Gosto de ler e, simultaneamente, cruzar a informação que nos chega. Hoje, por exemplo, dei conta de um texto sobre a baixa qualificação dos candidatos a um emprego (Dnotícias, página 2) e, mais à frente, de um notável artigo (mais um) da autoria do Professor Miguel Palma Costa.
O DIÁRIO puxou para 1ª página:
"Só foram colocados 11% dos candidatos a emprego (...) Baixa qualificação da maioria dos inscritos e desajustamento entre a oferta e a procura são os principais motivos" - Fonte: 1ª página do DIÁRIO, edição de hoje.
Escreve o Professor subordinado ao título: Não Pensar:
"(...) Lamentavelmente, também nas escolas as crianças (e adolescentes) são cada vez mais incentivadas a não pensar. A nova composição social que estamos a erigir não lhes dá tempo para pensar, não lhes admite “tempos livres”, momentos para o ócio; elas têm de estar sempre ocupadas, ligadas, em atividade, a queimar tempo, nem que seja num ecrã de computador, tablet ou telemóvel e a viver um mundo virtual que não reflete o eu nem sobre o eu, mas que distrai (e até mata). O pediatra e professor, Mário Cordeiro, afirma de modo muito claro que as crianças “estão a ser habituadas a não pensar” e os próprios professores parecem estar a ser impossibilitados, pelo sistema que se pretende implementar, de lançarem nos alunos o desafio de estudar e pensarem sobre determinadas temáticas. O que a acontece é que a escola está a deixar de incentivar a dúvida construtiva, o pensamento crítico e parece pretender que os alunos fiquem somente pela concordância dos factos, pela superficialidade, pelas “aprendizagens essenciais”, pois a profundidade, a revindicação de um conhecimento que vá para além da opinião – que exige mais tempo e labor – esse caminho é gradualmente eliminado dos programas ministeriais. (...)"
Ora bem, em síntese, quando não há nem coragem nem sabedoria para mexer na estrutura, é óbvio, como alguém sublinhou, "que se torna insano fazer a mesma coisa, repetidamente, e esperar resultados diferentes". E a escola tem sido isso, nos planos organizacional, curricular, programático e pedagógico. Procedem a uns "acertos" nas margens, fundamentalmente com preocupações mediáticas, porém, PENSAR e OUSAR são dois verbos muito distantes no exercício da política. Fogem deles como o diabo da cruz. A par disto emerge a questão social. Quando não existem consistentes políticas a montante da escola, portadoras de futuro, geram-se, então, os ingredientes para as "baixas qualificações" e "desajustamentos" entre as ofertas e as procuras. Alguém estaria à espera de outro resultado?
Neste pressuposto, o artigo do Dr. Miguel Palma Costa constitui um tiro certeiro em um problema que é vasto e complexo.
"(...) Aliás, hoje, no geral o ser humano considera que vive melhor se pensar pouco ou não pensar, posição a que determinados tipos de liderança dão grande utilidade). O pensar traz a dúvida, desconforto, a ideia de culpa, de pecado, a melancolia, o medo... e ainda por cima é um exercício difícil, custoso, exige sofrimento e treino, isto é, tempo, horas sobre horas de consistente análise e/ou reflexão. (...)"
Para alguns, PENSAR é perigoso! Portanto, melhor será que, na escola, não se pense. Uma teoria que encontra no Estado Novo de Salazar um defensor: "os jovens não precisam de pensar porque há quem pense por eles". Insiste o Professor nesse artigo: "Ora, perante este cenário que favorece uma espécie de cegueira e surdez intelectual, parece que já não há nada a fazer, mas tal não é verdade. O homem não perdeu ainda a capacidade de pensar, pelo que é urgente, talvez agora mais do que nunca, e porque novos contratempos e desafios se agigantam, exercitá-la!"
Só acrescentaria: os jovens e os políticos.
Ilustração: Google Imagens.
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