Quando chego a este período do calendário, sinto um misto de alegria e de profundo desencanto pela humanidade. Todos, certamente, sentirão o mesmo pelas mais variadas razões. Desde a falta de quase tudo até à doença; desde as múltiplas desestruturações à vida fútil até à violência gratuita. Vivo na incompreensão de uma dialética onde a inteligência, a descoberta e as necessidades estão em permanente oposição sem uma saída plausível. No meio disto, sinto a alegria por um Cristo que deixou uma Mensagem que me invade e que se os Homens tomassem à letra as Palavras então ditas, não teríamos tantas assimetrias locais, regionais e mundiais. Dos conflitos à fome, da guerra aos refugiados.
Disse o Papa Francisco: "O Natal é a desforra da humanidade sobre a arrogância, da simplicidade sobre a abundância, do silêncio sobre o tumulto". É, sem a menor dúvida. Para quê tanta arrogância e para quê tanto dinheiro nas mãos de tão poucos, quando incontáveis milhões vivem excluídos nas margens da sociedade. De uma ponta à outra do planeta, convenhamos!
É este desencanto que me prostra. Essa inteligência ao serviço do mal, o paradoxo da incapacidade para não querer entender as pessoas e os benefícios da paz, os incríveis jogos de política subterrânea, a busca incontrolável da riqueza à custa do trabalho escravo ou a paulatina destruição do planeta pela ganância imediata que impede de ver a sustentabilidade ambiental. Tudo isto, quando a vida é finita e a morte espreita ao virar da esquina, ficando tudo aí.
Não sou uma pessoa sem esperança. Acredito no conflito e na reprodução, isto é, que ao tempo turbulento poderá se seguir uma nova ordem mundial, através do grito dos povos, que conduza a uma nova Economia, uma Economia do povo para o povo, a uma justa distribuição da riqueza assente em novos equilíbrios políticos. Difícil, muito difícil, é certo, mas pior será embarcar nesta onda que tudo varre e que não permite uma faísca que ilumine um novo olhar sobre um caminho que não assente na caridade.
Neste Natal, mais do que as palavras ditas em um qualquer Te-Deum, dos rotineiros votos expedidos aos amigos porque são de bom tom, mais do que os almoços e jantares tradicionais, mais do que visitas de apresentação de cumprimentos entre entidades públicas, mais do que Missas do Parto, ponchas, licores, broas, bolos de mel e de tantas iguarias em todo o Mundo, finalmente, mais que o fogo que ilumina os céus de todos os espaços, entre passas e promessas, fica a minha renovada esperança no Homem enquanto centro de todas as preocupações.
Feliz Natal para todos os Amigos que por aqui passarem e que 2019 valha a pena em todos os sentidos.
Ilustração: Arquivo próprio.
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