Por
Eduardo Sá
Um dia, vamos ter de falar melhor acerca disso a que temos chamado teletrabalho. E que, dadas as circunstâncias, nos fez fechar em casa, com o computador à nossa frente e um telefone sempre com o dedo no “gatilho”. E que, desde as reuniões muito cedo, para garantirem que não nos “vingamos” no sono, até aos últimos mails, a chegarem com os telejornais das 8, fazem dos nossos dias um “pequeno inferno”.
Uma pessoa não se levanta às 6; é verdade que não. Não perde uma hora no “pára-arranca” habitual das filas para o emprego; confirma-se, também. E está longe de lhe dar um piripaque, todas as manhãs, como quando o nosso nervoso miudinho chocava com a calma de um dos nossos filhos. Uma pessoa pode, até - muito importante! - trabalhar de pantufas, por exemplo. Mas o teletrabalho não dá atenção nem aos horários nem às folgas. E não cumpre com as regras de segurança no trabalho (tal é o modo “alarme permanente”, em que se vive). É verdade que o “teletrabalho” decorre num “open space”; outrora acolhedor (a nossa querida sala). Que se dá em regime de coworking. E que transforma a nossa mesa de jantar num “centro de negócios”. Mas pela forma como nos obriga a dividir o trabalho com a casa, a escola, as crianças, as refeições, as bulhas e etc. - desde manhã, até que nos deitamos - “consome-nos” os dias, todos os dias. E faz de nós (que, dantes, imaginávamos ter “relações desequilibradas” entre a família e o trabalho), “workaholics dos tempos modernos”. Que suspiram, a todo o momento, pelo hora de voltar ao trabalho! Quem diria?…
Trabalhar a partir de casa pode ser bom; claro. E, vendo bem, trabalha-se (muitas vezes) mais e, até, melhor. Mas assim, sem regras, com crianças agitadas a “ir à escola”, à mistura, não é fácil!! Quem é que, agora, sempre que o telefone toca, quando o atende, não vive num stress que faz mal à saúde, tal é o medo que, do outro lado, lhe perguntem: “estás ao pé do computador”?
Não há condições para trabalharmos (desta maneira!) todas estas horas a partir de casa! A sentirmo-nos obrigados a estar sempre disponíveis. E isto começa a ser tão exaustivo que, num destes dias, ainda entramos mas é numa espécie de burnout em relação à quarentena. E, depois... é “o cabo dos trabalhos”.
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