quarta-feira, 11 de abril de 2018

PELO MEU DISTINTO COLEGA JOAQUIM JOSÉ DE SOUSA


O Dr. Joaquim José de Sousa, director da Escola do Curral das Freiras, foi formalmente "acusado" pela Inspecção Regional de Educação. Eu diria, frontalmente, desde logo e sem rodeios, porque estou cansado de ver uma certa ignorância altifalante, que o professor foi visado pelos medíocres do costume. Aprenderam pela cartilha partidária, a tal que estabelece a hierarquia à qual todos devem curvar-se, daí que, nada melhor do que seguir o "chefe", não o líder, optar pela rotina e não pela inovação, pelo nariz junto ao joelho e não pela coluna erecta, pelos salamaleques de concordância e não pelas atitudes que demonstram paixão pela formação de todos os que frequentam a escola. Por isso, repetem a cartilha, qual argamassa feita de tolice, medo e insipiência. Apresentam-se, assim, como importantes no meio da vulgaridade, quando, se estivessem atentos, perceberiam que "a ignorância só se combate com educação", não com saloias perseguições.


E assim, pergunto, quem são, que sabem de Educação e de Sistema Educativo? Quem são essas figurinhas, que assinam por baixo, dando cobertura a situações marcadamente partidárias? E quais as razões do silêncio de todos quantos, há anos, por ali andam? E quem é essa "inspectora" que descobriu as acusações plasmadas na nota de culpa? Quais os seus passados, o que trouxeram de novo ao sistema, que livros ou artigos de ciência escreveram e que pensamento expressaram, que valores defendem, que escola desejam? Desconheço.
A caracterização que faço é a do "chefe" que caminha pelos corredores do poder, com a ambição inversamente proporcional à competência; a daqueles que fizeram toda a vidinha naquele espaço, saltitando de serviço em serviço conforme os interesses; e, já agora, da "inspectora", pasmo em saber, que esteve a contas com um processo disciplinar antes de ascender aos olhos e ouvidos do "chefe". O alegado "crime" foi compensado! De "ré" passou a "juíza". Está tudo dito.
É este quadro que me deixa triste e revoltado. Eu que, aposentado, mas com 40 anos dedicados à Educação, bem poderia estar caladinho, vendo a tristeza passar, borrifando-me para o que vejo, porém, confesso, não consigo. Porque entendo que, com a EDUCAÇÃO ninguém deve brincar no plano partidário. A Educação é um desígnio da comunidade, que deve ser politizada, sublinho, nunca partidarizada. Quando não se aproveita as pessoas de valor que estão no activo e, ao contrário disso, persegue-se e boicota-se o diálogo, talvez porque se sintam diminuídas pelo êxito de outros, patente no facto da Escola do Curral ter tido mediatismo nacional, tal denuncia uma sintomatologia de inveja e de provocação que atenta contra a dignidade profissional do(s) visado(s). Em um quadro destes só pode existir uma resposta, a da cidadania, a do combate sem tréguas contra a prepotência e a maldade disfarçada com sorrisos, para que não avancem, julgando que fazem aos outros o que querem e entendem.
A Escola precisa de serenidade e esse aspecto não é possível com atitudes centralizadoras, de perseguição e chantagem; a Escola necessita de plena autonomia e isso não se consegue como bem caracterizou o Professor Licínio Lima: "sejam autónomos nas decisões que já tomámos por vós"; a Escola precisa de financiamento para que as dívidas acumuladas não sufoquem o projecto educativo; a Escola tem de sair dos seus muros convencionais e projectar-se na vida real, interagindo, no meio de todos os outros sistemas, analisando-os e compreendendo-os com o necessário pensamento crítico; a Escola não pode ser a mera repetição que prepara exames, quando, hoje, os alunos interagem com o conhecimento de forma diferente das gerações passadas; a Escola não precisa de um fatinho de tamanho único, mas do respeito pela diversidade cultural, expectativas e potencialidades de cada um; a Escola não pode ser professores, por um lado, alunos, por outro, auxiliares que cumprem ordens, pais distantes, antes uma comunidade em aprendizagem permanente, onde todos dão e recebem; a Escola não deve caracterizar-se pela imensidão de pequenos projectos desarticulados no tempo, antes pela existência de um só projecto, aglutinador e portador de futuro; a Escola não deve ser conservadora e reprodutora de modelos sociais, com um currículo e disciplinas desconjuntadas no tempo, antes um espaço de criação, inovação, de cultura, de auto-estima e de afectos, capaz de gerar, paulatinamente, os pressupostos da curiosidade; a Escola não deve fundar-se na burocracia, nos papéis, muitos papéis que circulam e enervam, tarde ou cedo destinados ao arquivo morto, à prateleira final de circulares e normativos, a maioria repetitivos e desnecessários, mas que justificam os lugares que a hierarquia política ocupa; a Escola é muito mais que sumários e pormenorizadas grelhas de avaliação, com percentagens para tudo, encaixotando a diversidade social entre 0 e 100%, antes a disponibilidade para o conhecimento, produção de saberes consistentes e fermento para a vida; a Escola não pode ser um local triste e enfadonho, antes um espaço de prazer pelo estudo, pela descoberta e pelo desenvolvimento da curiosidade que conduz ao conhecimento sustentado; a Escola não pode caracterizar-se por um sentido individualista, quando as áreas de intervenção profissional fazem apelo ao trabalho em grupo; a Escola não pode assentar em exaustivos programas e conteúdos para esquecer, antes o foco da sua missão deve centrar-se no pensamento, questionamento de tudo e descoberta de caminhos. Ora, tudo isto dá muito trabalho, ora se dá! Romper com o passado e com as rotinas assentes na lógica do toca-entra-toca-sai, é complexo. Eu sei que é difícil, depois de dezenas de anos, de uma classe docente envelhecida, assumir que educar é muito mais do que transmitir conhecimento enciclopédico e que o papel do professor deve ser hoje a de mediador e potenciador da descoberta. Mas é por aí que o caminho tem de ser trilhado. Para que o êxito aconteça e baixem os números do abandono e do insucesso.
Li, já tem uns anos, uma posição que me cativou, a de Izabel Sadalla Grispino, hoje aposentada, que desempenhou funções de supervisora de ensino: "(...) antes de colocar a educação numa vala comum, é recomendável examinar cada indivíduo, cada anseio, cada desejo embutido na personalidade. Escola é um suporte pedagógico vital para o crescimento individual, crescimento de valores voltados ao ser singular (...)". A tal "inspectora" e acólitos percebem a dimensão deste pensamento?
É este o erro do Professor Joaquim Sousa e dos que o acompanham na Escola. O erro da comunidade educativa do Curral assenta na luta contra o marasmo, contra o deixa andar, descobrindo, precocemente, as fragilidades, os transtornos de aprendizagem e actuando em consonância. Daí terem chegado ao reconhecimento nacional. Há erros de percurso? Pois, quem dirige, sem excepção, não está isento de falhar. Até a "inspectora" já falhou. Houve documentos que não foram preenchidos? Pois, até pode ser verdade. Agora, será que os burocratas não entendem que tais alegados incumprimentos valem zero perante a grandeza de querer partir da escola real para a escola ideal?
Mudem de registo e parem com intervenções revoltantes, abusivas e que transmitem o sentimento da perseguição e da maldade. Revejam a vossa "gramática" de escola. Se não conseguirem, mudem de profissão.
Ilustração: Google Imagens.

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