Diz-se: “ano novo vida nova”. O próximo ano lectivo poderia corresponder ao aforismo. Mas não, enquadrar-se-á na lógica do “vira o disco e toca o mesmo”. Passei os olhos pela entrevista do secretário regional da Educação, publicada na edição de ontem do Dnotícias. Aquilo tudo espremido, para mim, valeu zero. Eu diria que, “nesta prova oral”, o secretário, à luz do conhecimento e do que seria expectável que dissesse, chumbou!
A páginas tantas, pergunta a jornalista: “E em termos de organização?” A questão daria para anunciar, mesmo que sumariamente, o rol de políticas a desenvolver no próximo e, de forma interligada, nos anos seguintes. Mas não. Falou do número de alunos por turma, dos horários, da oferta educativa para grupos específicos, umas coisitas no plano da acção social educativa e meteu-se, perigosamente, no campo movediço e muito complicado de uma complementaridade da escola com o telensino. Talvez eu entenda o que ele estará a preparar! Adiante.
Nem uma palavra sobre uma verdadeira autonomia dos estabelecimentos de aprendizagem (não de boca), sobre uma nova concepção estrutural do Ensino Básico, sobre a parte curricular, programática e, fundamentalmente, pedagógica. Zero! Não que a extensa listagem de preocupações se resolva em um ano face à complexidade do sistema. Mas, sabendo-se que este sistema já deu tudo quanto tinha para dar, condenado por tantos investigadores, pensadores e empresários, parece-me óbvio que esta entrevista poderia ter constituído uma oportunidade para, com meses de antecedência, anunciar as traves-mestras de um projecto portador de futuro.
O secretário prefere, claramente, administrar um sistema sem ondas, com educadores e professores doces, que apenas se preocupem em debitar o manual, prefere a centralização aos actos autónomos, criativos e inovadores, prefere lidar com a submissão das inúmeras chefias e prefere, o que é grave, andar a reboque da República do que lançar as sementes de um sistema de ruptura com o passado. Pelo que li será mais um ano perdido face a uma sociedade que precisa, urgentemente, de alunos com pensamento e com qualidade.
Depois, enaltece esta enormidade: as “aulas vão começar mais cedo”, possivelmente para compensar o que o telensino não conseguiu. Porém, nas suas palavras, o telensino “foi uma prova global da qualidade do sistema educativo da Região”. Apesar da ambiguidade das suas declarações (se foi eficaz, para quê começar mais cedo), um outro aspecto deveria o governante ter presente: mais escola não significa melhor escola. E assim sendo, pode multiplicar o número de horas, pode aplaudir uma escola a “tempo inteiro”, pode vangloriar-se de contribuir para que “os alunos portugueses sejam os que mais horas passam na escola”, que tudo isso não coloca o sistema regional a par do que de melhor se faz em outras latitudes. O sistema continuará, por causas, até, a montante da escola, com arrepiantes taxas de abandono, de insucesso e de gravíssima fragilidade na qualificação profissional. Os políticos do sistema precisam de estudar, necessitam de visão e, portanto, de serem prospectivos. Aquela entrevista foi, em função das respostas, papel com letras.
Os jornalistas sofrem!!!
Ilustração: Google Imagens.
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