quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Encontros inesperados


Há dias interessantes que nos põem a reflectir. Ontem vivi dois momentos completamente díspares um do outro, mas que acabei por conjugá-los. Entrei em uma superfície comercial para adquirir um equipamento e o colaborador que me atendeu deixou-me surpreendido. Sabia de electrónica aquilo que eu já não vou a tempo de integrar nos meus circuitos! Fomos falando, pensando eu que se tratava de um licenciado em engenharia de sistemas, ali a trabalhar enquanto melhor não surge, quando, a páginas tantas, diz-me que apenas tem o 9º ano, mas que nutre uma paixão pela electrónica, que toca guitarra e bateria. Tudo conseguido de forma autodidacta, lendo, consultando e seguindo os seus interesses. Eu diria, sonhos! 

Ainda questionei, confesso, em tom de provocação: a base aprendeu na escola, certamente! Respondeu de enfiada: a escola foi uma maçada e, para além de "algumas coisas e do convívio", naquilo que eram os meus interesses, nada me deu. 
Saí dali a pensar na "aula" de tecnologia (e não só) que me tinha dado e, sobretudo, no testemunho sobre uma escola que, infelizmente, os jovens ainda têm. Conclusão do circunstancial encontro: continua tudo centrado nos gabinetes, onde adultos avessos à mudança, distantes da realidade, vertem para a escola as suas convicções primárias. E não se contentam com isso: infernizam quem lá trabalha com "paletes" de papelada, onde só em teoria os jovens estão no centro das suas preocupações educativas. 
Mais tarde, cruzei-me com um "velho" Coronel, porém, sempre novo em pensamento. Desde os tempos da Guiné, já lá vão 48 anos, julgo que falámos não mais de três vezes. Foi muito bom revê-lo, pela Amizade construída naquela ex-colónia. A conversa rapidamente entrou pelo âmbito da pobreza institucional em Portugal, pela indisciplina, pela corrupção, pela acentuada irresponsabilidade e degradação, dizia ele, na própria instituição militar, pela ausência de princípios e de valores, sobejamente sensíveis em um salve-se quem puder, pela falta de Homens e Mulheres referências de credibilidade e notoriedade política e social. Um diálogo muito distante, sublinho, de símbolos pessimistas, ao jeito de "no meu tempo é que era bom", mas factual, quando se passa em revista o que por debaixo dos nossos olhos vamos observando. Conclusão do encontro para além da satisfação de estarmos um com o outro: vive-se um tempo de mentira, de aldrabice e de espezinhamento.
Conjugando os dois encontros, o do tal jovem e o do meu distinto Coronel, constato um denominador comum que justifica, senão tudo pelo menos em uma grande parte, a escola que pretensamente "forma" para um falso conhecimento enciclopédico, mas que deixa de lado o estrutural, a pessoa, daí às consequências na factura na sociedade que estamos a viver. O resto, como me disse o jovem da tal superfície comercial, "está na net". Basta procurar. O problema é que a Escola continua a não querer perceber isto.
De facto, há dias que nos deixam a reflectir.
Ilustração: Google Imagens.
Gosto
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