Por
Raquel Varela
VozProf
24 de Maio, 2020
24 de Maio, 2020
Podemos andar de comboio apinhado, de avião cheio, os alunos têm pais que andam de comboio cheio, e entram nas empresas e fábricas apinhadas de gente, mas dar aulas presenciais não podemos – é um risco. No fim das aulas on-line os alunos, 3 horas e meia fechados sem respirar, podem ir todos para a praia, de comboio. Podem ir ao jardim conversar juntos – o que aliás segundo vários relatos têm feito. Saem das aulas, tiram a máscara e vão – como prisioneiros libertos – conversar juntos para o jardim e a praia.
O ensino on-line é uma forma de destruir a educação, o lobby é a poderosa economia de venda informática e a automação das empresas. Transforma-se o professor em robot e os alunos em sujeitos passivos viciados em ecrãs. A pandemia é a desculpa. A próxima pandemia será a da ignorância sistémica. E dos problemas neurológicos e de sociabilidade destes jovens e crianças. Psiquiatras e pediatras não descartam uma pandemia de doenças degenerativas daqui a 30 anos nesta geração da hiper estimulação dos ecrãs. Já está porém garantido hiper actividade, depressão, doenças oculares, obesidade. Sobre estas e os ecrãs já não há dúvidas. É preciso não saber nada de psicologia, neurologia, pedagogia, para ver qualquer vantagem em manter ensino on-line, mesmo que parcial. Isto quando fora da escola o desconfinamento de filhos e pais os coloca todos em presença de todos.
Em França já há pais e sindicatos a mobilizar-se para levar um Estado que coloca os nossos filhos 5 horas por dia num ecrã a tribunal e mobilizar todos os neurologistas e investigadores sobre os efeitos gravíssimos para a saúde física e mental que tal proposta faz aos jovens e crianças.
Há anos que estudamos educação e trabalho numa equipa multidisciplinar que coordenei – isto não é uma nota com a minha opinião pessoal, mas a nossa certeza científica. As doenças neurológicas, metabólicas e os problemas sociais são a ponta do icebergue da ideia mais triste e nefasta que alguns vez foi proposta no campo da educação. Não há “ensino on-line”, há venda de computadores, software e poupança a pagar professores – as cobaias do negócio são os jovens e crianças. Há alguns – poucos – professores que até gostam. São os que já não gostavam de dar aulas e que agora não precisam de mandar calar alunos, lutar por eles, disputar a sua atenção, pensar estratégias para os ganhar. Há poucos alunos que gostam – são os que já passavam grande parte do tempo ao telemóvel (até nos intervalos ). Para o país é mais um passo em frente rumo ao declínio da nação.
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