Foi manchete do Jornal de Notícias de ontem: "Triplicam as crianças que têm escola em casa - Aumenta o número de famílias a optar pelo ensino doméstico. Defendem que menores ganham tempo para outras actividades". Não se trata de qualquer leviandade por parte dos pais. Apenas uma opção que pode conduzir até ao "Doutoramento sem nunca ter ido à escola", conforme assume o Professor Álvaro Ribeiro. "Devemos ter a humildade para saber as necessidades de cada filho (...) a flexibilidade de horário revelou-se uma das maiores vantagens da modalidade (...) a escola é muito absorvente. Mobiliza muito o tempo social da crianças", assume a mãe Laura. "A maioria dos alunos, se tivesse opção não estaria na escola e isso é muito grave", salienta a investigadora em Psicologia da Educação Inês Peceguina. "O acesso à educação tornou as pessoas mais críticas e exigentes", depois, insiste, o sistema de ensino em sala de aula pouco mudou (...)". A questão é exactamente esta. A rotina que mata e afasta. O tempo perdido em generalidades, vulgaridades e na insistência em assuntos cujas abordagens surgem desfasadas do tempo que estão a viver.
As famílias destacam, por isso, a liberdade de aprender "sem programa, testes, trabalhos de casa ou horário". Tomamos o pequeno-almoço todos juntos. Não nos levantamos a correr, nem nos preocupamos com a hora de deitar. É uma liberdade completamente diferente. As famílias escolhem este tipo de enquadramento porque as crianças apresentam-se "desmotivadas e esgotadas com prolongadas jornadas de trabalho" escolar. São já 661 crianças inscritas no ensino doméstico e individual. Crianças que apenas têm de realizar provas de equivalência a todas as disciplinas no final de cada ciclo, realizadas pelas escolas. As provas de aferição só são feitas se os pais o desejarem e os exames no secundário se quiserem concorrer ao Superior. E o curioso, se se trata de curiosidade, é que desta opção resultam boas classificações. E aqui não são "contabilizados" os conhecimentos que estão muito para além dos manuais e tudo aquilo que a escola tradicional não dá nem pode oferecer: as vivências culturais de todo o género que, devidamente enquadradas, valem muito. Achei interessante, neste trabalho da jornalista Alexandra Inácio, um pai assumir que o filho "aprendeu a aprender", que a opção foi ler muito, os livros e não os excertos, a preocupação de desescolarizarem tendo por objectivo o desenvolvimento da criatividade e o hábito de pensar.
É claro que a formação dos pais é determinante. A grande maioria tem ensino superior e actividades profissionais independentes que lhes permite o tempo necessário para o acompanhamento. O processo não é, de forma alguma, generalizável. O significado desta opção e destas experiências é aquele que coloca em causa o sistema tradicional de aprendizagem. Melhor dizendo, perante isto, o que é que o actual sistema tem de fazer para que a Escola não seja, para muitos, a "catedral do tédio". É preciso que os alunos contem, como li na peça de Clara Viana, em Abril de 2016: "(...) pode parecer pouca coisa, mas esse pouco, que em Portugal será sempre muito, poderia curar o crescente desamor dos jovens face à escola. Basta começar por lhes "dar voz", permitir que até no ensino secundário sejam eles a escolher disciplinas em função dos seus "interesses e talentos". Missão impossível? "(...) Se outros países já o fizeram, nós também podemos, embora isso signifique uma grande transformação do ensino em Portugal", responde Manuel Magalhães, 20 anos, que está a estudar no Instituto Politécnico de Leiria. É um dos seis jovens, entre os 16 e os 20 anos, a quem o PÚBLICO perguntou: o que pode ser mudado nas escolas para que estas (e o processo de aprendizagem) se tornem mais atractivos para os alunos. O problema reside aqui.
Ilustração: Google Imagens.
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