Acabo de ler, na revista do DIÁRIO, uma entrevista a Daniel J. Siegel, Professor de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia. Portador de um extenso currículo, o Professor é peremptório: "(...) É uma realidade triste e muito desafiante. A saúde mental das crianças nunca esteve tão mal" (...) Vivemos temos particularmente preocupantes seja individualmente, em grupo, na saúde mental das famílias, das escolas, organizações, governos (...) é urgente que se faça uma reflexão profunda acerca do percurso que temos vindo a percorrer e como deve ser alterado (...) a única coisa a fazer é transformar, profundamente, a partir da visão de que todo este caos é uma oportunidade para que algo novo e melhor emerja".
Educar significa conectar. "(...) Só assim as crianças crescem empáticas, resilientes e cooperantes (...) as crianças que enfrentam o mundo apenas com o cérebro ficam dependentes da sua sorte e dos seus sentimentos. Ficam presas às suas emoções, incapazes de as alterar, queixando-se da sua realidade, em vez de encontrarem formas saudáveis de lidar com ela. Ficam obsessivamente preocupadas por enfrentarem algo novo ou cometerem um erro, em vez de tomarem decisões com abertura de espírito e curiosidade (...)".
Toda a entrevista conduzida por Rita Aleluia é uma delícia. Lá mais para o fim remata: "a nossa sobrevivência individual e social depende da coragem dos mais novos" (...) Temos de auxiliar as crianças a perceberem quem são e quem podem vir a ser (...) para que elas sejam capazes de ultrapassar as desilusões e os fracassos, levando-as a escolher uma vida plena de relacionamentos com significado.
(...) Uma criança que cresce a ouvir palavras positivas por aquilo que produz, em vez de um reforço àquilo que é mesmo importante, com significado para ela, vê o seu sistema de valores e a estratégia que utiliza para tomar decisões, basear-se em recompensas. Em vez de produzirem estados positivos (...) criam o oposto, estados negativos e colocam-na numa prisão".
À medida que fui lendo e voltando atrás para melhor perceber, permanentemente fui-me questionando sobre o sistema educativo que temos, sobre a fragilidade conceptual de quem tem a responsabilidade de governar, sobre a mentalidade dominante que formata através de currículos, programas, testes, exames e outras avaliações meritocráticas, absolutamente marginais, conducentes a que as crianças, de facto, não "percebam quem são e quem podem vir a ser". Este sistema não desperta para o futuro, antes condiciona o futuro. Isto leva-me a dizer, na esteira de outras leituras, que estão a matar a infância, as vivências, as experiências e com isso as repercussões positivas na adultez. Ao contrário de uma educação libertadora, a continuidade deste sistema constitui um atentado ao futuro colectivo e, naturalmente, à felicidade.
Ora bem, como trabalho para casa (tpc) há governantes que deveriam ler e fazer resumos desta entrevista, para que, amanhã, começassem a mexer no âmago e não nas margens.
Ilustração: Google Imagens.
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