segunda-feira, 17 de setembro de 2018

O SECRETÁRIO REGIONAL DA EDUCAÇÃO ESTÁ PARA A TRANQUILIDADE COMO O BISPO PARA A FÉ E CARIDADE


Acabo de ler aquilo que designo por velhas e inapropriadas declarações. Já lá vou. Antes disso, ontem, o meu Amigo Dr. José Júlio publicou, no DN, um excelente artigo, onde, a páginas tantas, enalteceu: "(...) repetem ideias até a exaustão seguindo o princípio expresso por Gobbels "Mente, mente e algo ficará; quanto maior for a mentira mais pessoas acreditarão nela" (...) "Estas e outras tácticas e técnicas fazem com que a realidade em que acreditamos seja, as mais das vezes, o produto da manipulação por parte de quem, efectivamente, detém o poder (...)". Em abstracto, no alvo. 

Já é difícil tragar a história
da natalidade para justificar o injustificável!

Nesta linha de pensamento, eu diria que o secretário da Educação continua a não querer ver a realidade. Eu diria que está para a tranquilidade como o Senhor Bispo para a fé e caridade! E, então, veio repetir a lengalenga da natalidade (chega, porque já fede!): "o início do ano lectivo que acontece amanhã, decorrerá de forma tranquila e organizada. Todas as escolas dispõem dos recursos humanos e materiais para assegurar às famílias o melhor acolhimento dos seus educandos. Os alunos encontrarão condições favoráveis ao desenvolvimento das suas actividades. Os professores conhecem uma grande estabilidade no desempenho profissional. Em consequência, os resultados medidos na avaliação dos alunos, serão cada vez mais positivos, sem dúvida nenhuma". 
Desde logo, sabe-se das carências e fragilidades que todas as escolas apresentam, que começa no simples papel higiénico até outros recursos de natureza pedagógica que infernizam os professores, em um custoso silêncio ao longo do ano, por necessidades que condicionam os projectos educativos, no quadro do actual sistema educativo. As escolas ainda funcionam, é verdade, pela dedicação e entusiasmo dos seus gestores e dos professores, em um puxa aqui e ali, não por quem governa. Mas a mentira, essa, tem de ser repetida até à exaustão. A realidade fica para depois. Mas não é este aspecto que aqui me trás. Essas são contas de um outro rosário! O que me leva a este texto é uma outra mentira, a mais importante, aquela que se refere ao plano pedagógico. Para o secretário da Educação, importante é ter as escolas abertas às oito da manhã e que tudo funcione. Vinicius, se adivinhasse isto, teria, no "Dia da Criação", dedicado um verso (apesar de Sábado), "todas as escolas estão funcionando". Neste caso, porque hoje é Segunda. Funcionam, mas para onde caminham, hoje, é facilmente adivinhável. Ao secretário não lhe interessa o pensamento estruturante de um futuro com consistência, interessa-lhe que FUNCIONE, se possível, ao jeito do treinador Paulo Bento... "com muita tranquilidade!" (ver Gato Fedorento). A máquina que tem duzentos anos, está velha e ultrapassada, mas isso pouco interessa, aplique-se WD40 e fiscalizem-se todos os parafusos e porcas. Ora, porque esta é a realidade que não pode ser traduzida em números que podem ser lidos de maneira diversa, "menos alunos mas mais motivados" é, por conseguinte, outra enorme mentira. Basta entrar em uma qualquer escola e tomar o pulso desde os alunos aos professores. Os meus netos são alunos de cinco e quando lhes pergunto sobre o dia de escola, respondem: "uma seca, avô!"
Será difícil perceber o alcance das palavras?
O que seria importante perceber, face a um sistema que o secretário tem como preocupação que apenas "funcione", seria o seu posicionamento político e científico, relativamente ao que aqui veio dizer, Sexta-feira passada, o Mestre em Ciências de Educação, Professor José Pacheco - Fonte RTP-Madeira: "(...) As escolas são pessoas. As pessoas são os seus valores. E quando as pessoas com os seus valores criam princípios de acção, produzem projectos humanos, que nas escolas são os projectos educativos. Esses projectos educativos não podem ter aula, não podem ter turma, não podem ter ano, não podem ter ciclo, não podem ter teste, não podem ter nada disso. Isso é tralha pedagógica do Século XIX. É incrível como se continua a fazer isso. As escolas são pessoas e a partir daqui o paradigma é outro (...) nós estamos na 4ª Revolução Industrial (...)". Que pensará o secretário deste pensador, investigador, da profundidade das suas palavras que não podem ser lidas pela rama, figura esta com mais de cem projectos, no Brasil, para uma nova Educação? Ao contrário de falar de natalidade e de encerramento de escolas, que fale de aspectos muito sérios e preocupantes: as questões organizacionais e pedagógicas. Seria bom escutá-lo sobre isso. Saber o que pensa. Se é desejável ou não que a escola seja de efectiva aprendizagem no século que estamos a atravessar. Porque tudo se pode aprender, através de um outro paradigma. Uns avançam, outras preferem a tranquilidade. O resto é paleio e repetição para contornar, através da mentira, os verdadeiros problemas da Educação para o futuro. E sendo assim, cada vez mais o sistema precisa que os governantes sejam confrontados com a realidade e com a ciência. Não com treta!
Ilustração: Google Imagens.

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