domingo, 26 de maio de 2024

UMA EMPRESA COM LIVROS POR TODO O LADO, PINTURA, FOTOGRAFIA E POEMAS NAS PAREDES


Em 2022, no livro que publiquei, "A Escola é uma seca", um dos textos versou o pensamento empresarial do Engº José Teixeira, líder de uma empresa, com sede em Braga, que se dedica à construção civil, infra-estruturas, água, ambiente e energia. O grupo dispunha, na altura de 1400 colaboradores. Na edição de anteontem do Jornal Público, saboreei e confirmei numa sua longa entrevista, absolutamente espantosa, o seu pensamento sobre a importância da cultura no quadro da economia. Deixo aqui alguns excertos e uma pergunta final:



"(...) Trabalhadores cultos geram mais valor naquilo que fazem (...) Eu tenho interesse económico em que os meus trabalhadores sejam cultos (...) Trabalhadores cultos geram mais valor naquilo que fazem (...) Como é que se pode discutir a meritocracia pura e dura se nós temos um ponto de partida diferente? Se um menino vai para a escola de barriga vazia e outro com ela cheia (...) Organizamos sessões de 'leitura furiosa', às Quintas-Feiras, durante o período de trabalho (...) Às Sextas envio um texto a partir de um livro que estou a ler e recolho um excerto (...) Há mais de 800 obras de arte espalhadas pelas várias instalações (...) Sem cultura não há pensamento, sem cultura o armário das palavras, o armário retórico é um armário absolutamente pequenino (...) Eu não estou a falar de erudição, mas ter interesse pela pintura, pelos artistas, pela literatura, pela filosofia, pela poesia, é instrumental (...) Temos um prémio literário há 29 anos (...) Não queremos uma sociedade transformada num hipódromo ou numa sociedade sem valores (...) a diversidade de empresas, de pessoas e de profissões está conectada com a cultura, a literatura e a poesia (...) Tenho presente um estudo feito nos Estados Unidos que acompanhou uma turma dos 3 aos 10 anos, na qual se fazia sempre uma só pergunta no início do ano: quem nesta turma é artista? Aos três anos, todos levantavam a mão. Aos 10, olhavam uns para os outros para ver se alguém a levantava. Nós é que estamos a criar incentivos errados e a afastar as pessoas da natureza da beleza em si (...) Eu não quero divisão social de trabalho, eu não quero classismo nas empresas (...)".

O desfasamento entre a Escola, a Cultura e a Vida é absolutamente pública e notória. Uma escola assim é uma escola faz-de-conta. Então, pergunto, porque insistir num pensamento que não é gerador de futuro e nada acrescenta à economia e à felicidade de quem trabalha?

Ilustração: Público 

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