EDUCAÇÃO
Armanda Zenhas
O ano letivo está no fim. Na ordem do dia estão as malas para férias, mas também decisões variáveis conforme o escalão etário e o nível de ensino terminado. Que curso escolher? Que escola escolher? O que fazer a seguir? E se parasse um ano?
Paremos nesta pergunta. Desta questão, muitas vezes surgida como um pensamento que se esfuma com maior ou menor rapidez, decorrem, noutros casos, decisões de parar mesmo um ano. É o gap year, um conceito com uma história longa noutros países, mas mais recente em Portugal. Traduzido à letra, este conceito teria a designação de “ano de intervalo”, correspondendo também à denominação de “licença sabática”, que consiste num direito de que podem beneficiar diversas classes profissionais.
Centremo-nos na faixa etária jovem e nas transições entre o Ensino Secundário e o próximo nível de ensino; entre cada um dos ciclos universitários; entre o fim dos estudos e o início da vida profissional. Nesta faixa etária podemos ainda pensar noutras situações a exigir reflexão (de menor ou maior duração, com maior ou menor exploração); aponto um exemplo: a tomada da consciência de que não se gosta do curso em que se ingressou. Em todos estes momentos da vida, já com a resposta na ponta da língua ou sem nenhuma em perspetiva, surge a pergunta: E agora?
O gap year pode ser uma (boa) opção. Jamais aconselharia um jovem a enveredar por uma tal paragem sem um projeto, apenas por ócio ou inércia de tomar decisões. Esta paragem deve ser promotora de crescimento pessoal em diversas dimensões, carecendo, por isso, de um projeto.
Viajar e/ou fazer experiências profissionais são duas formas diferentes e enriquecedoras de ocupar um gap year.
Pode-se viajar (apenas) com intuitos turísticos, para conhecer outros povos, outras culturas, outras línguas. Abrem-se horizontes culturais, sociais, mentais. Aprende-se História. Relativiza-se o que se pode, até aí, ter dado como garantido, como, por exemplo, a ideia errada de que a nossa cultura é a cultura, passando-se a compreender, na prática, que a nossa cultura é apenas uma cultura entre tantas outras de igual valor.
Pode-se viajar para uma ou várias zonas do Mundo selecionadas para nelas integrar equipas que desenvolvem trabalho voluntário (as ONG atuam nessas áreas), que pode estar relacionado com a área de interesse profissional do jovem em questão, seja o ambiente, a saúde, a educação, entre muitas outras.
A realização de experiências profissionais pode passar por uma experimentação de uma ou várias atividades, nomeadamente sob a forma de estágios. Podendo ser feito dentro de portas portuguesas, um gap year deste género pode igualmente ter lugar noutros países.
Quando se faz um bom plano para o gap year, tudo está criado para que, no final, o jovem saia enriquecido e mais capaz de decidir e enfrentar o seu futuro, seja qual for a opção seguinte.
Em Portugal existe uma organização, a Associação Gap Year Portugal (AGYP), que, sem fins lucrativos, apoia os jovens que desejam fazer esse ano de paragem. Na sua página existem muitas informações de grande utilidade para conhecer e, eventualmente, preparar o gap year, de que destaco: sugestões de atividades, quais as vantagens do ano de paragem, como o preparar, como o custear, como viajar com segurança, orientação na elaboração de um plano, possibilidade de colocar questões.
Desejo boas férias, mas deixo novamente a pergunta: E agora?
NOTA
ARMANDA ZENHAS é Mestre em Educação, área de especialização em Formação Psicológica de Professores, pela Universidade do Minho. É licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, nas variantes de Estudos Portugueses e Ingleses e de Estudos Ingleses e Alemães, e concluiu o curso do Magistério Primário (Porto). É PQA do grupo 220 no agrupamento de Escolas Eng. Fernando Pinto de Oliveira e autora de livros na área da educação. É também mãe de dois filhos.
Artigo, de 14.07.2017, transcrito de EDUCARE
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