FACTO
"Ano lectivo com dois semestres" (...) "depois da revolução dos manuais digitais (...)" - anuncia a secretaria regional da Educação. Fonte: edição de ontem do DN-Madeira.
COMENTÁRIO
É caso para dizer... "cada cavadela sua minhoca". Não sei se será falta de jeito ou um intencional paleio de quem está na parada a marcar passo. Ou, no cruzamento, sem saber por onde seguir! Ora, a questão essencial não é (nunca foi) o ano lectivo ter três trimestres, dois semestres ou, apenas, um período. A questão central situa-se no paradigma que se pretende para uma aprendizagem que vise o conhecimento sustentado, articulado e portador de futuro. Se o "modelo", organizacional e pedagógico, assenta nos mesmos pressupostos de sempre, ter um, dois, três ou quatro períodos, obviamente que tal corresponde a uma incessante chuva no molhado. Como me dizia um ilustre professor, é "timex", não adianta nem atrasa!
Só através de uma mudança no pensamento estrutural que tudo o resto se deve encaixar. É uma alteração a esse nível que poderá determinar, por exemplo, que não se justificam avaliações trimestrais ou semestrais; que os exames, por enquanto, ainda podem ter alguma justificação apenas no 12º ano (no futuro duvido que seja assim); que a obsessão pela avaliação não deve estar em primeiro lugar, relativamente ao verdadeiro CONHECIMENTO; que a avaliação (dos alunos) deve assentar em uma perspectiva contínua e bi-lateral, completamente distinta do habitual decora, debita e avalia, complementado com itens de uma assustadora subjectividade; que o sistema deve caminhar no sentido de uma "escola por aluno", que respeite tempos e capacidades de aprendizagem; que os actuais conceitos de ciclo, aula e de turma não se adequam aos tempos que estamos a viver; por outro lado, poderá determinar o papel e a posição do professor face ao aluno, enquanto mediador da aprendizagem; se fazem ou não sentido ter os manuais em papel, agora em formato digital, se tivermos presente o manancial de informação disponível na internet (digitei a palavra "filosofia" e, em 0,39 segundos, surgiram-me 224.000.000 de hipóteses de consulta) e que tudo isto implica uma profunda revisão dos currículos e dos programas. Mais, determinará, certamente, a necessidade de exigentes políticas de família, a montante da escola, susceptíveis de garantirem interesse pela escola e elo respectivo sucesso. Ora, nada disto está definido, tudo é balofo e circunstancial, e sendo assim, não faz sentido que se apregoe a existência de uma REVOLUÇÃO, até porque, a secretaria da Educação, desde sempre pegando de empurrão, nada mais está a fazer do que copiar e mal o que, no próprio país, outros já avançaram.
Fico com a certeza que não existindo um pensamento estruturado relativamente ao que pretendem criar na Região Autónoma, infelizmente, o sistema educativo na Região continuará a viver de fases orgásmicas ou picos de êxtase que logo desfalecem.
Preferível seria que o secretário político fosse um revolucionário, no sentido de vanguardista e reformador. Isso implicaria um sentido de "reengenharia", próximo de Michael Hammer, que envolvesse quatro ideias-chave: "posicionamento para a mudança, identificação dos processos, recriação dos processos e transição para o novo sistema". Sabe-se que as instituições que criam futuro são rebeldes e subversivas, pois o sucesso só surge quando se quebram as regras tradicionais, fazendo da ousadia uma atitude. Li, em Tom Peters (2002), um guru da gestão e da excelência: "bem-vindos ao mundo do soft, da massa cinzenta, das ideias e do conhecimento". É isso que falta, quando o activo de mais valia é a imaginação humana.
É na escola que ela deve ganhar asas. Mas é nesta escola que cortam as asas!
Torna-se, portanto, necessário um saudável choque, um rompimento com o passado e jamais determinados acertos (embelezamentos) marginais que, no essencial, a nada conduzem. É fundamental romper com ideias preconcebidas. O sistema precisa de visão e de previsão, de estudo transversal e integrado, devidamente suportado com o sentido de alguns princípios do desenvolvimento: o da prioridade estrutural, da teleologia funcional, da transformação graduada, da continuidade funcional, da interacção, da integração, da optimização dos meios e da não menos importante, participação das pessoas. Ou elas participam ou os processos morrem. Ora, semanalmente, alimentar a comunicação social com alguns tiros pretensamente sonantes e coloridos, neste caso, correspondem a disparos de fumo. Caso para dizer que o secretário, desde que tomou posse, "vende" fumo. Não consegue surpreender os políticos, os professores, os pais, os empresários, muito menos os jovens.
Ilustração: Google Imagens.
NOTA
Artigo, da minha autoria, publicado no blogue
www.gnose.eu
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