O secretário regional da Educação, segundo um trabalho do Jornalista Francisco José Cardoso, a propósito dos resultados no quadro das "Tendências Internacionais no Estudo da Matemática e das Ciências (TIMSS), lembrou que "o principal crítico da política educativa e mentor do PS-M em matéria de Educação, simultaneamente, presidente da Assembleia Geral do Sindicato de Professores da Madeira (André Escórcio) defende, sistematicamente as "maravilhas" do sistema finlandês, talvez seja oportuno perguntar-lhe, porque razão os "burros" madeirenses, conduzidos por "incompetentes" em matérias de política educativa, conseguem estar à frente de tais maravilhas (...)" (DN-Madeira, edição de hoje). Achei interessante a referência, já explico porquê, embora não seja mentor político do PS ou de qualquer outro partido, não tenha qualquer actividade político-partidária, muito menos no Sindicato de Professores da Madeira. Apenas escrevo produzindo e cruzando, humildemente, sínteses do pensamento de tantos investigadores e autores onde se incluem, naturalmente, entre muitos outros, professores, filósofos, psicólogos, sociólogos, médicos e economistas.
Dou de barato aquele tipo de "medições", como o dou relativamente à aferição PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes). Há, de resto, muita produção literária sobre o formato, as diferenças sociais e sobre a escolha dos alunos submetidos a essas avaliações. É a escolha, que deveria ser rigorosamente aleatória, que está em causa. Li, há dias, um texto, com o título: "No PISA nós confiamos - mas será que devíamos?" Neste pressuposto, sobre os resultados dos estudantes madeirenses (TIMSS), embora eu não seja adepto de "ranking's, por múltiplas razões, não deixa de causar alguma perplexidade quando os ditos colocam os estabelecimentos de ensino da Madeira em posições muitíssimo modestas e, qual passe de mágica, em um ápice, a Madeira "aparece" no topo da satisfação da política educativa regional. Isto leva-me a repetir a pergunta: será que devíamos acreditar?
Independentemente deste aspecto, não são os resultados pontuais que têm constituído motivo das minhas reflexões, mas sim, de forma compaginada, a estrutura do Sistema Educativo e a estrutura de toda a organização social (políticas de emprego, pobreza, cultura, etc.). E isto está, obviamente, muito para lá da simples avaliação pontual de uma ou de outra disciplina. A minha batalha, se disso se trata, é contra um sistema desintegrado, que repete o passado e demonstra incapacidade de adaptação a um mundo que não é o da Sociedade Industrial. Sou avesso à segmentação da aprendizagem por disciplinas, sujeita a questionáveis rituais programáticos. Defendo que a aprendizagem deve assumir uma outra dimensão que obriga a pensar e a questionar os porquês. Um sistema, que bloqueia a curiosidade e empareda a aprendizagem julgo que não tem futuro. Não entender isto, pelo menos para mim, constitui uma clara fragilidade intelectual.
Ainda há poucos dias, em uma iniciativa do governo regional da Madeira, foi o Juiz Conselheiro, hoje jubilado, Laborinho Lúcio, ele que não é docente, mas evidencia uma leitura sistémica do processo, que veio transmitir que não tarda o dia que as crianças dirão que têm um adulto dentro de si, tais são as características do sistema educativo. A simplicidade e acutilância deste pensamento deveria conduzir a uma profunda reflexão, partindo de uma única palavra: porquê? A questão tem sido, exactamente, essa, questionar-me sobre a estrutura do sistema, as razões da insatisfação e esgotamento dos professores, a estrutura da rede escolar, a autonomia das escolas, o paradigma curricular e pedagócico, a estrutura e financiamento da escola pública, a burocracia, a cultura, níveis económicos, familiares e a mentalidade da sociedade em geral, daí partindo, então, para um sistema de resposta a tanto abandono e insucesso. Doze escolas da Madeira e, dentro destas, sem se conhecer como foram seleccionados os alunos, resulta uma imagem que não se compagina com outras verdades. Por exemplo, no mesmo ano (2014/2015) do tal apregoado sucesso, posto em destaque pelo secretário da Educação, foi o mesmo ano escolar onde ficaram retidos ("cumbaram") 3.800 alunos, o que equivaleu a uma desperdício de 17 milhões de euros, partindo do pressuposto que cada aluno, em média, custa cerca de € 4.500,00. Pode então, sem esforço, se concluir, que o problema deve ser analisado não pelo lado da percentagem dos "reprovados", mas pelo lado do que o sistema deveria ter realizado, a montante e a jusante, no sentido de uma escola que não repita o passado e que, pelo contrário, seja fermento para o futuro.
Sou por um Sistema e por uma Escola com pensamento crítico politizado e não partidarizado. As escolas não podem ser comparadas às "linhas de montagem". Por isso, não entrando por outras substantivas razões, estou muito próximo de Pepe Menéndez, diretor adjunto da Fundació Jesuïtes Educació, da Catalunha, quando, recentemente, enalteceu em uma entrevista ao DN-Lisboa: "(...) A mudança está em olhar para as coisas de forma diferente: o que queremos? Nós, jesuítas, dizemos: queremos alunos competentes, compassivos, conscientes, comprometidos e criativos. Que sejam capazes de construir o seu projecto de vida, é esse o centro do nosso projecto educativo. É preciso fazer coisas no colégio para que o aluno se vá construindo, e todos os conhecimentos têm de ser metidos dentro do projecto. Não é: "A minha vida é isto e os meus conhecimentos estão noutro lado. Tenho de integrá-los" (...) Há, portanto, que mudar o olhar, de acordo com o filósofo [Zygmunt] Bauman que fala de um mundo líquido. Ironizo: ele não falou da Matemática! Pepe Menéndez, a par de muitos outros autores e de experiências que estão a acontecer em tantos espaços, nessa entrevista sublinhou: "(...) Aplicamos uma parte da [Teoria] das Inteligências Múltiplas (Howard Gardner, 1985, Harvard), uma parte da aprendizagem baseada em problemas, uma parte do trabalho colaborativo, e fazemos um ecossistema. O nosso modelo baseia-se muito no trabalho interdisciplinar por projectos". Saliento eu, para que a Escola, como já alguém referiu, não seja "a catedral do tédio". Não perceber esta relevância, misturando alhos com bugalhos, expõe, repito, uma fragilidade de pensamento que gostaria que nenhum governante evidenciasse. Mas agradeço a referência, pois ela permitiu-me, dentro da minha fragilidade, eu que não sou investigador, aqui colocar algumas coisitas que me preocupam. Sinto-me feliz por chegar à aposentação e continuar a acreditar que é sempre preferível ser prospectivo do que repetir o passado. Quanto a "burros" e "incompetentes" essas são palavras do secretário, nunca minhas. Jamais, porque alunos, professores e pais estão na primeira linha do meu respeito e preocupações.
Ilustração: Google Imagens.
Sem comentários:
Enviar um comentário