segunda-feira, 19 de abril de 2021

Reinventar a Escola

 

FACTO

"(...) Aquela ideia, muitas vezes, quase chavão, argumento fácil, que esta crise (pandémica) é uma oportunidade, para as escolas não é. (...)" - Ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, TVI, a propósito do "regresso" às aulas presenciais.

COMENTÁRIO

Escutei e reflecti para dentro com uma série de perguntas: este ministro, afinal, que livros anda a ler? O que leu sobre políticas educativas? Que pensadores e autores o inspiram? Que filmes ou séries sobre Educação teve a oportunidade de seguir? Quem são as personalidades que o rodeiam? Qual é o seu pensamento? O que deseja atingir com a sua política educativa? 



Bastaria que tivesse presente a "Curva Sigmóide" de Charles Handy e aquele disparate do "chavão" e do "argumento fácil" não sairia boca fora. 

Independentemente da estrutura deste sistema ter origem há mais de duzentos anos, deveria o ministro situar-se no tempo que estamos a viver. E assim sendo, dir-se-á que tudo tem uma fase de implantação, a que se segue um crescimento. No caso da Educação essa fase de crescimento, grosso modo, podemos considerá-la no preceito constitucional que garante o direito e a acessibilidade de todos ao sistema. 

Depois, todos os sistemas, Senhor Ministro, atingem um ponto (fase de maturação) a que corresponde, naturalmente, a uma zona de turbulência. Isto é, gera-se entre os pontos A e B uma situação que pode ser sumariamente definida da seguinte maneira: uma dada situação já não corresponde às experiências vividas, ao conhecimento e aos anseios, pelo que, o sistema, tem de partir para uma nova curva sigmóide, sob pena de entrar na fase de declínio. Certo, Senhor Ministro? 

Fácil é pois de entender que o actual quadro já não corresponde ao conhecimento e aos interesses da comunidade educativa, particularmente, dos alunos. O que ontem parecia constituir uma solução, hoje, manifesta-se de forma completamente desadequada. Portanto, não se trata de um "argumento fácil" ou, repito, de "um chavão", mas uma necessidade de gerar uma nova curva de crescimento, a qual, inevitavelmente, dentro de alguns anos, cairá em uma nova zona de turbulência. É assim que o desenvolvimento acontece, pelo que, alguns momentos, devem constituir uma oportunidade. 

O que o Senhor Ministro faz são puros actos administrativos do sistema educativo que nada ou muito pouco têm de política educativa. Esta é muito mais complexa, porque obriga a estudos, convida ao debate, exige pensamento e a necessidade de seguir novos caminhos que são sempre de ruptura, total ou parcial, com o passado. Não aceitar este pressuposto significa que se prefere a rotina ao acto inovador, o passado à alegria da descoberta. 

Ilustração: Google Imagens.

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