As designadas "provas de aferição" são uma treta. Foram realizadas, estou convencido disso, apenas para atenuar a crítica política e sobretudo pública que o governo não quer avaliações e muito menos exames. É óbvio que a população transporta, ainda, a imagem de um sistema, com um longínquo passado, onde a palavra exame foi sempre determinante. Ali se separava, sem olhar a outros contextos e variáveis, o chamado trigo do joio. Não haver exames, para muitos, ainda hoje, significa facilitismo. Essa cultura está enraizada na consciência da população, sobretudo porque persiste uma crónica teimosia em não actuar nas causas. E essas encontram-se no Sistema Educativo no quadro da organização e da mentalidade social.
Mas acresce aqui um outro aspecto. No entendimento existente e no quadro das referências do sistema, se a aferição não conta para a avaliação do aluno, tendencialmente, são os próprios alunos que relegam para segundo plano o objectivo que, dizem, estar em causa. Pergunta-se, então, para que serve essa aferição? Quando os exames são hoje postos em causa, para quê aferir no plano nacional? Os estabelecimentos de ensino é que devem ter essa preocupação, porque dominam o quadro das aprendizagens no âmbito do seu projecto educativo. Para quê esse olhar de coruja atenta que o sistema encarna? Daí que não sejam necessários testes, pois há múltiplas formas de avaliar o trabalho realizado no plano interno dos estabelecimentos.
Há dias segui uma reportagem, incluída no programa Fronteiras XXI (RTP 1), no decorrer da qual a jornalista disse que, na Finlândia, não existem exames nem no básico nem no secundário. A esse propósito, uma professora, sorrindo, sublinhou: "não é importante"! De facto, não é, se coragem existisse para mexer no âmago do sistema. Não se aprende mais com exames, tampouco com repetições para esquecer. Aprende-se vivenciando, errando, tentando e experimentando através de enquadramentos que despertem a CURIOSIDADE, acreditando, tal como ficou claro nessa mesma reportagem, que o "mundo não se resume às disciplinas". As crianças não vão, passados uns anos, para o mercado de trabalho com uma catrefada de disciplinas assistidas e concluídas com o tal "êxito" e com os diplomas de uma vã meritocracia. Integram-se e são confrontadas com a vida que é um todo; integram-se sabendo trabalhar em grupo e para o grupo e não de forma isolada, cada um por si. Não se integram com uma nota ou um nível, mas pela capacidade de aprender a desaprender, com visão, com entusiasmo, com sentido de busca e de investigação permanente. Esse é o caminho.
Portanto, na esteira do que tantas vezes aqui escrevi, obviamente na sequência do que vou lendo, compreendendo e percebendo, constitui um erro manter esta lógica: ah, as aferições foram muito negativas, então, mais apoios no Português, na Matemática, nas Ciências Naturais, na Física e na Química. Só que a insistência no erro nunca resolveu e jamais resolverá os tais pobres resultados. Assume o secretário de Estado: "estas provas permitem aferir o sistema e agir ao primeiro sinal de dificuldade". Pois. O problema é que há tantos e tantos anos que essa lógica se mantém: perante resultados menos satisfatórios, a resposta do sistema é sempre igual e os resultados posteriores sensivelmente os mesmos. Sendo assim, resta-nos mudar de paradigma. Este sistema educativo já deu tudo quanto tinha para dar. Desde há muitos anos.
Ilustração: Google Imagens.
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