Ontem regressei a um filme notável: "Sociedade dos Poetas Mortos". Duas horas onde o espectador é confrontado com a realidade de um colégio que tem como lema: "Tradição, Honra, Disciplina e Mérito" e a de um professor que provoca os seus alunos a seguirem os seus sonhos e aproveitarem cada dia ("Carpe diem quam minimum credula postero", em tradução literal aproveita o dia e confia o mínimo possível no amanhã) - Ode de Horácio, 65 a.C. - 8 a.C.
O filme é de 1989 e reflecte a atitude de professor (magistralmente interpretado pelo actor Robin Williams) ex-aluno que, em 1959, estudou na Welton Academy. Ele, agora professor de Literatura, põe em causa a "Tradição, Honra, Disciplina e Mérito" e incentiva os alunos a pensarem por si mesmos, o que gera, naturalmente, "um choque com a ortodoxa direcção do colégio".
Para mim que continuo a viver, digo-o, sinceramente, uma enorme paixão pela Educação e, obviamente, pelo sistema educativo, este filme trouxe-me, uma vez mais, emoção, em certos momentos a lágrima e a tristeza pelo sentimento de, passadas quase cinco décadas, tudo ou quase tudo continuar como ontem.
Ao contrário de tantas formações para professores, repetitivas e ineficazes, melhor seria que passassem este filme e debatessem o que dele se pode extrair de pensamento. Melhor seria que acompanhassem tantas e extraordinárias intervenções disponíveis no youtube e que as debatessem em todas as particularidades. E que, depois, exigissem um novo paradigma resultante da escola que oferecem e a escola que os alunos deveveriam desfrutar.
Ontem li, também, um texto do professor Rui Correia, docente de História e vencedor do Global Teacher Prize Portugal 2019. Aqui deixo excertos para uma reflexão de fim-de-semana alargado:
“A escola é conforto, alegria e esperança no futuro". Mas a escola também "serve, apenas, como um cobertor de infelicidades caladas". (...) Chegar aos dezoito anos sem perspectivas de carreira converteu-se numa pandemia do nosso tempo. A precariedade laboral ajuda muito. (...) Seria talvez melhor começar a pensar que a escola pode, e ainda não sabe, gerar os estímulos cruciais que auxiliam os nossos miúdos a tomar decisões pequenas e a imaginar objectivos grandes. Desenhar currículos apertadamente conciliados com os interesses pessoais de cada rapaz ou rapariga. A escola como uma alfaiataria educativa. O professor convertido numa espécie de costureiro de futuros à medida. Um sistema corajoso que escutasse mais do que fala. Que pedisse mais perguntas do que as que faz". Porque, todos os dias eles "(...) mordem uma maçã envenenada".
Foi, para mim, um dia em cheio: o filme e este artigo.
Ilustração: Google Imagens.
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