Ontem fiquei furioso ao visionar as imagens de mais uma bárbara agressão a um árbitro de futebol. A situação desde há muito que vem em crescendo, desde ameaças até à concretização. Árbitros em risco e famílias, também. Um quadro absolutamente pavoroso e que diz bem da cultura desportiva do nosso povo. Mas, a verdade é que isto era previsível. Tenhamos presente: cerca de 70% da população não tem hábitos culturais de prática física e desportiva; os vários canais de televisão, que enchem o povo de bola, com comentadores que acicatam os ânimos dos mais vulneráveis; dirigentes de clubes que colocam, intencionalmente, o norte contra o sul e vice-versa; canais que repetem até à exaustão situações que o árbitro teve de decidir em brevíssimos segundos, especulando-as de forma anormal; são os jornais desportivos, diários, que fazem do sensacionalismo o objecto de venda; são as claques que entram nos estádios como gado no curral orientado pelo bastão dos pastores (polícias); é o tresloucado financiamento público à actividade profissional gerador de interesses e de conflitos; é a falência do processo educativo onde o desporto não é entendido como bem cultural para a vida; são os pais e familiares, em encontros de crianças, que manifestam um posicionamento antipedagógico, com berros e incentivos negativos, vomitando para dentro do espaço de jogo tudo o que não tem cunho educativo, enfim, pergunto: estávamos à espera de quê?
Li, do meu grande Amigo Professor Doutor Manuel Sérgio, que o desporto, em qualquer patamar, deveria ser "jogo, humor e festa". Eduquei os meus alunos, os praticantes que tive sob a minha responsabilidade, as minhas filhas e alerto os meus netos nesse sentido. Eduquei para o respeito e que a competição implica estar com e não contra, apesar de tudo ser feito pela vitória, mas no respeito pelas regras do jogo, da sã vivência e convivência. Tenho a consciência tranquila, mas quando assisto e traduzo as consequências do que se passa, diariamente, enquanto espectador, concluo do grande trabalho pedagógico que está por fazer. Vejo-os falar de mais polícia nos espaços de jogo, pelo efeito dissuasor, não oiço o discurso pedagógico, tampouco o discurso que ataque as causas do problema. E as causas estão naquilo que se faz a montante, na Escola formadora e na responsabilidade de quem governa, no sentido de uma nova mentalidade. Seria uma tripla vitória: a vitória quando se joga e ganha, a vitória da saúde e a vitória da cultura.
Ilustração: Google Imagens.
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