terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

A indisciplina e a propaganda


FACTO

Enaltece a secretaria da Educação através do JM: "Os casos de indisciplina nas escolas da Região estão a diminuir de forma significativa. Apesar de alguns episódios mais mediatizados, nos últimos seis anos os comportamentos desviantes dos alunos madeirenses desceram quase 40%. (...) No ano lectivo 2013/2014 registaram-se 13.216 participações disciplinares em contexto escolar, com este número a descer para 8.267 registados em 2018/2019". - Fonte: Jornal da Madeira.

COMENTÁRIO

Oxalá estes números fossem sérios. Mas tudo leva a crer que não são. Cruzo-me com professores e não há um, repito, um, que me diga da sua satisfação na função que exerce e na escola que vive. Pelo contrário, queixam-se, veementemente, de dois aspectos: da crescente indisciplina (má educação) e da burocracia que se multiplica. Portanto, isto cheira a propaganda. Os dados de 2014 não são da responsabilidade do actual titular da pasta. Foi em 2015 que assumiu funções e, curiosamente, daí para cá a quebra foi de quase 40%. É um aspecto a ter em consideração.
Ora bem, porque as características da sociedade não se alteraram, nada aconteceu nas políticas de família com efeitos directos nos aspectos comportamentais, a todos os níveis de análise, nada de novo e de substantivo se verificou nos estabelecimentos de aprendizagem, então, é possível concluir uma de duas situações, ou as duas em simultâneo: que os estabelecimentos de aprendizagem, para não terem "chatices", não comunicam os actos inapropriados considerados indisciplina, tentando resolvê-los no plano interno; ou existem indicações precisas para só dar nota dos mais insustentáveis. Há uma terceira hipótese que se situa em contabilizações distintas entre a metodologia de registo de 2014 e a de 2019. Há qualquer coisa aqui que não bate certo.

Ficaria muito feliz que os dados demonstrassem que um conjunto de acções, devidamente conjugadas, estavam a produzir efeitos positivos a um surpreendente ritmo de quase 1.000 casos por ano. Significaria isso que, no final da presente legislatura (2023), a Região apresentaria, grosso modo, 4.000 casos e, a manter-se o ritmo, em 2027 seriam absolutamente marginais. 

À luz do que dizem os professores a situação não é essa. Os casos narrados que chegam a várias instituições colocam os dados apresentados em uma grosseira dúvida, só justificável pela propaganda. Um estudo de 2018 enaltece que "mais de 60% dos professores sofre de exaustão emocional (...) Mais de 65 mil professores revelaram "níveis preocupantes de exaustão emocional", uma das três características do síndrome de 'burnout (...)". Isto é, na Madeira, quanto mais cresce a exaustão, mais diminui a indisciplina. É curioso, porque, por alguma razão, os professores estão exaustos. Ademais, e isto para mim constitui um dado politicamente relevante, é que o anúncio daquelas cifras estatísticas colocam em causa os anteriores secretários que tutelaram a Educação. Trata-se mesmo de uma ofensa a essas pessoas. "Fui eu que resolvi a situação, enquanto os outros andaram por aqui a passar o tempo!"
Mas continuo a sublinhar... oxalá fossem verdadeiros. Porque a serem teria eu a certeza que muito tinha mudado nas famílias e na organização do sistema educativo.
Ilustração: Google Imagens.

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