terça-feira, 14 de novembro de 2017

LAMBEM PARA CIMA ESCOICEIAM PARA BAIXO


Este é um desabafo. Inabitual, da minha parte, sobretudo pela frontalidade e crueza das palavras. Estou cansado de ver sinais dados por alguns políticos que tentam secar tudo à volta. Normalmente escolhem ou os menos bons ou, intencionalmente, zangam-se com os melhores, gerando entropia nos serviços que tutelam, para que eles próprios sobressaiam. Subtilmente, como se ninguém estivesse a ver o jogo, descomprometem-se relativamente aos seus pares, baralham o jogo, habilidosamente perseguem, silenciosamente fazem o que lhes dá na real gana, mas vergam-se ao "chefe", isto é, como é vulgar dizer-se, "lambem para cima e escoiceiam para baixo". E lá vão sobrevivendo no meio político sem que lhes descubram a careca e o vazio interior que faz eco. O poder está entregue, em alguns sectores, a desmiolados, a pessoas sem conceitos, "analfabetos" naquilo para que foram convidados, jurando pela honra cumprir com lealdade as funções confiadas. Lealdade ao "chefe", obviamente que sim, porque, facilmente, sabem que lhes podem ser oferecidos um par de patins e lá vão avenida abaixo! Lealdade e humildade em função da grandeza do acto de bem governar, com visão de futuro, isso aí, calma, primeiro o lugarzinho, depois, a imagem pública, depois, ainda, o que fica para o futuro. Se ficar...


O drama desta situação é pensarem que são donos da verdade, demonstrarem excesso de vaidade, desejarem ser referência de qualquer coisa, passarem, até, a imagem de excelência, quando, ao fim e ao cabo, existem tantos na sociedade, de professores universitários a investigadores com "cabeça", capacidade e mestria. Até alunos melhores! Então, julgo eu, eriçados pelo ciúme, com o receio de perderem o pódio, tentam fazer a vida negra aos outros, àqueles que trazem o novo e conseguem resultados entusiasmadores. Instauram processos disciplinares, mandam inspecionar desde a tasca à escola, porque todos devem vergar-se à padronização e à centralização do poder. Vergar-se ao seu "chefe", melhor dizendo. O egoísmo é tal que não conseguem olhar para o lado, ver e aplaudir o que de bom alguns fazem com enorme paixão. Aí, alto e parem o baile, porque "eu sou o presidente da junta", o meu umbigo é o centro do mundo e tudo tem de passar pelo meu crivo. Entristece-me gente assim. Magoa-me quando vejo alguém magoado por andar com a coluna direita.
Não é novo este quadro de tentativa de apagão e de, intencionalmente, provocarem o conflito onde não existe, para fazerem os outros baixar os braços, pelo que pensam, pelo que dizem e pelo que fazem. Ao longo da minha vida profissional assisti a tantas situações com esta raiz de pensamento abstruso e indigno. Até um tolinho me instaurou um processo disciplinar na lógica da perseguição maquiavélica e ao jeito político de "para os amigos tudo, para os inimigos nada e para os restantes aplique-se a lei". Hoje, olho à volta e detenho-me não nessa apregoada "renovação", mas na frase histórica que ditava a mentirosa "evolução na continuidade". Não suporto políticos medíocres, que infernizam a vida dos outros, que preferem a rotina do passado a demonstrarem um rasgo portador de futuro. Olho com preocupação para sujeitos científica e culturalmente fracos que ocupam lugares institucionais e vê-los atravessar a passerelle como iluminados. Não conseguem irritar-me, mas fico em estado de desassossego sobre o futuro. Este é um desabafo. Um dia destes, sei lá, regressarei com a denúncia. Vão mas é bugiar!
Ilustração: Google Imagens.

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