Os "ranking's" dos estabelecimentos de ensino constituem a mais desprestigiante afronta aos estabelecimentos públicos. E, convenhamos, embora em menor escala, também aos de iniciativa privada. Felizmente que o Ministério se distancia desta catalogação, mas há quem os promova. Os dados dos exames nacionais, obviamente, são públicos e, portanto, a comunicação social compila-os e divulga-os de forma fria, isto é, descontextualizada. Aquilo que foi uma novidade e até tido por um mero um indicador, hoje, em presença de novos enquadramentos, deve ser considerado uma ofensa, um insulto, porque, desde logo, só se pode e deve comparar o que é comparável.
Como é possível estabelecer uma comparação entre o público e o privado, entre o Norte e o Sul, entre o litoral e o interior? Que legitimidade existe colocando em contraponto, diferentes formas de recrutamento de alunos, por isso mesmo, públicos diferentes, níveis económicos, sociais e culturais distintos, escolas que especializam alunos em exames, em detrimento de uma aprendizagem mais geral e consentânea com a vida? Como pode ser comparável uma escola pública com 94% dos alunos apoiados pela acção social educativa, melhor dizendo, pobres, com uma outra, privada, sujeita a uma prévia entrevista de selecção e a um pagamento mensal muito próximo dos mil euros? Impossível comparar, ano por ano. Porém, o que se sabe, através de estudos realizados, parecendo um paradoxo, é que os alunos oriundos da escola pública acabam por ter melhores resultados no percurso universitário. Um estudo de 2013 da Universidade do Porto, divulgado pelo jornal Público, dá-nos conta: "(...) analisados os resultados de 2.226 alunos que concluíram pelo menos 75% das cadeiras ao fim de três anos, os provenientes das privadas têm piores resultados. As escolas privadas preparam melhor os alunos para os exames, mas não para terem um bom desempenho na universidade. A Universidade do Porto (UP) analisou o percurso académico de 4280 estudantes admitidos no ano lectivo 2008/09 e concluiu que, entre os 2226 que concluíram pelo menos 75% das cadeiras dos três primeiros anos, os estudantes que provinham de escolas públicas apresentavam melhores resultados académicos do que os provenientes das privadas. (...) As escolas privadas têm grande capacidade para preparar os alunos para entrar, mas o que se verificou é que, passados três anos, estes alunos mostraram estar mais mal preparados para a universidade do que os que vieram da escola pública", adiantou ao PÚBLICO José Sarsfield Cabral, pró-reitor da UP para a área da melhoria contínua. Um paradoxo? Certamente que não.
Ademais, o que a todos deveria preocupar não é, certamente, as classificações nos exames nacionais, mas a estrutura na qual assenta o sistema educativo. Andam, alguns, em uma quase paranóia anual, porque subiram ou porque desceram uns lugares na "tabela classificativa", não se dando conta do sistema estar ou não adequado aos desafios da formação do presente e do futuro. Felizmente, já tantas vozes se levantam contra este sistema arcaico, portanto, desprovido de sentido. Neste quadro, considero patética a posição da Secretaria Regional da Educação que, ao contrário de ver o sistema e de criticar esta obsessão pelos resultados dos exames nacionais, onde todos os anos há variações substantivas em função de múltiplos factores, prefere assumir que melhorámos aqui e ali. Foi poucochinho, mas melhorzinho! Não conseguem ver a Lua, mas o dedo que aponta para a Lua.
Ilustração: Google Imagens.
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