quinta-feira, 23 de agosto de 2018

NÃO É A CRIANÇA QUE TEM DE SE ADAPTAR À ESCOLA. É A ESCOLA QUE TEM DE SE ADAPTAR A CADA CRIANÇA.


Sonhar o Futuro. A Escola do Futuro. Acompanhei os 50' de um programa da RTP2 - um filme de Pierre François Didek. Logo a abrir: "O mundo mudou muito e muito rapidamente. Mas um dos lugares que evoluiu menos rapidamente, infelizmente, foi a escola" (...) "temos de repensar a educação, pois a tecnologia está a mudar o mundo a um ritmo muito rápido; muda o modo como pensamos, aquilo em que pensamos, o trabalho que fazemos". (...) "Para que a educação e a escola mudem, é preciso investir em pesquisa. É preciso ver os professores também como investigadores. As crianças são investigadoras como todos nós e todos nós devemos pensar em novas formas de pensar, em novas formas de aprender, de ganhar conhecimento e acumular novos conhecimentos". (...) "A educação não deve apenas encher um vaso, deve antes acender uma chama. Deve oferecer às crianças um entusiasmo pela vida, para realizar algo que aos olhos delas mostre que vale a pena viver" (...) "Não pode haver aprendizagem sem prazer".


Hoje, com o auxílio da internet, "as crianças são capazes de aprender qualquer coisa sozinhas. O mais difícil é dizer aos professores para não interferirem". Na minha opinião o professor deixará de ser o de um fornecedor de informações, para ser uma espécie de facilitador de aprendizagem (...) o seu papel é observar em vez de disponibilizar conteúdos" (...) "O professor não nos disse o que devíamos pesquisar, tivemos de decidir por nós próprios sobre o que iríamos falar". (...) É engraçado quando se pergunta às crianças na escola: qual a melhor maneira de aprender? Quase todas dizem que precisam de um professor (...) depois de outras vivências, perguntamos como aprenderam aquilo tudo? Aprendemos sozinhas, foi fácil". É estranho vivermos num mundo, onde as crianças ainda têm medo de dizer que aprenderam sozinhas, porque acham que está errado. Precisam de dizer que alguém as ensinou". (...) "Queremos deixar de ser um centro de ensino do século XX e passar para um centro de aprendizagem do século XXI, onde os alunos aprendem fazendo coisas novas, com as ferramentas do século XXI". (...) Uma das grandes diferenças está no projecto de base, recai mais sobre a investigação, é motivado pelo contexto. Podem ter uma questão: é possível aterrar em Marte? Por aí vão estudar Física, Biologia, Química, tudo nesse contexto. É mais apelativo e os resultados são melhores (...) É muito melhor do que estar numa sala a ouvir um professor".

"O mais difícil é dizer aos professores 
para não interferirem"

Esta a síntese do filme exibido, entre muitas declarações de professores-investigadores e alunos. Tratou-se, apenas, de mais um programa sobre a escola que, infelizmente, ainda temos, e a escola que as crianças portuguesas deveriam ter. É um absurdo o governo continuar a insistir em um modelo completamente ultrapassado, desmotivador e arredado das preocupações portadoras de futuro. Sinto uma profunda tristeza que a Região da Madeira, com um número global de alunos limitado, que poderia ser um enorme centro experimental e, globalmente, inovador, se mostre incapaz de, paulatinamente, transformar a escola do século XVIII/XIX na escola do Século XXI. O governo prefere continuar enredado em currículos, (agora é a gestão do currículo, sempre com o mesmo "modus faciendi") extensos programas desarticulados, que partem de fora para dentro, manuais, muitos manuais quando tudo está na net, sirenes de entrada e de saída das salas, complexas e exaustivas avaliações, preocupado em "ensinar" e não em fazer "aprender". É um absurdo, por clara incompetência, continuar centrado na transmissão unilateral, no princípio que o professor é que ensina e não no princípio que o aluno é quem deve descobrir e aprender mediado por uma outra postura do professor. Há excepções, muito localizadas, que confirmam a regra! Um governo que continua bloqueado em processos administrativos, em resmas de circulares, normativos e circunstanciados relatórios, tarde ou cedo, destinados ao arquivo morto. Um governo autónomo que cumpre, religiosamente, rituais, incentiva uma falsa meritocracia, que visita escolas com o peito cheio de ar (viciado), inspecciona e persegue os que desejam ser inovadores e, naquilo que é fundamental, isto é, na paulatina mudança organizacional e pedagógica demonstra uma aflitiva e constrangedora tristeza. O secretário da Educação da Madeira deveria ver aquele e outros programas  e, ao contrário de andar por terras de Jersey, no "Portuguese Food Festival", seria de todo aconselhável  que visitasse países e sistemas onde pudesse aprender como gizar uma política de educação transformadora da sociedade que a prepare para o tempo que estamos a viver.
Ilustração: Google Imagens.

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