sábado, 4 de novembro de 2017

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA TOCOU NA FERIDA


"Os portugueses, de facto, verdadeiramente não dão primazia à Educação como prioridade nacional, (...) quantas famílias votam, nas diferentes eleições, dando primazia à Educação? Tenho para mim que muito poucas. (...) Votam olhando para a situação económico-financeira, para as questões do emprego, da segurança, porventura da saúde ou da segurança social. Não para a Educação. E isso é muito preocupante", afirmou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no discurso de encerramento do 1º Congresso das Escolas.


O Presidente falou, ainda, da necessidade de um novo olhar para os currículos e para os programas, o que pode significar, complementarmente, um novo olhar sobre a esfera pedagógica. Uma intervenção certeira que me escorreu garganta abaixo como mel. Faltou-lhe acrescentar, pelo menos não me apercebi, um novo olhar para as políticas de família, para as responsabilidades que a estas competem no processo educativo e para uma nova visão organizacional da sociedade. Mais trabalho não significa melhor trabalho com ganhos na produção, da mesma forma que mais escola não significa melhor escola com ganhos nos resultados da aprendizagem. Infelizmente, é essa mentalidade que há muito perdura.
Mas, não perdendo o fio à meada, as palavras do Presidente encaixam-se na perfeição em algumas experiências que tenho feito. Em qualquer rede social, coloca-se uma fotografia, muitas vezes sem qualidade e logo aparecem, dezenas ou mesmo centenas de "gostos" e  de comentários; um assunto sobre Educação passa completamente ao lado dos visitantes. Uma maçada! Só mais um exemplo: assino este blogue, aberto a textos e comentários, desde que devidamente assinados, (www.educacaopensamentoautonomia.blogspot.com), iniciado em 19.10.2016, o contador de visitas regista escassas 3.700 entradas (média de 9 pessoas/dia), mas, pior, nem um só comentário. Curiosamente, só na Região da Madeira, existem cerca de 6.500 professores. Caso para dizer que nem esses estão interessados, quanto mais a sociedade! Discutir a escola pública e a privada,  a autonomia dos estabelecimentos de educação e ensino, os direitos da criança, a pedagogia, os paradigmas organizacionais, a meritocracia, a avaliação, os TPC, o desporto educativo, a cultura, a tecnologia, a formação, a acção social educativa, os currículos, os programas, tomar consciência, através de entrevistas, do que outras personalidades dizem, enfim, tudo isto, por experiência própria, leva-me a dizer que a comunidade não dá "primazia à Educação". A escola funciona porque é obrigatória e, em segundo lugar, para a generalidade, atrevo-me, com algum exagero dizer, que são excelentes armazéns enquanto os pais trabalham. O que lá se aprende e como se aprende, se se adequam às novas realidades ou não, tem razão o Presidente, as pessoas votam (...) olhando para a situação económico-financeira, para as questões do emprego, da segurança, porventura da saúde ou da segurança social. Não para a Educação. E isso é muito preocupante".
Só uma nota final: Senhor Presidente, se a sociedade está errada, a escola não pode estar melhor. E mudar de paradigma é muito difícil. De resto, há muita forma de comprar os silêncios das pessoas, os silêncios dos próprios responsáveis pelas escolas e os silêncios dos professores, de tantas formas, repito, conjugadas com uma palavra que condiciona sobremaneira: medo.
Ilustração: Google Imagens.

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