"Excelência(s) com Equidade" foi o título para um seminário promovido pela Inspecção Regional de Educação da Madeira. "Equidade como princípio de chegar a todos, mas não esquecendo a medida de cada um", assumiu o secretário regional da Educação. Desde logo, pergunto: "excelência", como(?), quando são mantidos os pressupostos organizacionais e pedagógicos de há largas dezenas de anos? Como se pode falar de "excelência quando não existe coragem para alterar as bases em que assenta o modelo de funcionamento do sistema? E como se pode falar de "equidade" quando a sociedade, a montante da escola, permanece pobre, dependente e assimétrica? Como se pode falar de "equidade", quando são atribuídos, ao ensino privado, vinte e cinco milhões de euros por ano, descapitalizando a escola pública?
E há quem aplauda este desastre. Lamento que os professores, meus Colegas, se sentem para ouvir o fim da história sem perceber e questionar toda a história. Como é, expliquem, que se pode abrir caminho à "excelência" quando não são capazes de compreender as razões de milhares de repetências que devoram mais de vinte milhões? (em média, um aluno custa cerca de € 4,400,00/ano e há poucos anos foram anunciados 6000 "chumbos"). Como caminhar no sentido da "excelência" quando o sistema regional apresenta uma taxa de abandono de, aproximadamente, 24%? Como atingir a "excelência" quando é público e notório que a cultura dominante, porque foi arrastada para um patamar de desresponsabilização, não propicia a melhoria de uma mentalidade concordante com os níveis superiores do conhecimento? E como pode haver "excelência" se o acto da transmissão do conhecimento se filia nos traços caracterizadores da Sociedade Industrial, desprezando, completamente, os novos paradigmas da aprendizagem em função deste novo mundo? Como falar de "excelência" quando, na comparação entre escolas do país, a Madeira não apresenta indicadores de alguma esperança? Mais, como pode haver "excelência" e "equidade" quando existem 20.000 desempregados, muita emigração e 30% da população é pobre, dos quais 15% em pobreza persistente? E como se pode falar de "excelência" quando os orçamentos das escolas são escassos, as dívidas muitas e os professores fazem das tripas coração para disfarçar situações complexas? E como se pode falar de "excelência" quando a burocracia invadiu as escolas, ocupa os professores e não lhes permite reorganizar este novo tempo?
Não devem brincar com as palavras, brincar com os assuntos sérios, aliás, muito sérios, uma vez que o futuro depende sempre da sementeira educativa que for concretizada. E essa sementeira leva alguns anos, vinte, trinta anos, para uma recolha substantiva. Não brinquem com as palavras, pois a palavra "excelência" também ouvi-a no tempo do "Estado Novo". Quando falam de escola, as palavras que mais jeito dão ao tom discursivo são, exactamente a "excelência", "equidade", "inclusão" e "rigor". E o que tem daí resultado, no quadro dessas palavras, apesar de tantas conferências? Quem souber que responda.
É por isso que soa a falso, isto é, sem qualquer consistência, ouvir um responsável político assumir que estas iniciativas visam a "nobre actividade de ensinar" e que através destas iniciativas "poderemos ter uma melhor ou menos boa escola". À luz de todos os indicadores existentes, parece-me óbvio que não existe nobreza na iniciativa, no quadro de um novo conceito de aprendizagem e que, sendo assim, para quem repete o passado, só pode esperar resultados idênticos aos desse passado, concretamente, uma "menos boa escola". Portanto, é tempo de acabar com estas inciativas para cumprir o "calendário". A própria Inspecção Regional está entregue a um funcionário político que, não sendo professor, obviamente que não pode sentir o que, de facto, deve ser o sistema. Apenas repete o passado. Ora, o sistema não precisa de discursos enfeitados, da repetição de boas intenções, do convite a pessoas que por aí aparecem para ajudar a compor o ramalhete, que falam, assertivamente, mas que, no instante seguinte tudo permanece na mesma; o sistema, neste caso, a "excelência" e a "equidade" necessitam de políticas convincentes e não de comemorações de circunstância e dos circunstanciais aplausos da plateia.
Ilustração: Google Imagens.
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