sábado, 20 de julho de 2024

Os exames e a angústia no acesso ao superior


Nota
Chegámos ao momento da angústia para os alunos que terminaram o 12º ano e se submeteram aos exames de acesso ao superior. Não só para eles, mas também para os pais. Desde logo, para uma larguíssima maioria, a ansiedade de escolher, no "menu", o curso, a cidade, depois, a fase do "entra não entra" e, mais tarde, o sofrimento de deitar contas à vida no que concerne aos encargos mensais. Um tormento!



Já nem falo do processo completamente abstruso que envolve as médias escolares entre o 10º e 12º anos, conjugadas com o resultado dos exames, sejam quais forem as ponderações atribuídas. Centro-me, apenas, no final da história e aí, por uma décima, um jovem pode garantir o acesso no quadro dos seus sonhos e talentos e, por uma décima, pode ser "atirado" para uma alternativa que não desejam para a sua vida. Uma décima! E mais, questiono, o que difere um aluno de 17,5 de outro com 19 ou 20 valores, quando se sabe que, por mais rigorosos que sejam os critérios de avaliação dos exames, qualquer avaliação transporta sempre uma enorme subjectividade.

Junta-se a isto o alarde que certas escolas fazem com os seus resultados, como há dias li, salientando médias genericamente superiores às nacionais. Apenas propaganda. Paralelamente ao trabalho dos professores, não os vejo falar sobre a relação de mérito entre o trabalho realizado na escola e as "notas" à custa dos designados "explicadores" da matéria, que custam muito dinheiro aos pais. Tampouco os vejo, humildemente, assumirem quantos ficaram para trás e por que ficaram! Esta daria, certamente, uma boa Dissertação de Mestrado.

O Professor José Pacheco referiu que "a prova não prova". Concordo. Mas pior do que isso é manter um modelo que acaba por matar sonhos, talentos e gerar muitas frustrações. Só a nata é evidenciada. Neste sistema, um aluno com 87,5% (17,5) devia poder entrar em qualquer curso, muito mais ainda no curso que correspondesse à sua vocação.

Em Fevereiro de 2019, publiquei um texto da autoria do Professor Catedrático Domingos Fernandes. Deixo aqui um excerto para reflexão:

Por
Domingos Fernandes
Professor Catedrático da Universidade de Lisboa

"(...) Dir-se-ia que os exames podem ser utilizados com intenções e propósitos louváveis. Porém, os seus efeitos nefastos e indesejáveis estão largamente comprovados. O principal é o chamado “empobrecimento” do currículo, decorrente do facto de o ensino se concentrar no que “sai nos exames” ignorando tudo o mais (e.g., competências relacionadas com conteúdos específicos, aprendizagens de natureza social e emocional). Todas as disciplinas que não são objeto de exame perdem a sua relevância na formação dos alunos.
Por outro lado, os exames induzem práticas tais como: apostar mais nos alunos que se pensa poderem ter melhores resultados do que naqueles que, supostamente, não terão essa possibilidade; treinar respostas para certas questões; ensinar técnicas para rejeitar certas opções nas perguntas de escolha múltipla; e pressionar os alunos com mais dificuldades para desistirem. Temos assim um conjunto de efeitos indesejáveis que questionam frontalmente a natureza e a profundidade das aprendizagens assim supostamente desenvolvidas. A investigação tem evidenciado que os exames, por natureza, não contribuem para aprender melhor, com mais profundidade e compreensão. As avaliações internas, da responsabilidade dos professores, são as que podem melhorar substancialmente as aprendizagens de todos os alunos. Nestas condições, surgem desafios relativamente à forma, conteúdos e propósitos dos exames e também às suas relações com as avaliações internas, porque os seus efeitos nefastos superam, comprovadamente, os seus efeitos positivos. (...)"

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