Posto isto, sucintamente, porque este assunto dá pano para mangas, deixo aqui o paradoxo entre a divulgação de alguns dados enunciados pelo secretário regional da Educação, relativamente aos testes PISA (2022), publicados na edição de hoje do Dnotícias, e os resultados apurados nos ranking's dos exames nacionais de 2022.
SOB A MAIS LIVRE DAS CONSTITUIÇÕES UM POVO IGNORANTE É SEMPRE ESCRAVO Condorcet (1743/1794)
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segunda-feira, 11 de dezembro de 2023
PISA vs Ranking´s - Não dá a bota com a perdigota!
Posto isto, sucintamente, porque este assunto dá pano para mangas, deixo aqui o paradoxo entre a divulgação de alguns dados enunciados pelo secretário regional da Educação, relativamente aos testes PISA (2022), publicados na edição de hoje do Dnotícias, e os resultados apurados nos ranking's dos exames nacionais de 2022.
sexta-feira, 8 de dezembro de 2023
PISA - Um concurso de beleza da pedagogia
A última "aferição" PISA (Programme for International Student Assessement) ditou que Portugal, entre a generalidade dos países, piorou nas médias de capacidade na leitura, matemática e ciências. A verdade, porém, é que tais provas não provam nada. Pablo Gentili, Doutor em Educação pela Universidade de Buenos Aires, assume: "(...) Las pruebas PISA construye um mecanismo artificial, lo impone y nadie lo cuestiona, y luego compara (...) las pruebas PISA son un verdadero desastre, se imponen por la fuerza que ejerce la organizatión poderosa que las realiza en los medios de comunicación". Nas suas palavras, em português: "PISA é um concurso de beleza da pedagogia".
Transcrevo o que deixei no meu livro "A Escola é uma seca" (2022): "(...) Há, por um lado, diversas realidades históricas, económicas, políticas, sociais e culturais, que não permitem, com rigor, comparar o que é incomparável e, por outro, da prática, sabe-se que não é seguro o carácter aleatório de escolha dos alunos que se submetem aos testes. Factos que distorcem e colocam em causa o resultado final. Bastam estes dois aspectos para que se fique de pé atrás na análise dos resultados. Muito mais importante seria uma apreciação comparativa da estrutura dos diversos sistemas educativos (organização, currículos, programas e o pensamento pedagógico) no quadro da composição social, se eles estão ou não adequados ao tempo que vivemos, à própria investigação, se transportam ou não um princípio hierárquico contrário à verdadeira autonomia dos estabelecimentos de aprendizagem, o grau de formação dos docentes e a sua disponibilidade para aceitar novos paradigmas pedagógicos (…)”.
quarta-feira, 29 de novembro de 2023
quarta-feira, 15 de novembro de 2023
(Não) Querer ensinar
1. Não se conhece a circunstância histórica (causa ou motivo… e a fase no longo e, por vezes, violento “processo de hominização”) em que o ser humano entendeu – e se persuadiu – de que ensinar ou transmitir algo que aprendeu, dominou ou passou a fazer era necessário e útil para si e para o Outro da sua espécie. No entanto, este fenómeno – a par da inovação exclusiva da nossa espécie (Homo sapiens) de enterrar os cadáveres dos seus congéneres (novas investigações adiantam agora a possibilidade de os Neandertais também já enterrarem os seus mortos) –, assinala um importante passo para a humanidade e na história da Educação, que certamente começou por meio da observação.
2. Hoje, tal como no passado, ensinar continua a ser uma tarefa (ofício) deveras exigente, uma arte (pois há sempre algo de imprevisível, irrepetível, novo, original ou inovador no ato) e um compromisso entusiasmante, inspirador, se não mesmo “apaixonante”, onde o questionar, partilhar e imaginar/criar são incumbências (missões, deveres…) sempre claras e presentes no espírito daqueles que ousam desafiar a inteligência (e capacidades/competências) nos seus desiguais alunos e em momentos diferenciados.
segunda-feira, 23 de outubro de 2023
segunda-feira, 16 de outubro de 2023
terça-feira, 10 de outubro de 2023
Quando falam de inclusão
“Um currículo inclusivo não assume os mesmos padrões para todos os alunos, mas respeita e valoriza as suas necessidades, talentos, aspirações e expectativas exclusivas. Ao fazer isso, esforça-se para remover barreiras à participação de certos grupos de alunos, incluindo aquelas criadas pelo currículo oculto.” É este esforço de remover obstáculos que surge retratado no relatório “Adapting Curriculum to Bridge Equity Gaps: Towards an Inclusive Curriculum” da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
Ora bem, não existe uma política educativa caracterizada pela igualdade de oportunidades, quando as assimetrias são inquietantes, cuja prova está nos 32% de pobres ou em risco. É um erro crasso argumentar a igualdade como se esta pudesse situar-se, apenas, no quadro da acessibilidade à escola. Essa constitui um direito constitucional. Era o que faltava se os governantes não cumprissem a Lei Fundamental! A verdade que contraria a mentira oficial está nos Censos de 2021, divulgada num excelente trabalho do jornalista do Dnotícias, Francisco José Cardoso: 36.485 residentes não terminaram a primeira fase (4º ano); 50,3% tinham escolaridade até ao 9º ano; 15 em cada 100 não tem qualquer nível de escolaridade; 8,1% com 15 ou mais anos não possui nível de escolaridade completo e o analfabetismo continua superior à média nacional. Quase 50 anos depois de Abril! E sabe-se, também, no quadro deste sistema, as subtis pressões sobre a escola no sentido de evitarem retenções. Perguntem aos professores. É a estatística a prevalecer sobre o conhecimento.
quinta-feira, 5 de outubro de 2023
Assuntos pela rama!
Acabo de ler aquilo que, para mim, são dois "não assuntos" ou, no máximo, temas vistos pela rama. O primeiro, sobre os alunos que, na Região Autónoma da Madeira, ainda não dispõem dos "manuais digitais". Porque não foram entregues em tempo desejável face ao calendário escolar!; o outro, subordina-se à razão média entre o número de alunos e o de professores. Muita parra e pouca uva. A seriedade implicaria que tais temas fossem trabalhados de outra maneira e com outras importantes variáveis.
O sucesso da aprendizagem não passa nem nunca passou pelos manuais em papel, e não melhora porque, agora, os alunos podem dispor de um equipamento digital onde os mesmos conteúdos estão instalados. O problema da APRENDIZAGEM e do sucesso na vida está directamente relacionado com um novo sentido de ESCOLA (organização) que rompa com os tradicionais conceitos curricular, programático, PEDAGÓGICO, de turma, de aula, de avaliação e de exames. Tudo isto tem de ser debatido e generalizado a partir do actual conhecimento científico, competindo aos políticos o dever de escuta e de actuação em conformidade. Nunca com "achismos". Há leviandade política ou talvez mesmo ignorância, quando se implementam processos que não correspondem às preocupações da ciência. O livro de Michel Desmurget, que tem o prefácio do Professor Catedrático Jubilado Carlos Neto, devia constituir um importante ponto de partida. Anteontem escutei-os na RTP1 e as preocupações dos dois são de tal forma preocupantes que me questiono: como é possível a secretaria regional estar tão empenhada no digital quando os factos demonstram que há a necessidade de arrepiar caminho. O digital, da forma como o interpretam, traz consequências negativas no sucesso escolar e no plano da saúde. Portanto, só resta uma saída: estudar o problema para que não se escancarem as portas "à desgraça", como escutei. Ao contrário do estudo, uma autarquia até já avançou para um computador por aluno. Loucura total ou, então, uma lógica de "quem dá mais"!
O segundo aspecto que constitui, pelo menos para mim, um assunto a merecer outro tipo de análise, é a proporcionalidade entre o número de alunos e o de professores. Li a peça que, em título, assume que tal razão é melhor na Madeira que no Continente. Independentemente da propaganda política do secretário regional, ao estabelecer, por exemplo, comparações entre a Madeira e o Continente (1º ciclo: na Madeira, 6,6 alunos por professor / 12,4 no Continente; 2º ciclo: 6,8 - 9,2; 3º ciclo e secundário: 6,6 - 8, respectivamente), verifico que em parte alguma do texto é referido se as várias centenas de professores destacados em diversas instituições contaram para as aludidas percentagens. É que este facto distorce a realidade. A seu tempo se saberá.
E esta questão é, ainda, mais profunda e traiçoeira para o político: eu que sou um radical opositor aos "ranking's" nacionais, porque não se pode comparar o que é incomparável, seria bom que o secretário regional explicasse como é que tendo uma proporcionalidade tão boa entre o número de alunos e o de professores, nos tais "ranking's" as escolas da Madeira aparecem em posições extremamente modestas. Em média e em princípio, menos alunos por professor deveria corresponder, repito, em média, a um melhor sucesso. Porém, não é isso que acontece. É legítimo que se pergunte: que outras variáveis estão a condicionar o sucesso? Factores de ordem social, os alunos, os professores, o "modelo" pedagógico!
Ora bem, os problemas da Educação, no quadro da aprendizagem, são muito mais profundos do que estas historietas de entretenimento e propaganda política. Por isso, considero assuntos analisados pela rama!
Ilustração: Google Imagens.
domingo, 24 de setembro de 2023
Ano novo ou mais do mesmo
Teve início mais um ano lectivo. Governantes, pais, professores, auxiliares de educação, educadores, alunos e a sociedade em geral mostram preocupação com o estado do ensino.
Essa preocupação não é recente. Já no meu tempo de estudante aconteceram diversas crises académicas (apesar do regime repressivo) que, entre outras reivindicações, pugnavam por uma reforma do ensino. Eu próprio, nos anos 70, fiz parte de duas comissões de estudo da reforma do ensino, sem resultado aparente, e fui quadro da maior Crise Académica de sempre – “17 de Abril de 1974”.
Enquanto continuarmos a insistir no mesmo esquema, os resultados não podem mudar.
sexta-feira, 22 de setembro de 2023
Os bons alunos não tiram sempre boas notas
terça-feira, 19 de setembro de 2023
Educando para o fracasso e a derrota, um belo texto de Pier Paolo Pasolini
Por
Pier Paolo Pasolini foi um artista prolífico e multidisciplinar que conseguiu canalizar os episódios trágicos que marcaram sua vida desde cedo e capturá-los com genialidade em suas obras. Sem dúvida, o cineasta italiano mais reverenciado do século XX com um legado que perdura.
segunda-feira, 18 de setembro de 2023
A Escola é muito mais que o ecrã
Li, com "paciência de Jó", a fuga para a frente do secretário regional da Educação, relativamente à implementação dos "manuais digitais" - Dnotícias / pág. 4 / 17.09.23. Ao Domingo, lá vem a encomenda sobre o que dá jeito abordar. É o dia que as pessoas mais tempo têm para ler, não é? Mas o contraponto não existe. Fala a solo, como se fosse o centro do conhecimento, habilidosamente fugindo às questões de fundo, aos contextos e sobretudo martelando estatísticas susceptíveis de conduzirem os incautos à admissão da sua verdade.
É-me difícil aceitar que assim não seja e, por isso, coloco fora do processo aqueles que se fecham na sua torre de marfim, fugindo ao conhecimento, ao confronto das ideias e tornando a sua verdade numa verdade absoluta. Coitados dos que não admitem o "erro primeiro". Deviam ter presente, entre outros, Gaston Bachellard (1968): "A ciência é um discurso verdadeiro sob fundo de erro" (...) "as construções passadas devem ceder lugar às novas construções". Simples.
Nem de propósito, Francisco Laranjo, numa opinião publicada no Jornal Público (19.06.2023), sintetizou:
"Numa altura em que as escolas adotam medidas de transição digital sem base científica que as valide, é fundamental recentrar a discussão na educação que queremos, e não nos dispositivos a usar".
Portanto, a questão não está sequer, como enalteceu o secretário regional, na não utilização dos "manuais digitais" no pré-escolar e no primeiro ciclo, mas em saber que educação queremos que seja portadora de futuro. O secretário já provou que NÃO SABE. Não sabe, porque a ela nunca se referiu, concretamente, sobre o projecto educativo a oito, doze ou dezasseis anos. Não se lhe conhece uma ideia para o sistema educativo. O que se constata é que as peças do edifício da educação são colocadas, desajeitadamente, sem uma ordem de precedência em função de um objectivo. Adiante.
Na utilização da tecnologia, o que hoje está a acontecer em função de muitos estudos é um "(...) processo que procura reparar os danos causados pela precipitada transição, na forma de investimento nas novas gerações". Não tem nada a ver com a Covid 19, como li. E este assunto, porque é complexo, deve ser debatido e nunca deixado nas mãos de uma só cabeça política e dos vendedores de tecnologia.
"(...) a tecnologia não é necessariamente equivalente a progresso. Temos tecnologias fabulosas, que fazem coisas espantosas e estamos viciados nelas, mas entre tecnologia e progresso nem sempre a relação é de um para um. Por isso, temos de ter alguma cautela quanto aos danos em certas áreas, nomeadamente em áreas tão sensíveis como a educação." (...) “O efeito do tempo passado em frente a um ecrã reforça a clivagem digital secundária (que é cognitiva)".
Por outro lado, para Andreas Schleicher, director de Educação e Competências da OCDE, "quanto maior e mais frequente for a utilização da tecnologia digital na sala de aula, pior será o desempenho dos alunos no teste de leitura digital", referiu na sua apresentação Van der Weel. Se antigamente se acreditava que era preciso levar os ecrãs para as salas de aulas, para que as crianças socialmente mais desfavorecidas tivessem também acesso a estas ferramentas, essa percepção mudou. (Jornal Público)
domingo, 17 de setembro de 2023
Podemos falar sobre “sucesso escolar”?
É a escola dos trabalhos de casa, do caderno de actividades, dos programas, da ficha, do teste, do exame e do “caladinho/a”, “direitinho/a”, “quietinho/a”.
Há comissões, grupos de estudo e instituições que debatem este e outros temas conexos. A premissa está quase sempre errada porque se assume que o aluno precisa de se submeter a um processo mais ou menos truncado, no qual o indivíduo é o único convidado à mudança para se poder encaixar num padrão — o do "sucesso escolar". O que é isso do "sucesso escolar"?
O "sucesso escolar" é abdicar do "ser", ficando pelo "existir". É acreditar que há áreas de primeira, de segunda e de terceira e até algumas que não interessam para nada. É normalizar o sacrifício, o stress e a ansiedade, fazendo acreditar que quem não consegue é porque não se esforça, ou não se esforça o suficiente.
sábado, 16 de setembro de 2023
A perda de alunos e a ausência de debate
"Escolas públicas e privadas perdem mais de 300 mil alunos em 11 anos" - Jornal Público, 1ª pág. de 11 de Setembro de 2023.
Na Madeira assistiu-se, também, a uma significativa quebra na natalidade. E este momento, apesar de preocupante, podia ter servido para transformar essa fragilidade numa óptima oportunidade de mudança do sistema em toda a sua complexidade. Não houve essa preocupação. Simplesmente porque não se debate. Há uma sistemática preferência pelo silêncio e pelo controlo dos estabelecimentos de aprendizagem e siga a festa!
Ao ponto de, também por ausência de estudo e debate, quando outros países do topo estão a abandonar os manuais digitais, porque estudaram e debateram as consequências, sublinho, andam, por aqui, em contraciclo, a distribuí-los como uma grande opção enquadrada na tal "escola do futuro". O governo deve explicações.
Nutro o maior respeito pela minha classe profissional. Sei que tem sido, durante anos, desconsiderada, por culpas próprias (é preciso assumir os erros cometidos por omissões e sucessivo "agachamento" ao poder político), que conduziram ao ponto que nos encontramos. A menorização dos docentes vem desde o tempo que nem nas férias recebiam! Só que, daí a minha preocupação, não aceito que, simultaneamente, com algumas lutas pela recuperação da dignidade da função docente, os professores continuem alheados do debate sobre o sistema educativo. A Escola tem de ser debatida, na sua organização e, sobretudo, o seu processo (pensamento) pedagógico. A todos os níveis de análise, no essencial, que escola queremos e que sociedade desejamos construir? Porque esta escola e esta sociedade estão em falência. Esse debate está ausente das preocupações da generalidade dos professores.
A recuperação do tempo de serviço prestado, a colocação em estabelecimentos próximos da área de residência, os níveis remuneratórios, o flagelo da burocracia inconsequente, a perversa avaliação de desempenho, tudo isto e muito mais constitui uma parte do problema. A outra, mais complexa, é a de determinar o que aprender, como aprender, quando aprender, se o professor é um debitador de matéria ou antes uma espécie de "catalisador" do conhecimento e se é ou não importante rever currículos, programas, conceito de aula, de turma e de ano. Os professores são importantes neste processo; negam o futuro quando se distanciam destas matérias. Aliás, um dos princípios do desenvolvimento é o da "participação", isto é, ou as pessoas participam ou os processos morrem.
Por tudo isto, a diminuição do número de alunos devia constituir uma grande oportunidade para desenhar uma escola para o presente com os olhos colocados no futuro. Se revissem o sistema, estou em crer que não seriam necessários os professores que dizem estar em falta!
Ilustração: Google Imagens.
quarta-feira, 13 de setembro de 2023
Deus não dará a bênção!
Saiba, Padre Silvano Gonçalves, que nutro o maior respeito por si. Não nos conhecemos no plano pessoal, mas leio e tenho algumas referências dos sete anos que passei no Lombo do Atouguia (Calheta). Portanto, não considere deselegante da minha parte trazer aqui um comentário sobre uma frase que deixou na sua página de facebook. Escreveu: "Peço a bênção de Deus para o ano escolar que se inicia. Vinde Espírito Santo!"
Não estou a dizer-lhe que "invocou o nome de Deus em vão". Não é isso. O que me parece claro é que se deseja, tal como eu, uma escola verdadeiramente inclusiva, curricular, programática, pedagógica e organizacionalmente autónoma, de excelência e ajustada ao tempo que nos coube viver; se quer, tal como eu, uma escola com menos dependentes da acção social educativa; se deseja jovens e professores felizes no processo de aprendizagem para a vida, obviamente que tudo isto não depende da mão de Deus, mas dos Homens. E, nesta, como em todas as outas situações, não existem intermediários. Tal como a paz no mundo, as gravíssimas questões ambientais (vide a Encíclica Laudato si), as diversas formas de violência, os desequilíbrios e dependências mundiais, a fome, as migrações, a selvajaria económico-financeira mundial, a precariedade no trabalho, os direitos básicos constantes na Constituição da República, os baixos salários vs altos impostos, enfim, tudo o que nos preocupa, não depende de Deus, mas de nós, Homens e Mulheres. Se assim não fosse, parece-me óbvio que, há muito, com tantas bênçãos, pedidos, terços e procissões os nossos desassossegos estariam resolvidos!
Uma melhor escola, Padre Silvano, depende dos políticos e não de Deus. Uma melhor aprendizagem não depende do Espírito Santo. Depende da capacidade dos políticos serem ou não inovadores. E eles, creia, não têm sido. Depende, também, dos professores quererem erguer uma escola de e com futuro, que tenha o aluno e a vida como centro da sua acção. Depende da cultura dos pais e da informação que disponham sobre o que deve ser a escola. Depende de uma sociedade menos assimétrica que, aliás, está assustadoramente reflectida na escola. Portanto, jamais dependerá de Deus, mas dos Homens. Compreenderá, por isso, ilustre Padre que, em aproximação ao Evangelho (da Igreja interessa-me, sobretudo, a Palavra contextualizada com a vida), temos a obrigação de não sermos vazios, não transferindo para Ele preocupações e pedidos de ajuda que não lhe compete "dar despacho". Nem o Pai, nem o Filho, nem o Espírito Santo (Deus Triúno) podem ser responsabilizados pela ausência de projecto político sério e responsável.
Eu Cristão, baptizado, professor durante 40 anos, entendo que Deus não dará a sua bênção ao ano escolar, tampouco o Espírito Santo concederá a inspiração no sentido da concretização das urgentes mudanças que o sector educativo necessita. Essas mudanças dependem da cultura dos Homens, depende da sua vontade, depende da sua inteligência e concomitante capacidade para ver o sistema de uma forma alargada, visionária e integrada no conjunto de todos os outros sistemas. Depende dos políticos não desejarem ser "donos disto tudo", egoístas, centralizadores e castradores do pensamento livre. É por aí que devemos lutar e exigir (o Senhor Padre Silvano devia exigir nos vários púlpitos que dispõe), nunca pela solicitação de uma bênção para um processo que está errado na raiz. Pelo que sei da Palavra, Deus, certamente, não aprova os disparates dos Homens.
Não me leve a mal o desabafo. Compreendo-o, mas não estou de acordo com a "solicitada" bênção. Mas, quando, até ao momento, mais de 800 pessoas concordaram consigo, inclusive, professores, provavelmente eu é que estou errado.
Ilustração: Google Imagens.
segunda-feira, 11 de setembro de 2023
EDUCAÇÃO - O monopólio do poder de governação
Quando só 15% das raparigas e 11% dos rapazes dizem, assumidamente, gostar da escola e 84% dos professores manifestam-se cansados da sua profissão e declaram o desejo, se pudessem, de procurar outras soluções de vida, aquelas percentagens tornam-se preocupantes, pelo que deviam fazer soar as campainhas de alarme relativamente ao sistema educativo. Mas não, para quem governa o sistema, tudo continua bem e recomenda-se! São páginas e páginas de auto-elogio. Para os cérebros do sistema, a rotina deve sobrepor-se à inovação. Compreendo que é muito mais fácil, mas, à luz do conhecimento e da vida, a factura virá pesada. Pior que a do passado. Aliás, já existem sinais.
A Região Autónoma da Madeira podia constituir um exemplo. Infelizmente, não é. Com cerca de 40 000 alunos, tem menos 15 000 alunos que o concelho de Sintra. Isto dado significa que, para além de desfrutar de Autonomia Político-Administrativa, reorganizar o sistema afigura-se-me que seria muito mais desafiante e fácil que gizar uma reforma para dois milhões de estudantes matriculados em Portugal.
Mesmo considerando as limitações constitucionais impostas pelo Artigo 164º, não é a República que define o paradigma organizacional dos estabelecimentos de aprendizagem, a tipologia das infraestruturas, as características da rede escolar, tampouco o paradigma pedagógico. O artigo 164º (Reserva absoluta de competência legislativa - alínea i / Bases do sistema de ensino) tem essencialmente a ver com a estrutura curricular e programática. E apesar de constituir uma notável incoerência com o verdadeiro e desejável estatuto de uma região autónoma, a Constituição não é impeditiva de uma alteração do pensamento estrutural que devia presidir ao processo de mudança organizacional da escola e da aprendizagem. Aliás, não se assiste a um qualquer movimento no sentido de propor as necessárias e clarificadoras alterações constitucionais.
O problema está no monopólio do poder de governação. É esta concentração da decisão que mata os estabelecimentos de aprendizagem, afasta os alunos e os professores e, por conseguinte, todos os actos inovadores, ao fim e ao cabo, a tradução na prática do que tantos pensadores, investigadores sociais, professores, autores e até empresários assumem como determinante para hoje e para o futuro. Tudo tem de passar pela "central" de comando, restando à escola o cumprimento do estipulado. No actual contexto, falar de autonomia dos estabelecimentos escolares constitui uma grosseira mentira.
A comprovar, passados alguns anos, o exemplo da Escola do Curral das Freiras continua a ser paradigmático. De rigorosamente nada valeram os resultados apresentados, dentro das regras-limite do próprio sistema, isto é, respeitando a Constituição e outros normativos. O êxito foi literalmente "castigado". Deram um primeiro passo contra a dinâmica de aprendizagem, impuseram um processo disciplinar e, logo de seguida, "acabaram" com a escola. E agora, os alunos do Curral estão enquadrados num estabelecimento de S. António/Funchal, com a falácia, repito, falácia, do número de alunos ser limitado para a constituição de turmas. Ignoraram que, hoje, existem outros formatos de aprendizagem que substituem (para melhor) o conceito tradicional de turma, de ano e de segmentação das disciplinas.
Este é o exemplo de maior significado do que designo por monopólio do poder de governação. Num processo destes, os professores são apenas meros executores de uma política e os alunos números. Não se lhes pede que coloquem a sua inteligência e o seu conhecimento ao serviço da comunidade educativa, apenas que cumpram o acto político decisor, a norma, o ofício, a circular, enfim, o processo burocrático em toda a sua extensão.
Como na altura escrevi, naquele processo, qual paradoxo, acabaram por matar a escola por "ciúme, traição, jogo duplo, perseguição, intriga, assassinato de carácter, difamação pública, linchamento profissional, medo, eu sei lá, tudo o que um bom argumentista e um realizador, estou certo, precisam para contar uma história subordinada ao título: "como matar, não matando".
Por vezes chego a pensar que não vale a pena continuar com textos que abordem o sistema educativo. Poucos se interessam pelo debate das questões educativas. Desde que os "pequenos" estejam na escola, está tudo bem! Mas vale. Embora o sistema peque por ausência de informação credível, debate público qualificado, inúmeros receios por parte dos professores, reflectindo-se no desinteresse que os estudantes nutrem pela escola que lhes oferecem, continua a ser premente dizer a plenos pulmões que "o rei vai nu".
E assim, esta semana, toma lugar no mais alto patamar do pódio, sua excelência a ROTINA.
Ilustração: Google Imagens.
domingo, 3 de setembro de 2023
Aulas de 90'!
"Há vários elementos que não se compreendem na educação de Portugal, ideias obsoletas, que não fazem qualquer sentido para quem tem dois dedos de testa e que só ignora quem não quer saber do assunto, quem não se esforça por saber mais sobre ele, ou quem, de certa forma, pode sair beneficiado dessa situação, certamente não os alunos nem os professores.
terça-feira, 29 de agosto de 2023
A necessidade de repensar tudo
Dos Estados Unidos a vários países europeus, mesmo aqueles reconhecidos como tendo sistemas educativos de reconhecida qualidade, os manuais digitais e outros equipamentos estão a ser colocados em causa e mesmo abandonados. Não significa isto, como aqui já tive a oportunidade de equacionar, o abandono da tecnologia. Não é disso que se trata, aliás, seria um contrassenso, quando se vive num mundo onde os meios tecnológicos ganham cada vez maior relevância nas nossas vidas.
O problema é outro e muito mais profundo. E esse tem de ser estudado. Por que razão "a Suécia está a planear deixar de lado os computadores nas escolas e regressar ao ensino baseado nos livros? O motivo, explicam, é a diminuição das competências de leitura e escrita dos alunos".
"(...) o bom ensino supera uma escolha tecnológica pobre, mas a tecnologia nunca salvará o mau ensino".
sábado, 26 de agosto de 2023
O conhecimento e a subjectividade das notas escolares
Confunde-se o "conhecimento" com "notas escolares" conseguidas através de uma qualquer avaliação. E uma coisa e outra não são compagináveis em todas as suas dimensões. A vida precisa de conhecimento e dispensa o excessivo e frágil foco nas notas (classificação)! O empregador pergunta: "o que sabe fazer" e não a "classificação" que teve na disciplina Y. Note-se que não estou a colocar em causa a avaliação, mas sim as variáveis do processo que conduzem a aprender melhor. Genericamente, salvaguardando as excepções, o que designam por "bom aluno" é aquele que, perante um determinado programa curricular, repete o que lhe foi transmitido pelo docente, o qual, por sua vez, cumpre o que se encontra espelhado no manual. Ora, por essa via, raramente existe uma conexão directa com o conhecimento intelectual, muito menos com o conhecimento científico.
Esta escola oferecida aos portugueses não possibilita o questionamento da própria realidade e não estimula a criatividade nas ideias e conceitos. Trata-se, por isso, de uma aprendizagem que parte, fundamentalmente, do professor e não do aluno. Quase tudo se apresenta repetitivo e estático, cansativo e constrangedor para professores e alunos.