EDUCAÇÃO
SOB A MAIS LIVRE DAS CONSTITUIÇÕES UM POVO IGNORANTE É SEMPRE ESCRAVO Condorcet (1743/1794)
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sexta-feira, 11 de abril de 2025
quinta-feira, 10 de abril de 2025
Por uma Escola (re)inventora da sociedade
A Educação preocupa-me. Os constantes relatos que nos chegam, as séries de televisão caracterizadoras de uma significativa parte da juventude sem rumo, a intolerante violência que cresce potenciada pelas redes sociais e por uma ausência de princípios e valores estruturantes do ser humano, as múltiplas dependências, das tecnológicas a todas as outras, o desejo de viver intensamente como se não existisse amanhã, a limitada presença dos pais por desestruturação do mundo laboral, a pobreza, alguma "bem disfarçada", o sistema organizacional das escolas, mais preocupado com um falso conhecimento programático do que com a formação global, onde se enquadra o desrespeito pelos talentos e sonhos que cada um transporta, o esfumar do rigor, da disciplina conquistada pela compreensão das pessoas, enfim, tudo isto e tanto que facilmente se descobre nesta ferrugenta engrenagem social, só pode constituir motivo de preocupação.
O problema é que, face a um quadro angustiante, não são observáveis políticas, gerais e específicas que, a prazo, resultem numa sociedade mais culta, mais trabalhadora e profissionalmente mais competente, mais equilibrada, mais criativa e inovadora, menos dependente seja do que for, enfim, mais feliz.
A mudança, essa, como todos sabemos, só pode começar por uma eficaz sementeira na escola e em políticas muito profundas a montante da escola. Como? No sector da Educação, desde logo, dizendo não a este tipo de aprendizagem enciclopédica, igual para todos quando todos somos diferentes, mas valorizando, na substância, o pensamento. Como disse o Professor Miguel Tamen: "ensinem-lhes a pensar, ensinem-lhes coisas diferentes e não fiquem ansiosos com o mundo real", porque desse mundo real, dizem os empregadores, "tratamos nós". É um absurdo partir do pressuposto, quase radical, que à escola deve competir a solução ou satisfação "das necessidades práticas ou contingentes", como sublinhou o Professor António Feijó. Neste tempo, onde tudo é volúvel e inconstante, a aprendizagem deve então situar-se no espaço do que é intelectualmente interessante e motivador. O resto flui, naturalmente, quando existe uma ideia de escola não conservadora? Ora bem, a questão que se coloca é, pois, entre um sistema focado em olhar para dentro e numa imbecil aposta em profissões que, tendencialmente, vão deixar de existir, e um outro que olha para o mundo e cria mundo aos jovens.
A escola tem de ser fermento de e para a vida. E não tem sido. Não é. Aliás, não se trata de um tema novo, consequência daquele conjunto de preocupantes factos com os quais somos, diariamente, confrontados. Não é necessário ir ao encontro de Sócrates ou de Platão (400 aC - "segundo Sócrates, ele nada ensinava, apenas ajudava as pessoas a tirarem de si mesmas opiniões próprias e limpas de falsos valores, pois o verdadeiro conhecimento tem de vir de dentro, de acordo com a consciência", não é necessário ter presente Erasmo ou Montaigne (Século XV - para M. Montaigne "uma cabeça bem feita vale mais que uma cabeça cheia", mas ler, por exemplo, Johann Pestalozzi (Século XVIII) que tanto falou de "criatividade e autonomia"; de Vygostsky, que salientou que aprendizagem é um processo interactivo; ter presente o pensamento pragmático de John Dewey; Célestin Freinet, um crítico da escola tradicional, das suas regras rígidas da organização da aprendizagem; mais recentemente Alain, Maria Montessori que uniu o mundo externo e interno à criança e ao jovem, Piaget, Carl Rogers, Paulo Freire, as profundas reflexões de José Pacheco, Sampaio da Nóvoa, Sérgio Niza ou de Carlos Neto, este que é, indiscutivelmente, uma referência mundial em estudos sobre a formação dos jovens. A listagem é infindável.
Junte-se a tão extensa bibliografia, que a formação inicial de professores dispõe, as reflexões de muitos filósofos. Não esqueço o notável Edgar Morin, hoje com 103 anos, que sobre a Educação continua a dizer que "temos de educar os educadores", para este novo tempo, ou, então, ter presente a Obra daquele que foi meu Amigo, Filósofo, pensador à escala mundial, Manuel Sérgio, falecido o mês passado, que um dia, na minha casa, em redor de um petisco, foi claro: "os professores têm de deixar-se fecundar pelas ciências humanas" e não, apenas, pela especificidade da disciplina que leccionam. E fazendo suas as palavras de Abel Salazar, Patrono do Instituto de Ciências Biomédicas, referiu-me que "um Professor que só sabe da sua disciplina nem da sua disciplina sabe!"
Ora, pergunto, os políticos com responsabilidades no processo educativo não dominam estas questões básicas? Entre muitos outros, não viram ou perceberam o filme dirigido por Peter Weir, em 1989, intitulado no original "Dead Poets Society"? Continua disponível, basta querer espreitá-lo. Ou, mais recentemente, não seguiram a notável série televisiva Merli, onde o protagonista refere que "há qualquer coisa de podre na educação"? De facto, há uma clara ausência de uma prática alicerçada numa teoria que vem de longe. Dir-se-á que os pensadores, investigadores e autores foram atirados para a prateleira. Servem para algumas citações, porque fica bem, mas logo regressam à estante que embeleza mas não transforma.
E assim chegámos a um tempo, de algum caos, onde, tantas vozes o dizem, estamos a matar a infância, o crescimento sustentado e a comprometer o futuro. Começa logo nas primeiras idades. O psicólogo Eduardo Sá, na antiga revista Focus, foi muito claro: "As crianças estão em vias de extinção (…) cada vez mais as crianças não são crianças (…) e o que me preocupa é que mais escola, como ela está a ser vivida, signifique menos infância e quanto menos infância, mais nos arriscamos a construir pessoas magoadas com a vida”. No fundo, ele fez eco do que outros já tinham enaltecido: "quanto mais longa e mais rica for a infância, mais saudável será a adultez". Só isto implicaria pôr tudo em causa. Que raio andamos a fazer?
O problema é a latente ignorância altifalante que conduz a uma chocante surdez política. O Juiz Conselheiro Laborinho Lúcio disse e bem que, hoje, as crianças, desde as primeiras idades "transportam um adulto dentro de si". Estão a deixar de ser crianças e jovens, porque nós adultos temos uma tendência para tudo exigir, controlar e de impor o que nos parece importante. Começa logo nas primeiras idades e prolonga-se pelas mais velhas, no pressuposto político que tem de ser a Economia a impor a estrutura e o ritmo das aprendizagens, embora de forma contrária à ciência, quando se fala do acto de aprender.
Segue-se, agora, mais uma legislatura que, estou convencido, corresponderá à continuidade da política vigente. Uma política sem rasgo, sem pensamento prospectivo, que funciona administrativa e rotineiramente. Por dois motivos: porque "para quem só tem um martelo por instrumento, todos os problemas parecem pregos" - Mark Twain; depois, porque quem se habituou a repetir, dificilmente podemos esperar, no futuro, resultados diferentes dos de hoje. Na esteira de Peter Drucker não os vejo "preparados para abandonar tudo ou, então, desertar do barco".
E, entretanto, promovem-se tantas formações destinadas a professores. Ocupam-se dias a escutar especialistas, batem-se efusivas palmas e, no final, tudo continua no tal pântano, onde uma minoria sobrevive e escapa! Nem reflectem que uma formação só tem sentido se ela transportar a preocupação da mudança.
segunda-feira, 7 de abril de 2025
EDUCAÇÃO: AS COISAS, AS COISAS TODAS, E O PENSAMENTO DAS COISAS
Por
Nuno Morna
Dnotícias
sábado, 5 de abril de 2025
"Ranking's" das escolas: um concurso de beleza da pedagogia
Uma vez mais, aí estão os "ranking's" das escolas. Diabolizo-os. Mas há, infelizmente, professores, direcções de escola (quando convém) e governantes que espumam com alguns resultados.
Ora bem, "lendo estudos e reflectindo sobre todas as variáveis, entendo que constitui uma infantilidade conceptual defendê-los. A escola deve ser avaliada por aquilo que faz, pela estrutura organizacional que implementa, pela cultura pedagógica que persegue, pelas preocupações inclusivas e pelo esforço no sentido de que ninguém fica para trás, pela sua luta que atenua as diferenças económicas, sociais e culturais e pelo trajecto dos seus alunos após a passagem por um determinado estabelecimento. Diabolizo-os, não apenas pelo facto em si, mas porque é um erro grave conjugar no mesmo patamar os sectores de intervenção público e privado. Não faz qualquer sentido, nem justificação existe, seja qual for o ângulo de análise, tolerar sequer a existência de ranking's de exames e de escolas! Há outras formas de acompanhamento e de avaliação dos processos de aprendizagem. Ademais, tolerar os "ranking's" significa tolerar o actual sistema educativo que mantém e acelera a desigualdade. - Do livro "A Escola é uma seca", pág. 175.
Numa aproximação a Pablo Gentili, Doutor em Educação pela Universidade de Buenos Aires, que se referiu aos famigerados testes PISA, eu diria que os "ranking's" (…) son el concurso de belleza de la pedagogia". Portanto, esqueçam-nos, porque se trata de um mecanismo artificial que "nadie lo cuestiona, y luego compara". Ignoram que existem diversas realidades históricas, económicas, sociais e culturais, que não permitem, com rigor, comparar o que é incomparável.
domingo, 23 de março de 2025
" A Escola manda brincar"
terça-feira, 18 de março de 2025
Chegou a vez das universidades americanas
É esse tesouro que está a ser subvertido pela Administração Trump. Sem surpresas, diz Zakaria. Basta-lhe citar um discurso de J.D. Vance durante a Conferência Nacional Conservadora de 2021. "Temos de atacar as universidades honesta e agressivamente. Os seus professores são nossos inimigos". A Administração de que é vice-presidente está a pôr "agressivamente" este objectivo em prática. O assalto mais radical está a ser financeiro, prossegue Zakaria, traduzindo-se pelo congelamento ou pela redução drástica das subvenções e dos empréstimos do Governo federal. O impacto cumulativo pode atingir milhares de milhões de dólares de cortes em programas e projectos de investigação.
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025
Manuel Sérgio - Um Pensador de Excelência
Conheci-o em 1969 na biblioteca do INEF. Era muito mais do que o seu responsável, mas a figura que ajudava, conversava sobre tudo e tornava-se amigo. Porque por lá andava vasculhando tudo o que me interessava, tornámo-nos próximos ao ponto de me ter oferecido o único volume do Tratado de Educação Física, onde, ao longo de 870 páginas, o Doutorado Professor Celestino Marques Pereira discorreu sobre o problema pedagógico e histórico desta área do conhecimento. Desde então, mantivemos uma relação de profunda estima e consideração.
É este Homem culto, este Filósofo, pensador de excelência, com uma vasta obra publicada, que, recentemente, nos deixou. Tinha 91 anos. Curvo-me perante a sua morte, mas mantenho ali, na vitrina, a sua presença através dos vários livros e mensagens que me remeteu. Aprendi muito com ele, com a sua vastíssima cultura, própria de uma pessoa de uma indiscutível qualidade científica reconhecida mundo fora.
Ademais, Manuel Sérgio foi mais que um Professor, pela figura humilde, profundamente preocupado com o rumo da sociedade, magistral na transmissão do conhecimento sábio, mas com a serenidade e a modéstia do verdadeiro Homem Culto. Sinto, por isso, a dor pela perda de um Amigo de estima mútua.
Até sempre Amigo Professor.
Ilustração: Google Imagens.
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025
Laborinho Lúcio - Uma escola para o não insucesso
segunda-feira, 20 de janeiro de 2025
terça-feira, 7 de janeiro de 2025
A MINHA PARTICIPAÇÃO NO TEDxFunchal - A Escola não é um SPA
sábado, 14 de dezembro de 2024
Educação num estado deplorável
O problema do país e das regiões em particular é muito grave no que concerne à literacia, numeracia e resolução adaptativa de problemas. Segundo um estudo da OCDE, à pergunta "Têm os adultos as competências necessárias para prosperar num mundo em mudança?", concluiu que Portugal tem uma "necessidade urgente de os sistemas de educação e formação intensificarem os seus esforços". Portugal está muito distante da média europeia. No topo, a Finlândia, Japão, Suécia e Noruega. De acordo com os resultados apurados, Andreia Sanches (Público) de forma assertiva, colocou em título: "O triste retrato do nosso atraso".
Ora bem, para mim que acompanho, há muitos anos, esta situação e sobre a qual tenho publicado, não constitui qualquer novidade. Nunca se tratou de uma percepção, mas de uma factualidade em função do cruzamento de muitos dados. Quem persiste no passado, não pode esperar, no futuro, outros resultados que não os desse passado. O drama é que ninguém com responsabilidade política quer enfrentar a situação. Por razões diversas, genericamente, nem os que se encontram no topo da hierarquia política, tampouco os dirigentes sindicais e até mesmo os professores. De resto, a sociedade não tem uma leitura sobre a gravidade da situação e daí ser reivindicativa. A Educação passa-lhe ao lado.
Andam pelas margens, entretidos se os alunos têm ou não professores em todas as disciplinas curriculares; entretidos com as exaustivas matérias constantes nos extensos programas curriculares; entretidos com as rotinas do débito de matéria e na "classificação", não com uma avaliação de interesse bilateral (primeiro para os alunos, depois para os professores); entretidos com o perfil dos alunos à saída da escolaridade, mas não com o perfil à entrada; entretidos com a segmentação das disciplinas, sobretudo no Básico, ignorando que "as redes neuronais funcionam por associação de ideias, não com temas estanques"; entretidos com os velhos conceitos de turma e de aula, quando esses constructos já não fazem sentido; entretidos com efémeros projectos disto e daquilo; entretidos com exames e provas de aferição, sempre na lógica da "classificação"; entretidos com a burocracia, em alguns casos, até, visando o controlo das direcções de escola que se eternizam; entretidos com uma meritocracia balofa e de propaganda, através de sucessivos espectáculos de atribuição de prémios de mérito e, pasme-se, perante isto, passam ao lado do que é mais importante: a escola, o aluno e o professor no Século XXI. Esquecem-se, propositadamente, de uma clara definição do que deve ser uma escola com futuro respeitadora da autonomia organizacional e pedagógica.
sábado, 23 de novembro de 2024
A obra-prima do acaso e o medo em deixar-se fecundar pelo conhecimento
Os anos vão passando e a rotina por ali vai ficando. E os investigadores e autores vão clamando que se o atraso já é considerável, esperem por mais uma década e verão onde se encontram na tabela do conhecimento. Pessoalmente, que nada sou nos ambientes da investigação científica, na articulação dos saberes face aos dados disponíveis, no meu canto, despretensiosamente, vou lendo e reflectindo sobre o que dizem as referências do pensamento, e aí concluo que só dando "corda aos sapatos" da inteligência, poderá a Região Autónoma da Madeira, embora com muita dificuldade, aproximar-se dos níveis que garantam esperança. Essa luta devia acontecer, mas está acometida de uma intensa sonolência.
E são tantas as "formações" ao longo dos anos, tantas as intervenções de reputadas figuras da investigação em seminários, colóquios, entrevistas, livros, revistas e desabafos, porém, nada de novo acontece. Há medo em deixar-se fecundar pelo conhecimento. O secular, velho e esfarrapado tecido da educação parece ser muito mais do agrado do que o despertar para horizontes mais vastos, com novas vestes convergentes com os tempos que estamos a viver e com aqueles que os sinais demonstram estarem aí ao virar da esquina. Há um estudo da Historiadora Raquel Varela que demonstra que 70% dos professores se encontram em exaustão emocional (um estudo do Sindicato de Professores da Madeira regista 75%), que muitos tomam medicação a mais para enfrentar a profissão e que cerca de 84% deseja se aposentar. E há estudos que demonstram ser residual (cerca de 14% de raparigas e 11% dos rapazes) o número de alunos que diz gostar muito da escola. Perante um quadro destes, infelizmente, são poucos os que ousam levantar a voz, o que me leva a dizer que preferem a rotina do emprego e as ordens do "patrão", face à doença que os corrói lenta mas seguramente. Aquelas percentagens demonstram que este tipo de escola está esgotado, porque não agrada nem a uns nem a outros.
Mas que raio de gente a nossa, população, professores, pais, alunos e até empresários, que olha para mais nove anos de uma governação sem qualquer rasgo portador de futuro, sem uma ideia, uma que seja, apontada à tal educação, ciência e tecnologia? Nove anos de acertos marginais, onde o que resta é essa mal amanhada história dos manuais digitais, quando tantos países já a abandonaram, ou a tosca e enganadora iniciativa das salas de aula do futuro, "semeadas" aqui e ali, como se por aí fosse possível desenhar uma escola de conhecimento e cultura, capaz de abrir-se ao pensamento! De estrutural nada ou ninguém conhece onde os mentores desejam chegar. Muita propaganda e muito negócio, isso sim, muito "Ponto e Vírgula", exactamente como o sinal significa: pausa maior que a vírgula e menor que o ponto final. Marasmo! De resto, fecho de escolas, controlo hierárquico das direcções e perseguições atemorizadoras dos comportamentos mais abertos ao mundo. É cada vez mais difícil dar um passo distante dos olhares de uma espécie de "paizinho". Confirma-se que as ditaduras, sejam elas ferozes ou brandas, são sempre muito pouco inteligentes.
É um desencanto assistir ao desfile de personagens que teimam em contornar os pingos da chuva, vendendo gato por lebre, entretidos nos labirintos da absurda burocracia que controla e inferniza. Figuras que temem o debate aberto e profundo, que não se questionam nem participam através de um conhecimento cientificamente estruturado, daí incapazes de justificarem a sua própria política. Se a têm! É o poder pelo poder de braço dado com a menoridade científica e, quem depois vier, que se amanhe! Faz-me pena assistir à tolerância dos demais, sobretudo a dos professores que se contentaram com a contagem do tempo de serviço prestado, verdade se diga, "roubado"; ou do próprio sector privado que se cala à custa dos 40 milhões anuais de subsídios. Distribuir o dinheiro dos contribuintes é a parte mais fácil, convenhamos, até porque a região, sendo autónoma, o permite. Mais difícil e complexo é estudar o sistema, colocando todos, sem tutelas, a debatê-lo com os olhos colocados na mudança de paradigma.
Tenhamos presente o rigor dos colégios jesuítas. Na Catalunha, corajosa e inteligentemente, puseram as suas próprias normas em debate. Em dois anos surgiram cerca de 56 000 propostas de alteração. Reduziram-nas a dezessete propostas estruturantes e partiram para a sua implementação. Deitaram paredes de salas de aula tradicionais abaixo, criando amplos espaços de conhecimento; passaram ao lado da segmentação das disciplinas, dos horários, testes e trabalhos de casa (Pepe Menéndez, ex-vice-director da Rede de Escolas Jesuítas da Catalunha), mas definiram um princípio: doravante, o aluno tem de ser o protagonista da aprendizagem. Só um pormenor, ao correr do meu pensamento: de acordo com Edgar Morin (1921), sociólogo/filósofo, sobre a divisão da aprendizagem em disciplinas, sobretudo na aprendizagem básica: "(...) As disciplinas como estão estruturadas só servem para isolar os objetos do seu meio e isolar partes de um todo. Eliminam a desordem e as contradições existentes, para dar uma falsa sensação de arrumação. A educação deveria romper com isso mostrando as correlações entre os saberes, a complexidade da vida e dos problemas que hoje existem. Caso contrário, será sempre ineficiente e insuficiente para os cidadãos do futuro. (...)" Digo eu, tão simples para Morin com 103 anos e tão difícil de compreender para políticos de 50 e poucos anos!
Por aqui, mais nove anos de atraso, bem testemunhados numa legião de milhares de jovens que não estudam nem trabalham, associados a múltiplas iliteracias. Ora bem, será que o inquilino sabe onde está? Certamente que não. Por isso, desconhece onde quer chegar e, muito menos, os passos para lá chegar.
Há palavras intemporais. Por exemplo, as de José Almada Negreiros (1893/1970): "A nossa querida terra está cheia de manhosos, de manhosos e de manhosos. E numa terra de manhosos, não se pode chegar senão a falsos prestígios. É o que há mais agora por aí, em Portugal - os falsos prestígios. E vai-se dizer de quem é culpa de haver manhosos e falsos prestígios: a culpa é nossa e só nossa!" -(Diário de Notícias, 3 de Novembro de 1933).
Ilustração: Google Imagens.
domingo, 10 de novembro de 2024
quinta-feira, 3 de outubro de 2024
Se avaliassem a ortografia como fizeram com a EFACEC
Excerto de um oportuno artigo de Nuno Pacheco hoje publicado no Público. https://www.publico.pt/.../avaliassem-ortografia-fizeram...
segunda-feira, 23 de setembro de 2024
sexta-feira, 13 de setembro de 2024
"Vá meninos, peguem nos telemóveis porque eu quero começar..."
Em Portugal há um Movimento por "menos ecrãs, mais vida", formado por quatro mães professoras, inclusive, uma petição no sentido de proibir ou limitar, nas escolas, o uso de telemóveis e os manuais digitais. Uma proposta que foi levada ao Ministério e, pelo que já foi divulgado, não sei se na sequência dessa reunião, o governo decidiu propor aos estabelecimentos de educação a adopção de medidas, para já, no quadro da utilização dos telemóveis.
Compreendo a preocupação, embora o foco esteja desajustado. A iniciativa apresenta-se no quadro da libertação de uma pressuposta obsessão pelo telemóvel e tudo o que a ele está associado. Compreendo, também, o interesse por, ao longo de toda a infância, tornar a escola em um espaço de vida, convivência e de desenvolvimento de toda a educação motora que os jogos, tradicionais e outros, transportam. Todavia, há múltiplos aspectos que me fazem não acompanhar aquele tipo de abordagem e até posicionar-me no lado oposto.
Ora bem, não é o telemóvel, entre outros equipamentos, que deve ser colocado em causa, mas o sentido organizacional da escola que deve ser profundamente questionado, a cultura e a sua cultura interna, a mentalidade, os actos pedagógicos no quadro de crianças nascidas no Século XXI, os currículos, os programas, os mofentos conceitos de sala de aula, de turma, o número de alunos por estabelecimento, as avaliações, as metas curriculares, a burocracia, as reuniões que são mais do mesmo, a falaciosa autonomia dos estabelecimentos, o medo e subserviência à hierarquia, enfim, tudo o que encontramos da porta da escola para dentro e que não abona em favor de uma aprendizagem onde o aluno seja protagonista. Nesta escola os alunos não são sujeitos, são objectos. Ainda ontem, na TVI/CNN, o ministro foi claro ao assumir que "o sistema educativo não está centrado no aluno".
segunda-feira, 2 de setembro de 2024
Professores a menos ou a mais?
Mais uns dias e os alunos "regressam" à Escola. Neste momento, assiste-se ao problema de uma alegada falta de professores em função dos horários curriculares dos alunos. Sobretudo nos últimos anos, esta cantilena repete-se e acentua-se. De uma forma enervante, porque ninguém querer olhar de forma distintiva e portadora de futuro.
Aos que têm responsabilidades políticas sugiro a metáfora do "homem do aspirador". Quando todos sopravam houve um que procurou fazer o movimento contrário. Descobriu o aspirador e ficou rico. Moral da história: que vejam o outro lado. Se por aí forem, porventura teremos professores a mais e descobrirão que é o Sistema Educativo que está errado. Pensem nisso!
Para além deste aspecto e não se trata de uma frase feita, "mais escola não significa melhor escola".
Ilustração: Google Imagens.
quinta-feira, 22 de agosto de 2024
Quem nos roubou os longos dias de verão?
Há poucos anos, o verão era verão até ao fim, ou seja, até ao dia 22 de setembro; agora, o verão acaba no fim de agosto, para prepararmos, logo no início de setembro, o regresso à escola.
Que a escola anda em contraciclo com a vida já, há muito, constataram os que refletem sobre ela, mas que a escola também anda em contraciclo com a natureza é coisa mais recente. Na verdade, repare-se: enquanto o verão se vai estendendo por setembro e outubro fora, com os dias quentes cada vez mais frequentes, as crianças e jovens são obrigados a largar, à pressa, as brincadeiras de verão, logo no início de setembro, para voltarem contrariados à rotina escolar.
A escola tem de se libertar das amarras centenárias que fazem com que “roube a infância às crianças”, nas palavras de Eduardo Sá. Não podemos continuar obcecados com a ocupação contínua das crianças, de manhã à noite, sete dias por semana e durante doze meses por ano.
quarta-feira, 21 de agosto de 2024
Tim Vieira: “É preciso deixar que os jovens falhem e que aprendam com os falhanços”
Na edição do Público, com texto de Cristiana Faria Moreira e fotografia de Catarina Póvoa, segui uma entrevista com o empresário Tim Vieira que criou um projecto educativo denominado "Brave Generation Academy", que visa oferecer aos alunos uma escola diferente. Aos poucos, um pouco por todo o lado, assisto à sementeira de um novo pensamento sobre a Escola. Infelizmente, Portugal não acompanha esta onda. Os governos persistem nas metodologias dos Séculos XIX e XX.
Salienta Tim Vieira a paradoxal realidade: "uma criança que siga o nosso sistema pode ir para (as universidades de) Stanford ou Oxford, mas não pode ir para uma universidade portuguesa, porque não tem a equivalência. E isso é que é difícil, porque as nossas crianças estão a ir para a Holanda, para a Inglaterra, para os Estados Unidos." Muito esclarecedor!
Pergunta a jornalista: Acredita na escola pública?"Acredito numa escola pública com qualidade que dá oportunidades. Não acredito numa escola pública que não prepara as crianças para o mundo de hoje (...) acho que até o Governo sabe que a escola tem de mudar. E que é preciso uma escola pública diferente. Só precisam de coragem para fazer isso acontecer. Neste momento, estamos a tentar tapar buracos, estamos a estragar a vida a muitas crianças todos os anos."
sábado, 10 de agosto de 2024
Paris 2024 diz-nos: procurem as causas do desencanto!
Em Paris nada de novo. Apenas a confirmação das crónicas debilidades dos sistemas educativo e desportivo nacional. Portugal conseguiu vários "diplomas", aos quais, tenhamos a frontalidade e humildade de assumir, devia juntar-se o "diploma da irresponsabilidade" e o da "falta de visão" sobre como se estrutura um sistema para atingir, a longo prazo, o Olimpo, cumprindo o princípio iniciado em 776 aC, em honra de Zeus, na antiga cidade de Olímpia. Não basta uma representação nacional, mas a qualidade dessa representação. E não se trata, até, de um problema de financiamento, mas de organização, formação e de planeamento.
Ora bem, não está aqui em causa a dedicação e o notável esforço dos praticantes, dos seus treinadores e clubes que conseguiram qualificar-se para os Jogos de Paris 2024. Curvo-me perante todos, porque sei do que falo. Tenho presente as palavras de um reputadíssimo treinador, Peter Daland, que sintetizou o treino como "dor, sofrimento e agonia". Daí a minha profunda consideração por todos. Não é isso que está em causa, mas a seriedade (neste caso, a ausência dela) do pensamento que estrutura o edifício da base ao alto rendimento. É pública e notória uma incapacidade para analisar as causas, vendo para além do horizonte, numa atitude política séria que conduza à mudança de paradigma.
O melhor exemplo da fragilidade do sistema, com todo o respeito relativamente ao passado da atleta, é a aceitação da participação de Ana Cabecinha, de 40 anos, três meses depois de ser mãe (43ª nos 20 km marcha) e, por outro lado, na ausência de talentos nacionais de topo, se prefira oferecer a nacionalidade portuguesa a outros (Pichardo, nascido em Cuba, ofereceu a Portugal uma das três medalhas) provavelmente, para esconder o problema de fundo que está aos olhos de quem deseja ver. No livro que neste momento leio, a Escola da Alma, de Josep Maria Esquirol, destaco: "(...) Olhar não é difícil. Mas olhar bem custa muito. E na realidade só vê aquele que olha bem". Ora, este profundo desencanto obriga a que se olhe bem e parta para o debate, sério e profundo, indo às causas e, por mais que a mudança doa, há que resetar e partir de novo. Sem isso nada feito.
Trata-se de um problema complexo, eu sei, que mexe com muitos "queijos", mas, desde logo, tenho por certo que a raiz do problema está na Escola, na sua organização estrutural, na ausência de coragem, como escreveu o meu Amigo Filósofo Catedrático Jubilado Manuel Sérgio: na "(...) substituição da disciplina de Educação Física pela de Educação Desportiva que, por sua vez, integraria o que hoje se pratica na Educação Física e no Desporto Escolar. A Educação Física “desportivizou-se” e, portanto, deixou de existir. Aliás, epistemologicamente, já há muito tempo que morreu. (...) É preciso, no meu entender, transformar o Desporto em Cultura e a Cultura em Desporto (...)". Enquanto a escola for aquilo que é, com as federações e associações a se substituírem à escola (a participação quantitativa está na escola e a qualitativa no associativismo) e os apoios assentarem numa lógica completamente insensata, creio que, repetidamente, navegaremos nessa onda do desencanto.
Começará por aí o nascimento de uma nova mentalidade e, por extensão, os talentos que darão asas aos seus sonhos no dificílimo espaço dos Jogos. Neste contexto, o professor de EF, no quadro do actual sistema educativo (que também está em causa), ao contrário de procurar a igualdade com as outras disciplinas curriculares, deve procurar a diferença. O problema não está na sua formação académica e científica (que é complexa e de excelência), mas porque é diferente. Olhe-se para tanto talento desperdiçado, anos a fio, a perder tempo no cumprimento de exaustivos e repetitivos programas, aulas, testes, avaliações e modalidades que não lhe diz nada, em um completo divórcio entre os sistemas educativo e o desportivo.
sábado, 27 de julho de 2024
Ludus pro Patria III: Sob a Síndrome de Alice
Nenhum programa de preparação olímpica, algum dia, poderá cumprir, com eficiência e eficácia, uma missão estratégica que só pode competir ao Estado.
Certamente encantado por uma olímpica cultura “dixit” que, em matéria de desenvolvimento, reduziu o desporto a uma inútil verbosidade burocrática que só serve para alimentar uma certa comunicação social toldada pelos casos da bola que estão a dar cabo do futebol, o Sr. Secretário de Estado do Desporto de seu nome Pedro Dias, relativamente aos medíocres dados da prática de atividade física e desportiva dos portugueses, divulgados pelo Eurobarometer (2022), numa entrevista ao jornal Público (2024-07-02), afirmou ter “algumas dúvidas quanto aos termos metodológicos e à forma como a recolha dos dados é feita”. E acrescentou: “o problema é mais profundo”, sem especificar qual a profundidade. Ao fazê-lo, cumpriu a máxima de Dario III e matou o mensageiro, quer dizer, o tal relatório elaborado pela TNS Opinion que produz os trabalhos de base necessários para a produção estatística, entre outras entidades, da Comissão Europeia.