Ontem, ao final da tarde, fui preparando os netos, individualmente, para o regresso à escola. Os avós também têm essa função de ajuda aos pais. Falei, como sempre, da escola que lhes é proporcionada e da escola que deveriam ter. Eles conhecem o meu pensamento. Mas, como sempre, adiantei que este é o sistema no qual se inserem e é com ele que terão de conviver. É para decorar coisas para esquecer, pois bem, decorem. Mantenham o nível que o sistema, no final de cada período, diz ser de excelência. A páginas tantas disse ao Baltasar, o que vive no Porto, daqui por oito semanas, com o Carnaval, tens mais uma pausa lectiva. Respondeu-me: falta tanto tempo! Disfarcei, dizendo-lhe que, no final da semana, já só faltavam sete. E complementei: aproveita o tempo para ser criança. Olha que ele jamais voltará! Respondeu-me: "avô, ser criança é fixe; a escola não é fixe".
Desde ontem que esta frase não me sai da cabeça. Ele, à semelhança dos primos que, neste sistema, são excelentes alunos, com princípios e valores transmitidos pelos pais e avós, disparou uma frase que significa, tão só, que não encontra nesta Escola a resposta ao tempo de ser criança e à absorção do conhecimento. No essencial estão todos a viver uma escola imposta, de forma acéfala, pelos adultos, contrária ao conhecimento científico já produzido, desrespeitadora do crescimento, desenvolvimento e da verdadeira aprendizagem, uma escola que parou no tempo, repetitiva, previsível, de papa feita para engolir, desconjuntada, sem inovação e apenas cumpridora do manual, uma escola que não exige participação activa no processo de aprendizagem, apenas atenção, quietude e estudo para "consolidar" aquilo que muitas vezes se destina a ser esquecido.
"Ser criança é fixe; a escola não é fixe". E passam à margem desta síntese, governantes de gabinete, não sei se por incapacidade intelectual ou porque mexer no sistema dá muito trabalho. Quando existe tanta produção literária, tanta investigação, tanto sistema de sucesso, alguns, de braços penosamente cruzados, sem saber o que fazer, repetindo e repetindo até à exaustão a resposta do manual. Dizia-me, neste Natal, em um convívio de família, a Zélia: "as crianças são esponjinhas e em vez de lhes proporcionarem a água para incharem, retiram-lhes a água que desejam, secando-as". Nem mais. O que estão a fazer com estes currículos, com estes programas e com este formato pedagógico, é provocar o desinteresse, não o desenvolvimento da capacidade de pensar e de descobrir.
Depois, aos vinte e tal anos, fazem cursos de empreendedores. É espantoso.
Na minha vida de avô, confesso, tenho aprendido muito com eles. Até com o mais novo, que ainda não anda autonomamente e não profere uma palavra, para além de papá e mamã, dou com ele, sentado no colo, frente ao computador, a agarrar no rato ou com um telemóvel colocado entre a orelha e o ombro ao mesmo tempo que bate com as mãos no teclado. Tempos completamente diferentes face a uma escola sempre igual. Quem não vê e interpreta estes sinais, de sistema educativo pouco ou nada sabe.
Ilustração: Google Imagens.
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