"Todos sabemos que as boas práticas são um fator de economia. Mas a sua implementação não dependerá só da nossa vontade. Cada escola terá, no âmbito da sua autonomia, de assumir as opções que melhor entender" - discurso do secretário regional da Educação, constante na página na secretaria regional. Discurso que assenta bem, digo eu, porque está em linha com o pensamento vigente, porém, completamente distante da prática. Isto, embora fique por explicar o que são, para ele, "boas práticas" relacionadas com a "economia" (!). Enfim, um discurso apenas para fora. O que é absolutamente lamentável. Na prática, o que se passa ao nível da interferência directa nas escolas, de múltiplas maneiras, umas subtis, outras descaradas, o número de normativos que lá chegam, os telefonemas... ai os telefonemas, acabam por evidenciar que a tal autonomia não existe. É uma farsa.
Quando alguém tenta implementá-la surgem os problemas. Quando alguém tenta ser inovador, começa a ser olhado de esguelha. Quando alguém tenta sair fora do padrão imposto, mas no quadro da autonomia constante na Lei, tem logo a inspecção à perna e, eventualmente, um processo de inquérito e as ameaças de processo disciplinar. São tantos os casos ao longo dos anos, o mais flagrante e revoltante, o da Escola do Curral das Freiras.
A este propósito, há dias, circunstancialmente, em uma das minhas últimas passagens pelo Funchal, cruzei-me com uma distinta Colega que estimo pela sua qualidade intelectual e paixão pela escola. Chegámos a trabalhar no mesmo estabelecimento de aprendizagem. Há muito que não falávamos. Perguntei-lhe sobre a sua vida profissional. Respondeu-me mais ou menos isto: estou na escola do Curral e os últimos anos têm sido fantásticos e muito gratificantes. Isto, depois de muitos outros que me deixaram um rasto de angústia, por não conseguir fazer aquilo que mais desejava. Ali, no Curral, sentimo-nos úteis, vivemos a escola, porque a dinâmica da direcção possibilita que sejamos professores a sério. No meio da conversa, perguntou-me: conhece o professor Joaquim Sousa? Obviamente, respondi. Pois, adiantei-lhe, porque a escola tentou ser diferente, logo terminaram com a sua autonomia! Fundiram-na! E a conversa continuou extremamente interessante, baseada, sintetizo, entre a cultura e a incultura. De facto, há rudeza e ignorância, não entre os alunos, mas entre quem, circunstancialmente, se sente dono de qualquer coisa.
Ora, este diálogo, na presença de um jovem meu ex-aluno, pessoa que também muito considero, que, não sabia eu, desempenha funções políticas, demonstra a falácia daquela frase que o sítio da internet da secretaria regional da Educação encima com grande destaque. Ele, incrédulo, perante o rosário espontâneo daquela minha Colega. Aquela frase personifica, então, a mentira que tenta passar por verdade. E lá me vem à memória, uma vez mais, a frase do Professor Licínio Lima sobre a autonomia das escolas: "(...) sejam autónomos nas decisões que já tomámos por vós". Pois bem, digo-o com frontalidade: deixem-se de tretas, de frases feitas, de uma prática que não corresponde à teoria, e sejam autênticos, valorizem a autonomia como o fermento necessário a uma escola de e com futuro. Quem por esse caminho não se aventura, não deixa rigorosamente nada. Fica a pose, que nada vale! Simplesmente, porque não existem duas escolas iguais, dois públicos iguais, dois grupos de professores iguais e dois contextos sociais e económicos rigorosamente iguais. Ser distintivo é a marca que deve ser assumida. E isso só com AUTONOMIA.
Ilustração: Google Imagens.
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