Não gosto de frases feitas, mormente saídas da boca dos políticos. Até porque elas, bastas vezes, viram-se contra os próprios. Hoje, li uma declaração do secretário da Educação da Região da Madeira que me conduziu a um abano de cabeça sinónimo de tristeza. "A Escola tem de ter capacidade de visão" (...) ou seja, deve pensar "fora da caixa". Simultaneamente, perpassou-me o aforismo: "bem prega frei Tomás (...)", pois ao mesmo tempo que lança da boca para fora, de forma acertada, a capacidade de visão e a necessidade de criatividade e inovação, paradoxalmente, não dá um passo na inovação da administração política do sistema educativo. Ali não há nada de novo, a navegação faz-se rente à costa e pelas estrelas! Para quê a investigação e os instrumentos há muito disponíveis?
O que significa que não passam de palavras ocas, até porque é público que o sistema funciona de forma reactiva, aplaudindo o que os professores, pontualmente, vão desenvolvendo, porém, sem uma visão de conjunto portadora de futuro. O âmago do sistema educativo permanece, assim, estrangulado, bloqueado, repetindo as lógicas do padrão centralizador da Sociedade Industrial. E nós onde já vamos! Subsiste um claríssimo choque entre o que dizem e o pensamento que os conduz. Não me parece existir outra leitura. Porque, pensar "fora da caixa" implica ser utópico, caminhar para sucessivos objectivos, romper com o passado, encontrar, todos os dias, soluções adequadas para os problemas, implica fazer quebrar a rotina, ouvir os investigadores, ler muito e saber sintetizar, experimentar e corrigir, conceder liberdade organizacional e pedagógica, permitir que a diferenciação seja preferível ao rigor verticalizado, onde cada um se transforma em uma peça da extensa roda dentada. Charlie Chaplin, nos Tempos Modernos, bem caracterizou, satirizando, a máquina que funciona, mas que comprime, sufoca e não produz nem para as actuais necessidades, tampouco para o futuro. A expressão "fora da caixa", neste quadro, significa "fora de jogo".
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