Incomoda-me o silêncio dos professores. Não é que tenham de vir para rua agitar bandeiras ou com faixas denunciadoras de insatisfação. Não, de todo que não é isso que me incomoda. Se bem que, às vezes, no limite, tal grito seja necessário. Incomoda-me a existência de silêncios sofredores, de gente que vende o seu conhecimento à hora, que demonstra receio em dizer o que pensa, mas que, no pequeno grupo, nas tertúlias do chazinho, dizem da Escola o que Maomé não disse do toucinho! Tenho encontrado tantos(as) assim, que desabafam, colocam cá fora as suas angústias, os seus sofrimentos, as burocracias sem sentido, os colegas que avaliam o seu trabalho, a má educação de que são vítimas, as violências que vão acontecendo, as baixas médicas por cansaço e depressão, confesso que tenho escutado muitos enervantes silêncios. Questiono-me: porquê? Por medo? Medo de quê e de quem? Medo da perseguição tonta e saloia interna e externa? Medo de serem visados quando cumprem as regras, mesmo aquelas sem sentido? Medo de expressarem uma opinião? Medo por terem de carregar o fardo do dedo acusador de quem se arma em patrão da escola e da coisa pública?
É isto que me incomoda. Incomoda-me a ausência de cidadania, de participação, não no sentido de encontrar tudo errado, porque há muita coisa boa no sistema, mas de ler, de reflectir, de escrever ou apenas de comentar de forma construtiva e independente. É esse silêncio que incomoda, esse silêncio que leva a curvar-se a quem está acima na hierarquia. Como se o sistema fosse um regimento, onde a posição do Coronel não é passível de discussão, ou o que o Capitão diz é vaca sagrada. O sistema não é e não deve assemelhar-se a essa espinha feita de silicone, cujo nariz muitas vezes cola-se ao joelho, tal é a subserviência.
Há muito que é assim. Um dia estava eu em um congresso de professores. Ouvi um longo discurso do secretário-geral da Fenprof. Um discurso a tocar nas feridas, uma por uma, nas feridas que sangram do sistema educativo. No final, palmas, muitas e intermináveis palmas para o convidado. Depois, foi a vez de um secretário da Educação da Madeira, previamente escrito, e, no final, nova ovação, não me recordo se de pé! Ouvi, vivi a situação e pensei para com os meus botões: há qualquer coisa aqui que não bate certo, quando se aplaudem dois discursos completamente antagónicos naquilo que é essencial e que aos professores diz respeito. Mas é assim, aplaude-se sem reflectir, diz-se amém às decisões sem piar, engole-se em seco sem questionar, engalana-se a escola e veste-se a rigor porque um político vai visitá-la, distribuem-se sorrisos e desta forma eterniza-se a mediocridade e a ausência de visão sobre o futuro. Está na "massa do sangue" o comportamento servil (alguém já falou de "sangue de escravo"), que conduz ao sofrimento interior sem um ai! Porquê?
Para mim que nunca tive qualquer receio de dizer bem alto o que penso, tudo isto é estranho. Cumpri os meus deveres, aqueles que me eram destinados, nunca precisei, à saída de uma porta, de alguns minutos para enrolar o rabo, e dou comigo a reflectir em milhares que têm o mesmo comportamento, não se darem à maçada, se é maçada lutar por um sistema melhor, em levantar a voz dizendo, no mínimo, "que o rei vai nu".
Deixo, aos que por aqui passarem, exemplos. Este blogue, completamente aberto como se pode ler em "As razões e os princípios orientadores", foi criado no dia 19 de Outubro de 2016. Já ultrapassou os cinco meses. É um espaço muito jovem, mas as visitas, até ao momento que escrevo, atingiram 2.278 pessoas, que visualizaram 5.777 páginas. Porém, até agora nunca me chegou um texto para publicação, muito menos um único comentário ao que foi escrito. Significativo o silêncio. E eu apenas tenho a minha verdade. Existem muitas outras. Isto quer dizer que as pessoas passam, são capazes de ler, mas, participar, alto e pare o baile. Ainda mais um exemplo. No Facebook, tenho feito a experiência de colocar um ou outro tema sobre Educação. Às vezes, uma síntese do que pode ser lido neste blogue. No dia seguinte, intencionalmente, coloco uma qualquer fotografia de uma viagem. No primeiro, um texto que deveria manifestar participação, entram quatro, cinco, seis pessoas! No caso da fotografia, são às dezenas. Significativo de que a Educação, deduzo eu, não está, por múltiplas razões, nas prioridades do debate. Noto que importante é uma frase do Dalai Lama, uma conversa de treta que, se for expedida para dez pessoas, um sujeito obtém "uma graça" ou, então, umas coisas de culinária ou de humor. Não digo que as redes sociais devem servir, apenas, para os assuntos importantes. Não é isso. Podem e devem servir para comunicar e como meio de divertimento. Porém, o nosso futuro joga-se na EDUCAÇÃO. E aí, o silêncio incomoda.
Ilustração: Google Imagens.
É isto que me incomoda. Incomoda-me a ausência de cidadania, de participação, não no sentido de encontrar tudo errado, porque há muita coisa boa no sistema, mas de ler, de reflectir, de escrever ou apenas de comentar de forma construtiva e independente. É esse silêncio que incomoda, esse silêncio que leva a curvar-se a quem está acima na hierarquia. Como se o sistema fosse um regimento, onde a posição do Coronel não é passível de discussão, ou o que o Capitão diz é vaca sagrada. O sistema não é e não deve assemelhar-se a essa espinha feita de silicone, cujo nariz muitas vezes cola-se ao joelho, tal é a subserviência.
Há muito que é assim. Um dia estava eu em um congresso de professores. Ouvi um longo discurso do secretário-geral da Fenprof. Um discurso a tocar nas feridas, uma por uma, nas feridas que sangram do sistema educativo. No final, palmas, muitas e intermináveis palmas para o convidado. Depois, foi a vez de um secretário da Educação da Madeira, previamente escrito, e, no final, nova ovação, não me recordo se de pé! Ouvi, vivi a situação e pensei para com os meus botões: há qualquer coisa aqui que não bate certo, quando se aplaudem dois discursos completamente antagónicos naquilo que é essencial e que aos professores diz respeito. Mas é assim, aplaude-se sem reflectir, diz-se amém às decisões sem piar, engole-se em seco sem questionar, engalana-se a escola e veste-se a rigor porque um político vai visitá-la, distribuem-se sorrisos e desta forma eterniza-se a mediocridade e a ausência de visão sobre o futuro. Está na "massa do sangue" o comportamento servil (alguém já falou de "sangue de escravo"), que conduz ao sofrimento interior sem um ai! Porquê?
Para mim que nunca tive qualquer receio de dizer bem alto o que penso, tudo isto é estranho. Cumpri os meus deveres, aqueles que me eram destinados, nunca precisei, à saída de uma porta, de alguns minutos para enrolar o rabo, e dou comigo a reflectir em milhares que têm o mesmo comportamento, não se darem à maçada, se é maçada lutar por um sistema melhor, em levantar a voz dizendo, no mínimo, "que o rei vai nu".
Deixo, aos que por aqui passarem, exemplos. Este blogue, completamente aberto como se pode ler em "As razões e os princípios orientadores", foi criado no dia 19 de Outubro de 2016. Já ultrapassou os cinco meses. É um espaço muito jovem, mas as visitas, até ao momento que escrevo, atingiram 2.278 pessoas, que visualizaram 5.777 páginas. Porém, até agora nunca me chegou um texto para publicação, muito menos um único comentário ao que foi escrito. Significativo o silêncio. E eu apenas tenho a minha verdade. Existem muitas outras. Isto quer dizer que as pessoas passam, são capazes de ler, mas, participar, alto e pare o baile. Ainda mais um exemplo. No Facebook, tenho feito a experiência de colocar um ou outro tema sobre Educação. Às vezes, uma síntese do que pode ser lido neste blogue. No dia seguinte, intencionalmente, coloco uma qualquer fotografia de uma viagem. No primeiro, um texto que deveria manifestar participação, entram quatro, cinco, seis pessoas! No caso da fotografia, são às dezenas. Significativo de que a Educação, deduzo eu, não está, por múltiplas razões, nas prioridades do debate. Noto que importante é uma frase do Dalai Lama, uma conversa de treta que, se for expedida para dez pessoas, um sujeito obtém "uma graça" ou, então, umas coisas de culinária ou de humor. Não digo que as redes sociais devem servir, apenas, para os assuntos importantes. Não é isso. Podem e devem servir para comunicar e como meio de divertimento. Porém, o nosso futuro joga-se na EDUCAÇÃO. E aí, o silêncio incomoda.
Ilustração: Google Imagens.
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