Os recentes acontecimentos no sul de Espanha, protagonizados por estudantes portugueses em "viagem de finalistas", deixa qualquer pessoa apreensiva. A situação não é nova, repete-se todos os anos com maior ou menor gravidade. Chocou-me ouvir um desses "viajantes" dizer que "é normal" que aconteçam estragos, por isso, existem cauções. É francamente espantoso e preocupante quando um jovem confunde diversão com vandalismo e perturbação dos outros (hóspedes) que têm direito ao descanso. Ora, este quadro, independentemente das posições entre agentes de viagens e responsáveis pelos hotéis, levanta uma questão essencial: que princípios e valores estão a ser transmitidos pelos pais e familiares e o que é que o sistema educativo tem ou deveria ter a ver com a formação básica destas gerações?
Ouvi um senhor, representante da Confederação dos Pais, dizer que a organização das viagens é independente das direcções das escolas. Que não há que confundir as responsabilidades. Esperava ouvir de uma confederação de associações de pais, o pedido de uma séria reflexão sobre as políticas de família, as políticas de transformação de uma mentalidade absolutamente condenável e, por fim, o que é que o sistema educativo pode e deve fazer para que a formação básica não se confine aos conhecimentos dos manuais, mas no plano da estrutura da personalidade, enquanto "modo constante e particular do indivíduo perceber, pensar, sentir e agir" (Simone Reis). Mas não, acabou por ser um mero "advogado de defesa" da instituição escola. Nem em causa colocou, no que escutei, os próprios pais, o ambiente familiar e tudo o que não fazem no sentido de uma liberdade responsável.
A gravidade das situações, em função das declarações dos hóspedes que lamentaram não pregar o olho até às cinco da manhã, deveria conduzir os responsáveis pelas políticas educativas a um olhar muito felino sobre as razões mais profundas do desenquadramento entre o que a escola transmite e os comportamentos inadequados. O que é que mais portador de futuro, meus senhores: a memorização de conteúdos programáticos para esquecer ou as aprendizagens (reflexão e interiorização) sobre as formas apropriadas ao comportamento civilizado? Ao discutirmos esta simples pergunta, estaremos, com toda a certeza, a discutir currículos, programas, os formatos organizacionais da aprendizagem, os princípios e os valores estruturantes do ser humano, a escola centro de vida, vivência e convivência e até a formação dos professores. Se existem graves desequilíbrios a montante (família), então, uma escola com os olhos colocados no amanhã, tem de renegar a estrutura do passado e apostar na formação humana. Tão simples quanto isto!
Ilustração: Google Imagens.
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