"Vá meninos, peguem no telemóvel que eu quero começar a aula", escreveu Alexandre Henriques, no blogue "comregras". Naquela frase, embora compreenda, só o pormenor "aula" é que me parece estar a mais. Pelo menos na formação básica. O conceito de "aula" traz consigo um posicionamento, já por outros caracterizado, como o de autocarro! Professor à frente na condução e alunos/passageiros nos bancos de trás. Hoje, esta imagem já não se coaduna com os novos formatos de aprendizagem. De resto, aquela frase é tiro no alvo. Peguem no telemóvel, no tablet ou em qualquer outra tecnologia e vamos a isto... vamos aprender. E aqui, o professor, torna-se, inevitavelmente, um moderador, um incentivador, um jogador, um provocador que desperta interesse em uma sala, saliento, sem a disposição convencional do "autocarro".
Escreve o articulista: "(...) é apenas uma questão de tempo, mas acredito que esta expressão será um dia realidade na maioria das escolas. A escola como a conhecemos está a mudar e mais depressa do que nos apercebemos. Qualquer escola, qualquer professor, que mantenha a aposta no modelo tradicional vai simplesmente ficar para trás. Existe uma nova religião, a religião tecnológica e esta tem muitos, muitos crentes, dependentes e até fanáticos. A escola apesar de laica terá de aprender a conviver com ela, aceitá-la e acima de tudo orientá-la. Mas temos um problema! Os adultos que habitam nas escolas… A incapacidade que temos de acompanhar estes novos ritmos e os seus benefícios, fruto da nossa natural ignorância, é limitadora da sua implementação. Não é fácil entrar numa sala de aula em que o aluno se torna professor e o professor se torna aluno (...)".
Nada de novo, apenas a constatação da realidade. Há muito que tantos defendem essa mudança de paradigma. Não há volta a dar. O processo está irreversivelmente em marcha. O Diário de Notícias de Lisboa, na edição de ontem, puxou para primeira página: "Estudar com tablets aumenta o sucesso escolar". E adianta: "97,4% dos alunos que participaram nos dois anos do projeto Tablets no Ensino e na Aprendizagem, da Fundação Calouste Gulbenkian, passaram de ano. Uma experiência em duas turmas de uma escola secundária de Lisboa. "(...) O A., que era uma pessoa que não se interessava nada e, no final, melhorou imenso, fazia tudo e aplicou-se e motivou-se… Este aluno, neste projecto, encaixa muito bem. Eu dei-lhe 5, ele mudou imenso. Mudou da noite para o dia." (...) "Os professores tiveram a percepção de que a abordagem TEA desenvolveu competências do século XXI nos alunos, nomeadamente a aprendizagem independente, pensamento crítico, resolução de problemas do mundo real e reflexão; comunicação e colaboração; criatividade; e literacia digital." Os professores salientaram que os papéis dos alunos na sala de aula mudaram: "Tornaram-se avaliadores e tutores dos seus pares, formadores de professores, codesigners da sua aprendizagem." Explicam também que a participação nas atividades em sala de aula com uso de tablets tiveram um impacto positivo na motivação dos alunos. "O professor universitário José Luís Ramos, um dos autores do livro A Sala de Aula Gulbenkian: Entender o Presente, Preparar o Futuro, sublinhou que tinha notado uma "maior motivação e uma atitude mais positiva para com a escola e a aprendizagem" entre a maioria dos alunos. Regra geral, diz, os alunos que mais utilizaram os tablets foram também os que mais aprenderam".
Concluo: o problema está naqueles que têm responsabilidades de governo. A Região da Madeira, por exemplo, há muito o digo, poderia estar na dianteira dos processos de aprendizagem. E não está. Fico pasmado, ou talvez não, ao ver políticos que olham para isto como "boi a olhar para um palácio". Isto é, sem apreço e sem manifestar importância. Simplesmente porque não basta dotar as escolas com computadores, muitas vezes para reproduzirem o manual, mais importante é (re)organizá-la em todos os aspectos, de tal forma que, no quadro da sua autonomia, ela possa gerar caminhos organizacionais e pedagógicos distintivos na forma de aprender. Porém, o que a secretaria regional da Educação faz é, exactamente, o seu contrário. Fico a olhar para os comportamentos diários, para os discursos de circunstância e para toda aquela meritocracia balofa e fico com este sentimento: "nada de modernices". Os dias passam-se sem uma palavra portadora de futuro, remetidos às tarefas burocráticas dos gabinetes que tresandam a mofo no que aos conceitos diz respeito. Tenho pena, pelas crianças, pelos jovens e pelos professores.
Em poucas palavras: estamos a ficar para trás! Porque não sabem ou porque não querem?
Ilustração: Arquivo próprio.
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