quinta-feira, 29 de abril de 2021

O Dr. Jorge Morgado demitiu-se por estar contra o Supremo ou por não concordar com o secretário?


Li, na edição de ontem do Dnotícias que o Dr. Jorge Morgado, Director da Inspecção da Educação da Secretaria Regional da Educação da Madeira, tinha colocado o seu lugar à disposição, na sequência do Despacho do Supremo, relativamente ao processo ao Professor Joaquim Sousa. Só agora? Lamento que não o tenha feito logo no início deste maquiavélico processo. Deixou que o seu superior hierárquico, o secretário, fizesse o queria e entendia e agora, de forma esquisita, parece querer lavar as mãos.



O Dr. Jorge Morgado é tão culpado quanto o secretário. Permitiu e isso não é desculpável. Se, inicialmente, deitou ou não água naquela mistura de ódios, não sei, mas a verdade é que não se ouviu a sua voz. Certo é que fechou os olhos ao facto de ter sido uma não inspectora, que nem aos serviços pertence, a conduzir aquele rol de acusações. Não havia nenhum inspector de carreira disponível para assumir tal responsabilidade? Recusaram-se? E se existia, qual o significado da não aceitação? O Dr. Jorge Morgado, enquanto líder da Inspecção, que leitura fez desta situação e como aceitou ser subalternizado? Já agora, estando a Inspecção subordinada a regras, quem terá ajudado a "inspectora de ocasião" a elaborar tão complexo processo? Só mais duas perguntas: qual o seu posicionamento relativamente ao desaparecimento das actas que constituiam uma parte da defesa do professor em causa? Alinhou na trapalhada?

Mais, Dr. Jorge Morgado, o problema não é meramente administrativo, se os prazos de contestação judicial foram ou não cumpridos. Esse é paleio para desviar as atenções. O problema é a matéria de facto e essa é ignóbil. Suspender um professor por seis meses, impedindo o salário, empurrando uma família para muitos constrangimentos financeiros, constitui uma imperdoável maldade. Não se tratou de uma "repreensão" por alegadas desconformidades administrativas, mas de um castigo e de uma humilhação que repugna. Por isso, repito, é tão culpado quanto o secretário.


Para que fique claro, conheço o Professor Joaquim José de Sousa (que a secretaria, malevolamente trata por Joaquim Batalha) por duas ou três conversas pessoais. Uma, no Funchal, outra, na cidade do Porto, esta quando lá vivi cerca de ano e meio. Ambas a meu pedido. Interessei-me em conhecer os contornos do processo. Colocou tudo em cima da mesa para minha análise e que eu retirasse as conclusões. Não se esforçou em provar fosse o que fosse. Estava ali escrito, nas actas que desapareceram e nos resultados que a escola apresentava. Pois bem, tudo quanto escrevi até hoje sobre o Professor Joaquim José de Sousa, não o fiz por razões de uma qualquer amizade pessoal de anos, mas na defesa de um docente que estava a ser vítima de um jogo sujo e de uma "novela" de péssima qualidade. Escrevi na defesa da dignidade e do respeito que os professores merecem. Escrevi sobre o professor em causa, como escreveria sobre qualquer um outro que, sem culpas no cartório, fosse vítima de uma perseguição.

É, por isso, que o Dr. Jorge Morgado é tão culpado quanto o secretário. Deveria ter aconselhado o diálogo e não o castigo; deveria ter ajudado a corrigir alguma desconformidade organizacional e não partir para um quadro antecipado de punição. Leio no sítio da internet da Inspecção, com uma fotografia do director, que uma das missões da Inspecção é a de: 

"(...) Propor ou colaborar na preparação e execução de medidas que visem o aperfeiçoamento e a melhoria do funcionamento do sistema educativo regional e da qualidade dos estabelecimentos de educação e de ensino, numa perspetiva de promoção do sucesso escolar dos alunos, de alteração da cultura de retenção, de promoção do espírito crítico e da assunção do compromisso ético de transformação da realidade socioeducativa; (...)"

Propôs alguma coisa? Não. Deixou que o marfim corresse até à punição. Pior, em um estabelecimento de aprendizagem "com sucesso escolar" com uma "cultura de não retenção", com "espírito crítico", um estabelecimento com "compromisso de transformação da realidade socioeducativa", pergunto, se é com silêncios comprometedores e perseguições que se atingem tais objectivos por ele próprio enunciados? Portanto, uma vez mais, o Dr. Jorge Morgado, talvez por omissão, é tão culpado quanto o secretário. Daí que, não seja inteligível só agora o seu lavar de mãos. Depois, colocar o lugar à disposição por uma decisão do Supremo? É risível e caricato, quando o Dr. Jorge Morgado, sendo licenciado em Direito, sabe que, em todos os processos, de acordo com a Lei, ou se ganha ou perde. E a vida continua. Sendo assim, pergunto, demitiu-se por estar contra o Supremo ou demitiu-se por não concordar com o secretário? A questão é esta e não outra. Só a sua consciência está em condições de esclarecer toda a comunidade. Tudo o resto é paleio para tentar sair bem de cena.


Aliás, o Dr. Jorge Morgado é um caso paradigmático consequência de muitos anos no governo. No seu caso, já são trinta e sete consecutivos na Educação, saltando de serviço em serviço. As raízes políticas e as cumplicidades um dia rompem-se. Romperam-se, com "naturalidade" e "normalidade", duas palavras recorrentes no discurso do secretário! Porém, voltou atrás, e lá continuará, segundo as notícias de hoje. Tudo isto é lamentável, Dr. Jorge Morgado.

Ilustração: Google Imagens.

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