Nos finais dos anos 60 fui aluno de um professor que dedicava os primeiros minutos de um novo encontro connosco, à resolução do essencial do que tínhamos escutado e debatido na sessão anterior. Essas respostas eram individuais, não eram recolhidas pelo Professor e apenas serviam para nós (colectivamente) nos situarmos na compreensão da matéria (conhecimento), repito, escutada e debatida. Só passávamos adiante quando 80% estava percebido e consolidado. Não havia qualquer preocupação avaliadora e registada no sentido professor-aluno, mas apenas o aluno como centro da aprendizagem. Isto, há 50 anos!
Aliás, nos estabelecimentos que deviam ser de aprendizagem (ainda os designam por estabelecimentos de ensino) é cada vez maior a obsessão pela avaliação, não pela aprendizagem. São muitas as paranóias que os invadiram: a centralização dos processos, hierarquicamente definidos, que impedem a autonomia e a liberdade de cada estabelecimento criar as suas próprias dinâmicas de escola e de aprendizagem.
Vivem num espartilho onde tudo se acomoda dando a entender formas naturais, quando, se retirarmos as amarrações, o corpo desintegra-se em bocados mil;
é o excessivo número de alunos por estabelecimento; é o processo burocrático, onde muito para nada serve, que enche o arquivo-morto e continua a retirar tempo e disponibilidade para pensar a aprendizagem centrada no aluno; é a irresistível motivação para a realização de actos irracionais, como a da obsessão pela avaliação de natureza classificativa; é a manutenção de um arcaico conceito de aula e de turma; é essa praga da uniformidade que padroniza currículos, programas e conceitos organizacionais de aprendizagem, como se todas as populações fossem iguais, os professores não tivessem capacidade para entender a aprendizagem de forma diversificada e a forma como se aprende fosse de sentido único. É a louca correria por uma enganadora meritocracia que traz para dentro da escola muitas taras e desigualdades sociais. Tanto que sobre isto há a dizer e a debater!
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