Os anos vão passando e a rotina por ali vai ficando. E os investigadores e autores vão clamando que se o atraso já é considerável, esperem por mais uma década e verão onde se encontram na tabela do conhecimento. Pessoalmente, que nada sou nos ambientes da investigação científica, na articulação dos saberes face aos dados disponíveis, no meu canto, despretensiosamente, vou lendo e reflectindo sobre o que dizem as referências do pensamento, e aí concluo que só dando "corda aos sapatos" da inteligência, poderá a Região Autónoma da Madeira, embora com muita dificuldade, aproximar-se dos níveis que garantam esperança. Essa luta devia acontecer, mas está acometida de uma intensa sonolência.
E são tantas as "formações" ao longo dos anos, tantas as intervenções de reputadas figuras da investigação em seminários, colóquios, entrevistas, livros, revistas e desabafos, porém, nada de novo acontece. Há medo em deixar-se fecundar pelo conhecimento. O secular, velho e esfarrapado tecido da educação parece ser muito mais do agrado do que o despertar para horizontes mais vastos, com novas vestes convergentes com os tempos que estamos a viver e com aqueles que os sinais demonstram estarem aí ao virar da esquina. Há um estudo da Historiadora Raquel Varela que demonstra que 70% dos professores se encontram em exaustão emocional (um estudo do Sindicato de Professores da Madeira regista 75%), que muitos tomam medicação a mais para enfrentar a profissão e que cerca de 84% deseja se aposentar. E há estudos que demonstram ser residual (cerca de 14% de raparigas e 11% dos rapazes) o número de alunos que diz gostar muito da escola. Perante um quadro destes, infelizmente, são poucos os que ousam levantar a voz, o que me leva a dizer que preferem a rotina do emprego e as ordens do "patrão", face à doença que os corrói lenta mas seguramente. Aquelas percentagens demonstram que este tipo de escola está esgotado, porque não agrada nem a uns nem a outros.
Mas que raio de gente a nossa, população, professores, pais, alunos e até empresários, que olha para mais nove anos de uma governação sem qualquer rasgo portador de futuro, sem uma ideia, uma que seja, apontada à tal educação, ciência e tecnologia? Nove anos de acertos marginais, onde o que resta é essa mal amanhada história dos manuais digitais, quando tantos países já a abandonaram, ou a tosca e enganadora iniciativa das salas de aula do futuro, "semeadas" aqui e ali, como se por aí fosse possível desenhar uma escola de conhecimento e cultura, capaz de abrir-se ao pensamento! De estrutural nada ou ninguém conhece onde os mentores desejam chegar. Muita propaganda e muito negócio, isso sim, muito "Ponto e Vírgula", exactamente como o sinal significa: pausa maior que a vírgula e menor que o ponto final. Marasmo! De resto, fecho de escolas, controlo hierárquico das direcções e perseguições atemorizadoras dos comportamentos mais abertos ao mundo. É cada vez mais difícil dar um passo distante dos olhares de uma espécie de "paizinho". Confirma-se que as ditaduras, sejam elas ferozes ou brandas, são sempre muito pouco inteligentes.
É um desencanto assistir ao desfile de personagens que teimam em contornar os pingos da chuva, vendendo gato por lebre, entretidos nos labirintos da absurda burocracia que controla e inferniza. Figuras que temem o debate aberto e profundo, que não se questionam nem participam através de um conhecimento cientificamente estruturado, daí incapazes de justificarem a sua própria política. Se a têm! É o poder pelo poder de braço dado com a menoridade científica e, quem depois vier, que se amanhe! Faz-me pena assistir à tolerância dos demais, sobretudo a dos professores que se contentaram com a contagem do tempo de serviço prestado, verdade se diga, "roubado"; ou do próprio sector privado que se cala à custa dos 40 milhões anuais de subsídios. Distribuir o dinheiro dos contribuintes é a parte mais fácil, convenhamos, até porque a região, sendo autónoma, o permite. Mais difícil e complexo é estudar o sistema, colocando todos, sem tutelas, a debatê-lo com os olhos colocados na mudança de paradigma.
Tenhamos presente o rigor dos colégios jesuítas. Na Catalunha, corajosa e inteligentemente, puseram as suas próprias normas em debate. Em dois anos surgiram cerca de 56 000 propostas de alteração. Reduziram-nas a dezessete propostas estruturantes e partiram para a sua implementação. Deitaram paredes de salas de aula tradicionais abaixo, criando amplos espaços de conhecimento; passaram ao lado da segmentação das disciplinas, dos horários, testes e trabalhos de casa (Pepe Menéndez, ex-vice-director da Rede de Escolas Jesuítas da Catalunha), mas definiram um princípio: doravante, o aluno tem de ser o protagonista da aprendizagem. Só um pormenor, ao correr do meu pensamento: de acordo com Edgar Morin (1921), sociólogo/filósofo, sobre a divisão da aprendizagem em disciplinas, sobretudo na aprendizagem básica: "(...) As disciplinas como estão estruturadas só servem para isolar os objetos do seu meio e isolar partes de um todo. Eliminam a desordem e as contradições existentes, para dar uma falsa sensação de arrumação. A educação deveria romper com isso mostrando as correlações entre os saberes, a complexidade da vida e dos problemas que hoje existem. Caso contrário, será sempre ineficiente e insuficiente para os cidadãos do futuro. (...)" Digo eu, tão simples para Morin com 103 anos e tão difícil de compreender para políticos de 50 e poucos anos!
Por aqui, mais nove anos de atraso, bem testemunhados numa legião de milhares de jovens que não estudam nem trabalham, associados a múltiplas iliteracias. Ora bem, será que o inquilino sabe onde está? Certamente que não. Por isso, desconhece onde quer chegar e, muito menos, os passos para lá chegar.
Há palavras intemporais. Por exemplo, as de José Almada Negreiros (1893/1970): "A nossa querida terra está cheia de manhosos, de manhosos e de manhosos. E numa terra de manhosos, não se pode chegar senão a falsos prestígios. É o que há mais agora por aí, em Portugal - os falsos prestígios. E vai-se dizer de quem é culpa de haver manhosos e falsos prestígios: a culpa é nossa e só nossa!" -(Diário de Notícias, 3 de Novembro de 1933).
Ilustração: Google Imagens.
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