sábado, 5 de abril de 2025

"Ranking's" das escolas: um concurso de beleza da pedagogia


Uma vez mais, aí estão os "ranking's" das escolas. Diabolizo-os. Mas há, infelizmente, professores, direcções de escola (quando convém) e governantes que espumam com alguns resultados. 



Ora bem, "lendo estudos e reflectindo sobre todas as variáveis, entendo que constitui uma infantilidade conceptual defendê-los. A escola deve ser avaliada por aquilo que faz, pela estrutura organizacional que implementa, pela cultura pedagógica que persegue, pelas preocupações inclusivas e pelo esforço no sentido de que ninguém fica para trás, pela sua luta que atenua as diferenças económicas, sociais e culturais e pelo trajecto dos seus alunos após a passagem por um determinado estabelecimento. Diabolizo-os, não apenas pelo facto em si, mas porque é um erro grave conjugar no mesmo patamar os sectores de intervenção público e privado. Não faz qualquer sentido, nem justificação existe, seja qual for o ângulo de análise, tolerar sequer a existência de ranking's de exames e de escolas! Há outras formas de acompanhamento e de avaliação dos processos de aprendizagem. Ademais, tolerar os "ranking's" significa tolerar o actual sistema educativo que mantém e acelera a desigualdade. - Do livro "A Escola é uma seca", pág. 175.

Numa aproximação a Pablo Gentili, Doutor em Educação pela Universidade de Buenos Aires, que se referiu aos famigerados testes PISA, eu diria que os "ranking's" (…) son el concurso de belleza de la pedagogia". Portanto, esqueçam-nos, porque se trata de um mecanismo artificial que "nadie lo cuestiona, y luego compara". Ignoram que existem diversas realidades históricas, económicas, sociais e culturais, que não permitem, com rigor, comparar o que é incomparável.


Do citado livro, da minha autoria, deixo aqui uma passagem de um texto do Padre José Martins Júnior, página 179: "(...) Nunca foi cronologicamente tão inoportuna, objectivamente tão desadequada e qualitativamente tão deprimente uma fasquia como esta que, todos os anos, empresas parceiras dos mesmos interesses expõem no estendal das folhas diárias para gáudio de uns (os privilegiados) e escárnio de outros (a maioria). (...) É a Educação vendida a metro. É a função do lucro marginal em pleno campo da economia do mercado escolar. Nem me demoro na dissecação crítica que docentes e sociólogos já fizeram e que se sintetiza na veleidade (direi mesmo, desonestidade) de comparar o incomparável, como seja a dicotomia privado-público, com a mais que escandalosa geometria variada que lhe está subjacente. Apenas limito-me a transcrever a análise de um director de escola, relativamente bem posicionada: "Nesta escola, primeiro debruçamo-nos sobre os condicionamentos económicos do aluno, depois pesamos os factores sociais que o determinam e, só depois disso, enfrentamos o seu processamento académico". Melhor ninguém diria! Focalizada sob a tríplice objectiva deste campo laboratorial, a Educação nunca será suficientemente revelada, nem sequer valorativamente apreciada, se tais parâmetros forem obliterados ou, pior, deliberadamente escamoteados. (...)"

Do mesmo livro, página 177: "Daqui concluo, "ranking's" não, obrigado; autonomia, sim, para as escolas, rapidamente, sem abusivas interferências. Porém, todos os anos regressa a história do "ranking's" das escolas. Com os estabelecimentos privados à frente. E todos os anos há quem valorize o que não deve ser valorizado. Ninguém se lembra de dizer que há estudos que provam que os alunos oriundos do sector privado, nos primeiros três anos de curso superior universitário, chumbam mais que os alunos vindos do sector público. Interessante, não é? Um facto nunca assumido. Uma coisa é o domínio da acessibilidade a um curso superior; outra, o desempenho dos alunos depois de lá entrarem. No privado, porque estão em causa pesadas mensalidades, qualquer instituição tende a forçar a aprendizagem no que “interessa” em detrimento de uma formação mais globalizante. Isto para além do recurso aos explicadores. No sector público, apesar de tudo, são sensíveis outras preocupações. E a verdade é que, ao longo do superior, os alunos do sector público conseguem uma melhor adaptabilidade e sucesso, consequência de algumas capacidades trabalhadas. (...)"

(...) "E em tudo isto existe uma grave hipocrisia do ministério. Ao mesmo tempo que assume que os "ranking's são “redutores", a verdade é que são publicados. Quem os disponibiliza? Para o ministério, se eles são “redutores”, os níveis ou notas de exame, deviam assumir uma característica reservada (não publicável) visando um sério estudo (global) sobre o sistema. Nunca para colocar escolas e professores sob suspeita. Os bons e os maus. É disso que se trata. E se assim não é, pergunta-se, de que valeu a publicação de todos os "ranking's" anteriores? O sistema melhorou? Não. Aliás, o ministério ao possibilitar a publicação dos resultados sob a forma de “ranking's”, desprestigia-se e dá um sinal (errado) à população que, mesmo neste contexto, o privado é melhor que o público. Não é. (...)"

Ilustração: Google Imagens.

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