O secretário regional da Educação, abriu o ano escolar falando da necessidade de "tranquilidade" no sistema educativo. Tenho andado a matutar nesta palavra. Aliás, todos os anos, tal vocábulo surge pela boca dos governantes. Ora, no contexto que estamos a viver, particularmente no sistema educativo, de tudo o que nós não precisamos é de tranquilidade. Precisamos, sim, de uma saudável intranquilidade, de um abanão que conduza ao desassossego, o tal que nos permitirá ver longe, mudar sentidos e caminhar, de forma segura, de acordo com a surpreendente vida que as próximas gerações têm pela frente. E porquê? Porque a escola não pode continuar desfazada da vida real. A escola não pode ser uma instituição serena, obediente, calminha, mansa e inquestionável. Ela tem de ser vida sentida sob pena de uma agonia permanente. Sou dos que consideram que ao manter este quadro de divórcio com a vida, isto é, resistindo a qualquer mudança, tem morte anunciada. É isto que me deixa perplexo e que se exprime em uma frase: como pode a escola estar a transmitir conhecimentos que tem por base uma determinada formação, quando são muito diferentes os empregos no futuro?
A 4ª Revolução Industrial (Klaus Schwab, 2016) está aí, porém, o sistema comporta-se, nas suas traves-mestras como se estivesse há duzentos anos. Esta escola está, claramente, impossibilitada de fazer a convergência entre as tecnologias digitais, físicas e biológicas. Eu diria que esta escola, parecendo "bem vestida", está no tempo da máquina a vapor.
Toda a estrutura social está em mudança, mas a escola, acorrentada no interior dos seus altos muros, mostra-se incapaz de espreitar o mundo que "pula e avança". Não consegue medir a distância entre a máquina a vapor e os robôs. Uma escola que nega o "pensamento crítico", que se entretém no faz-de-conta de projectos disto e daquilo, em festas de final de ano para gozo político mediático de adultos, uma escola que bloqueia a imaginação, a curiosidade e o sonho, uma escola que se fixa do enciclopedismo de muitas disciplinas, na prática, ao jeito de "noves fora nada", é uma escola divorciada da realidade e inculta. Quando sobre estes assuntos escrevo, trago sempre em memória, de que me valeu, no plano profissional, saber uma extensa cantilena sobre o "retículo endoplasmático"! Nada. Mas tive de pô-la no teste.
Toda a estrutura social está em mudança, mas a escola, acorrentada no interior dos seus altos muros, mostra-se incapaz de espreitar o mundo que "pula e avança". Não consegue medir a distância entre a máquina a vapor e os robôs. Uma escola que nega o "pensamento crítico", que se entretém no faz-de-conta de projectos disto e daquilo, em festas de final de ano para gozo político mediático de adultos, uma escola que bloqueia a imaginação, a curiosidade e o sonho, uma escola que se fixa do enciclopedismo de muitas disciplinas, na prática, ao jeito de "noves fora nada", é uma escola divorciada da realidade e inculta. Quando sobre estes assuntos escrevo, trago sempre em memória, de que me valeu, no plano profissional, saber uma extensa cantilena sobre o "retículo endoplasmático"! Nada. Mas tive de pô-la no teste.
Chega a ser confrangedora a atitude de muitos (ir)responsáveis adultos que, ocupando lugares-chave não entendem, ou, se entendem, não sabem como operacionalizar, "(...) uma visão complexa do Homem, da Natureza, da Sociedade e da História; o espírito crítico designadamente em relação à própria profissão com descomprometimento relativamente aos grandes interesses partidários; a consciência da dignidade humana; a capacidade de intervenção, principalmente através das ideias; a informação e formação permanentes, quer no plano da preparação científica e pedagógica quer no da articulação prática-teoria; a vivacidade de espírito e curiosidade constante em relação ao processo evolutivo da sociedade e da cultura" (...) porque "um homem é, a meu ver, como um cristal em movimento. Mede-se, acima de tudo, pelo número de faces iluminadas" - Filósofo Manuel Sérgio. E assim, distantes de uma visão abrangente, uns curvam-se à ausência de inteligência da hierarquia, outros desejam que o tempo passe depressa, porque a aposentação está mesmo ali e não vale a pena meter o pauzinho na engrenagem, outros, ainda, percebendo os contextos e demonstrando avidez pela mudança, por medo, entram e saem cumprindo, religiosamente, o que o burocrata, o manga de alpaca determina.
É minha convicção, a partir de vários textos mastigados, saboreados e muito bem digeridos, que existe, como sempre aconteceu, um mundo por descobrir. Um mundo de novas profissões que olhará para outras como naturais em função das características do passado. Há um mundo vibrante, entusiasmante que todos os dias surpreende, que exige capacidade de inovação, inteligência, curiosidade e imaginação.
É a esse mundo que a escola não dá a adequada resposta, preferindo o currículo fechado, os programas feitos em gabinetes também herméticos, professores obedientes, tranquilidade absoluta e muita, muita mesmo, avaliação obsessiva, repetindo, compulsivamente a resposta à pergunta inserta no manual.
Penso assim, com a rigorosa salvaguarda do que escreveu Riccardo Petrella, no Le Monde Diplomatique, já lá vão dezoito anos, relativamente às cinco armadilhas para a educação e de uma cultura de guerra, a saber:
1. Primeira armadilha: “A instrumentalização da educação ao serviço da formação dos recursos humanos”. Isto é, o recurso humano, habilmente, passou a ser considerado como uma mercadoria económica. Melhor dizendo, direitos a um canto, porque o que interessa é o rendimento do Homem ao serviço da economia;
2. Segunda armadilha: “A passagem da educação do campo do não mercador para o do mercador”. É a educação considerada como um grande mercado. Não é por acaso que, nos Estados Unidos, por exemplo, se fala em mercado dos produtos e serviços pedagógicos, em business da educação, em mercado dos professores e alunos;
3. Terceira armadilha: a educação “apresentada como um instrumento-chave da sobrevivência de cada indivíduo” (...) nesta era de competitividade mundial. No essencial, dir-se-á que a escola está transformada no lugar onde, subtilmente, se aprende uma cultura de guerra;
4. Quarta armadilha: a da “subordinação da educação à tecnologia”. Ora, a mundialização é filha do processo tecnológico pelo que resta à educação fornecer os instrumentos de adaptação ao pensamento único;
5. Quinta armadilha: “a utilização do sistema educativo enquanto meio de legitimação de novas formas de divisão social”, isto é, uma sociedade dividida entre qualificados e não qualificados, entre os que dominam o conhecimento e os excluídos desse acesso.
Salvaguardando estes aspectos, a verdadeira escola de aprendizagem terá de procurar um novo rumo. Como está, irremediavelmente, ficará condenada, por mais e enfeitados projectos que implementem e números que apresentem. Mas há quem goste de ouvir uma sirene de 50 em 50 minutos, quem ache graça na abertura da porta da "cela", no entra e sai constante, nas horas e horas a repetir, por outras palavras, o que está no manual, apenas mudando o chip em função do nível de alunos que têm pela frente, no livro do ponto, no sumário, no teste, na avaliação de tudo, até se é bem comportadinho e, finalmente, no relatório! É disto que o governante gosta... tudo muito tranquilo! Como se a escola fosse um SPA.
Ilustração: Google Imagem.
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