terça-feira, 30 de maio de 2017

ESCULTOR FRANCISCO SIMÕES FOI DIRECTOR DE UMA ESCOLA SEM INSTALAÇÕES


No  decorrer do último congresso do Sindicato de Professores da Madeira tive a oportunidade e um enorme prazer de voltar a conversar com o notável Escultor Francisco Simões, personalidade que conheci nos idos anos de 1974/75. Foi uma conversa deliciosa, marcada pela memória do apaixonado trabalho realizado nesse tempo de abertura à democracia (e mesmo antes), mas também pela caracterização dos actuais e conturbados momentos que vivemos. Soube-me reencontrá-lo e dialogarmos sem que, em qualquer momento, tivéssemos abordado a vergonhosa perseguição política que lhe moveram e que esteve na origem da sua saída da Madeira, terra que, apaixonadamente, adoptou. Precisávamos dele e foram alguns madeirenses que o "despacharam". Um Homem de cultura e que vive para a cultura.



A sua conferência encheu-me. Francisco Simões foi, indiscutivelmente, um dos percursores de uma Escola assente em pressupostos diferentes. Em 1973, foi indicado para Director da Escola Preparatória Padre Manuel Álvares da Ribeira Brava. Solucionou o problema do quadro docente e com precários espaços a escola começou a funcionar. As primeiras actas que aqui reproduzo são muito interessantes e relevantes no que concerne às preocupações enunciadas. Tudo aquilo foi o que se designa por partir do zero para uma aprendizagem contextualizada com a vida real. Os conceitos que, hoje, sumariamente, são defendidos no quadro das aprendizagens, Francisco Simões desenvolveu-os por convicção e também em função dos contextos da época. 
A escola saiu, assim, dos parâmetros socialmente produzidos e aceites como normais na época, facto que viria a ter custos políticos e de natureza pessoal, sobretudo a partir de Abril de 1974.
Lê-se no historial da escola: "(...) o arranque inicial desta Escola fez-se com muitas dificuldades, por causa da falta de instalações adequadas, de equipamentos e de mobiliário, de Professores e de Funcionários. As aulas eram leccionadas em espaços abertos, ao ar livre, facto que obrigou à implementação de um método de ensino inovador. 
Verdadeiramente a Escola era todo o espaço, o mercado, as ruas, a igreja, a praia, a esplanada, os muros. Aí, Alunos e Professores faziam a sua aprendizagem. Mais tarde, construíram-se os edifícios, secretaria, sala de professores, sala de trabalhos manuais, gabinete, papelaria e laboratório, sem que quase nada obedecesse a um rigoroso plano arquitectónico. Só em 1973 a Escola Básica e Secundária Padre Manuel Álvares adoptou a sua designação legal, segundo a portaria nº 664/73 de 4 de Outubro, tendo entrado oficialmente em funcionamento no ano lectivo de 1973 – 1974.
Tendo como lema pedagógico a obra de Richard Bach, Fernão Capelo Gaivota, interpretada como a história dos Alunos e dos Professores, o seu objectivo era “voar mais alto, saber mais e ir mais longe”.
O nome do Escultor Francisco Simões está, indelevelmente, associado a esta escola, como o Professor que rompeu com as dificuldades de nem espaço existir para o funcionamento da mesma, mas que nem por isso a aprendizagem deixou de ser realizada. E com resultados.
A sua intervenção terminou com esta frase: "Ética, Estética e Poética, sem estas três concepções nada tem sentido". Que bom foi rever este Amigo! Está por ser concretizada uma verdadeira e genuína homenagem a este PROFESSOR. Através da Escola e pela Região. Espero que dele se lembrem.
NOTA
O seu nome foi atribuído, em 1996, à Escola Secundária do Laranjeiro, hoje Escola Secundária Francisco Simões.

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