Os anos passam a uma velocidade estonteante. Quando damos por nós, zás, menos um na esperança média de vida. Só que, a par disso, cresce em nós, a experiência acumulada, por tudo aquilo que, através de Mestres e de revisões bibliográficas, nos transmitiram e que nos fizeram amadurecer, burilar em uma amálgama de temas marinando ao longo dos anos. Por isso mesmo, ficamos cada vez mais distantes da politiquice barata, para consumo mediático. Tenho um velho, distinto e culto Amigo, que do alto dos seus 91 anos, diz-me com frequência, que quando fala com certas pessoas do seu tempo e sobre certos assuntos, "tem de se esquecer do que sabe", para não ser inconveniente. As experiências de vida concedem-nos isso, esse bem-estar com a consciência que não se alimenta da ignorância altifalante. Quando não se sabe, o melhor é o silêncio e daí partir para o estudo, a fim de perceber e descobrir outras realidades. Simplesmente porque a verdade é múltipla.
No Sistema Educativo, tal como em todos os outros, sinto que existe pouca humildade, défice de participação e sentido de aprendizagem com os outros. A nossa cultura, infelizmente, ao nível do governante, fá-lo disparar contra quem analisa de forma distinta. Na incapacidade do argumento com substância, por norma, o poder cataloga-o de forma imbecil: é comunista, socialista, eu sei lá, um quadro para o qual não há paciência de aturar. Eu, pelo menos, não tenho. O período que atravessamos, talvez mais do que em outros tempos, precisa de reflexão, de serenidade, de saudável utopia, de um sentido prospectivo que abra horizontes de esperança e anule o princípio de que "se sempre foi assim, por que raio havemos de fazer de forma diferente". John Stuart Mill (1859), Filósofo e Economista britânico escreveu: "(...) a recusa em escutar uma opinião porque se tem a certeza que é falsa, é supor que a sua certeza é absoluta". Lembro-me de ter destacado esta frase na primeira página do meu relatório de estágio pedagógico em 1971. Não tinham alguns governantes nascido. Frase que não foi colocada por acaso, porque ficava bem, antes antecipava, da minha parte, um contraponto àquilo que constituía a norma do sistema. Sempre nutri, porque tive notáveis professores que souberam tocar nas minhas fragilidades intelectuais, essa preocupação de tentar ver os problemas não pela aparência, mas pelas suas causas. Julgo que ao sistema educativo falta isso, repito, a humildade para cruzar informação, de onde resulte uma postura de aprendizagem na arte de bem governar.
Quando o poder tende para o aproveitamento circunstancial de um dado resultado, como se a árvore pudesse esconder a floresta do desencanto, quando a história nos alerta para a inconsistência dos resultados, parece-me óbvio que não se lhe pode augurar bom futuro. Só que a ânsia pelo mediático e a ausência de memória tem suplantado e suplanta o bom senso e a definição de um caminho sem buracos. Nem a propósito, hoje, nas "cartas do leitor" do DN-Madeira li um texto subordinado ao título "Desabafo de um aluno", assinado por MW que, a espaços, alerta o(s) governante(s) para a configuração de um sistema educativo que soçobra:
"Cansei, cansei que esperem de mim números, cansei que esperem que seja igual aos socialmente vistos como mais bem pagos, cansei de entrar numa sala e ouvir que não valho nada, cansei de ser obrigado a colocar toda a minha energia em algo que realmente não me interessa... E aí? (tudo o que é adulto “bem sucedido ou não” vai dizer: pois, esta geração de hoje em dia não se interessa por nada, não tem objectivos). Esta geração tem objectivos e, provavelmente, objectivos muito maiores que os vossos! E por os ter é que é capaz de reconhecer que o vosso mecanismo de ensino não os satisfaz. É demasiado “rasco”! Porque nós não nos contentamos em saber simplesmente sobre um assunto. Somos seres com sede constante de novidade, seres que procuram a mudança. (...) Porque é isso que somos, somos engolidores de matéria. (...) Agora, pergunto, onde está todo esse poder com que nos julgam e nos privam de sermos quem sonhamos ser, quando a criatividade é precisa? Quando a capacidade de resolução de problemas é essencial?! (...) Que se levantem e digam basta! (...) A educação está na base de tudo isto... Por isso parem de julgar os comportamentos desta geração e comecem a avaliar o vosso “sistema” (...)" (aqui)
Não foi um desabafo de um encarregado de educação, de um professor no activo e cansado, de um considerado investigador, de um autor de mérito reconhecido, de um político, de um aposentado, mas de um aluno. À voz da base, que o governante, responsável pelo sistema, responda... com as estatísticas do pseudo "sucesso".
Ilustração: Google Imagens.
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