sexta-feira, 20 de maio de 2022

II SEMINÁRIO DE EDUCAÇÃO - MACHICO 2022


Nota
A intervenção da minha autoria, esta tarde, no II Seminário de Educação, da responsabilidade da Câmara Municipal de Machico.


Quero agradecer ao Senhor Presidente da Câmara Municipal de Machico e ao Departamento de Educação, na pessoa da Senhora Vereadora e Professora Mónica Vieira o facto de me terem dirigido um convite para participar neste seminário. Muito obrigado.

Convicção e teimosia são duas palavras que fundamentam a minha busca por uma Escola que respeite o sonho, a curiosidade e os direitos das crianças e jovens. Disse Fernando Pessoa que “O Homem é do tamanho do seu sonho. Matar o sonho é matarmo-nos”. E sendo assim, desde logo entendamo-nos: 

“Se queremos algo novo, temos de parar de fazer algo velho”. Peter Drucker


E nós temos persistido em algo velho. Há 50 anos li um livro do filósofo Georges Gusdorf que a páginas tantas sublinhava: “(…) o mais alto ensinamento do mestre não está no que diz, mas no que não diz”. E há dias, o que me atenuou as angústias, dei com as palavras de um administrador e consultor de empresas, de 33 anos, de nome Saulo, que assumiu: “Pobre daquele que pensa que ensina algo a alguém, por si só. O indivíduo aprende se quiser, traz para sua experiência de vida aquilo que entende que pode lhe agregar de forma positiva e vantajosa, caso contrário, de nada adianta falar aos outros. Se não houver vontade e disposição da outra parte, da vossa parte, as palavras não passam de palavras ao vento…”. E ouvi também, há cinquenta e três anos, do saudoso Professor Paula Brito, a pergunta cada vez mais actual: 

“Como pode uma escola sempre igual competir com a vida que é sempre diferente”


Ora bem, venho aqui com um tema que me preocupa: a formação que vá ao encontro das preocupações que acabo de enunciar. Dirijo-me à consciência de cada um sentado nesta plateia. Não em tom crítico, mas humildemente, para extravasar e partilhar o que sinto em função de um quadro geral que a todos nos devia inquietar.

Confesso-vos o meu desencanto pelo que vivo em várias situações ligadas à formação. O desencanto por sentir que, depois da inicial, ela estar muito ligada à obtenção de um certo número de horas para ascender na carreira e quase nunca a um processo de transformação da escola. Não do edifício, mas das pessoas que lá habitam.

São centenas as acções de formação para professores produzidas ao longo dos anos e com painéis de ilustres convidados. Há quem tenha 4-5 formações em Excel, por exemplo, e há quem opte, sem qualquer menosprezo, por uma formação visando a “colocação da voz”, quando, hoje, o professor deve ser mais um mediador da aprendizagem do que um pregador do manual. Mas apesar dos apelativos títulos a maioria delas não serve para transformar seja o que for. E o drama eterniza-se.

E a palavra transformar constitui o fermento da Educação. Durante um, dois dias, escutam-se pensamentos diversos que fazem, por momentos, acreditar que é possível uma escola com vida e para a vida, mas logo sua excelência a rotina regressa e, subtilmente, as normas esmagam numa espécie de tecla de computador que apaga os registos em memória. O entusiasmo gerado pela audição de quem conduz a repensar a escola que temos e a escola que deveríamos dispor, tem tido vida curta. A formação, mor das vezes morre na casca. O político enaltece a iniciativa, fala de robotização dando um ar de preocupação, a plateia aplaude os oradores e, na Segunda-feira seguinte, há como que um apagão dos entusiasmos criados e a maldita rotina manda prosseguir o vaivém inconsequente, que mata a curiosidade e de caminho esmaga alunos e professores.

Indo um pouco mais atrás, tantas vezes fico perplexo, quando me questiono, por onde andarão as aturadas leituras noite adentro, as extensas revisões bibliográficas, vertidas em monografias, dissertações, teses, acções científico-pedagógicas no quadro dos estágios pedagógicos, documentos elaborados no sentido de uma aprendizagem transformadora! Parece que tudo foi esquecido porque tudo serviu aquele momento. Ininteligível.

A própria Lei, por vezes vem enfeitada de excelentes propósitos, parece aberta ao mundo, à liberdade das escolas, à protecção da sua autonomia, à defesa dos grandes princípios orientadores que devem enformar a aprendizagem de qualidade para este tempo de incerteza, de paradoxo e até de irracionalidade, um tempo que diz não ao enciclopedismo e que exige ousadia que coloque em prática o direito individual ao sonho. As linhas da Lei parecem transformadoras, mas apenas parecem. Na prática, ressalvo aqui muitas e boas excepções, o facto é que a hierarquia continua a dormir, ressonando intensamente na almofada dos princípios orientadores da I Sociedade Industrial que Alvin Tofller tão bem sintetizou: 

“A maximização, concentração, centralização, padronização, sincronização e especialização”



Olhamos para estas palavras e vemos ali espelhada a escola dos nossos dias. E isso conduz, inevitavelmente, a uma sequência de procedimentos que coarctam a oferta de um sistema de superior qualidade, mata qualquer obsessão para o conseguir, assassina os rasgos criativos, destrói os afectos e o amor pelo outro, arruína a originalidade, os valores e a mudança. E assim surge o Burnout, a paixão pela nobreza de ser professor amolece e faz adoecer, surge o desencanto, o abandono e o silencioso conflito entre pares, por via, também, de uma ridícula e competitiva avaliação de desempenho, geradora de uma atmosfera de desconfiança e hostilidade entre pares. É cada um por si. E surgem as reuniões, sufocantes e improdutivas, que não só repetem os problemas há muito identificados como sustentam a burocracia desnecessária, a promoção de centenas de projectos disto e daquilo (bastaria um) que ajudam a enfeitar os relatórios e a tranquilizar as consciências de professores, gestores e políticos. Documentos e vivências que, tarde ou cedo, se destinam ao arquivo morto.

E essa “formação” continua cega e distante do rol das exigências do ser humano. A verdadeira formação só tem sentido quando não existe hipocrisia, isto é, quando de permeio não se verificam comportamentos contraditórios que colocam em causa a nobreza do pensamento. Só existe formação quando ela se transforma no embrião da mudança, quando, no plano pedagógico se interioriza e aplica ao encontro das necessidades daqueles que são a razão da existência do professor. No centenário do eterno Paulo Freire, a quem uma triste figurinha chamada Bolsonaro chamou de “energúmeno”, trago em memória duas sínteses: 

“Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre” (…) porque “não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes”.


Há uma falência do velho e há um medo colectivo em enfrentar os novos saberes. E a formação continua ensopada em palavras e conceitos não transformadores.

Reparem: a primeira Revolução Industrial foi mecânica; a segunda, eletromecânica; a terceira teve uma característica eletromecânica e electrónica e, hoje, atravessamos uma quarta Revolução marcada pela convergência de tecnologias digitais, físicas, biológicas e ambientais, a qual, em relação ao futuro só apenas temos os vestígios. Naturalmente, a quinta surgirá porque toda a ciência rola, desenfreadamente, à nossa frente. Perante isto, a formação, a dos professores, denuncia ausência de sentido prospectivo. Há palavras, conceitos e histórias que, momentaneamente, nos inebriam, mas a rotina advinda do passado tem acabado por se impor. Tanto assim é que o investigador Joaquim Azevedo sublinhou: 

“(…) os adolescentes mudaram muito e a escola mudou pouco.”


Nós somos, simultaneamente, actores e espectadores, mas teimamos, na formação pessoal e na prática, em manter as traves-mestres dos primórdios da 1ª Revolução Industrial. O desencontro instalou-se. Não aprendemos com o filósofo Gaston Bachelard que falou da primazia conferida ao erro, à rectificação, ao invés da verdade, na construção do conhecimento científico. O nosso problema é esse: poucos identificam os erros, refiro-me aos decisores, preferindo que sejam considerados erros de percurso, ou, então, verdades imutáveis. Não se assiste à formação compaginada com os pressupostos do que deve ser uma escola de aprendizagem para a vida.

Trago em memória Merlí, professor de filosofia, carismática personagem de uma notável série televisiva catalã, que disse: 

“Há qualquer coisa de podre na Educação”


O diagnóstico feito pelo Ministério da Educação sublinha que: “(…) até 2030, é preciso contratar 34 mil professores para o ensino público. Do lado das instituições de ensino superior há capacidade instalada para mais de 4200 vagas. O grande problema está em atrair os estudantes (…)”. Há mestrados de formação de professores onde só entraram cinco alunos neste ano lectivo”.

Desde logo, não se sabe para onde caminhamos, porque talvez não saibam onde estão, mas sublinha-se a necessidade de 34.000 docentes. Este número só pode estar alinhado com as características do actual sistema. Dá assim mostras de não querer reinventar-se.

Há aqui dois aspectos que se conjugam: por um lado, a carreira docente que deixou de ser atractiva. Quando com vinte e mais anos de trabalho nem a meio da carreira os professores chegam no estatuto remuneratório, quando com 62 anos se anda à procura de um lugar com estabilidade, quando estabelecem percentis, quando milhares andam com a casa às costas, convenhamos que não é atractivo ser professor. Junta-se a isto, a vergonhosa parafernália burocrática. Papéis e relatórios que aos alunos não interessam. Esta formação, grosso modo, não garante, na prática, uma escola verdadeiramente autónoma, distintiva, de trabalho colectivo e adequada ao tempo que estamos a viver. 

“A Escola é, há década e meia, um laboratório de exclusão de professores”


Pergunto: porquê?

Verdade também seja dita que os professores se acomodaram, quando precisavam de… Diapositivo 9

“(…) sair das suas disciplinas para dialogar com outros campos do conhecimento. E essa evolução ainda não aconteceu”.

Os professores precisam, tal como me disse o meu Amigo Filósofo, Manuel Sérgio, de se deixar fecundar pelos outros sectores e áreas do conhecimento, digo eu agora, estabelecendo conexões de tal forma que percebam e ultrapassem a ideia comezinha da sala de aula, do horário, do currículo, do programa e de que só existe uma forma de aprender. Tenhamos presente, parafraseando o Dr. Abel Salazar, Patrono do Instituto de Ciências Biomédicas, que: 

“Professor que só sabe da sua disciplina, nem da sua disciplina sabe”.


Há dias, estava a tomar o pequeno-almoço e o som de fundo levou-me a escutar uma conversa de uma autora que tinha acabado de publicar o livro “Destralhe a sua casa”. Relacionei este título com o nosso sistema educativo.

A Escola está cheia de tralha


Bom seria que a destralhássemos, mandando fora tanto que inferniza professores e alunos. Mas não, continuamos a encher os currículos, os programas, impomos e exigimos o que não interessa convencidos que tudo é importante, ao ponto das crianças, diz e bem o Juiz Conselheiro Laborinho Lúcio, que elas já sentem que têm um adulto dentro de si.

Retirámos as crianças do trabalho e hoje empanturramo-las de escola, que se tornou num novo trabalho infantil, escreveu o Psicólogo Eduardo Sá. Nós, os adultos, exigimos 40 ou 36 horas por semana de trabalho e a semana de quatro dias está aí ao virar da esquina, pelo menos para alguns sectores, mas, paradoxalmente, exigimos que as crianças, em média, estejam envolvidas em 56 horas semanais de actividade. Um paradoxo.

Há dias segui um diálogo muito interessante, publicado no Expresso, entre o Cardeal Tolentino Mendonça e o Professor José Mourinho, treinador de futebol. Disse o Cardeal Tolentino Mendonça, nascido aqui em Machico: 

“(…) não podemos parar de ajudar cada um a nascer, a descobrir-se, a amadurecer, a desenvolver o seu talento... Uma das parábolas de Jesus é efetivamente sobre o tema dos talentos: esta necessidade da parte de cada um de nós em não soterrar o seu talento, em amadurecer a sua própria vocação. Cada um de nós nasceu com uma bagagem de atitudes e de competências e pode transformar a sua vida”.


Ora, isto é o que a Escola não faz: permitir a realização dos sonhos através do desenvolvimento da curiosidade. O que temos é uma escola igual para todos, quando deveríamos ter uma escola à medida de cada um!

E o exercício da política e a formação continuam alheias a tudo isto. E se não estão alheias, é lógico que se pergunte, se à excepção de muitas e interessantes experiências por todo o país, de escolas que trabalham, atenção, nos limites da legislação para que não advenham problemas disciplinares, genericamente, o panorama seja de um enorme desencanto?

Caros Colegas, a escola está doente porque a sociedade também está. No livro que recentemente editei, “A Escola é uma seca”, refiro o que escreveu a minha Amiga Doutora Ana Benavente: “A Escola é socialmente produzida, logo é socialmente transformável”. E só se transforma a partir de nós, da nossa formação e do desejo de mudar a mentalidade que nos tem conduzido. A mudança, repito, é de mentalidade, é de cultura. Eu só entendo a escola como fonte de cultura. Essa cultura transversal que nos torna melhores pessoas, mais capazes, disponíveis, adaptáveis, criativas, inovadoras, felizes e com melhor conhecimento. Não é aos 23/24 anos que se pede que os jovens sejam inovadores, criativos e que saibam trabalhar em grupo. Não é nessas idades que se pede para serem empreendedores, quando andámos uma vida a castrar o pensamento livre, cada um a lutar por si e sobretudo, nós professores, a limitar esta palavra mágica que deve estruturar o pensamento de escola enquanto espaço de pessoas: a CURIOSIDADE. 

“Precisamos de professores que não ensinem, mas que façam aprender”


A Vida é muito mais que currículos e programas de natureza abstracta. Conhecem, certamente, o que escreveu o grande pedagogo Rubem Alves: “A memória é um escorredor de macarrão. O escorredor de macarrão existe para deixar passar o que não vai ser usado: passa a água, fica o macarrão. Essa é a razão por que os estudantes esquecem logo o que são forçados a estudar. Não por falta de memória. Mas porque a sua memória funciona bem: não sei para que isto serve, logo, deixo passar...”

Li em Luís Cardoso que os tempos já “não são de manufactura, mas de mentefactura”, o que implica que os alunos sejam considerados sujeitos e não objectos. Neste momento são, genericamente, objectos. Andam ao sabor das ondas provocadas pelos adultos. Exemplo: essa história das salas de aula do futuro não passa de uma mistificação. O futuro já foi ontem e o futuro é hoje, apenas temos o dever de antecipá-lo. É óbvio o poder da tecnologia, mas não é pela existência de uma sala por escola com tecnologia, cadeiras móveis e quadros interactivos que a aprendizagem terá sucesso; da mesma forma que não é carregando os manuais para dentro do tablet, que se conseguirá o milagre de ter taxas residuais de abandono e de insucesso. Tenham presente o que disse Tony Bates da Microsoft: 

“Uma boa aprendizagem supera uma escolha tecnológica pobre, mas a tecnologia nunca salvará o mau ensino”


Não estou com isto a querer dizer que todos os equipamentos de natureza tecnológica não devam ser aproveitados. A questão é outra, é a mistificação que está a fazer acreditar que só por ali se chegará ao conhecimento. As crianças sabem mais de tecnologia do que muitos de nós. Na aprendizagem coexistem outros problemas. Entre vários, a pobreza, que torna a escola remediadora social (na Madeira 32,9% são pobres ou estão em risco de pobreza); está, por isso, na mudança de mentalidade de como fazer aprender; está na verdadeira autonomia dos estabelecimentos de aprendizagem; está nos currículos, programas, numa nova concepção organizacional de escola; está nessa obsessão por uma avaliação de sentido único, alienada com a pretensão de classificar, entendida como um fim de etapa, quando o foco deverá ser uma avaliação que permita ao aluno aprender mais e melhor; está no estabelecimento de uma meritocracia balofa, transferindo para dentro da escola as taras da sociedade, onde já se entregam prémios pecuniários a crianças do 1º ciclo (aqui, em Machico, ainda há poucos dias foram entregues prémios de € 500,00); o problema está, ao invés de pensarmos no perfil do aluno à saída do sistema educativo, estarmos muito atentos ao perfil do aluno à entrada do sistema.

E tudo isto faz parte da formação do professor. Eu passei pela escola 40 anos. Desempenhei funções de gestão, políticas e sindicais. A escola que dirigi mandaram fechar. A vida tem-me dito que os professores não precisam de mais propostas didáctico-pedagógicas. Precisam de arejamento conceptual, de liberdade para pensar, de não se circunscreverem a papaguear o manual de forma repetitiva (li algures que o maior problema é fazer calar os professores), os professores precisam de se libertar da indiscritível burocracia, e de, obcecadamente, trabalharem para os exames nacionais e aferições. Pensemos nisto: 

“(…) fará algum sentido um exame igual para todos, quando todos somos diferentes e únicos?”


Os professores precisam de se juntar e de estudar as conexões do sistema educativo com todos os outros sistemas: o económico, o financeiro, o social, o cultural, o de saúde, o empresarial, o religioso, enfim, todos os sistemas que estão ligados à profissão pela qual se apaixonaram. É com essa visão globalizante que temos de ser professores. O trabalho não é individual, é colectivo.

Caros Colegas, a formação tem de constituir-se como uma grande mesa de diálogo onde tudo possa ser, livre e de forma contínua, debatido. Estou a referir-me, inclusive, à arquitectura dos estabelecimentos (há muitas paredes para deitar abaixo), à necessidade de criação de espaços de aprendizagem com uma concepção aberta à vida e ao mundo; precisamos de debater o número de alunos por escola – uma escola com 1000/2000 alunos é uma fábrica não é uma escola -, temos de debater os currículos, programas, conceitos de aula e de turma, a aprendizagem segmentada por disciplinas que “separa artificialmente os conhecimentos”, estou também a referir-me ao porquê de 1º, 2º, 3º ciclos e secundário quando a aprendizagem é um continuum e ao longo da vida. Mais. Temos de colocar em causa os exames e os seus formatos que conduzem ao ensino superior. Em síntese, tal como enalteceu a Filósofa Viviane Mosé… 

“Precisamos de uma mudança conceptual. Precisamos de reaprender a ver, a ouvir e a pensar”


Reparem que nem este sistema consegue dar resposta, quando, há pouco, cerca de 20.000 alunos não estavam abrangidos pela totalidade de professores considerados necessários!

Os professores estão entre uma opção pela doença ou serem felizes no que fazem. Fazendo felizes os que estão na escola. Tenham em atenção o estudo da Doutora Raquel Varela, coordenadora do “Inquérito Nacional sobre as Condições de Vida e Trabalho na Educação em Portugal”.

“Os docentes falam em ensino em linha de montagem. Sobrevém daqui que cerca de 70% dos professores se encontrem em exaustão emocional (Burnout), “praticamente metade demonstra sinais preocupantes e 24% têm sinais críticos ou extremos de desgaste. Quarenta e dois e meio por cento não se sentem realizados profissionalmente. Quase 22 mil confessam que tomam medicação a mais e cerca de nove mil falam em consumo excessivo de drogas e álcool para enfrentar o ritmo de trabalho e fazer face às exigências do sistema. Oitenta e quatro por cento deseja reformar-se antecipadamente sem penalizações”. 

E agora oiçam o que dizem os alunos: "O sistema olha para o aluno como um simples recipiente onde se introduz conhecimento (...) as pessoas ali não pensam, as pessoas ali decoram (...) estamos a estudar para ranking's não para o conhecimento (...) a escola está desenhada em torno da matéria e em torno das necessidades dos professores (...) os alunos têm muito pouca importância (...) gosto de um ensino estimulante, que dê responsabilidade sobre o que queremos aprender, maior valorização da oralidade, da criatividade, menos débito de matéria numa folha de exame e mais exploração das diferentes áreas do conhecimento (...) o mundo mudou, menos a escola, a sala de aula, a forma como está organizada é a mesma (...) o sistema educativo foca-se em coisas que não são fundamentais para a vida (...). – Geração 15/25 - SIC.

Ora, compaginando as duas partes, o que pensam os alunos e o estado em que se encontram os professores, eu diria que estamos perante um cocktail explosivo. Só resta um caminho que é o da formação que reflicta sobre tudo quanto está a colocar em causa a importância da instituição Escola. Disse a investigadora Ilídia Cabral: 

“As Escolas têm de aprender a ensinar no Século XXI, sob pena de se tornarem dispensáveis”

E tantas vezes se ouve que é sensível a indisciplina, que os alunos são malcriados e que há “bullyng” que se manifesta de várias formas. Pois… já tem uns anos, li um artigo no Le Monde Diplomatique com o título: 

“A violência NA escola ou a violência DA escola”


Um título com muito espaço para pensarmos nas causas e de uma forma profunda e transversal.

Portanto, o foco deve ser a pessoa e a vida! Parafraseando o título da obra de Claudius Ceccon, há que trazer a “escola da vida para a vida da escola”. De resto, só entendo o processo educativo, a partir de nós, com rigor, exigência, sentido crítico, disciplina conquistada pela compreensão, muito estudo, cultura de participação, sentido de pertença, sentido de escuta e de aprendizagem com os alunos e capacidade para nos colocarmos distantes de fanatismos pedagógicos ocos. A nossa prática pedagógica tem de ser libertadora. Leva alguns anos, pois leva, mas parece-me que esse é o caminho.

E não se esqueçam… 

“Se quer algo novo, terá de parar de fazer algo velho”.


Muito obrigado por terem feito o favor de me escutar.

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