sexta-feira, 27 de maio de 2022

Ponto e Vírgula

 

Há muitos anos, sobretudo nos estabelecimentos de aprendizagem, faziam-se os designados "Jornal de Parede". É natural que ainda os façam. Uma ou mais folhas de cartolina, um título, uns textos dos alunos, manuscritos ou dactilografados, umas fotografias de visitas de estudo e pronto, era afixado em local de fácil acesso e visualização pelos alunos. Mais tarde, poucos são os casos, passou-se para a impressão em formato de jornal. Estive ligado a vários, entre os quais um dos escoteiros, da responsabilidade editorial do meu Amigo Rui Marote. Dizem que este foi o primeiro totalmente a cores. Foi idealizado e esquematizado no antigo bar-café que, se bem me lembro, se chamava "Lua Azul", na Rua do Aljube. Inesquecível.



Este tipo de iniciativas partia dos jovens (sem professores de permeio) e, pessoalmente, enriqueceu-me a vários níveis porque constituíram uma antecâmara do jornalismo e de tudo ao que a ele está ligado. Aprendíamos com os erros. Um mundo fascinante. Mas não é destas experiências pessoais que aqui venho tecer algumas considerações. A questão é outra. É o "ponto e vírgula" que aqui me trás. Aquelas oito ou doze páginas produzidas pela Secretaria da Educação em parceria com o La Vie e incluídas como suplemento do Dnotícias. 

Não quero debruçar-me sobre os conteúdos. Tem aquele formato e é o que é. De uma perspectiva pessoal, sinceramente, não nutro simpatia pelo formato. Mas esta minha apreciação vale o que vale. Preferia que os estabelecimentos de aprendizagem tomassem iniciativas próprias susceptíveis de conduzirem a uma outra participação e enriquecimento das crianças e jovens. A todos os níveis. Sem necessidade de financiamentos e distante de qualquer folclore político. Mas, enfim, essa é uma outra história.

Mais interessante seria, sustento eu, que os responsáveis políticos, ao contrário da dinâmica mediática que os caracteriza, aproveitassem o tempo para debater a questão essencial, isto é, como alterar, profundamente, o sistema educativo que caracteriza a escola que vivemos. Sem qualquer ideia pejorativa, "Ponto e Vírgula" significa uma pausa maior que a vírgula e menor que o ponto. Exactamente o que caracteriza o actual sistema educativo: está em pausa, envolvido numa teia que só permite que o período continue a caminho do ponto final. É assim e nada há a fazer. 


Não aprecio o "jornal de parede" agora impresso. Há, pois, muito por fazer, inclusive na aprendizagem na elaboração de jornais, porque ali se aprende a Cidadania e a Democracia mais profunda, através do texto livre, dos temas políticos, económicos, financeiros, sociais e culturais. Os temas que interessam à juventude, analisados e debatidos segundo os seus olhares. Até onde a aprendizagem poderia ir, interrogo-me. E os decisores políticos sabem-no, falta-lhes porém coragem para enfrentar o desconhecido. Ficam-se pelo conhecido! É mais fácil e mais controlável. Parece que o interesse político se sobrepõe à vivência pedagógica. 

Penso assim porque detesto a superficialidade, as generalidades e quando vejo cair na banalidade, pior ainda. O número político fica feito, é certo, mas só engana os distraídos. Qualquer pessoa que pense um pouco a Educação tem dificuldades em aceitar "pausas e pontos". Tal como uma publicidade que anda por aí na televisão, "se não sabe não invente".

Ilustração: Google Imagens.

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