Em entrevista ao Expresso, por e-mail, Andreas Schleicher, diretor do departamento de Educação e Competências da OCDE, fala do que é preciso mudar no ensino para garantir jovens bem sucedidos, num mundo que “já não recompensa as pessoas apenas por aquilo que sabem - o Google sabe tudo – mas por aquilo que conseguem fazer com isso”
In Expresso, escrito por Isabel Leiria e Joana Pereira Bastos.
A entrevista tem pontos muito contraditórios e com os quais não me identifico. Faz parte da cruzada da OCDE, onde a formação integral sempre me pareceu negligenciada, dando lugar aos interesses da economia global. Porém, uma passagem da citada entrevista prendeu a minha atenção. Deixo-a aqui, apesar desta entrevista ter sido feita em 2016.
Andreas Schleicher, diretor do departamento de Educação e Competências da OCDE, é o responsável máximo pelos testes PISA - as provas que não fazem tremer os alunos que as realizam, mas os países que participam neste estudo. (...) O método de ensino nas escolas portuguesas tem de evoluir para se adaptar às novas exigências, frisa Schleicher,
Que competências devem ter os alunos no século XXI?
"(...) Há uma geração, os professores tinham a expectativa de que o que ensinavam aos alunos seria válido ao longo de toda a vida. Hoje, as escolas têm de preparar os estudantes para uma mudança socio-económica mais rápida do que alguma vez foi, para empregos que ainda nem sequer foram criados, para usar tecnologias que ainda não existem e resolver problemas que ainda não sabemos que vão surgir. O sucesso educativo já não reside maioritariamente na reprodução de conteúdos, mas na extrapolação daquilo que sabemos e na sua aplicação criativa a situações novas. Ou seja, o mundo já não recompensa as pessoas apenas por aquilo que sabem — o Google sabe tudo — mas por aquilo que conseguem fazer com isso. Por isso, a educação tem cada vez mais que ver com o desenvolvimento da criatividade, do pensamento crítico, da resolução de problemas e da tomada de decisões; e com formas de trabalho que implicam comunicação e colaboração. Se passarmos toda a nossa vida fechados numa única disciplina, não conseguiremos desenvolver as competências para perceber de onde virá a próxima grande invenção. É por isso que fazemos das “Competências Globais” o foco do próximo teste do PISA. Mas penso que no século XXI temos de ir mais além e reconhecer que o conhecimento e as competências não são suficientes per si. Os banqueiros que arruinaram o nosso sistema financeiro eram, provavelmente, pessoas altamente criativas e com espírito crítico. E alguns dos que têm o espírito mais empreendedor estão à frente de organizações mafiosas, em vez de servirem o seu país. Por isso, temos também de ter em conta qualidades mais vastas a nível do carácter, como a empatia, a resiliência, a curiosidade, a coragem, a liderança e também os valores. Fazer isto de forma pensada e sistemática é o que mais distingue o currículo do século XXI do ensino tradicional. (...)"
Ilustração: Google Imagens.
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