sábado, 13 de janeiro de 2024

Professores a menos ou Escola a mais?

 

Não se trata, apenas, de um conceito advindo, julgo eu, do desenho arquitectónico. Ludwig Mies (1886/1969) assumiu que "menos é mais", isto é, coisas simples são melhores que as complexas, presumo eu, porque atraem, motivam, geram a curiosidade, não significando isso que não tragam no seu bojo a própria complexidade de serem simples. É um princípio que a Escola devia assumir como fundamental no processo de aprendizagem. Mas não é isso que se verifica. Desde os primeiros momentos há uma impaciente tentação para tudo complexificar, com extensos currículos e densos programas, quando o menos pode transformar a aprendizagem na essência do mais. Tudo está interligado e quando, excessivamente, se decompõe em unidades (disciplinas) corre-se o risco de perder-se a noção da complexidade do global. 



Ora, se "menos pode ser mais", desde logo, a eliminação da tralha metida, sucessivamente, a martelo, no processo de aprendizagem, devia constituir o embrião para um conhecimento mais vasto, duradouro e multiplicador em todas as situações da vida real. O enciclopedismo da escola, que em muitos casos para nada serve, não significa cultura, na perspectiva de pessoas capazes de interligar e transferir pressupostos conhecimentos.

É nesta perspectiva que se trata de uma falsa questão a reclamada "falta de professores" para enquadrar as turmas, os currículos, os programas e a lógica dos exames onde tudo acaba. Não existem professores a menos, estamos sim confrontados com escola a mais. O pensamento sobre a instituição Escola é que tem de ser (re)pensado. Com um outro sentido de escola, não segmentada por disciplinas, o menos tornar-se-á mais. Esta escola não parte de coisas simples para gerar a curiosidade que conduz à complexidade. Ela está aferrolhada, há muitas dezenas de anos, numa caixa bloqueadora que não permite desabrochar o talento, respeitar o sonho, a criatividade, a inovação, o sentido crítico e o gosto pelo saber animado por uma busca própria. De resto, o professor é um mediador, jamais deve ser a autoridade intelectual num mundo onde tudo está à mercê de instantâneas procuras. E sendo assim, esta escola deixou de fazer sentido.

Ora bem, a luta dos professores por melhores salários face à sua imprescindível responsabilidade na sociedade é, para mim, óbvia e necessária. Em simultâneo gostaria de vê-los lutar, e isso, grosso modo, não acontece, por uma aprendizagem para o nosso tempo, contra uma escola excessivamente burocratizada, contra uma escola heterónoma, ditada por políticos acéfalos sem noção da responsabilidade que lhes incumbe, uma escola que afaste a rotina de anos, uma escola que se tornou sacrifício e não prazer para alunos e profesSores. Salvo as excepções, plantadas contracorrente e sempre vigiadas, a escola é hoje uma instituição morta na sua essência. Ao correr do pensamento que vou digitando, trago em memória a pergunta do Mestre e notável Pedagogo José Pacheco: "O que uma criança em idade escolar aprende dentro do edifício da escola que não pode aprender fora dela? Não perca muito tempo pensando. Nada".

Quando assisto a um professor a lamentar-se que trabalha cem horas por semana ou inquéritos que dão conta que, em média, trabalham cinquenta e que, individualmente, são responsáveis por mais de 200 alunos, não fico a lamuriar-me, cheio de pena. Fico a pensar nas causas e nos silêncios que permitem que assim aconteça. Contrariem, pois, o pensamento atribuído a Mark Twain (1835/1910): "para quem tem apenas um martelo por instrumento, todos os problemas parecem pregos". O respeito pela função docente começa aí. Jamais pela lealdade aos loucos! Ademais, a aprendizagem deve assentar numa construção social!

Ilustração: Google Imagens/José Pacheco-FB

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