domingo, 14 de julho de 2024

Discurso conforme as circunstâncias


O secretário regional da Educação da Madeira discursa conforme as circunstâncias. Quando interessa faz disso propaganda política; quando a situação não é favorável, tal como o "rapper", "assobia para o lado". Isto a propósito dos famigerados "ranking's" das escolas e os resultados dos testes PISA.



Ontem, sobre os "ranking's", assumiu: "(...) nós não tomamos como referência essa hierarquização" dos estabelecimentos escolares. Entre as secundárias da região verificou-se que as classificações se situaram entre 146º (12,23) e 595º (10,00 valores); entre escolas básicas entre 49º e 1144º.

Concordo com o titular da pasta, pois tal como já escrevi: "(...) O Ministério da Educação continua a favorecer uma comparação com aquilo que não deve ser comparado. A aprendizagem não se alicerça em um campeonato entre estabelecimentos de aprendizagem, isto é, os da primeira liga (escolas privadas) e os do campeonato de Portugal (escolas públicas); entre os que dispõem de significativos recursos financeiros e os outros. A aprendizagem não visa, pontual e circunstancialmente, obter uma dada classificação colectiva e, no ano seguinte, encontrar-se de meia tabela para baixo. Ora, meter no mesmo rol instituições públicas e privadas constitui um erro grosseiro e desonesto. Não é de bom senso e é despido de rigor, directa ou indirectamente, comparar instituições de natureza privada, cujos alunos, normalmente, têm origem em famílias com outro tipo de formação e bem-estar, com as públicas que abrigam muitos milhares que transportam as históricas consequências das graves assimetrias económicas, sociais e culturais (...)"

O problema é outro. Ora bem, quer os "ranking's", abusivamente publicados pelo Ministério da Educação, quer os teste PISA constituem avaliações globais ao desempenho dos estudantes. Só que, no final de 2023, o político, no apuramento PISA, teceu elogios à qualidade dos estudantes madeirenses na literacia de leitura, matemática e ciências, colocando-os praticamente a par da Finlândia, Suécia, Dinamarca, Alemanha, França e, destacadamente, à frente dos resultados de Portugal Continental. 

Literacia de Leitura
1º Finlândia 490
Madeira 487
Continente 477

Literacia Científica
1º Finlândia 511
Madeira 492
Continente 484

Literacia Matemática
1º Dinamarca 489
Madeira 474
Continente 472

Com estes resultados seria lógico deduzir que, a Região da Madeira, está no topo do Mundo, pelo menos Europeu, no que à Educação diz respeito. Entretanto, surgem os "ranking's" que manifestam exactamente o contrário. Eu sei onde reside a incoerência, mas ficará para depois. Por agora, poder-se-á concluir que "a mentira tem perna curta". 

Hoje a história já é outra. Talvez para esconder a realidade, através de um estudo gerador de muitas dúvidas, porque passa ao lado de variáveis muito importantes, traz à colação a importância dos manuais digitais: "Manuais digitais trouxeram notas mais altas". Vou-me ficar por aquilo que o falecido Professor Doutor Santana Castilho, num encontro de professores, realizado no Funchal, disse sobre a utilização dos manuais digitais. Sumariamente, assumiu que nos Estados Unidos, a implementação dos manuais digitais, iniciada há oito anos, foi abandonada, porque os cientistas concluíram que o desenvolvimento cognitivo das gerações mergulhadas no digital é equivalente ao das crianças de 8/9 anos de há 30 anos; por outro lado, são cinco vezes mais caros para além de ter crescido em 30% as doenças oftalmológicas. 

O estudo, hoje publicado, fez-me lembrar a história que se conta nos meios académicos sobre actos de investigação sem rigor: um desses "investigadores" cortou uma pata a uma rã e disse para a rã saltar. E a rã saltou. Retirou uma segunda pata e uma terceira e a rã continuou a saltar. Retirada a quarta, mandou rã saltar e esta não saltou. Conclusão do estudo: uma rã sem patas é surda!

Ilustração: Google Imagens.

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