O Ministério da Educação considera preocupantes as dificuldades de leitura dos jovens portugueses, mas acredita que é possível aprender, estando em curso projetos para recuperar hábitos e capacidades de leitura.
Nota
A pergunta que coloco é esta: não será este um indicador, claro, da falência do sistema educativo, dos currículos, dos programas e da própria organização dos estabelecimentos de aprendizagem? Estou convicto que se assim continuarem, Portugal não apresentará melhores resultados, mesmo que recorram a mais escola, simplesmente porque, processos iguais resultam em resultados iguais.
Metade dos alunos portugueses de 15 anos não consegue distinguir entre facto e opinião quando está a navegar na Internet, segundo o relatório "Leitores do séc. XXI: desenvolver competências de leitura num mundo digital", divulgado esta terça-feira pela OCDE, que mostra que o interesse pela leitura tem vindo a diminuir nos últimos anos.
"São resultados preocupantes quanto temos maus desempenhos, mas são também fontes para continuarmos alguns caminhos que já tínhamos iniciado ou para iniciar novas frentes", disse o secretário de Estado Adjunto e da Educação, João Costa, em declarações à Lusa, referindo-se ao novo relatório do Programme for International Student Assessment (PISA) de 2018.
Sobre os novos projetos, o responsável explicou que está em curso, para começar no próximo ano, um projeto de recuperação de aprendizagens e que já "é unânime que tem de haver um esforço muito grande na recuperação de hábitos de leitura e de capacidades de leitura, que são fundamentais".
Em 2018, a percentagem de alunos portugueses com computador e Internet era superior à média da OCDE, mas esse acesso nem sempre significa melhores aprendizagens: "Tem de estar associado a saber ler em vários suportes e à capacidade de criar ambientes ricos em leitura", salientou João Costa.
"Nós vivemos num meio de montanhas e montanhas de informação, mas informação não significa conhecimento. O papel da escola é transformar a informação em conhecimento", disse, sublinhando que a "escola é cada vez mais um lugar de validação e fiabilidade do conhecimento científico".
O relatório do PISA hoje divulgado mostra que os jovens, identificados como nativos digitais, têm dificuldades em selecionar informação e perceber quais as fontes credíveis.
"Aprender a ser leitor nesta realidade diferente, em que não há livros únicos nem pontos de informação únicos, implica também trabalhar a crítica, a avaliação e o contraste entre diferentes fontes. Isto é uma forma diferente mas urgente de trabalhar a leitura", explicou João Costa.
Sobre a incapacidade de distinguir entre o que é um facto e uma opinião, quando se está a ler um texto, o governante e linguista defendeu que "se aprende".
João Costa deu como exemplo os professores de Português que ensinam os alunos a identificar o que são factos e opiniões assim como as iniciativas na área da literacia de informação e dos media nas aulas de cidadania.
Também o diretor da OCDE para a Educação, Andreas Schleider, defendeu hoje "as escolas podem mudar esta realidade".
Mas, para o diretor da OCDE, esta é uma missão em que "não basta transmitir conhecimento, é preciso cativar os jovens", até porque quando se interessam por um assunto "têm uma energia infinita e conseguem passar horas seguidas envolvidos num tema".
Em Portugal, pouco mais de metade dos alunos (55%) disse ter recebido formação na escola sobre como reconhecer se uma informação é ou não tendenciosa e, contrariando a tendência dos países da OCDE, foram os alunos de escolas desfavorecidas quem mais aprendeu sobre competências de literacia digital nas escolas.
O estudo do PISA alerta também para o facto de os jovens que mais livros leem estarem mais preparados para navegar na Internet. O problema é que o gosto pela leitura está a diminuir entre os jovens, alerta o documento.
Incentivar o gosto pela leitura é outro dos projetos no terreno desde 2018, com as aprendizagens essenciais na área do Português.
As aprendizagens essenciais vieram tornar "mais explícito que há duas dimensões no próprio currículo": por um lado a educação literária, que permite aos alunos conhecer diferentes momentos da história da literatura e diferentes autores; e por outro os contratos de leitura, para que possam ler aquilo que gostam, lembrou o secretário de estado.
Neste último caso, a sala de aula transforma-se num espaço de troca de impressões em que se pode "ler o livro que apetece ler", explicou João Costa, lembrando que esse contrato de leitura remete, em primeira instância, para as listas do Plano Nacional de Leitura, que apresentam milhares de livros de autores portugueses, mas também estrangeiros.
A reformulação do Plano Nacional de Leitura, a formação de comunidades leitoras nas escolas e a rede de bibliotecas escolares são alguns dos projetos para fomentar a leitura por prazer.
"Porque é que isto está nos programas? Porque gostar de ler não é como gostar de futebol ou de batatas fritas. Quero que os alunos gostem de ler porque a competência leitora é uma condição para a sua liberdade, cidadania e capacidade de ter sucesso e um bom desenvolvimento ao longo da vida", sublinhou João Costa.
Fonte: RR por indicação de Livresco. Blogue: Incluso.
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