classifico-o como o pior de todos na administração da Educação. E sendo assim, reforço a minha posição, repito, de natureza política: este secretário não tem as mínimas condições para exercer tão importante cargo. 
Não apenas por este caso, mas pelo que de nada trouxe para um sistema portador de futuro. 
É a expressão máxima de um erro de "casting". 

Segundo informação que me chegou, foram ignorados documentos, o depoimento de alguns testemunhos (presidente da comunidade educativa, do pedagógico, vice-presidente e chefe de serviços administrativos e de outras figuras), o regimento interno que serviu para acusar mas não para responsabilizar a vice-presidente (testemunha chave da acusação - que também era presidente do conselho administrativo - que figura tão arrepiante!), correspondência nunca recebida mas que foi usada, até um aluno matriculado em escola privada do Continente, em aulas desde 11 de Setembro 2017, cujo encarregado de educação pediu anulação de matrícula em 10 de Novembro, tendo sido anulada por o aluno, comprovadamente, estar noutra escola, a acusação condena por permitir o abandono escolar...!
No essencial, aquilo que para mim é gravíssimo, o diálogo que seria tão importante e fundamental foi ignorado. Preferiu o secretário aplicar seis meses de suspensão, presumo, sem direito ao salário, a um professor casado e com duas crianças em casa. Que maldade! Diz a sabedoria popular: "não há bem que sempre dure nem mal que perdure" e "cá se fazem, cá se pagam". A vida dá muitas voltas e eu que entendo que a vingança é das piores armas do ser humano e que a nada conduz, oxalá que a Justiça acabe por repor a dignidade do Professor em causa, com a respectiva condenação de quem agora, levianamente, condena SEM DIREITO A RECURSO. Resta o Tribunal Administrativo, mas aí, pode levar alguns anos a estudar e decidir. Espero que não. Se fosse comigo pediria uma indemnização muito, muito alta.
E a classe dos professores, nada tem a dizer a isto? E os restantes directores de escola? Ainda existe classe? Dos seis mil e quinhentos professores no activo, todos passarão ao lado? E da parte dos Deputados na ALRAM? Estou revoltado.
Ilustração: Capa do JM, edição de hoje.

quarta-feira, 20 de março de 2019

Secretaria da Educação na Região das Maravilhas...


FACTO

A Escola Básica dos 2.º e 3.º Ciclos de S. Roque “recebeu hoje a cerimónia de entrega de Kits de Robótica e Programação a todas as escolas de 2.º e 3.º ciclos da Região Autónoma da Madeira. Uma oportunidade que serviu para Jorge Carvalho, secretário regional da Educação, dizer que o uso de tablets na sala de aula poderá ser uma realidade no próximo ano lectivo, a partir do 5.º ano de escolaridade. O governante revelou que esta medida está a ser estudada em conjunto com as escolas para saber se estas estão preparadas. Jorge Carvalho referiu ainda que esta nova metodologia de trabalho seria também uma forma de aliviar o peso das mochilas”. Fonte: DN-Madeira.

COMENTÁRIO

É a velha história de Alice, neste caso, de um secretário na Região das Maravilhas: “(…) Alice se não sabes para onde vais, qualquer caminho serve”. É isso. A complexidade do sistema educativo é tal que deveria obrigar à necessidade de, respeitando o planeamento e a cadência no tempo, primeiro, saber onde se está, o que implica uma extensa caracterização; segundo, saber onde se quer chegar, para, finalmente, definir os passos a dar para lá chegar. É uma regra básica para administradores e gestores, públicos ou privados.
Ora, a mudança de um sistema não se faz por impulsos, hoje isto, amanhã aquilo, conforme o que ditam a comunicação social, as redes sociais e outros meios, como se o sistema pegasse de empurrão, antes concretiza-se de uma forma pensada, articulada e integrada. Portanto, fica um rasto de dúvida quando é dito que o “uso de tablets na sala de aula PODERÁ ser uma realidade (…) a partir do 5º ano” (porquê o 5º e não desde o 1º ano?), ao mesmo tempo que é dado um salto nas preocupações, através da entrega de “Kits de Robótica e Programação a todas as escolas de 2.º e 3.º ciclos”. Não existe a base, mas o estádio posterior é colocado na linha de partida. Dois exemplos: foi a “sala de aula do futuro” (uma, apenas), agora os “Kits de Robótica e Programação” (naturalmente, para poucos). Ininteligível. Isto demonstra que a secretaria da Educação alimenta-se do mediatismo, pouco se ralando com aquelas três perguntas essenciais: onde estou, onde quero chegar e que passos tenho de dar para lá chegar. 
Finalmente, o drama da aprendizagem é essencialmente de natureza organizacional, curricular, programática e PEDAGÓGICA, que envolve múltiplas disciplinas e variáveis, porém, fica o testemunho que nada disso constitui motivo de preocupação embora seja aí que resida o âmago de uma desejada mudança. Essa transformação exige uma verdadeira autonomia dos estabelecimentos de aprendizagem, CONFIANÇA nos professores, dizer NÃO à centralização do sistema, um orçamento compatível, desburocratização, uma nova concepção da rede escolar, uma nova configuração arquitectónica das escolas e sobretudo que não se brinque, politicamente, com coisas muito sérias. O problema NÃO está só no "alívio do peso das mochilas”. É muito mais complexo desde que não se queira utilizar os "tablets" para repetir o manual ou para substituir os velhos diapositivos e acetatos.
Ilustração: Google Imagens.

segunda-feira, 18 de março de 2019

Que Inclusão queremos?

PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO

A Escola Pública para “todos” não deve, nem pode, aceitar “tudo”, nomeadamente ao nível dos procedimentos e imposições de modelos únicos, da gestão à pedagogia, assentes de forma paradoxal numa lógica relativista quanto ao valor do Conhecimento.


O grande desígnio aglutinador da retórica deste governo na Educação, mais do que a “flexibilidade” ou até o “sucesso”, centra-se num conceito peculiar de “inclusão”. A “flexibilidade” é, neste contexto, uma ferramenta para a “Inclusão”, a qual se torna o factor central da métrica do “sucesso”. Gostaria de deixar claro que a “inclusão” é um fim nobre, meritório em si mesmo e que nada me move contra tal desígnio. O que me deixa preocupado são os meios que têm sido mobilizados, como se tal fim justificasse de tudo um pouco, ao ponto de a “inclusão” ser feita com procedimentos e mecanismos que acabam por produzir fenómenos de exclusão. 
Por definição, qualquer conceito racional e razoável de “inclusão” deve orientar-se pelo princípio de procurar incluir todos e não apenas alguns, ou subordinando todos a uma das suas partes, em especial quando estamos a falar de uma Escola Pública universal e obrigatória. Até porque incluir “todos” não pode significar incluir “tudo”. 
Sim, claro, há a quem por preconceito social, forma de estar na vida ou por opção cultural, o ideal e a prática de uma Escola Pública para todos cause aversão. Posso discordar, após quase cinco décadas enquanto aluno, professor e encarregado de educação na Escola Pública, mas tenho de aceitar esse tipo de atitude, em especial se não vier acoplada com um pedido de cheque-ensino.
Só que, como ia escrevendo acima, a Escola Pública para “todos” não deve, nem pode, aceitar “tudo”, nomeadamente ao nível dos procedimentos e imposições de modelos únicos, da gestão à pedagogia, assentes de forma paradoxal numa lógica relativista quanto ao valor do Conhecimento. Há uma enorme diferença entre a “plasticidade” e a amplitude de soluções e propostas a acolher na Escola Pública, para que exista lugar para todos, e a aceitação de um relativismo cultural e ético como padrão de comportamento em nome de “boas intenções” ou de concepções ultrapassadas de um “século XXI” em que há muito vivemos. Porque isso acaba por provocar uma inevitável “repulsão” em quem encara a Escola Pública como referencial para a formação das “novas gerações” e não apenas como um albergue onde tudo vale o mesmo.
Passo a exemplificar um pouco do que não pode ser justificado com qualquer conceito de “inclusão” por mais pergaminhos que exibam os seus promotores, só faltando mesmo citarem a Magna Carta.
A “inclusão” e a “tolerância” não podem, desde logo, pactuar ou condescender com comportamentos que transformem os espaços escolares e as salas de aula espaços inseguros para alunos e docentes, seja do ponto de vista físico, seja moral. A relativização ou contextualização de comportamentos que agora se dizem “disruptivos” não pode atingir níveis que de tanto compreenderem os agressores, esqueçam as vítimas.
A necessária renovação curricular não pode passar por práticas de desvalorização do capital cultural ou conhecimento científico em favor de “saberes fazer” de duvidosa vantagem num presente que já é de híper-especialização e em que a flexibilidade apenas parece ser uma vantagem para quem vive da precarização da mão-de-obra. O novo lumpen terciarizado é intermutável mas um neurocirurgião nunca poderá ser trocado por um engenheiro informático.
A pedagogia para ser “autónoma” e “flexível” não pode ser de sentido único. Não pode enquistar-se nas crenças, quase ao nível da Fé que implica a aceitação sem crítica, deste ou aquele nicho académico ou grupo de interesses. Muito menos a profissionalidade dos docentes deve ser desqualificada, desvalorizando os seus saberes ou burocratizando de tal forma o seu exercício que se torna mais importante representar o acto pedagógico do que a sua efectiva prática.

*Por decisão do autor, o presente texto não segue o novo Acordo Ortográfico.
Transcrito do blogue: Educare

PAULO GUINOTE
Professor do Ensino Básico, Doutorado em História da Educação. Autor do blogue O Meu Quintal
01-03-2019

segunda-feira, 11 de março de 2019

TUDO, EM APENAS UMA PERGUNTA...


FACTO

"Se é necessária toda uma aldeia para educar uma criança, por que as fechamos em salas? - Fonte: Dr. Carlos Andrade - DN-Madeira/Revista.

COMENTÁRIO

Sobre política educativa, nas reflexões que aqui vou publicando, muitas vezes tento desenvolver raciocínios mais ou menos elaborados, em uma ânsia de provar, por um lado, a minha angústia por não ver qualquer pontinha de desejo de mudança de um sistema reclamado pelas próprias crianças e jovens; por outro, pela necessidade de conduzir os políticos a repensarem processos que a ciência já os catalogou de anacrónicos. Escrevo tantas páginas quando, uma frase, que cabe em uma linha, diz tudo. Partindo de um provérbio africano o Dr. Carlos de Andrade, meu distinto Colega, compaginou-o e perguntou de forma sagaz: "Se é necessária toda uma aldeia para educar uma criança, por que as fechamos em salas?"
Exclamei para dentro: boa pergunta... é isso! A formação básica deveria ser suportada por um conhecimento distante da ideia ditada pelos manuais que, no seu conjunto, são enciclopédicos e apenas servem para ler, seguir, muitas vezes decorar, despejar nos testes e esquecer. 
Ora, um olhar interdisciplinar da vida, sublinho, VIDA, que está muito para além do manual, deveria constituir o alicerce consistente sobre o qual se edificariam os pilares de suporte do conhecimento, inclusive, os de natureza superior e especializada. Assim não acontece e, por isso, a escola, grosso modo, tornou-se uma "seca". É o que eles, genericamente, dizem. O que significa que falta mundo à escola, falta aldeia, capacidade para perceber que existe mais escola para além da escola e que, por conseguinte, os muros circundantes da escola não devem impedir de ver e experimentar o mundo. 
A escola está desconectada da vida real, teimosamente enredada no individualismo, em disciplinas sectoriais, extensos programas e na complexidade burocrática, quando a vida real pede globalidade, flexibilidade, pensamento crítico, permanente questionamento, trabalho em equipa e disponibilidade para desaprender. A vida pede exactamente o contrário da escola. Eu diria que falta à escola uma dimensão social do saber. Falta-lhe CULTURA.
O paradoxal desta situação é que, amiudadas vezes, não apenas os governantes, é certo, falam que vivemos, hoje, em "uma aldeia global", mas quando olham para o sistema educativo, nas suas "empoeiradas mesas de gabinete", comportam-se e legislam como se a escola fosse uma aldeia fechada ou com pequenas janelas, chamaria gretas, viradas para o exterior. 
Em 2016 li um estudo sobre a adolescência, da Organização Mundial de Saúde, tendo por base "inquéritos realizados a mais de 220 mil alunos, dos quais cerca de seis mil portugueses. Não será decerto, por acaso, que estes aparecem entre os que gostam menos da escola, colocando Portugal na 33.ª entre os 42 países e regiões analisados". E isto acontece porque “o sistema está orientado, de uma forma absolutamente excessiva para os resultados” — ou seja, para os exames e para as notas que neles se conseguem - Fonte: Público, texto de Clara Viana. Não está orientado para a sabedoria, porque lhe falta, repito, MUNDO. Falta-lhe a ALDEIA que não pode circunscrever-se ao rotineiro toca-entra-toca-sai!
Pois é, Caríssimo Dr. Carlos de Andrade, concordo, fechar as crianças em salas constitui o caminho mais certo para uma inadaptação a este mundo que exige sabedoria e disponibilidade para ver para além do horizonte.
Ilustração: Google Imagens

domingo, 10 de março de 2019

TUDO, APENAS EM UMA PERGUNTA...





"Se é necessária toda uma aldeia para educar uma criança, por que as fechamos em salas?
Dr. Carlos Andrade - DN-Madeira/Revista.

segunda-feira, 4 de março de 2019

APENAS UM FRAGMENTO DE UMA ENTREVISTA: "A ESCOLA TEM DE SE REMODELAR"



A edição de hoje do DIÁRIO traz uma interessante entrevista com o médico pediatra Mário Cordeiro. Ele é autor de vários livros, entre os quais destaco o último, "Pais apressados, filhos stressados". A determinada altura, a jornalista Ana Luísa Correia, questiona-o sobre o actual sistema educativo. A resposta, óbvia para quem pensa os assuntos da Educação, veio célere: 

"(...) Sou extremamente crítico relativamente ao sistema educativo. Não quero adiantar muito porque isso dava pano para mangas. A escola tem de se remodelar. Os objectivos de Passos Manuel, do Marquês de Pombal ou de João de Deus - escrever, ler e contar - já passaram de moda. Hoje a escola tem de dinamizar talentos; ensinar a arte, estética, ética; formar cidadãos, pessoas solidárias e empáticas, voluntárias, frugais; incentivar o relacionamento do aluno com o ambiente e com o espaço físico, dinamizar o corpo,  exercitar o raciocínio, o querer, a criatividade e a autonomia. As restantes matérias, ditas "académicas", virão por acréscimo. O sistema de educação em que, supostamente, alguém "abre" a cabeça do aluno e despeja matéria que, no fundo, só dura até ao teste seguinte, tem de ser substituído por um sistema educativo, pluridisciplinar, em que o aluno partilha o que sabe com os outros e o professor é um moderador do conhecimento, com alguma informação, obviamente, mas dando a sabedoria (que resulta da experiência), que só professor tem... apenas porque está cá há mais tempo. O sistema educativo tem de mudar. Uma hora e meia a ouvir uma "matraca" a despejar "matéria" é de fugir... e isso contribui para o desinteresse dos alunos relativamente à escola - o professor é uma "seca" e a escola só vale pelos amigos. É pena. Onde está a música, a arte, a pintura, a escultura, a ética, os debates e dilemas sobre o bem e o mal, o voluntariado, a cidadania? Onde? (...)"

O Dr. Mário Cordeiro é um Pediatra, mas é sobretudo um PENSADOR. Assume, publicamente, aquilo que, embora em vão, tantos andam a dizer há 50 anos. Estou a reler textos, por exemplo, os do Professor Sérgio Niza, que há meio século luta por uma aprendizagem assente em bases diferentes. Nesta entrevista, a jornalista, e muito bem, subtilmente, questionou a "utopia" das suas palavras. Uma palavra devidamente enquadrada para fazer soltar o seu pensamento. E ele, em síntese, exprimiu o pensamento que é transversal a tantos autores. Já aqui escrevi e, hoje, volto a repetir, o que escutei de um professor em uma aula de Psicopedagogia. Faz agora 50 anos: "como pode uma escola sempre igual competir com a vida que é sempre diferente? O desencontro é inevitável". Cada vez mais o desencontro acontece. Infelizmente.
O problema é que a estrutura de governo não está para aí virada. Vive e sobrevive do mediático, de uma agenda política, enferma de um distúrbio que se designa por centralização: nós definimos e vocês obedecem, ou como disse o Professor Licínio Lima: "sejam autónomos nas decisões que já tomámos por vós". Depois vêm falar de robotização, de salas de aula do futuro e de outras paranóias quando o problema é, antes de tudo, organizacional, curricular, programático e pedagógico. 

NOTA

TPC para governantes: escrever 50 vezes a declaração do Dr. Mário Cordeiro.